Negócios do Esporte

Caixa chega a 50% do patrocínio na Série A
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Erich Beting

A renovação da Caixa com o Corinthians marca um novo recorde para o banco estatal. Na Série A do Brasileirão deste ano, metade dos clubes ostentarão o logotipo da empresa no espaço principal do uniforme. O alcance da marca é mais uma mostra de que o futebol brasileiro ainda vive numa bolha de investimentos.

A Caixa injeta, na Série A, R$ 112 milhões em dez clubes. Só que Corinthians e Flamengo concentram R$ 55 milhões desse total, praticamente a metade da verba.

O perfil desse investimento é a prova de que o modelo de venda e compra de patrocínio no futebol brasileiro está completamente deturpado. Como ele está calcado apenas na exposição da marca, os valores de patrocínio são inflacionados e injustificáveis num cenário de crise econômica como o atual.

É por isso que os clubes precisam recorrer a patrocínios estatais para assegurar a manutenção de investimentos. Não só os dez da Caixa, mas também os dois times do Rio Grande do Sul se mantêm graças a aportes acima do preço de mercado feito por empresa estatal.

Na Europa, durante boa parte do tempo, os clubes se mantiveram na base de patrocínio de empresas de aposta. Foi exatamente por conta da supervalorização dos patrocínios, mas sem justificativa plausível além da exposição de marca globalizada.

De uns tempos para cá, os clubes conseguiram mostrar que podem ser pontes para a geração de negócios dos patrocinadores e o perfil dos investidores na Europa mudou bastante.

É exatamente isso o que precisam fazer os clubes brasileiros. Mesmo num cenário de crise, é muito ruim ter 60% da Série A do Campeonato Brasileiro bancada por empresas estatais, sendo que metade delas é a Caixa.


O que fizemos nos últimos três meses?
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Erich Beting

Dentro de um período de três meses cabem 1.440 jogos de futebol. Isso também é o equivalente ao tempo de carreira de um jogador como Zé Roberto, que parece ter fôlego infinito para jogar bola.

Durante três meses, o futebol brasileiro viu uma imensa oportunidade para surgir uma nova liderança.

Marco Polo del Nero precisou se afastar da presidência da CBF, tendo de responder a investigação na Fifa e na Justiça dos EUA, impossibilitado de viajar e preocupado mais com a própria defesa do que com o futuro do futebol brasileiro.

Nesse período, o máximo que os clubes (tidos como a tábua de salvação para o futebol brasileiro) conseguiram foi fazer um acordão com as federações estaduais para organizar a Copa da Primeira Liga, torneio que ficou sem pé nem cabeça no meio de um calendário já inchado.

Durante três meses, os clubes não conseguiram minimamente se preparar para mudar. Em vez de se organizarem e mobilizarem para falar mais grosso na relação com as federações e confederações, se perderam numa negociação sobre direitos futuros de transmissão do Brasileirão. Não por estarem planejando o cenário após 2018, mas por estarem desesperados atrás de dinheiro novo para pagar a conta de 2016, que já tem o acumulado de 2015, 2014, 2013…

Durante três meses, os atletas não se organizaram minimamente para fortalecerem seu movimento que pede melhorias e mais bom senso no futebol. Voltaram-se para seus compromissos com a bola, ignorando os cinco meses de salário atrasados na Portuguesa, ou diversos desmandos de dirigentes, clubes e coronéis espalhados pelos rincões do país.

Durante três meses, os gestores esportivos não se uniram para exigir mudanças. Para propor menos mudanças de comando que geram muito desmando, para cobrar mais comprometimento dos dirigentes, para exigir melhores condições nos gramados dos estádios, para propor melhores condições aos torcedores, para transformar o futebol no produto de entretenimento que um dia ele ainda será.

Durante três meses, os patrocinadores não fizeram uso da força econômica para exigir melhorias no produto onde eles investem milhões e precisam de retorno. Não cobraram explicações para a desordem na CBF, não cobraram os dirigentes por aceitarem horários estapafúrdios para o início dos jogos, que afasta público dos estádios e da TV, não exigiram um melhor tratamento ao consumidor do futebol.

