O que representa o fim da Era Campos Pinto para o futebol
Erich Beting
Marcelo Campos Pinto já estava sendo colocado para escanteio na Globo há algum tempo. Desde que foi determinado o fim do adiantamento de cotas de TV para os clubes, meio que sem alarde, durante a Copa do Mundo, que o chefão do futebol da Globo nos últimos 20 anos começou a perder seu grande poder dentro da Globo.
Com os escândalos recentes no futebol, e a sempre próxima relação do executivo com as figuras centrais dos episódios que têm furado diversas cartolas mundo adentro, a situação de Campos Pinto ficou ainda mais complicada. Para “piorar”, o grande interesse de Roberto Marinho Neto pelo tema esporte e direitos de transmissão ajudaram a aumentar a ingerência da Família Marinho sobre aquele campo que praticamente tinha dono único na emissora.
Campos Pinto talvez tenha sido, na última década, uma das figuras mais poderosas do futebol brasileiro. Seu crescimento na Globo veio na vitória pelos direitos da Copa do Mundo de 2002, após a conturbada negociação com a ISL, quando a emissora adiantou parte da verba pelos direitos, viu a agência falir envolvida num megaesquema de corrupção e livrou a empresa de um enrosco ainda maior.
A partir dali, ele passou a ditar as negociações. E, usando-se do artifício do adiantamento de cotas, passou a reger todo o destino sobre os direitos de TV no país. Em 2003, quando os clubes tentaram um levante para migrar para o SBT com o Brasileirão por pontos corridos, Campos Pinto usou o adiantamento de mais de R$ 50 milhões para manter os clubes sob contrato. Depois, em 2011, quando o Clube dos 13 começou a ruir, foi ele quem renegociou os contratos com os clubes, passando os direitos, antes negociados coletivamente, para os acordos individuais.
Ao que tudo indica, a Globo adotará uma nova postura na negociação de direitos. Campos Pinto sempre foi muito próximo dos dirigentes de clubes, vivia dando expediente na CBF e costumava ter liberdade para falar em nome da emissora. Centralizador, não deixava de liderar qualquer negociação que envolvesse o futebol.
Nas últimas semanas, o executivo vinha abrindo negociações com os clubes para tentar ampliar, de 2018 para 2020, os direitos de transmissão do Brasileirão com os clubes. Agora, com uma negociação menos centralizada, o projeto pode acabar sendo colocado em segundo plano pela própria Globo.
A saída de Campos Pinto do lado do principal financiador do futebol pode representar uma grande ruptura do modelo que foi criado em 1997, quando a emissora passou a querer exclusividade sobre o esporte, e gerar uma nova relação entre os dirigentes e a emissora.
No momento em que os clubes começam a ter cada vez mais interesse em assumir a gestão de campeonatos, a saída de quem negociava os direitos de transmissão da Globo é o primeiro passo para que um novo modelo comece a querer sair da inércia.
A Globo não deverá deixar de ter os direitos sobre os principais campeonatos do país. Mas ela perderá a influência que o principal executivo destacado para o futebol exercia sobre os dirigentes. E isso poderá, no médio prazo, significar um novo tipo de relação entre o futebol e a Globo.
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