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Rio pode mudar a relação das marcas com Jogos
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Erich Beting

Quando o torcedor chegar ao Parque Olímpico no sábado para as primeiras competições do Rio 2016, vai se deparar com uma situação não tão comum em Olimpíadas. Diversas marcas estarão com stands expostos para entreter o torcedor. A novidade brasileira tem relação com algumas características locais que podem levar para um outro patamar a relação entre patrocinadores e Comitê Olímpico Internacional (COI).

A revolução promovida pelo COI nos anos 80, que ajudou a transformar os Jogos Olímpicos num assombro comercial, já está precisando ser revista. Com valores de patrocínios cada vez mais altos, mas com a atenção do consumidor cada vez mais dividida, investir na Olimpíada precisa ter um novo significado. Não adianta mais ficar na fórmula em que a exposição de marca inexiste.

E aí é que entra o cenário do Rio.

Os patrocinadores terão, no parque, mais exposição de suas marcas e oferecerão mais experiências inéditas aos torcedores. Isso é uma forma encontrada pelo COI de ampliar o relacionamento do público com as empresas e, das marcas, de poderem se aproveitar de benefícios exclusivos.

“É muito bom poder ver a nossa parceria com a Samsung crescendo. Temos pela primeira vez uma linha exclusiva de produtos, e também esse espaço aqui, além daquele que sempre foi feito para os atletas”, resumiu, na terça-feira, durante a apresentação à imprensa do espaço da Samsung no Parque Olímpico, Timo Lumme, diretor geral de marketing e TV do COI.

O executivo mostra que a preocupação do comitê é ir além da simples relação de patrocínio + ativação na mídia. A Samsung dá um ótimo exemplo disso. A marca aproveitou que terá o stand no parque olímpico para apresentar um arsenal de novidades tecnológicas. O torcedor poderá usar óculos de realidade virtual, testar o modelo de telefone personalizado dos Jogos e comparar como evoluiu o patrocínio da empresa às Olimpíadas por meio das inovações nos aparelhos de telefone celular produzidos pela marca.

De certa forma, é a maneira de aplicar o conceito de ativação de patrocínio de um grande evento. Se, antes, o mercado se satisfazia em fazer isso por meio de filmes publicitários, agora ele necessita que o torcedor vivencie uma experiência de marca durante o evento.

Aos poucos, o mercado de marketing esportivo vai se adaptando às novas realidades. Os megaeventos acabam servindo como plataforma para lançamento de inovações das marcas. E, no Rio, a novidade é que isso será feito, quase que em tempo real, com os torcedores que forem aos Jogos.


COI tenta manter Olimpíada jovem com novos esportes
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Erich Beting

Surfe, skate, escalada, caratê e beisebol serão as novidades do programa olímpico a partir de 2020. À exceção das duas últimas modalidades, incluídas muito também por conta do peso que possuem no Japão, país-sede do evento daqui a quatro anos, a escolha do Comitê Olímpico Internacional (COI) mostra muito a preocupação que existe para manter acesa – e jovem – a chama dos Jogos Olímpicos.

Desde Londres-2012 que o COI se preocupa em tentar entender como os Jogos podem se relacionar com o jovem. A invasão das redes sociais tumultuou todo o esquema de venda de direitos de transmissão do evento. As regras rígidas de controle sobre quem pode publicar o que não ajudam a trazer o jovem para perto dos Jogos. E, para piorar, a tradição de um evento centenário faz com que os mais novos estejam longe de achar que a Olimpíada é um evento para eles.

A escolha de surfe, escalada e skate fere o princípio olímpico. Como pode um maratonista ter o mesmo status de um skatista? Ou de alguém numa escalada? Pode. E terá, cada vez mais, uma função importante para a estratégia de comunicação com o público do COI.

Se não abrir os olhos para os esportes que surgiram e cresceram nos últimos 50 anos, o COI rapidamente cairá no mesmo erro de uma Fórmula 1, que cada vez mais se aproxima do nicho, sem renovar o seu consumidor.

A tarefa principal do COI é preservar o espírito olímpico que fez a fama dos Jogos e do próprio comitê. Para isso, não só a tradição tem de ser preservada. É preciso renovar, sempre, o interesse das pessoas pelas Olimpíadas. Ou, como afirmou Thomas Bach, presidente do comitê, ao justificar as escolhas:

“Queremos levar o esporte ao jovem. Com as diversas opções que os jovens têm, não podemos mais esperar que eles venham até nós. Temos de ir até eles”, afirmou.