Durante três meses, nós da imprensa não nos organizamos minimamente para elevar o debate, para questionar os coronéis (Nunes e quetais), propor novos ares na gestão esportiva, investigar trocas de favores para manter o status quo, impulsionar a criação de um debate que de fato tirasse da zona de conforto a cartolagem furada do comando da bola.

Quem se mexeu nos últimos três meses?

A CBF criou comitês para discutir reformas e melhorias, deu mais autonomia a gente do mercado no comando de áreas estratégicas, como os departamentos de marketing e de competições, buscou algumas alternativas para tentar, enfim, dar uma nova cara para uma desgastada instituição.

Sim, temos o péssimo futebol do time brasileiro pelo caminho. Sim, saíram alguns patrocinadores de renome como Gillette, Michelin e Sadia (todos por mudança de política de investimento da empresa). Sim, algumas decisões do comitê de gestão da CBF são histórias que nem o Gustavo, meu filho de dez meses, acredita ser para valer. Sim, o Coronel Nunes foi uma piada de péssimo gosto durante os últimos três meses.

Mas, por mais incrível que possa parecer, quem de fato se mobilizou nos últimos três meses para mudar um pouco aquilo que é feito no futebol foi a CBF. Tivemos um vácuo de liderança da bola como há 30 anos não se via no país. E o que fizemos para preenchê-lo?

Não adianta espernear pela volta de Del Nero. Ele, naturalmente, sempre foi o presidente da CBF nos últimos três meses…


Quem vai ficar com o Maracanã?
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Erich Beting

A pergunta começa a movimentar os bastidores já há algum tempo, mas vai ganhar ainda mais intensidade após o Flamengo manifestar, publicamente, o desejo de ser um dos novos gestores do Maracanã (veja aqui). Afinal, quem quer assumir a bronca de cuidar do estádio?

O plano de viabilidade econômico-financeira montado anteriormente para o Maracanã é responsável, em boa parte, pelo fracasso que foi os primeiros três anos de administração privada do estádio. Só para se ter uma ideia, havia no plano de negócios a previsão de se arrecadar cerca de R$ 20 milhões por ano com a venda do naming right do estádio. Se já é difícil conseguir esse tipo de receita para um estádio novo, imagine para o maior templo do futebol brasileiro? Nem na Inglaterra, mercado bem mais maduro para o naming right, tiveram coragem de colocar à venda o nome de Wembley. A proporção é exatamente a mesma.

O lado positivo de toda a discussão sobre o Novo Maracanã é que ele, já de cara, quebrou alguns pré-conceitos existentes em relação a estádio/arena multiuso.

O primeiro e mais importante deles: estádio ou arena, tanto faz o nome, é sustentado pelo futebol. Não dá para imaginar que haja outra fonte de receita significativa e constante quanto um jogo de futebol para esses estádios. Megashows só acontecem uma vez a cada trimestre. Ou, na melhor das hipóteses, uma vez a cada bimestre.

Outro aspecto importante deflagrado pelo Maracanã é em parte provocado pela nova realidade dos estádios modernos. É preciso ter evento bom para que o estádio seja aberto. Do contrário, é melhor mantê-lo fechado. Não é todo jogo de campeonato estadual que funciona. Flamengo x Madureira para menos de 3 mil pessoas é partida para qualquer lugar, menos para o ''Maior do Mundo''. Isso vale para todos os estádios, velhos ou novos. Os Estaduais têm sua importância, mas, até para o torcedor, essa importância é cada vez mais relativa, só vale para grandes jogos. Então, melhor deixar fechado a perder dinheiro.

O Maracanã é um grande negócio, sobre isso não há qualquer dúvida. A operação do estádio precisa ser mais bem pensada, os negócios precisam ser pensados não sob a ótica magnânima do Brasil pré-Copa, mas sob o olhar do país que aprende, na marra, a fazer com que estádio fique mais cheio ou, pelo menos, dê dinheiro.

