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“Ema, ema, ema, cada um com seu problema”…
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Erich Beting

CT do Corinthians, 11 de dezembro de 2013. Roberto de Andrade, então diretor de futebol do Corinthians, apresenta Mano Menezes como novo treinador do clube. Naquela época, fervia o caso Héverton, jogador que foi escalado pela Portuguesa, numa história ainda mal contada, sem condições de jogo na última partida do Brasileirão daquele ano. A Lusa estava para ser rebaixada, e o dirigente do Timão foi interpelado sobre o que achava do caso. Roberto se esquivou, tentou não falar muito mas, no final, emitiu a expressão que dá título ao post de hoje e que explica bem boa parte dos atrasos do futebol brasileiro.

“Então, ema, ema, ema, cada um com seu problema”, disse Roberto de Andrade para não responder, mas já respondendo, sobre o que pensava do caso da Portuguesa.

A Lusa praticamente começou o início de seu fim naquele episódio. Um clube tradicional do país, que revelou excelentes jogadores de tempos em tempos e que, afundado por erros próprios e de terceiros, caminha para uma melancólica subexistência, para desespero dos Gomes, Pintos, Medeiros, Sás e tantos outros lusitanos que tem na Portuguesa a razão de se apaixonar pelo futebol.

CT do Corinthians, 15 de junho de 2016. Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, explica a saída de Tite do comando técnico do clube, por decisão única e exclusiva do treinador, chamado para dirigir a seleção brasileira.

“Estou puto com a CBF para ser bem exato, pela maneira que eles vieram. Não recebi um telefonema do presidente da CBF. Esse é o respeito. Hoje, tentou falar comigo depois de tudo resolvido. O Corinthians merecia mais respeito”, disse Roberto de Andrade, para então depois vociferar: “Estou rompido com a CBF. Não preciso dela para nada”.

A frase dita dois anos e meio antes por Roberto de Andrade poderia, muito bem, ser usada para explicar o que aconteceu no caso Tite.

Ema, ema, ema…

E é exatamente esse o problema do pensamento da maioria no futebol brasileiro atualmente. Não há qualquer preocupação com o todo. Assim como há dois anos e meio o futuro presidente do Corinthians achava que não deveria se preocupar com o problema alheio, hoje o presidente da CBF também acha que não precisa procurar um filiado para conversar sobre a possibilidade de “roubar” o técnico do time.

O Corinthians depende, e muito, da CBF. Assim como depende da Portuguesa, do Flamengo, do Palmeiras ou do Audax, que há 15 anos nem existia.

O futebol necessita, urgentemente, de união. O que já era ruim ficou ainda pior em 2011, quando o Clube dos 13 entrou em colapso como representante comercial de parte dos clubes da Série A do Brasileiro. A partir dali, o conceito do “ema, ema, ema” se transformou em regra.

O que acontece hoje no futebol do Brasil é reflexo da cultura de achar que não se depende de ninguém para nada. De achar que a grandeza de um clube é maior do que a grandeza do futebol coletivamente.

Talvez hoje Roberto de Andrade saiba que não se pode ignorar os demais. Sim, já se vão quase três anos da infeliz frase do então dirigente de futebol do Corinthians, hoje presidente. Mas a forma como se conduziu todo o episódio envolvendo a ida de Tite para a seleção foi mais um claro exemplo de que nossos dirigentes não entendem que o ecossistema do futebol está, todo ele, entrelaçado.

O “ema, ema, ema, cada um com seu problema” precisa rapidamente se transformar em “ema, ema, ema, todos nós temos o mesmo problema”. Só assim o futebol poderá começar, gradativamente, a sair de uma crise de identidade como provavelmente só vimos após a derrota na Copa do Mundo de 1950.


O que o sim de Tite à CBF pode mudar nas relações do futebol
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Erich Beting

Tite pode vir a ser um funcionário da CBF sendo que, há meio ano, ele assinou um manifesto em que pedia a saída de quem está no comando da entidade. Naturalmente isso se tornou alvo de reportagem e comentários pelas redes sociais tão logo o treinador entrou na sede da CBF para negociar uma possível ida para a seleção.

Os mais puritanos argumentam que Tite será incoerente se aceitar trabalhar para um patrão que ele mesmo pediu para sair não tem nem um ano. Outros, mais pragmáticos, argumentam que o treinador não pode se prender a isso para ter a oportunidade de chegar, com plenos poderes, ao cargo máximo de um técnico no Brasil.