A tendência, para o futuro, não é apenas a inclusão de outros esportes não-tradicionais nas Olimpíadas, mas também a exclusão de algumas modalidades que foram importantes, mas que hoje representam dispêndio de tempo e grana para os organizadores, sem gerar tanto envolvimento do público.

O COI precisa do jovem. E mostrou que pode romper um pouco a tradição para ir em busca dele. Falta, agora, o comitê ter o mesmo tipo de atitude em relação ao trabalho que faz com a mídia. Especialmente nas redes sociais.


Clima olímpico desembarca no Rio
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Erich Beting

A cada ponto de ônibus, uma propaganda de um patrocinador. Nas ruas, voluntários, profissionais de mídia e até mesmo atletas transitam entre as pessoas. Se alguém tinha dúvidas se os Jogos Olímpicos aconteceriam, elas começaram a ser sanadas desde a segunda-feira, dia 1º.

A virada do mês representou também a chegada do clima olímpico ao Rio. Os transtornos do trânsito adaptado à faixa olímpica, o aumento da muvuca no metrô, a confusão de uma cidade ainda em construção quando deveria estar pronta para os Jogos.

Tudo isso começa a ser colocado para escanteio, à força, pela chegada do evento. Não tem mais o que fazer a não ser entrar no espírito olímpico. O evento acontecerá, apesar dos erros do Rio de Janeiro.

E é esse o ponto de virada que tomou conta do Rio desde segunda-feira. Há uma semana, quem vinha à cidade sentia que algo estava para acontecer, mas ainda era uma realidade distante. Agora, com a Olimpíada invadindo cada local de convívio do carioca, o caminho é sem volta.

Publicidade nos pontos de ônibus e até pista de atletismo no metrô dão o clima olímpico ao Rio

Publicidade nos pontos de ônibus e até pista de atletismo no metrô dão o clima olímpico ao Rio

Mas por que isso acontece?

A maior lição que um megaevento nos deixa é sobre a necessidade que existe de patrocinadores, parceiros de mídia, organizadores do evento e poder público se engajarem para fazer o evento “pegar”. A diferença que existe é gritante, especialmente num mercado ainda em desenvolvimento como a indústria do esporte brasileira.

Acostumamo-nos, por aqui, a apenas nos preocupar com o evento esportivo apenas no que se refere ao âmbito da competição entre atletas. Assim, negligenciamos toda a parte de promoção do evento, que fica quase sempre relegada ao deus-dará da mídia, que atua com o compromisso de ser fiel aos fatos, não ao negócio.

Quando chega um megaevento, em que o próprio país despeja um grande montante de investimento (em dinheiro e energia), a necessidade de fazer o evento pegar é enorme. Por isso, há uma cobrança forte por parte do Comitê Olímpico Internacional em cima de parceiros comerciais, de mídia e cidade-sede para que os Jogos aconteçam.

Se há um legado que os Jogos deixam é o da importância de se fazer um evento cair no gosto das pessoas para ser um sucesso. E que, para conseguir isso, é preciso trabalhar bastante.

Não existe mágica. Assim como a conquista de uma medalha, é preciso de muito esforço para que o evento seja percebido pelo público. Negligenciar a importância de criar um clima antes do evento é o primeiro erro. Demorou, mas o Rio mostra que essa primeira etapa foi vencida.


Qual Brasil queremos ser?
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Erich Beting

A pergunta, se não me falha a memória, já surgiu em outro post no longo dos sete anos de processo entre a escolha por candidatura única do Brasil a sede da Copa do Mundo e o Mundial em si. E, agora, ela é repetida, de forma ainda mais enfática, dada a situação do país como um todo.

Que país queremos ser?

Está chegando a hora de passarmos pelo nosso segundo megaevento. E, com ela, a cobrança que isso gera para o país. Podemos achar normal entregar uma obra ainda sem os arremates finais. Atrasar o cronograma em “alguns diazinhos”. Gastar com extras supérfluos dentro de algo grandioso.

Na cabeça do estrangeiro, isso não é normal. Por isso mesmo, as críticas aparecem de forma pesada. E tornam proporções mundiais.

O maior problema, porém, é que simplesmente não sabemos aceitar essa crítica.

O “chute no traseiro” de Jérôme Valcke e o “canguru” australiano foram prontamente rebatidos com veemência pelos nossos políticos. E da pior forma possível. Tratamos as críticas como algo que fere a soberania nacional, sem fazermos o serviço de autocrítica de como nos comportamos ao longo de 6 anos e meio de preparação para os Jogos Olímpicos.