Tivemos uma cultura de quase 80 anos na qual o estádio de futebol era visto praticamente como um local que não tem de se preocupar com o cliente. Seja ele torcedor, imprensa, patrocinador ou atleta. É apenas um lugar para ir lá jogar bola.

A nova realidade, que é fundamental para melhorar a qualidade do futebol praticado aqui, é baseada no olhar do negócio. Não aquele negócio predador, em que há alguém interessado em sugar ao máximo o negócio para enriquecer. Mas um negócio que precisa ser lucrativo e, para isso, precisa atender bem o cliente.

Quem vai ficar com o Maracanã precisa ter isso muito claro. Os clientes de um estádio são vários. E cada um deles exige um olhar específico sobre o negócio.

Muitos querem o Maracanã para chamar de seu. Mas são poucos o que sabem que para isso é preciso, necessariamente, trabalhar para fazer com que o Maracanã seja de todos.


Patrocínio precisa ser visto como negócio
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Erich Beting

O que há de mal em uma empresa ganhar dinheiro a partir de uma ação de patrocínio?

Essa talvez seja uma das últimas barreiras que precisam ser quebradas para que o marketing esportivo seja encarado como ele de fato precisa, que é ser um meio para uma empresa gerar vendas.

O Brasil tem características muito peculiares de mercado. Temos, ainda, uma única emissora que concentra boa parte da audiência televisiva (a força dela é cada vez menor, mas ainda assim é muito relevante). Temos um mercado investidor que ainda vê na exposição o grande meio para construir uma marca. E temos uma absoluta incapacidade do esporte de enxergar além desse modelo.

Os raros exemplos de negócios fechados no esporte que têm como propósito gerar dinheiro para o patrocinador são quase sempre colocados num segundo plano, como se isso fosse um erro de quem fecha tal tipo de acordo.

O problema é que isso gera, num cenário de crise econômica como o atual, um grande entrave para o patrocínio esportivo. Se o aporte está calcado na relação única de fortalecimento da marca, ele está fadado a acabar, ou a reduzir substancialmente seu valor, num momento em que as vendas caem.

É por isso que, nos últimos anos, o futebol tem visto uma debandada de marcas. Hoje, quem está num clube ou é empresa estatal, ou é empresa familiar, em que a decisão pelo patrocínio é muito mais emotiva do que racional.

Logicamente existem algumas exceções.

Nesta sexta-feira, a Ambev começa a promover o Super Final de Semana do Movimento por um Futebol Melhor (veja aqui). O projeto de patrocínio da marca no futebol é, claramente, baseado na venda de produtos. A partir de descontos para torcedores, as marcas ligadas ao MFM potencializam suas vendas.

Num momento em que o varejo está em frangalhos pela situação político-econômica do país, usar o apelo do futebol para gerar vendas ao patrocinador não é nenhum erro. Pelo contrário. Errado é não enxergar o marketing por meio do esporte como uma plataforma para geração de receita a quem patrocina.

Essa visão deturpada do patrocínio esportivo apenas como exposição de marca precisa acabar. Patrocínio pode – e deve – ser plataforma para geração de vendas a quem coloca dinheiro nele. Só assim ele vai deixar de ser caridade para se transformar, de fato, num negócio.


O acordo da NFL que leva o esporte a um novo patamar
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Erich Beting

A NFL é a nova parceira do Twitter. Ou seria o Twitter o novo parceiro da NFL? A ordem dos fatores, nesse caso, não altera tanto o produto, mas o anúncio feito na última terça-feira entre as duas empresas é daqueles para deixar qualquer um que trabalha com esporte com a antena ligada (detalhes podem ser lidos aqui).

Dois pontos são extremamente importantes de serem considerados para uma análise mais profunda de onde esse negócio pode dar.

1 – Tudo o que se refere a vanguarda na comercialização de direitos de mídia está na NFL. A liga americana foi a primeira a apostar na geração própria de imagens do evento. Foi a primeira a vender direitos exclusivos sobre jogos, e não sobre a competição. Foi a primeira a criar um canal próprio para transmissão de conteúdo via cabo. Foi a primeira a vender transmissão por streaming na internet, etc. Tudo o que ela fez as outras ligas copiaram.

