Negócios do Esporte

Como não organizar uma festa do Brasileirão
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Erich Beting

Apenas dois jogos definiam o campeão da rodada. Um no Rio, outro em São Paulo. Qual seria o custo de produzir duas réplicas da taça oficial do Brasileirão e deixar uma em cada estádio, à espera da equipe vencedora? A ação era simples de se fazer e traria, no domingo decisivo do título brasileiro, o grande brilho para coroar um campeonato emocionante (mas não brilhante), marcado pela acertadíssima decisão de se fazer com que os grandes clássicos regionais povoassem as rodadas decisivas da competição.

Se acertou por um lado na questão dos clássicos, a CBF errou feio no quesito organização da festa do Brasileirão.

A festa transmitida pelo Sportv na noite de segunda-feira foi o grand finale proposto pela entidade. Foi lá que a taça do campeonato finalmente apareceu, mas obviamente foi entregue  jogadores engravatados, cercado de políticos e dirigentes. Tudo muito longe da essência do que é o futebol no imaginário das pessoas.

E isso é péssimo para a construção e fortalecimento do produto Campeonato Brasileiro. Se quisermos reter nossos jogadores por aqui, não basta ser um Neymar e depender do bom momento econômico do país. Temos de construir um campeonato forte, com alta qualidade nos estádios, nos jogos, na produção de TV, no cumprimento das regras, na entrega do produto.

Por todas as questões já levantadas por aqui ao longo deste ano, temos hoje a condição de produzir um dos principais campeonatos nacionais de futebol do mundo. Só que o produto não pode continuar com uma entrega capenga como a atual. Temos uma das melhores tecnologias de transmissão televisiva do mundo, temos hoje dinheiro suficiente no Brasil para manter os grandes atletas, mas falta, e muito, competência para gerenciar o futebol como um produto.

Um bom exemplo foi no próprio domingo. Além de a taça não ser entregue para o campeão, a transmissão da TV foi encerrada, como de hábito, cerca de dez minutos depois de a partida acabar. Como se fosse só mais um jogo. O problema aqui não é o formato da competição, mas a deformação de quem é responsável por promover o Brasileirão.

E, neste final de campeonato, tivemos mais uma vez a certeza de que nossos jogadores têm, mesmo, de sonhar em jogar no exterior. A sensação que dá é de que só lá haverá um campeonato organizado à altura do talento de alguns excelentes pés-de-obra que surgem no Brasil.


A taça que coroa a mudança na gestão corintiana
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Erich Beting

Não, torcedor, esse texto não foi feito para ser lido com a camisa vestida e o hino do time de coração entoado. Dispa-se, agora mesmo, de todas as suas paixões e tente, por alguns minutos, colocar-se na posição de um gestor esportivo. E aí será possível entender, sem xingar o blogueiro e sua amada mãe, as linhas que seguem abaixo.

A vitória de domingo do Corinthians coroa o choque de gestão provocado dentro do clube no já distante ano de 2007, quando Andrés Sanchez assumiu o leme do Timão em queda livre rumo à Série B do Campeonato Brasileiro. Já são quatro anos desde a maior queda da história alvinegra. E que quatro anos desde então!

A chegada de Andrés ao poder no Corinthians marca uma mudança de conceito do que é a gestão num clube de futebol do Brasil. Não vamos nos ater aqui à figura do manda-chuva alvinegro. Ele encarna, sem dúvida, muito do que há de ruim no planeta bola, como os conchavos, as trocas de favores e as perpetuações no poder. Mas, no que se refere exclusivamente ao Corinthians, Andrés foi importante para provocar uma guinada na forma de gerencial o clube e precisava sair de lá consagrado com mais uma conquista.

O primeiro grande mérito do Corinthians de Andrés foi renegociar todas as suas dívidas em janeiro de 2008, tão logo a nova diretoria começou a tomar pé de toda a situação financeira do clube, abalado por mais uma parceria nefasta. Sob comando de Raul Correa da Silva, diretor de finanças, tudo foi refinanciado, dando ao Corinthians condições de ter fluxo de caixa para trabalhar.

O segundo passo importante foi dado por Luis Paulo Rosenberg, diretor de marketing, que junto com sua equipe passou a renegociar todos os contratos de patrocínio e, mais importante, a fazer um trabalho para resgatar a imagem do clube com seus torcedores. Foi o aparecimento do conceito do ''Nunca vou te abandonar'', decantado pela torcida na campanha de volta à Série A durante 2008. Em seguida, o turbilhão provocado pela contratação de Ronaldo, gerando um aumento substancial de receitas e colocando o Corinthians como o protagonista do futebol brasileiro no ano de volta à Série A só coroaram o trabalho de todo departamento de marketing.