Mas há uma importante discussão por trás de um eventual aceite do treinador para o cargo.

Tite pode não concordar com o que pensa o seu patrão, porém pode perfeitamente trabalhar para ele. Vivemos numa era de aumento de intolerância no convívio social exatamente pela dificuldade que estamos tendo em aceitar uma opinião contrária à nossa.

Quando assinou o manifesto contra a CBF, Tite fez, como boa parte dos outros críticos à forma como a entidade tem sido conduzida hoje, o seu papel como profissional que atua no meio do futebol. Expôs sua insatisfação com a maneira com que o futebol é gerenciado pelo principal órgão representativo dele.

Isso não pode, porém, significar que é impossível a ele sentar, conviver e, quem sabe, melhorar as próprias atitudes dentro da CBF.

Num modelo baseado num sistema político como o do futebol, a melhor forma de conseguirmos fazer aparecer nosso trabalho é fazer parte dessa engrenagem. Isso não significa concordar com as práticas ali adotadas ou fechar os olhos para as condutas erradas que acontecem. É ter a noção de que só é possível conseguir mudanças quando se faz parte do processo de discussão dentro da entidade.

Tite tem a oportunidade de levar seu vasto conhecimento para dentro da CBF e, com ele, ajudar a transformar o futebol desde a raiz, que é uma das maiores críticas que temos feito nos últimos dois anos ainda sob o luto dos 7 a 1.

Pelo histórico do futebol nacional, desde os tempos da extinta CBD, é difícil acreditar que há ouvidos abertos para que as coisas se transformem. Mas, considerando algumas pequenas atitudes recentes da CBF, é inegável que há uma maior abertura ao diálogo, até mesmo com ferrenhos opositores, como nunca antes aconteceu.

Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo, apanhou da opinião pública por aceitar o cargo de chefe da delegação do Brasil na malfadada Copa América do Centenário. Outro crítico ácido dos comandantes do futebol brasileiro, Bandeira foi visto como “vendido” ao aceitar acompanhar o time nacional. Mas será que, como presidente de um clube filiado à CBF, ele não tem de aceitar esse tipo de convite? O cargo que ele representa não é maior do que a vaidade pessoal?

Guardadas as devidas proporções, Tite tem todo o direito de dizer sim para trabalhar na CBF mesmo sendo crítico a seus patrões. E cabe ao comando da entidade entender que esse crítico pode ter muito a ajudar dentro da própria CBF não apenas como treinador do time principal masculino.

Um “sim” de Tite à CBF pode nos mostrar que é importante ter diferenças de opinião dentro de um mesmo ambiente de trabalho. Não adianta nada clamar pela democratização do comando do futebol brasileiro se, quando há a chance de fazer parte do processo, não nos mostrarmos abertos ao diálogo.

Tite é o melhor treinador do futebol brasileiro na década. Logicamente, é o mais indicado para ser o técnico da seleção brasileira. Mas esse “sim” pode ir mais além do que o comando técnico dos jogadores.


CBF tem a oportunidade para mudar rumo do futebol
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Erich Beting

Geralmente é no momento de crise que surgem boas oportunidades para mudar maus procedimentos dentro de uma empresa. E é esse o momento pelo qual passa a CBF.

Em 2014, pós-Copa, a hecatombe diante da Alemanha foi tão forte que nos deixou sem rumo. Falávamos em mudança, mas não saberíamos realmente dizer por onde começar, a não ser que a terra arrasada deixasse o país sem técnico e sem comando no futebol.

No que aparece da porta para fora no futebol brasileiro, parece que nada mudou. Os dirigentes com a carcaça dos 7 a 1 seguem no comando, entre idas e vindas. O treinador é o mesmo de 2010, menos turrão, mas ainda morrendo de véspera como alguns perus por aí. E o futebol está longe de ser o protagonista do passado.

Como já dito aqui no blog desde muito antes, o que precisamos para começar de fato a mudar a seleção brasileira não é necessariamente trocar quem está no comando do futebol. Mas fazer um exercício para identificar qual é a marca do nosso futebol.

Qual é o futebol da seleção brasileira que precisa ser vendido para o público? O Brasil “país do futebol” foi construído pelo que demonstraram nossos jogadores com a bola nos pés. Um produto de exportação único tal qual havia sido o pau-brasil e já foi o café. Com o benefício de que outros lugares não conseguiram, até hoje, produzir um espetáculo tão vistoso – em plástica e eficiência – como havíamos conseguido nos anos 50 e 70.