2 – Como já destacado aqui anteriormente, as redes sociais ganharam tanto corpo nos últimos tempos que passaram a ser, elas próprias, a se preocuparem em gerar conteúdos exclusivos. Se, antes, Twitter, Facebook e congêneres eram apenas meios, eles passaram a ser também fim no que se refere a fonte de informação.

Com essas duas situações postas, fica mais fácil entender a dimensão que pode alcançar o acordo firmado entre NFL e Twitter para que dez jogos das quintas-feiras sejam transmitidos pela plataforma, que pode ser considerada um pouco de tudo hoje, menos um microblog.

A partir do momento que Facebook e Twitter começam a ter interesse em transmitir eventos esportivos ao vivo, o esporte precisa se preparar para oferecer esse tipo de conteúdo a essas plataformas. As redes sociais estão, hoje, se transformando em produtoras de conteúdo. De preferência, de conteúdo exclusivo.

O acordo NFL-Twitter é o primeiro do gênero. E pode mostrar, para outras modalidades, como é possível reduzir cada vez mais a dependência da TV, aberta ou fechada, para ampliar o alcance de seus eventos.


O amor no esporte não é incondicional
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Erich Beting

O São Paulo fez ontem o primeiro jogo no ano que encheu de orgulho seu torcedor. Podemos colocar todos os ''poréns'' nos 6 a 0 sobre o Trujillanos, mas uma goleada dessas, quando o time precisava de um bom resultado para afastar o mau olhado que o cerca, é fundamental para ajudar a embalar.

Aí, cerca de uma hora após o jogo, o que faz o São Paulo em seu perfil no Facebook?

Cobra o torcedor por não ter ido ao estádio para assistir ao jogo!!!

Chamada publicada pelo São Paulo em seu perfil no Facebook

Chamada publicada pelo São Paulo em seu perfil no Facebook, por volta da 1h da manhã de hoje. Cobrança pública pelos 18 mil torcedores presentes ao estádio

 

Esse tipo de conduta parece cada vez mais recorrente no futebol. Em vez de valorizar quem é fiel ao clube, o marketing cobra quem não está próximo pela ausência.

O erro, primário, é o de não entender que não são todos que vivem um caso de amor incondicional com o clube. Sim, quem trabalha na gestão de redes sociais do São Paulo naturalmente deve ser fanático pelo clube. Da mesma forma, dirigentes não-remunerados estão ali, em tese, pelo amor que não tem preço pelo clube.

Mas até quando as pessoas que trabalham no esporte vão achar que o comportamento das pessoas é igual ao delas?

O maior erro cometido pelo São Paulo em seu post no Facebook foi o de imaginar que o torcedor é obrigado a ir ao estádio apenas pelo fato de ser são-paulino. Sim, há uma parcela de torcedores que pensa e age dessa forma, mas ela representa uma minoria no espectro de interessados por um clube de futebol.

O São Paulo tem 6,5 milhões de seguidores no Facebook. Muito provavelmente não passa de 300 mil os fanáticos dentro desse montante. Desses, nem todos moram em São Paulo. Além disso, nem todos estão de folga numa terça-feira à noite. Ou na quarta pela manhã. Uma outra boa parte não dispõe de, no mínimo, R$ 30 para ir ao jogo.

Isso para não falar o quanto o time, dentro de campo, não corresponde às expectativas.

Uma das principais causas para fins de relacionamentos é a decepção que um parceiro causa no outro. Pelo que não vinha mostrando dentro de campo, o são-paulino não poderia mesmo ainda encontrar disposição para gastar quase R$ 100 e ir até o Morumbi gritar pelo time.

O fanatismo ocupa sempre a menor parcela de uma torcida. E um clube de futebol reclamar de seu torcedor que ele não vai ao jogo é simplesmente ignorar que a relação de amor que o torcedor nutre por ele não é incondicional.