 

Pior ainda é ver como Eduardo Paes tenta desmerecer as críticas que o Rio recebe, ou tenta ironizá-las, sem ao menos fazer a mea culpa e reconhecer que o erro é todo nosso. Imagino qual seria a reação do digníssimo prefeito do Rio se ele chegasse a um hotel em Maricá que estivesse sujo. Se é que ele aceitaria se hospedar em Maricá…

O exercício que Copa do Mundo e Jogos Olímpicos deveriam ter gerado para nós, brasileiros, era o de exame da consciência. Os megaeventos servem para apresentar nosso país ao mundo. Que imagem queremos deixar? A de um país encantador, mas cheio de defeitos? Ou a de um país encantador, que batalha e se esforça para ser de primeiro nível?

A Copa já havia mostrado para o estrangeiro que, apesar dos pesares, fizemos um evento espetacular. As Olimpíadas, como expus aqui outro dia, também nos deixarão a mesma impressão. “No final dá certo”, mas qual o preço que se paga por isso?

Quando nossos políticos se comportam como crianças birrentas diante de um puxão de orelha ao rebater as críticas que são recebidas, nós colocamos a perder a grande chance que havia com os megaeventos. Eles poderiam ajudar a mostrar ao mundo que o brasileiro é um povo muito mais do que apenas cativante. Somos preparados, dedicados, batalhadores.

Bilhões de reais estão sendo investidos por empresas privadas nos Jogos Olímpicos para ajudar a transformar a imagem do país para o estrangeiro. Empresas que têm investido bastante para tentar promover o evento e fazer com que ele seja realmente transformador, de alguma forma, da nossa realidade. 

Quando ironiza as críticas sobre as falhas da organização do evento, Eduardo Paes joga contra não apenas a própria imagem, mas também a do Brasil como um país que cresceu e chegou à fase adulta. O Brasil que queremos ser ficou, mais uma vez, deitado eternamente em berço esplêndido…


Procura por Rio 2016 dá motivo para “soberba” do COI
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Erich Beting

Primeiro foi o Zika. Depois, a falência do Estado. Agora, as reclamações que sempre acontecem pré-Jogos com os primeiros a desembarcarem na Vila Olímpica (e que quase sempre estão corretas). Coloque mais alguns ingredientes nesse bolo. Um país com uma instabilidade política enorme, cercado por constantes protestos. A violência local flagrante. E o medo de um novo modelo de terrorismo, muito mais imprevisível e solitário. Tudo isso num ambiente que é completamente novo para os Jogos Olímpicos.

A lista de motivos para não ir ao Rio de Janeiro no próximo mês parece ser, a cada dia, mais extensa. No mesmo dia em que o Comitê Organizador do Rio 2016 colocou 100 mil ingressos à venda, o Ministério da Justiça brasileiro disse ter capturado dez pessoas que agiam de forma suspeita, planejando um ataque terrorista ao evento. Se havia mais um bom motivo para não sair de casa, ele apareceu ali, sem nem disfarçar sua cara de zombeteiro.

Mas, no final das contas, já são 75% dos ingressos vendidos para o Rio 2016. Sim, é possível usar o “já” na expressão. Afinal, esses Jogos são num país com baixíssima cultura poliesportiva e em meio a situações nem um pouco convidativas para acompanhá-los. E, mesmo assim, a meta de faturamento com a venda de ingressos já foi alcançada e pelo menos 3/4 das arenas estarão preenchidas.

A carga de 100 mil ingressos extras se esgotou, e os eventos “encalhados” são aqueles que não têm muito apelo nem para o público nacional, nem para o estrangeiro. É parte do jogo das Olimpíadas termos eventos de baixo interesse das pessoas. Em Londres, há quatro anos, as primeiras disputas aconteceram com clarões na arquibancada que coraram a família real. Depois de colocarem guardas do exército para preencher os espaços, o comitê optou pela decisão mais óbvia. Recolocou os ingressos à venda na bilheteria. E as arenas lotaram…

Outro dado que chama a atenção para o Rio é a venda de produtos licenciados. O Rio 2016 já fala em conseguir superar em 17% a estimativa inicial de venda. Sinal de que as pessoas têm procurado os produtos com a marca dos Jogos.