Enquanto a CBF não determinar o que quer para a seleção brasileira, seguiremos com o Peru entalado na garganta, ou com sete cocos na cabeça. Que tipo de futebol vamos ver a seleção praticar? Ele representa o DNA do futebol brasileiro? Qual é o nosso DNA? O que representa o futebol do Brasil para o restante do mundo?

Semana passada fui à CBF participar de um debate sobre internacionalização do futebol. Expus exatamente esse raciocínio para os dirigentes ali presentes. É a minha visão, longe de ser a verdade absoluta.

A sensação que me dá é de que, enquanto não tivermos a noção exata do que queremos para a seleção brasileira, será muito difícil tentar vender qualquer imagem do futebol brasileiro lá fora que seja minimamente compatível com o produto que estamos ofertando.

O fiasco centenário do Brasil na Copa América do Centenário é a oportunidade que faltava para começar a plantar essa semente. O próximo técnico da seleção brasileira precisa, necessariamente, buscar trazer para o nosso futebol um aspecto que enfatize um desejo coletivo de produto a ser apresentado pelo país.

Não adianta esperar uma revolução nas categorias de base para isso. Há pé-de-obra qualificado para se chegar a um produto minimamente aceitável em termos de qualidade de jogo, desempenho e resultado. Precisa, apenas, ter uma comunicação clara do que se pretende para a seleção brasileira e buscar quem consiga entregar isso.

É isso o que explica parte do sucesso de uma empresa que tenha faturamento de mais de meio bilhão de reais. É isso o que deveria nortear o trabalho da CBF daqui para a frente. O treinador da seleção é um funcionário, não um para-raio de críticas e bode expiatório a cada mau resultado.


Jogo na segunda à noite? É disso que o povo gosta!
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Erich Beting

A grande novidade da festa de abertura do Brasileirão foi a implementação do jogo na segunda-feira às 20h. A medida causa um impacto gigantesco na disputa cada vez mais acirrada pela audiência da TV paga no Brasil. Se, até a próxima semana, a segunda à noite era reservada para as mesas de debates nos canais esportivos a cabo, agora as emissoras terão de achar outro dia, ou horário, para o bate-papo.

O jogo da segunda à noite pode ser considerado o “Jogo do Sportv”. Vai atender aos anseios da emissora, mas também começar a retomar algo que fez parte da cultura futebolística do país nos anos 80.

Naquela época, a segunda à noite era o dia do Campeonato Carioca na TV aberta. Nossa geração cresceu vendo, na Band, o “Canal do Esporte”, o Januário de Oliveira consagrar Super Ézio, Peri de Pelotas, Charles Guerreiro, Valdir Bigode, Valdeir “The Flash” e, claro, os bordões “É disso que o povo gosta”, “Tá lá um corpo estendido no chão” e mais um monte de outras diversões pelos gramados de Moça Bonita, São Januário, etc.

Foi cruel, muito cruel, quando os contratos de TV começaram a se profissionalizar, em 1997, e mudamos radicalmente os horários de transmissão no país. A turma seguinte à minha, que hoje está na faixa dos 20 aos 30, não pegou mais essa distribuição de futebol brasileiro pela TV, aberta ou fechada, ao longo de quase toda a semana.

A realização de um jogo importante na segunda à noite é fundamental para resgatar o princípio da relação entre o esporte e a televisão. A TV é a principal parceira comercial do esporte. Isso não é exclusividade do Brasil. Em qualquer lugar, quem mais coloca dinheiro numa competição é a TV. Depois, muito depois, estão as verbas dos patrocinadores.

Como principal parceiro comercial do esporte, a TV tem o direito de ser bem atendida. É preciso pensar em como dar a ela a maior audiência possível, para recompensar o investimento que é feito no produto pelo qual ela paga milhões. Até porque, ao fazer isso, o esporte diretamente se beneficia de uma maior audiência e maior promoção de seu evento.

É fundamental o futebol brasileiro tentar, constantemente, atualizar suas ideias e pensar em mudanças para deixar o torneio atrativo para todos: atletas, clubes, patrocinadores, mídia e torcedores. O futebol não tem consumo apenas às quartas, quintas, sábados e domingos.