O grande barato do marketing no esporte é alimentar o fogo da paixão de um fã das mais diferentes formas. Cobrar a presença sem dar qualquer presente é atitude, no mínimo, de desrespeito com os mais de 18 mil são-paulinos que se dispuseram a ir incentivar um time que, até ontem, não arrancava qualquer suspiro do seu torcedor.


Europa colhe fruto de globalização dos seus clubes
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Erich Beting

Estudo recente do instituto Repucom, na Europa, mostra que os times das cinco principais ligas do continente atingiram um faturamento recorde de € 830 milhões em patrocínio de camisa (detalhes aqui). O estudo sugere que, em breve, seja alcançado o recorde de um bilhão de euros em faturamento com o patrocínio de camisa.

O número representa, em parte, o sucesso do processo de globalização dos clubes europeus, principalmente por meio da Liga dos Campeões da Europa. Ao se tornarem marcas globais, os clubes têm atraído patrocínios mundiais.

Alguns números desse estudo da Repucom mostram isso de forma clara.

O primeiro deles é a divisão por segmento de atuação dos patrocinadores. Empresas de turismo e viagem são responsáveis por injetar 200 milhões de euros nos clubes. Um produto de massa, de alcance global, quase sempre atrai o investimento de marcas que oferecem serviços mundiais. Companhias aéreas e ministérios do turismo têm sido marcas frequentes nas camisas dos clubes de ponta da Europa.

Outro fator importante é a proporção de investimento feito por empresas locais e estrangeiras. Na atual temporada, 512 milhões de euros dos 830 que os clubes faturaram são de empresas estrangeiras. Ou seja, são marcas que buscam atuação global e encontram, no futebol europeu, o meio para se comunicar.

Por aqui, ainda confundimos patrocínio com publicidade. Isso faz com que a indústria de patrocínio no futebol ainda seja, na prática, uma forma de compra de mídia pelas empresas. O resultado disso é que, como os clubes não são vistos como plataforma geradora de negócios, o montante a ser investido no futebol se torna menor e, quase sempre, restrito ao mercado local.

Além da falta de visão do mercado investidor, existe uma dificuldade imensa dos clubes de mudarem o argumento de venda para as marcas. Esse foi o salto que o futebol europeu conseguiu fazer há cerca de 20 anos e que agora fica mais claro com os clubes sobrevivendo a qualquer crise financeira no Velho Continente.

A indústria do esporte no Brasil precisa entender o significado de um patrocínio. Só assim poderemos ter marcas mais fortes. Tanto do lado do esporte quanto do patrocinador.


Indústria do esporte só será sólida com entidades de classe
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Erich Beting

A notícia de que a Abrarenas chegou ao fim (veja aqui) é desalentadora para o mercado esportivo brasileiro.

Criada há poucos anos, o objetivo da entidade era reunir os gestores de estádios e discutir, sempre em conjunto, temas relacionados aos estádios no Brasil. Temas que iam desde a cobrança de ingressos, a proibição de venda de bebidas alcoólicas, a meia-entrada, o acesso a deficientes, etc.

Ao deixar de existir a associação dos estádios, o mercado esportivo brasileiro dá mais um passo para trás.

No Brasil, até agora, é praticamente impossível existirem entidades representativas de classes no esporte. São raríssimos os casos em que há grupos que defendam interesses de uma classe no país. Esse fato revela algo muito mais delicado para a indústria esportiva brasileira.

Não havendo entidades de classe para atuar, não há uma maior solidificação dessa indústria no mercado.

É só ver o futebol, esfacelado em questão organizacional desde que o Clube dos 13 acabou. Por pior que fosse o C13, ele representava um ponto em que os clubes se uniam e defendiam interesses em comum. Isso é importante para que algumas melhorias aconteçam. Na base do ''cada um por si'', os interesses individuais sempre atrapalham o coletivo.

Ou, então, perceber o quão importante foi a criação do Bom Senso, representando os atletas e exigindo melhorias para a indústria do esporte como um todo.