Em meio a esse período, Andrés foi se consolidando como a figura política do Corinthians, atuando na esfera das federações e tendo a última palavra nos assuntos mais importantes do clube. Essa atitude do cartola, que tanto prejudicou a sua imagem, serviu também para dar tranquilidade aos profissionais dentro do Corinthians e, também, fazer com que o clube virasse protagonista no cenário político da bola.

O que diferenciou o Corinthians dos demais durante esse período? Poucos clubes têm, abaixo de um presidente carismático, uma estrutura tão afinada trabalhando. Não há vazamento de informações dentro do Corinthians, não existe despreparo de quem está à frente de cada uma das áreas fundamentais de gestão de um clube: técnica, administrativa, marketing, jurídica e financeira. E é isso que a maioria dos clubes ainda não perceberam. Enquanto todos focam as maledicências para Andrés, o restante da turma trabalha com tranquilidade, afinada com o presidente e com autonomia para tal.

O título brasileiro alvinegro coroa exatamente essa mudança de gestão provocada dentro do Corinthians, numa terra arrasada que foi encontrada pela atual diretoria quando saiu Alberto Dualib após quase 15 anos de liderança aparentemente eterna.

Mudança que já começa a ser vista também no Santos e no Vasco, um pouco ainda no Fluminense, que tenta ser cada vez menos dependente da grana da Unimed. Não é de se estranhar que esses clubes tiveram um 2011 competitivo, vencedor em diferentes formas.

O pentacampeão Corinthians prova que, em se planejando, alguma hora dá. E o maior mérito de Andrés Sanchez é saber que sua função é meramente política, da porta da Rua São Jorge para fora. Mérito que vira demérito quando o próprio dirigente se associa ao que há de pior na gestão do futebol nacional, sem dúvida, mas que não invalida a conquista do último domingo.

Internamente, todos devem trabalhar, sendo cobrados para trazer bom rendimento para o clube em suas diferentes áreas. E essa é a grande mudança que o Corinthians começa a provocar nos demais clubes do Brasil. Em terra de cego, quem tem um olho é rei. Ou no caso do futebol nacional, o time é campeão brasileiro. Quando os outros acordarem, conseguiremos, finalmente, levar para outro patamar a gestão do esporte mais popular do país.


Como a marca pode explorar a rivalidade do futebol
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Erich Beting

No último dia 26, Benfica e Sporting disputaram o clássico mais tradicional do futebol português. A Coca-Cola, patrocinadora dos Encarnados, como são chamados os torcedores do Benfica, fez uma ação no mínimo inusitada, mas que serviu para chamar a atenção das pessoas para o verdadeiro sentido da rivalidade no futebol.

O vídeo abaixo é o resumo feito pela empresa para mostrar o resultado da ação. E mostra, claramente, que quando trabalhado com inteligência, uma marca pode se beneficiar e muito da rivalidade do futebol. Basta entender como tirar o melhor proveito da situação. Para isso, conhecer o esporte é fundamental.


“A imprensa é toda sua, Ronaldo!”
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Erich Beting

A frase usada por Ricardo Teixeira para passar o bastão a Ronaldo na entrevista em que o Fenômeno anunciou ser o novo membro do Conselho de Administração do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 resume bem a função que ele terá daqui para a frente.

Ronaldo será o maior para-raio de Teixeira a partir de agora. E tentará aproximar o povo do Mundial, algo que já havia discutido aqui no blog há dois dias. Mas será que na função de um membro do conselho ele terá essa condição de ser mais do que uma simples barreira?


O que é maior? O fico de Neymar ou o volto de Pelé?
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Erich Beting

Foi com uma enorme euforia que o mercado esportivo brasileiro celebrou, há alguns dias, o ''fico'' de Neymar no Santos. Ontem, o clube paulista anunciou, da mesma forma, o ''volto'' de Pelé, maior jogador da história do clube e do futebol. Já diria a máxima que futebol é momento, mas também não precisamos exagerar.

A repercussão do ''volto'' acabou sendo bem menor que a do ''fico'', mas o fato é que, na proporção, o Santos tem tanto ou até mais a ganhar passando a ter Pelé como um ''funcionário'' do clube. A começar pela representatividade de um e de outro no futebol mundial, é incomparável o apelo que o Rei do Futebol consegue trazer para o Santos.