Nos EUA, onde há a maior taxa de ocupação das arenas esportivas e índices altos de audiência, o esporte sabe que, para ser consumido, precisa ter presença constante na telinha.

Afinal, como diria Januário, “é disso que o povo gosta”…


O que fizemos nos últimos três meses?
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Erich Beting

Dentro de um período de três meses cabem 1.440 jogos de futebol. Isso também é o equivalente ao tempo de carreira de um jogador como Zé Roberto, que parece ter fôlego infinito para jogar bola.

Durante três meses, o futebol brasileiro viu uma imensa oportunidade para surgir uma nova liderança.

Marco Polo del Nero precisou se afastar da presidência da CBF, tendo de responder a investigação na Fifa e na Justiça dos EUA, impossibilitado de viajar e preocupado mais com a própria defesa do que com o futuro do futebol brasileiro.

Nesse período, o máximo que os clubes (tidos como a tábua de salvação para o futebol brasileiro) conseguiram foi fazer um acordão com as federações estaduais para organizar a Copa da Primeira Liga, torneio que ficou sem pé nem cabeça no meio de um calendário já inchado.

Durante três meses, os clubes não conseguiram minimamente se preparar para mudar. Em vez de se organizarem e mobilizarem para falar mais grosso na relação com as federações e confederações, se perderam numa negociação sobre direitos futuros de transmissão do Brasileirão. Não por estarem planejando o cenário após 2018, mas por estarem desesperados atrás de dinheiro novo para pagar a conta de 2016, que já tem o acumulado de 2015, 2014, 2013…

Durante três meses, os atletas não se organizaram minimamente para fortalecerem seu movimento que pede melhorias e mais bom senso no futebol. Voltaram-se para seus compromissos com a bola, ignorando os cinco meses de salário atrasados na Portuguesa, ou diversos desmandos de dirigentes, clubes e coronéis espalhados pelos rincões do país.

Durante três meses, os gestores esportivos não se uniram para exigir mudanças. Para propor menos mudanças de comando que geram muito desmando, para cobrar mais comprometimento dos dirigentes, para exigir melhores condições nos gramados dos estádios, para propor melhores condições aos torcedores, para transformar o futebol no produto de entretenimento que um dia ele ainda será.

Durante três meses, os patrocinadores não fizeram uso da força econômica para exigir melhorias no produto onde eles investem milhões e precisam de retorno. Não cobraram explicações para a desordem na CBF, não cobraram os dirigentes por aceitarem horários estapafúrdios para o início dos jogos, que afasta público dos estádios e da TV, não exigiram um melhor tratamento ao consumidor do futebol.

Durante três meses, nós da imprensa não nos organizamos minimamente para elevar o debate, para questionar os coronéis (Nunes e quetais), propor novos ares na gestão esportiva, investigar trocas de favores para manter o status quo, impulsionar a criação de um debate que de fato tirasse da zona de conforto a cartolagem furada do comando da bola.

Quem se mexeu nos últimos três meses?

A CBF criou comitês para discutir reformas e melhorias, deu mais autonomia a gente do mercado no comando de áreas estratégicas, como os departamentos de marketing e de competições, buscou algumas alternativas para tentar, enfim, dar uma nova cara para uma desgastada instituição.

Sim, temos o péssimo futebol do time brasileiro pelo caminho. Sim, saíram alguns patrocinadores de renome como Gillette, Michelin e Sadia (todos por mudança de política de investimento da empresa). Sim, algumas decisões do comitê de gestão da CBF são histórias que nem o Gustavo, meu filho de dez meses, acredita ser para valer. Sim, o Coronel Nunes foi uma piada de péssimo gosto durante os últimos três meses.

Mas, por mais incrível que possa parecer, quem de fato se mobilizou nos últimos três meses para mudar um pouco aquilo que é feito no futebol foi a CBF. Tivemos um vácuo de liderança da bola como há 30 anos não se via no país. E o que fizemos para preenchê-lo?

Não adianta espernear pela volta de Del Nero. Ele, naturalmente, sempre foi o presidente da CBF nos últimos três meses…


Patrocínio esportivo dá trabalho. E é preciso entender isso
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Erich Beting

Diversas vezes, seja por aqui ou na Máquina do Esporte, fazemos críticas pesadas às empresas que insistem em entrar no esporte e saírem rapidamente, sem conseguir deixar um grande legado da relação construída.