No caso da Abrarenas, o fim da associação revela o sombrio cenário a respeito do futuro dos estádios no país. Ou os novos gestores das arenas passam a ser comprometidos com a melhoria da indústria, ou então teremos várias dificuldades para profissionalizá-la, já que perderemos o bonde da história ao não aproveitar para transformar o esporte num espetáculo de entretenimento.

Já passou da hora de os diferentes segmentos da indústria esportiva (atletas, dirigentes, arenas, executivos de marketing, etc.) perceberem que o crescimento desse mercado só será possível com a união de cada classe. Em bloco, os atletas negociam melhor com os dirigentes, que negociam melhor com as arenas, com a mídia, etc.

A cadeia produtiva do esporte no Brasil já tem hoje um tamanho suficiente para que as entidades representativas de classes sejam formadas. Mas é desalentador ver que fracassou a tentativa disso naquela classe que justamente concentra um dos maiores investimentos feitos no esporte nos últimos anos, que é a de arenas esportivas.

Para ter uma indústria esportiva sólida no país, é urgente que surjam as entidades defensoras de diferentes segmentos dessa indústria. Ou o esporte nunca será, de fato, suficientemente grande para gerar diversos empregos.


Seleção brasileira mostra como inovar é fundamental
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Erich Beting

Os últimos 20 minutos de Paraguai 2×2 Brasil foram eletrizantes. A entrada de Lucas Lima no meio-campo brasileiro, com Renato Augusto se transformando no único volante da equipe brasileira e o time passando a jogar com ousadia, deu uma outra esperança para o time que terminou o primeiro terço da caminhada à Copa do Mundo de 2018 numa preocupante sétima colocação e hoje afastado da lista de classificados ao Mundial.

Acuado após o segundo gol paraguaio, Dunga precisou partir, literalmente, para o ataque. Fez isso colocando uma formação de meio-campo nova, apenas com jogadores de origem ofensiva. O resultado? Pressão total da seleção no campo de ataque e dois gols marcados, com o desempate quase acontecendo no lance final da partida.

A situação vivida pela seleção brasileira é uma mostra clara de como a inovação é importante para o esporte.

Em meio ao caos e diante de sua maior adversidade no comando da seleção nesta segunda passagem pelo time, Dunga pode ter encontrado, na inovação, a chave para encontrar um novo modelo à seleção brasileira, muito mais próxima de nossa cultura ofensiva para enxergar o futebol, muito mais adequada ao futebol que é praticado nos grandes centros da atualidade.

Fazia muito, mas muito tempo que o Brasil não tinha controle total sobre um jogo como nos últimos 20 minutos do duelo com o Paraguai. E isso é revelador.

Uma das maiores características das marcas de sucesso é a capacidade de inovação que elas possuem. Historicamente, a seleção brasileira ficou marcada por isso. Na semana passada, reverenciamos Johan Cruyff em sua despedida da vida exatamente por ter sido um rompedor de paradigmas.

O futebol brasileiro está parado no tempo nos últimos 30 anos. Não nos dedicamos à inovação e, com isso, ficamos para trás da concorrência. Em meio ao caos, a seleção brasileira pode ter encontrado o seu caminho (escrevo o texto ainda sem ter visto a entrevista de Dunga após o jogo).

A Copa América poderá servir como laboratório para Dunga testar e repetir essa formação, concedendo à seleção um novo padrão tático que influenciará na forma de jogarmos futebol daqui para a frente, afinal é do topo da pirâmide que pegamos o exemplo para o restante da cadeia.

Muitas vezes nos perdemos pela incapacidade de inovar. Ou pelo receio de arriscar. No marketing esportivo praticado no Brasil, quase nunca a inovação aparece, quando na verdade ela deveria ser regra. Talvez os marqueteiros pudessem olhar os últimos 20 minutos do jogo do Brasil e se darem ao luxo de trocar a expressão ''é melhor não'' pela pergunta ''por que não''…


TV virou refém do sistema que ela própria criou
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Erich Beting

Quando o Clube dos 13 foi implodido, há questão de cinco anos, um dos principais articuladores da mudança do sistema de pagamento aos clubes pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro foi Marcelo Campos Pinto, então diretor de esportes da Globo.