Mas a questão é muito maior do que essa.

Nos anos 60 e 70, Pelé foi responsável por fazer o Santos ser um time admirado nacionalmente. Isso fez com que, hoje, o Peixe pudesse ter a oitava maior torcida do país, com cerca de dez vezes mais torcedores que o tamanho da cidade em que o clube está, feito inédito entre os times de futebol no Brasil. Pelé também foi fundamental para levar o Santos a excursões no exterior, mas sua marca acabou, globalmente, tornando-se mais forte que a do clube.

Agora é esse novo contexto que Pelé pode, de novo, ajudar e muito o Santos.

Ao que tudo indica, o futebol brasileiro vai entrar nos eixos. Teremos um calendário mais racional que permitirá aos clubes viajarem para realizar amistosos e promover suas marcas em ações além-mar. Com Pelé contratado para ser uma espécie de ''embaixador'', o Santos só tem a ganhar.

Marca realmente global, Pelé tem um alcance muito superior ao de Neymar. Sua presença atrai a atenção da mídia do mundo todo e ainda, se bem trabalha, reforça todo o apelo histórico do Santos de ser um clube formador de grandes talentos, que é todo o mote da campanha dos 100 anos do clube para 2012.

Impressionante é ver que ainda vivemos na era em que quase todo mundo ainda acha que o futebol acontece apenas dentro de campo. Sob essa ótica, o Santos não deve olhar o passado, mas mirar no presente. No final das contas, o ''volto'' poderá ser bem maior que o do ''fico''.


O esporte deveria aprender com dupla sertaneja
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Erich Beting

Não fiquei louco, nem você leu errado o título desse post. Mas falta hoje dentro do esporte muito da visão de negócios que faz hoje da dupla sertaneja Fernando & Sorocaba um fenômeno do entretenimento musical.

A começar pelo posicionamento dos dois líderes da empresa. Isso, empresa. Não é dupla caipira, sertaneja, ou sertaneja universitária. É uma empresa. Com uma visão de negócios que faz com que o seu ganha-pão não se resuma a cantar música, fazer shows ou vender DVDs e CDs (aliás, alguém ainda compra CD hoje em dia?).

No último domingo, os dois Fernandos que comandam a dupla deram entrevista ao programa “De Frente com Gabi”, no SBT. Falaram sobre carreira, fãs e tudo o que é básico dentro de um programa que entrevista uma dupla que tem arrebentado nas paradas de sucesso. Mas o que mais chamou a atenção durante o bate-papo foi a visão que a dupla tem de que o futuro dela não depende da música que fazem, mas de algo bem maior, que é a indústria do entretenimento.

Nos shows, a dupla “passeia” por sobre o público numa bola inflável de borracha, ou então faz um jogo de luzes para transformar a casa de shows em que os dois estão num cenário que pega fogo, explode, vira o Monte Everest, etc.

A frase de Sorocaba para explicar o motivo de a dupla fazer isso é emblemática: “queremos trazer mais entretenimento para os nossos shows, interagir mais com o público. A pessoa não tem de ficar presa apenas com a música que toca”.

Acostumamo-nos a debulhar elogios para os megashows que acontecem por aqui de vez em quando. O palco em forma de teia, no centro do estádio do Morumbi, montado pelo U2, é apenas um dos exemplos. No passado, eram infindáveis as matérias sobre o séquito de pessoas e parafernálias que acompanhava as turnês de Michael Jackson, Madonna e afins.

Parecia que esse era um universo que não fazia parte da realidade do Brasil. Hoje, porém, a cada dia que passa o mercado da música entende que não basta ter talento, é preciso fazer com que o público se engaje cada vez mais com as músicas e as atitudes do artista.

É exatamente uma visão desse tipo que ainda falta ao esporte brasileiro. Ter sucesso dentro de campo, da quadra, da pista ou da piscina não é suficiente. Precisamos extrapolar isso para ser eficiente também fora do ambiente do esporte. E isso passa, necessariamente, por uma mudança na visão do esporte como parte integrante (para não dizer uma das principais) da indústria do entretenimento.

Um show com interação entre público e artistas tem o mesmo princípio de um jogo de futebol em que é oferecido ao torcedor muito mais do que a experiência durante o rolar da bola. É preciso pensar no conforto e na atenção dessa pessoa desde antes de sair de casa e se preparar para o evento. Do contrário, aos poucos esse torcedor começa a se distanciar daquilo que começou a fazer por paixão.