As saídas recentes de Michelin e Sadia da CBF são mais um exemplo disso. Mais do que qualquer crise de imagem da entidade, o que pega para as empresas deixarem o patrocínio é o baixo retorno que o investimento trouxe. Mas por que isso ocorre?

A Michelin entrou na CBF em setembro de 2014, após a Copa do Mundo. Em abril de 2015, lançou uma campanha com a entidade para a segurança no trânsito. E parou por aí. Paralelamente, duas de suas principais concorrentes, a Bridgestone e a Continental, avançaram bastante no território de patrocínio esportivo no Brasil.

A Bridgestone usou ainda mais o title sponsor da Copa Libertadores para ativar a marca com parceiros comerciais e clientes. A Continental entrou no patrocínio à Copa do Brasil em 2015 e neste ano comprou a cota principal do torneio, também dando seu nome a ele. Em todos os jogos, faz ações com clientes e parceiros.

E a Michelin, o que fez? Levou clientes para acompanhar jogos da seleção brasileira pelo mundo? Fez ação promocional para a Copa América em 2015? Durante um ano, ficou praticamente sentada em cima do patrocínio, olhando a CBF entrar num furacão e não percebendo que ainda há valor em associar a marca à seleção brasileira, por mais enrolada que esteja a entidade que é dona dessa marca.

A Sadia, da mesma forma, usou bastante a seleção na época da Copa do Mundo num marketing de emboscada sobre a Marfrig, que patrocinava o Mundial. Depois, praticamente ignorou a seleção e os ativos que ela tem a oferecer.

Há poucas semanas, a Vivo levou clientes para treinarem na Granja Comary com alguns ex-jogadores que vestiram a camisa da seleção, como o atacante Careca. Não é nada demais, mas é a típica ação que fideliza consumidores e faz com que o patrocínio vá além da exposição na camisa.

A primeira mudança de mentalidade que precisa existir nas empresas que decidem patrocinar o esporte é saber que o fundamental não é a exposição de marca, mas as oportunidades de aproximação com o cliente que o patrocínio proporciona. E isso, de certa forma, só é possível de acontecer com bastante trabalho.

Para que um patrocínio tenha sentido, é preciso fazer um longo trabalho de base que vá além da exposição da marca. Sem isso, geralmente, a conta fica salgada demais quando se olha a relação custo x benefício do investimento.


A Sadia e a visão deturpada do que é patrocinar
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Erich Beting

Em 2009, o mercado de patrocínio esportivo no Brasil entrou em ebulição. Com o país confirmado como sedes da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 e com a economia confirmando a “marolinha” da crise internacional, todas as marcas trataram de criar seus “projetos esportivos”.

O ano de 2010 foi marcado pela corrida rumo ao pote de ouro. Foi a época em que pipocaram patrocínios nas camisas de times, gerando os abadás de atualmente, e também foi o momento em que as confederações olímpicas, pela primeira vez, viraram o fio, deixando de depender exclusivamente de verba pública para ter patrocínios de empresas privadas.

A expressão “projeto olímpico” passou a ser conjugada pelos departamentos de marketing das empresas, ávidas para tentar marcar presença no Rio-2016 de algum jeito.

Em meio a essa euforia, a Sadia foi uma das marcas que se destacou. Fechou, de forma rápida, patrocínios às confederações de judô, ginástica e natação, três com alto potencial de medalha no Rio. Depois, anunciou acordo com os Jogos Olímpicos. E, por fim, já em 2013, ampliou a atuação no esporte com os patrocínios à Copa do Brasil e à CBF.

A festa não chegou nem até o Rio-2016. De todos os patrocínios, agora, só resta o das Olimpíadas. E, mesmo assim, só porque os danos que a empresa sofreria (em multa e imagem) se decidisse romper o contrato seriam maiores do que continuar com o status de patrocinador, mas não fazer rigorosamente nada durante o evento, que é o que deve acontecer.

Com o mercado em retração, o cenário de megaeventos não se concretizando tão bem quanto parecia e um futuro incerto, a saída da Sadia da CBF marca o fim de mais uma aventura da empresa no esporte. Nos anos 80, a marca era sinônimo de vôlei, abandonou essa história ao mudar a direção e tentou, sem o mesmo sucesso, retomar uma ligação com o esporte.