Em meio ao caos pré-olímpico, o Rio de Janeiro dá ainda mais motivo para o Comitê Olímpico Internacional (COI) poder dizer que os Jogos são o maior evento do planeta. Na falta de um, o Rio deu dezenas de motivos concretos para que as pessoas não se deslocassem até a cidade para acompanhar os Jogos. E, mesmo assim, o evento aparentemente vai ser um sucesso.

Aos 120 anos, os Jogos Olímpicos conseguem se descolar da realidade local e entregar para o público um evento de alto grau de interesse. E, para o COI, fica a certeza. A soberba apresentada quando se impõe uma série de condições para uma cidade ser candidata a receber uma Olimpíada tem a sua parcela de razão.


“Segunda Campeã” exige profissionalismo do atleta
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Erich Beting

Até que demorou mais do que esperava a primeira discussão acerca da proposta do SporTV na “Segunda Campeã”, como está sendo apelidado o jogo de segunda-feira à noite transmitido pela emissora com exclusividade. Veio do ex-jogador Tinga a crítica sobre o fato de os jogadores terem de conceder, dentro de um estúdio, ainda com a roupa de jogo, a entrevista para o programa “Bem, Amigos”, que começa colado na sequência da partida.

Na primeira “Segunda Campeã”, o vazamento da conversa de Cuca com Diego Souza sobre o time do Santos gerou insatisfação dos palmeirenses. Desta vez, Tinga desceu a lenha no fato de os jogadores serem obrigados a irem direto do campo para a entrevista “ainda cansados”, segundo argumentou o ex-jogador de Inter e Cruzeiro.

Particularmente, achei a proposta da entrevista pós-jogo num estúdio, só com dois jogadores e um treinador, um formato bem interessante. O atleta ali, ainda com o uniforme de jogo, é um elemento novo para os programas de debate. O “confronto” entre jogadores que acabaram de sair da partida, bem como de um treinador, também é outra situação que agrada do ponto de vista jornalístico. Ainda acho que o “Bem, Amigos” deve explorar ainda mais o conteúdo jornalístico trazido por essa situação, focar a entrevista nos detalhes do jogo, instigar ainda mais o atleta e o treinador, mas isso também fugiria demais da característica do próprio programa.

Para o torcedor, acredito também que seja legal sair daquele formato batido e modorrento das entrevistas coletivas pós-jogo. Lentas, massacrantes, repetitivas, etc. Ali existe mais dinamismo, o atleta está ainda com o jogo quente na cabeça, existe o confronto direto do debate com outros atores da partida.

Mas e para atletas e treinadores, será que Tinga está certo em reclamar?

Já havia tido essa percepção logo depois de Sport x Palmeiras e reforcei-a acompanhando o pós-jogo de Cruzeiro x Atlético-PR. O jogador precisará ser muito mais profissional para encarar esse bate-papo após a partida.

Respostas menos pasteurizadas, inteligência para se posicionar, preocupação com a imagem que será transmitida por ele após o jogo. Tudo isso é exigido no formato apresentado até agora. O atleta não poderá ficar naquela mesma expressão de sempre, mantendo o mesmo padrão de resposta, fugindo de respostas mais agudas.

No esporte profissional, o atleta precisa entender sua posição como protagonista não apenas dentro de campo. Ele tem de saber se posicionar e fugir do padrão. Nesse formato da “Segunda Campeã”, o jogador de futebol, pela primeira vez, precisa ser um pouco mais do que alguém que “faz parte do grupo”, que “chegou para somar” e que o “importante são os três pontos”.

E, como qualquer mudança de padrão, ela gera descontentamento. O fato é que o jogador de futebol no Brasil está tendo de sair da zona de conforto para ser mais atleta, mais profissional. “Só” jogar futebol é tarefa fácil demais nesse cenário…


UFC revela a importância de o esporte ser visto como negócio
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Erich Beting

Dana White é um personagem midiático, muitas vezes controverso, mas inegavelmente sua figura é importantíssima para a construção da marca do UFC que levou a liga de MMA a ser vendida no início da semana por US$ 4 bilhões, num negócio que envolveu 2 mil vezes mais dinheiro do que na primeira venda do UFC, há 15 anos.

A valorização espetacular do UFC é reflexo de um pensamento que parece difícil de ser encarado por quem trabalha com esporte: a liga só alcançou esse valor de venda por ter sempre tido a visão do esporte como negócio.