E quando chegarmos a esse novo patamar de experiência e entretenimento com o público? A própria dupla sertaneja dá o recado. A meta, agora, é começar a compor e a gravar em inglês. O objetivo é ampliar o alcance da música e passar a ganhar mercados além daqueles que falam a língua portuguesa.

Foi assim que os Estados Unidos tornaram o basquete da NBA uma marca universal e é assim que eles trabalham a expansão do futebol americano. Na Europa, é esse o conceito que move os principais clubes de futebol do país.

No esporte brasileiro, temos de acabar com o complexo de que somos vitrine para passar a exportar o nosso produto. E isso não significa levar o atleta para jogar em outras ligas, mas fazer o consumidor de fora gastar dinheiro com os nossos talentos. Só isso fará com que o esporte de fato cresça independentemente dos grandes eventos que estão por vir.


O Fenômeno fará seu último golaço numa Copa?
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Erich Beting

Ronaldo não tem absolutamente nada a ganhar caso venha a ser, de fato, o novo presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014. O anúncio, que pode ocorrer até o final desta semana, colocará o maior goleador de Mundiais num enorme dilema.

Não, leitor, não pense com a cabeça de quem é apenas uma formiga no meio de um oceano como todos nós. Ronaldo é Ronaldo. Talvez represente a maior marca do mercado esportivo brasileiro. Sem dúvida representa o maior jogador brasileiro em Copas depois de Pelé. Foi a três finais do torneio, é o maior goleador do maior evento do futebol mundial, é um ícone da geração que hoje vive o sonho de termos um Mundial no Brasil.

Ronaldo é hoje, também, um executivo que prova ser extremamente competente. O sucesso de sua empreitada, com a geração de um faturamento  recorde em menos de um ano de atuação da 9ine, mostra o quanto o Fenômeno não precisa do cargo de presidente do COL para se promover, para ganhar mais dinheiro ou ampliar a sua rede de contatos.

Aliás, dinheiro não é a questão. Assim como ocorria dentro de campo, em que o que mais lhe motivava era o desafio de fazer o negócio acontecer, fora dele a atuação do executivo Ronaldo lembra muito a do centroavante rompedor e habilidoso que ele sempre foi.

Só que agora ele vai entrar no meio de uma polêmica que envolve denúncias de corrupção, evidências de processos minimamente suspeitos na condução de negócios e mais um monte de outras coisas que um cara com a imagem dele só tem a perder caso responda positivamente ao convite feito por Ricardo Teixera.

Também pelo fato de a proposta vir de quem vem. O manda-chuva do futebol nacional há quase 25 anos e que, hoje, ironicamente vive um de seus períodos de maiores baixas de imagem desde as CPIs que quase levaram a sua derrocada no início do milênio.

Joseph Blatter e Ricardo Teixeira não se bicam mais, e a Copa virou um pepinaço a dois anos de sua realização. Esqueça o papo de que Teixeira sairá em 2015 para galgar passos mais altos na Fifa. Sua história na entidade acabou junto com o contragolpe promovido por Blatter para frear o golpe que vinha sendo articulado por Bin Hamman e seus dólares qataris. Teixeira, como bem ligou os pontos a revista Piauí no famoso perfil que traçou recentemente do presidente da CBF, estava do lado do chefão do futebol no Qatar. Assim como estavam Jack Warner (Concacaf), Julio Grondona (AFA) e Nicolás Leoz (Conmebol). Warner e Hamman já foram sacados da Fifa. Não é de se duvidar que o trio sul-americano tenha o mesmo fim, talvez até o final deste ano.

Sendo assim, a Copa no Brasil precisa urgentemente de um pacificador e, também, de um aglutinador. Ronaldo terá de ter a habilidade de um exímio meio-campista para unir todas as pontas e fazer com que paremos de ter um racha na organização e execução do projeto Copa do Mundo no Brasil. Não dá mais para que governo e Fifa fiquem de um lado, e o COL do outro.

E aí está o maior desafio para o Fenômeno. Se aceitar o convite, terá de segurar a bucha de uma Copa marcada pelo racha entre COL e Fifa, algo nunca antes visto na história do Mundial. Além disso, terá de dar a cara a tapa para ser aquele que vai fazer o evento, de fato, “pegar” no Brasil. O governo já começou a tentar fazer isso com Pelé, e agora Ronaldo poderia ser mais uma figura fundamental para ajudar no processo de engajamento da população com o torneio.