O erro maior da Sadia foi, como a maioria das empresas no país, o de acreditar que uma estratégia boa de patrocínio é aquela formada por uma amplitude de investimentos que garantam um mínimo de visibilidade para a marca. No fim das contas, a gastança da empresa, que chegava aos quase R$ 80 milhões ao ano com patrocínio ao esporte, era praticamente inútil.

Raramente as empresas olham os cases de sucesso antes de fazerem um investimento. Se o fizessem, perceberiam que, muito mais eficiente do que pulverizar investimentos é concentrar a verba em um ou dois esportes e, com o restante do dinheiro, comunicar constantemente esse patrocínio ao público. Só isso pode dar mais resultado do que o cada vez mais batido retorno de exposição à marca.

Foi essa, a grosso modo, a estratégia adotada também pela 99 Taxis. A marca entrou numa série de clubes e, assim, não teve fôlego para se comunicar com os torcedores de cada uma das equipes. O que ficou após um ano, além de um espaço vazio no uniforme e a chance de outra marca ocupar esse lugar de forma mais eficiente?

Do jeito que foi conduzida a política de patrocínios da Sadia, a saída da marca do esporte era tão natural quanto a entrada dela. O mais curioso é que tudo aconteceu antes do que seria o “grande momento” para a marca. Na lógica da empresa, porém, é mais eficiente investir em publicidade nos meios tradicionais do que procurar um jeito mais estratégico (e difícil!) de aproximar a marca do público.

No fim das contas, o episódio só gera danos a todos os envolvidos. Financeiro ao esporte e de marca para a empresa.


Com veto, CBF ligou a Primeira Liga
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Erich Beting

A CBF conseguiu fazer, pela Primeira Liga, mais do a própria entidade criada pelos clubes havia conseguido. A decisão de vetar o aval que havia sido dado para a competição dos clubes foi a melhor atitude tomada para que o torcedor se aproximasse do torneio.

Desde o seu nascedouro, a Primeira Liga tem encontrado dificuldades para existir. Briga entre os dirigentes, demora nas costuras políticas para definir a existência da competição, desencontro em declarações, falta de promoção do torneio para os torcedores. Os presidentes de clubes tinham, até ontem, enorme dificuldade para fazer o torneio se promover. Faltava foco para que os clubes pudessem se preocupar em fazer a Primeira Liga virar uma competição de interesse do torcedor.

O veto da CBF ao torneio, porém, parece ter ligado uma chama no torcedor. Se, até então, ele estava ali meio que em pré-temporada, só esperando ver no que ia dar, agora virou questão de honra ver – e consumir – a Primeira Liga. Até mesmo protesto em frente à Ferj, no Rio, está sendo agendado!

Por que isso acontece?

A CBF não conseguiu entender que, ao vetar a competição, ela está não apenas atrapalhando os dirigentes na formação de um movimento de diluição de poder. A entidade, ao brecar a Primeira Liga, fere diretamente o ego do torcedor. Quem é que pode determinar algo sobre a paixão da torcida?

Agora, parece ter virado questão de honra, para o torcedor, que a Primeira Liga exista. Como pode uma entidade que tem os três últimos presidentes acusados de crimes de corrupção, sendo que um deles está preso, se achar no direito de querer moralizar alguma coisa? Essa é a lógica básica que passa na cabeça do torcedor. E ela faz pleno sentido!

Uma coisa era a força dos clubes em criar um campeonato paralelo e, assim, conseguir fazer o negócio virar. Outra, bem diferente, é o torcedor comprar a ideia, desde o início, de que a Primeira Liga é um torneio para acabar com o círculo vicioso que corroeu boa parte do futebol pelo qual ele é apaixonado. Se, antes, o desafio da liga era justamente tentar engajar o torcedor para que o torneio viesse a ser atrativo nos próximos anos, agora é só colocar o carro para rodar – e fazer uma competição minimamente aceitável – para que as coisas fluam com naturalidade.

Como a memória de dirigente parece ser curta, vale um lembrete. Foi mais ou menos esse o mesmo caminho que teve de percorrer a Liga do Nordeste, há quase dez anos. Por determinação judicial o campeonato teve de ser reconhecido pela CBF e voltar a ser organizado. No primeiro ano, foi tudo no improviso, contra a vontade da entidade então chefiada por Ricardo Teixeira e com a força de organizar a Copa do Mundo de 2014, mas com o desejo do torcedor de ver o torneio “vingar”. Hoje, a Copa do Nordeste é a terceira maior competição nacional que existe no Brasil e foi uma das molas para promoção do Esporte Interativo no país.