O crescimento do UFC se baseia no princípio de que o evento é muito maior do que a luta em si. Logicamente que o torcedor quer consumir a luta, os atletas, o esporte. Mas o evento que vai envolver essa batalha precisa ser impecável. Ele precisa representar, para quem está em casa ou no ginásio, necessariamente uma experiência agradável de consumo.

Aqui no Brasil o gestor quase sempre está preocupado com o que acontece na disputa esportiva. O olhar, focado exclusivamente para o esporte, desvia completamente o foco daquele que vai estar ao redor da disputa. Não há uma preocupação em atender bem o torcedor. Ele é visto, muitas vezes, como um elemento à parte do negócio, quando justamente é o contrário que precisa acontecer.

Geralmente as brigas mais acirradas que Dana White se envolve têm como motivo alguma insatisfação de atleta com medidas tomadas pelo UFC. Patrocínio coletivo, ranking por desempenho, suspensões ou escolhas de cards de lutas. Você dificilmente vê Dana White tendo de pedir desculpas ao consumidor por não entregar a ele um ótimo produto. Na batalha pelos milhões em bolsas e patrocínios é que geralmente reside a crise de imagem do UFC.

Esporte é entretenimento. E, como tal, precisa entender que é preciso olhar para a gestão de um evento para muito além da disputa esportiva. O gestor precisa assegurar que o conteúdo do esporte seja de boa qualidade, mas não pode desperdiçar toda a sua energia nisso. É preciso se preparar para entregar ao torcedor, à mídia e aos patrocinadores uma experiência de qualidade também.

Não é tão por acaso que quando o UFC deixou de ser um evento pensado pelos espetaculares esportistas da família Gracie ele começou a crescer tanto que, agora, deixou de ser um negócio de US$ 2 milhões com ótimo potencial para um evento de US$ 4 bilhões, de alcance mundial e que, por incrível que pareça, ainda tem fôlego para ampliar o potencial de geração de receitas.

A chave, para qualquer esporte crescer, é olhar todas as pontas do negócio em que ele está inserido. O UFC é o melhor exemplo de como isso é importante.


Atletas olímpicos não estão na Grécia Antiga
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Erich Beting

A polêmica do dia foi provocada mais uma vez via redes sociais. Raquel Endres, mulher de Gustavo Endres, jogador multicampeão pela seleção masculina de vôlei, fez um desabafo sobre o fato de que teve de comprar a tocha olímpica para Gustavo ter de relíquia após ter conduzido o artefato na passagem dele pelo Rio Grande do Sul, seu estado natal.

O desabafo de Raquel, publicado por Gustavo em seus perfis, tem sua lógica. O cara é um baita campeão, representou o Brasil e não teve o direito de receber o presente após a condução da tocha?

Na Grécia Antiga, quando surgiu o conceito das Olimpíadas, o grego que era um campeão olímpico era venerado por ser um semideus. Numa cultura que valorizava o físico, ser o melhor entre os atletas era um feito comparável ao de um deus grego.

Quando recriamos o conceito das Olimpíadas nos Jogos Olímpicos da Era Moderna, reutilizamos aqueles conceitos de semideuses para valorizar a competição e ajudar a promovê-la. Só que isso criou uma cultura completamente equivocada, entre os atletas, de que chegar a uma Olimpíada é colocá-lo num patamar diferente em relação aos demais “mortais”.

Mas o que diferencia Gustavo de Carlito Lima, um agricultor de Cratéus, interior do Ceará, que foi escolhido também para conduzir a tocha? Ou de Cardozinho, folclórico corredor de Juazeiro, na Bahia, que também foi indicado pela prefeitura de sua cidade pelo trabalho que ele faz e que ajuda a promover a prática de esporte? Assim como Gustavo, Carlito e Cardozinho não tiveram o prazer de ganhar a tocha de presente após ter conduzido-a pelas ruas de sua terra. Os governos de suas cidades não poderiam dispender dinheiro para fazer um mimo ao condutor. Eles têm lugares mais importantes para gastar sua verba.

Em diversas ocasiões, ex-atletas reclamaram que não foram chamados para conduzir a tocha, como se fosse obrigação que o momento fosse restrito a eles. O grande negócio do revezamento é que ele transforma os Jogos Olímpicos não num evento exclusivo de semideuses, mas em algo democrático, palpável e aberto a todos. Seja um produtor de mel, um corredor amador ou um campeão olímpico.