Mas, por fim, entra outro ponto sobre a imagem de Ronaldo caso ele venha a dizer sim ao convite para presidir o COL. Como lidar com o evidente questionamento dos conflitos de interesse que podem surgir? Ronaldo, pessoa física consagrada que é, tem contrato com a Ab-Inbev, patrocinadora da Copa. Tem outro também com a Claro, que é concorrente da Oi, que por sua vez patrocina o Mundial. Sua agência, a 9ine, tem contratos diversos com empresas e atletas que também estão relacionados ao evento.

A Copa de 2014 será no Brasil, não há mais como acabar com esse processo. O convite a Ronaldo coloca-o mais ou menos como quando tinha de chutar para marcar o gol. Espera o goleiro cair, fuzila a bola no gol ou dá um drible a mais? Poucos dominaram essa técnica como o Fenômeno. Agora, porém, não dá para prever qual será o resultado de sua ação.

Se conseguir ter sucesso e não ligar sua imagem ao que há de pior hoje no futebol, Ronaldo pode vir a marcar o maior golaço dentre os 15 que já fez para o Brasil numa Copa do Mundo.


Por que preservar a identidade de um clube é importante
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Erich Beting

“Corintiano, maloqueiro e sofredor, graças a Deus”. Esse é o lema que move grande parte dos torcedores do Corinthians em sua vida esportiva. E que transfere para o campo esse sentimento. O corintiano é, por excelência, um torcedor que está com o time até o fim, vide o que aconteceu na antepenúltima rodada, no jogo contra o Atlético Mineiro, em que o Timão alcançou a virada aos 43 minutos do segundo tempo. A alma corintiana ajudou, e muito, o time a conquistar o resultado dentro de campo.

Da mesma forma, vários outros torcedores de outros clubes têm essas “manias” por assim dizer, que movem a sua paixão pelo time. Só que essas frases da torcida têm muito a dizer e a ajudar os clubes para se tornarem marcas mais poderosas.

Outro dia, conversando com um amigo torcedor do Bahia, surgiu a ideia desse post. Nos anos 80, o Bahia tinha como regra não ser derrotado dentro de casa. Não importava o adversário nem a fase do time. Jogo na Fonte Nova era certeza de vitória. Sua desolação com o time neste Brasileirão era exatamente por ele não estar cumprindo com sua história. Fazia parte do DNA da marca não perder jogos em seu estádio.

No Santos, os “Meninos da Vila” vão guiar o clube pelos próximos anos. Não, aqui não falamos de jogadores, mas de conceito de marca. O Santos, que em 2012 completa seu primeiro centenário, vai deixar clara a mensagem que quer passar: é o time da irreverência, do jovem, voltado para as vitórias com uma equipe formada por atletas com pouca experiência, mas muito talento.

E os outros times?

É preciso urgentemente fazer uma visita ao passado, ou então o dirigente tem de passar mais tempo sentado no concreto da arquibancada. É do torcedor que conseguimos extrapolar o conceito do que é aquela marca. Quando o clube sabe quem ele é, fica muito mais fácil trabalhar. Não à toa, muito do que hoje representa o Barcelona para o mercado esportivo mundial está simplificado numa frase: “Mais que um clube”.

Enquanto esse conceito não permear todas as decisões de um clube de futebol, de muito pouco servirão os estudos com avaliações de valores de marcas de clubes. É muito mais honesto, por incrível que pareça, usar o jargão “tal clube tem uma marca muito forte, mas que é pouco explorada”. Afinal, são raros os exemplos de clubes que fazem um estudo para saber ao menos qual é a identidade de sua marca. A partir daí é que poderemos pensar em comparar potencial de mercado com os resultados efetivos de uma determinada ação.


A Parmalat foi a maior vitoriosa do GP do Brasil!
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Erich Beting

Que Red Bull que nada! A grande vitoriosa do GP do Brasil de Fórmula 1 foi uma empresa que há quase 30 anos não investe na modalidade. A Parmalat talvez tenha tido um dos melhores retornos de exposição de marca com a etapa brasileira da F1.

A volta de apresentação dada por Nelson Piquet a bordo do carro que ele pilotava em 1981 foi um dos pontos altos da transmissão do evento no domingo (veja ao término do texto parte do vídeo exibido pela Globo momentos depois do ocorrido, quando a emissora ainda não estava com a exibição ao vivo do GP).