A Primeira Liga, pelo visto, deu liga. E pode agradecer a CBF por isso…


Abílio Diniz seria o fato novo que a CBF precisa
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Erich Beting

A tentativa de articulação de Marco Polo Del Nero para manter tudo aparentemente como está na CBF tem hoje um dia decisivo, com o término do prazo para inscrições de candidatos para a vaga de vice-presidente da região Sudeste, posto que era ocupado por José Maria Marin.

Há uma corrente, que envolve gente graúda e preocupada com mudanças no futebol, que tenta convencer Abílio Diniz a se lançar candidato.

Nenhum dos 27 presidentes de federações, e dos vice-presidentes que estão na CBF, conseguem ter a imagem forte de Abilio, nem o preparo dele para conduzir mudanças realmente profundas no futebol, mesmo o executivo sendo, até hoje, apenas um fã ardoroso do esporte.

Diniz tem uma oportunidade única.

O problema é que são menos de 3h disponíveis para que ele dê o sim para a proposta. E, se aceitá-la, com a mudança de forças no colégio eleitoral da CBF, conseguiria aplicar a manobra do bem em cima da manobra que vem sendo articulada para que Delfim Peixoto não consiga ser o novo presidente da entidade com a renúncia mais do que certa de Marco Polo Del Nero.

Abilio Diniz Seria o fato novo de que a CBF tanto precisa.

Acossada por crimes cometidos pelos três últimos presidentes e revelados pela Justiça dos Estados Unidos a partir da delação premiada de J. Hawilla, a CBF, por uma questão de sobrevivência, tem de começar a realmente mudar. Até para o nosso futebol não viver da geração espontânea que insiste em nos manter fortes, apesar de tudo.


Briga na CBF mostra que troca de poder sempre é lenta
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Erich Beting

Quando Ricardo Teixeira se afastou da presidência da CBF, em março de 2012, ficou claro que abria-se ali um vácuo de poder dentro do futebol brasileiro. Depois de quase 25 anos, a maior liderança saía de cena para não mais voltar (hoje percebe-se quão bem antecipado foi esse movimento feito por Teixeira).

O levante que começa a ser organizado pela Primeira Liga e pela carta dos clubes paulistas (detalhes aqui) mostra que qualquer troca de poder, quando feita de forma democrática e pacífica, requer tempo. Não bastou Teixeira renunciar há quase quatro anos. Muito menos José Maria Marin ser preso em maio deste ano.

Só quando Marco Polo Del Nero caiu acusado pelos mesmos crimes de seus dois antecessores é que os clubes perceberam que haveria condições para levantar a voz contra o poder constituído há quase três décadas.

Em 1987, os clubes decidiram dar um tapa na enfraquecida e falida CBF para assumirem o poder e criarem a Copa União. Desgastada pelos sucessivos desmandos da ditadura militar, que levaram o Brasileirão de 1986 a ter 80 clubes, 680 jogos e terminar só em fevereiro de 1987, a CBF teve de aceitar a imposição dos clubes e entregou a eles o controle do Brasileirão.

Agora, quase 30 anos depois, são os sucessivos desmandos de gestões fraudulentas que levam a CBF a ter de aceitar a nova imposição dos clubes. Se não for agora, será no próximo ano. Mas, da mesma forma que não havia condições para a entidade trazer para si a gestão do futebol jogado entre clubes naquela época, agora também não há.

O poder começa, lenta e gradualmente, a trocar de mãos.

Lá atrás, o movimento de transferência de poder aos clubes acabou a partir do instante em que Ricardo Teixeira, amparado pelo sogro João Havelange, então presidente da Fifa, assumiu o controle do futebol, em 1989. Hoje, é difícil imaginar que exista alguém que consiga ter poder suficiente para recolocar os clubes sob controle.

A mudança representa, nesse começo, um sopro de esperança. O problema a resolver, na cada vez mais natural Liga do Brasileirão, é o contrato de televisão. Se continuar negociado de forma individual, a liga não terá força econômica suficiente para levar o poder todo para as mãos dos clubes. Para essa mudança acontecer, porém, a mentalidade dos dirigentes de clube precisa mudar radicalmente.

É exatamente nesse sentido que paira a grande dúvida sobre o quão eficiente será, para o espetáculo futebol, a transferência de poder que se aproxima.