Wendell Lira é o “abaixo o futebol moderno” na Fifa
Erich Beting
Foi emblemática a vitória de Wendell Lira no prêmio Puskas de gol mais bonito de 2015 pela Fifa. A presença do brasileiro na festa da entidade é um tapa na cara do “futebol moderno” que foi colocado em seu modo hard durante a cerimônia transmitida ontem para quase 200 países.
O Gala Fifa, como o evento tenta ser chamado, é a colocação do futebol como negócio em seu nível máximo.
O atleta é, desde o início, alçado ao patamar de estrela de Hollywood. Os fãs ficam à espera de um autógrafo ou uma selfie enquanto o jogador desliza sobre o tapete vermelho, no melhor estilo “red carpet” do Oscar. As entrevistas pré-prêmio com os finalistas, os carrões chegando ao auditório onde se realiza a premiação, tudo faz parte de um universo artificial que o dinheiro permitiu existir ao futebol.
No fim das contas, tudo é superlativo na premiação que a Fifa criou de uns tempos para cá. Por isso mesmo, a vitória de Wendell representa o grito de “abaixo o futebol moderno” que ainda sobrevive em meio à transformação do esporte mais popular e, talvez, mais democrático do mundo, num circo comandado pela grana.
A realidade da bola é muito mais Wendell e muito menos Messi. Por isso foi tão legal ver aquele “penetra” na festa dos craques milionários e midiáticos. Embasbacado igual criança que vê seu ídolo pela primeira vez. Feliz igual criança que ganha a primeira bola oficial. Sincero como criança.
Para quem vive o negócio do esporte, ter um Wendell Lira entre os craques do mundo todo é nos trazer de volta à realidade. É lembrar o motivo pelo qual o marketing deve trabalhar.
Teimamos em colocar os jogadores no lugar de semideuses, num panteão quase inatingível, acessível apenas para alguns poucos próximos a um tapete vermelho na Suíça. Quando, na realidade, o que movimenta o futebol são os Wendells com suas acrobacias para conseguir marcar um gol na vida.
O futebol moderno não precisa acabar. Mas precisa, urgentemente, passar a ser feito por e para seres humanos. O nível de dinheiro envolvido ficou tão grande que os marqueteiros passaram a viver uma realidade paralela, cada vez mais descolada do “mundo real”.
Wendell Lira é o sopro que nos mostra para quem o futebol deve ser feito.