A exposição que a Parmalat teve mostra o quão permanente pode ser o investimento no esporte. Com uma história de conquistas, a marca da empresa do ramo alimentício italiana ficou perpetuada na memória. É vista, até hoje, como vitoriosa, mesmo após esses anos todos tendo quebrado após a descoberta de um esquema de fraude e estar, atualmente, passando por um processo de reestruturação com novos donos em todo o mundo.

O vínculo emocional que o esporte consegue causar para o consumidor é um dos grandes diferenciais em relação a outros investimentos em patrocínios. O reflexo disso pode ser visto em Interlagos no final de semana. Qual outra marca teria uma exposição dessas durante mais de um minuto se não tivesse uma história de ligação com o esporte?

Esse é só mais um bom exemplo de como o esporte é diferente de tudo quanto é tipo de investimento em patrocínios que criam vínculos entre a marca e o público.


Brasileirão e F1 mostram o mal do esporte ser previsível
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Erich Beting

No esporte, a melhor coisa que pode existir é a imprevisibilidade. A prova disso será tirada neste final de semana, quando teremos, praticamente na sequência, o GP do Brasil de Fórmula 1 e a penúltima rodada do Campeonato Brasileiro de futebol.

Enquanto a F1 já está decidida, o Brasileirão pega fogo com três times como postulantes ao título a duas rodadas do fim. O resultado é óbvio. A F1 tem até promoção de venda de ingressos em sites de compra coletiva, enquanto as filas para compra de bilhetes para os jogos decisivos do Nacional são cada vez maiores.

Um dos grandes desafios do esporte brasileiro no passado foi mostrar para quem investia nele que o maior retorno não é só quando a equipe vence, mas também quando há um grande suspense no ar sobre como será o desfecho daquela disputa.

Há 20 anos, uma empresa geralmente investia no esporte sem pensar que a marca dela poderia não estampar o uniforme do atleta vencedor, mas mesmo assim ela se beneficiaria dessa exposição e dessa ligação com o esporte.

Por isso víamos alguns absurdos em algumas modalidades, como o time de basquete da Nossa Caixa, no início dos anos 90, contando ''apenas'' com Paula e Hortência na mesma equipe. Simplesmente a Ponte Preta conseguiu o título mundial na época, mas o interesse do público pelo basquete caiu, já que não havia equipe capaz de disputar em pé de igualdade com aquele Dream Team.

A temporada de 2011 da F1 foi mais ou menos isso. Só deu Vettel. E qual a graça para o consumidor nisso? Para não ficar só na teoria, vale comparar a audiência do GP do Brasil da Fórmula 1 desde 2006, quando Michael Schumacher se aposentava pela primeira vez.

Naquele ano, a Globo teve 27 pontos de média na medição do Ibope, em prova que também definiu o bicampeonato de Fernando Alonso. Em 2007, Kimi Raikkonen foi o vencedor no GP maluco, que registrou 26 pontos no Ibope. Em 2008, Massa e Hamilton duelaram até a última curva. O resultado, além da vitória  do inglês, foram os 33 pontos de audiência registrados. No ano seguinte, Barrichello ainda tinha um fio de esperança pelo título em Interlagos, e a Globo chegou aos 26 pontos de audiência. No ano passado, com o título ainda indefinido, mas sem os brasileiros com chances de vitória, a audiência despencou: meros 16 pontos.

Ok, vamos tirar um pouco de lado o fato de que a audiência da TV aberta tem caído nos últimos anos, mas qual a expectativa que se pode ter de aumento do índice do Ibope para a prova deste domingo? Sem chance de ter campeão e, além disso, com uma temporada péssima dos brasileiros, a certeza é de que teremos uma audiência terrível para a prova. Um pouco mais tarde, porém, o Ibope do Brasileirão possivelmente registrará um dos melhores resultados aos domingos em 2011.

Do ponto de vista do patrocinador, quanto maior a imprevisibilidade de uma competição, maior é a chance de sua marca aparecer para mais pessoas. E, dado o componente de emoção que envolve o esporte, mais importante ainda é saber que uma eventual conquista de título poderá turbinar ainda mais o resultado do investimento que foi feito.

Na indústria do entretenimento, nada é mais imprevisível que o esporte (o que também faz desse investimento também o mais arriscado e mais caro). Se ele perder essa característica, também perderá, e muito, o seu apelo comercial.