Os atletas olímpicos ainda acham que estão na Grécia Antiga e que, por isso, são semideuses com mais direitos do que os demais. Em vez de reclamar, deveriam aproveitar as histórias de condução da tocha olímpica para entender que o mundo é feito de todo tipo de gente, e que cada uma dela, a seu modo, tem algum feito que é valioso para uma outra pessoa.


Jogo de segunda é O programa da TV
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Erich Beting

O público na Ilha do Retiro foi alto. Mais de 26 mil torcedores estiveram presentes para o Sport 1×3 Palmeiras. Mas o que mais chamou a atenção, para quem esteve em casa, é que ficou claro que a rodada da segunda-feira à noite foi inteira programada para a televisão.

A escolha do confronto, o horário do jogo e o tratamento dado pelo Sportv à cobertura da partida fizeram com que, finalmente, entendêssemos o significado e a importância de tratar o futebol como um produto para a televisão.

O jogo das 20h de segunda é um pedido do Sportv, que agora tem todos os elementos para vencer com folga a disputa pela audiência da segunda à noite na TV paga. Com o jogo ao vivo no Brasileirão seguido do “Bem, Amigos”, será muito complicado para qualquer outro canal chegar próximo da concorrência.

E aí é que está o grande ponto da estreia do jogo da segunda. O esporte é um entretenimento e, como tal, tem de ser moldado para atender aos interesses de quem ajuda a pagar a conta dele. Sendo a TV uma das principais financiadoras do futebol na atualidade, por que não criar um produto que atenda os seus interesses?

Com o título de “Segunda Campeã”, o Sportv refaz, no Brasil, o modelo que consagrou a popularização do esporte no país nos anos 80 pela TV Bandeirantes. Se, naquela época, a “Faixa Nobre do Esporte” era sinônimo de entretenimento ao vivo para o consumidor na TV (que o diga o Italiano às 11h de domingo, ou a sinuca com Rui Chapéu), nas duas últimas décadas esquecemos desse saudável hábito de pensar o esporte também para quem é um dos importantes propagadores dele.

Finalmente enxergamos que o futebol precisa ser pensado para a TV. E isso vai muito além do que apenas adequar o horário da partida para os anseios da grade de programação. O esporte pode oferecer conteúdo diferenciado para os seus parceiros de mídia. Essa foi a chave que transformou os campeonatos europeus em grandes produtos.


Vem, zika! Ou… A coragem do Rio ao não ignorar o tema
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Erich Beting

Entre as diversas crises que rondam os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, uma das que mais amedrontam atletas no exterior é o possível contágio do zika vírus durante o mês de agosto na Cidade Maravilhosa. Na próxima semana, vamos começar a ver uma propaganda na TV e em outras mídias que trata exatamente de uma marca que será o “Repelente Oficial dos Jogos Olímpicos” (veja os detalhes aqui).

Confesso que minha primeira reação foi de incredulidade ao saber da história. Será que compensa o risco de se fechar um patrocínio com uma marca de repelente se, justamente, o zika ainda é um tema complicado no exterior? Fui voto vencido no debate que fizemos na redação da Máquina do Esporte. E, confesso, há cinco dias venho pensando bastante sobre o tema para tentar escrever sobre.

O fato é que o Rio foi audacioso ao tomar essa decisão. E o OFF!, da SC Johnson, foi muito, mas muito inteligente ao aproveitar a oportunidade de se debater esse tema para ter a chance de marcar presença no evento.

Ao ter um repelente oficial, o Rio assume que há um risco em seu evento. Mas que, de certa forma, decidiu se prevenir contra ele. É, num outro paralelo, como se os Jogos tivessem um acordo com uma empresa de segurança admitindo que há um risco de algum atentado acontecer no evento.

Ao mesmo tempo, para o patrocinador, os Jogos proporcionam uma enorme chance de se expor a marca e transmitir uma mensagem que remete diretamente a seu produto.

Num momento em que as empresas ainda estão começando a colocar a cabeça para fora e lembrar o consumidor que falta pouco mais de um mês para as Olimpíadas, ser audacioso na transmissão da mensagem pode ser um passo importante para marcar presença no evento.

O desafio, aliás, é enorme. Só de patrocinadores mundiais, locais, apoiadores e fornecedores, o Rio 2016 conta com 59 empresas. Usar um tema de interesse público para se associar ao evento pode ser uma saída para ganhar espaço no meio de uma concorrência pesada para aparecer.

Em vez de tentar esconder o zika, o Rio decidiu assumir que existe um problema. É uma decisão difícil, mas que pode gerar um bom retorno para o evento.