Hábil negociador, Campos Pinto sabia que, naquele momento, a implosão do sistema de negociação individual dos clubes era bom para ele e para a emissora que trabalhava.

A situação, naquela época, era a seguinte. O Clube dos 13, pela primeira vez na história, havia criado um modelo de venda de direitos muito similar ao que acontece na NFL, a liga que mais fatura em direitos de transmissão no mundo. Em vez de buscar as emissoras para transmitir com exclusividade a competição, a NFL entrega jogos exclusivos para todas elas.

A lógica de mercado é simples. Em vez de ganhar muito de uma fonte só, a liga espalha entre diversas empresas seus diferentes produtos, criando valores distintos para cada um deles. O modelo, que começou lá nos anos 70 a ser implementado pelos americanos, beneficiou-se de um mercado aquecido de direitos de mídia. Hoje, por ano, a NFL ganha quase US$ 8 bilhões. As emissoras disputam, com valores estratosféricos, direitos sobre uma conferência, sobre o jogo do domingo à tarde, da segunda-feira à noite, da quinta-feira, do sábado, etc.

O Clube dos 13 estava, há cinco anos, tentando ainda de forma embrionária buscar esse modelo. Como havia uma disputa mais acirrada na TV aberta (Record e Rede TV! sinalizavam interesse em participar da concorrência), a ideia era os clubes faturarem mais da TV, mesmo que no final das contas terminasse com uma única empresa ganhando a disputa.

O que aconteceu, porém, foi um embate gigantesco por poder político entre um grupo liderado por Kleber Leite e Andrés Sanchez, tendo como mentor e incentivador Ricardo Teixeira, e o outro pelos líderes do Clube dos 13, então personificados em Fábio Koff e Ataíde Gil Guerreiro.

Guerreiro era o maior articulador do novo modelo de negociação da TV. A ideia era de realizar concorrência a cada três anos, abrindo cada vez mais espaço para jogos exclusivos para quem se interessasse pelos direitos. Além disso, ele traria para os clubes a geração de imagem das partidas, conceito que é premissa básica em qualquer evento, mas que ainda está muito, mas muito distante, de ser implementado no Brasil, que ainda tem na Globo não só a detentora dos direitos de transmissão, mas também a responsável por gerar as imagens.

Em meio a essa ideia, veio a briga pelo poder. Sem vencer as eleições, o grupo Teixeira-Leite-Sanchez decidiu, então, implodir o contrato de televisão. Puxados pelo Corinthians, os clubes sondaram Campos Pinto para a negociação individual.

Para a Globo, o negócio, naquele momento, era vantajoso.

O contrato individual acabaria com o projeto de trazer mais para a mão do C13 o controle sobre a distribuição das imagens do Brasileirão e, logicamente, a divisão por diferentes emissoras da transmissão do campeonato.

Agora, cinco anos depois, o feitiço começa a virar contra o feiticeiro. O que teoricamente Campos Pinto deixou como legado para a emissora hoje é um Frankstein. Exatamente pelo fato de cada clube negociar individualmente seus contratos que houve brecha para que o Esporte Interativo iniciasse as conversas para comprar os direitos do Brasileirão na TV paga com alguns clubes.

Hoje, com a negociação na base do ''cada um por si'', quem quer comprar tem um trabalho 20 vezes maior, pelo menos, para adquirir os direitos de transmissão. Em vez de sentar com um único interlocutor e conseguir um acordo pela principal competição do país, é preciso ir a cada clube e conversar individualmente com eles. Isso deixa o processo muito mais demorado e, mais do que isso, incerto.

É só ver a bagunça em que se transformou a negociação dos direitos do Brasileirão na TV paga para o período 2019-2024. Se o formato de disputa não se alterar, o torneio terá 20 clubes, mas Globosat e Esporte Interativo já fecharam acordo com pelo menos 30 agremiações.

No final das contas, a TV virou refém do próprio sistema que ela ajudou a criar. E, ao que tudo indica, pelo menos até 2024 não há previsão de que os clubes se organizem para voltar à negociação coletiva dos direitos.