Negócios do Esporte

Arquivo : Mídia

COI tenta manter Olimpíada jovem com novos esportes
Comentários Comente

Erich Beting

Surfe, skate, escalada, caratê e beisebol serão as novidades do programa olímpico a partir de 2020. À exceção das duas últimas modalidades, incluídas muito também por conta do peso que possuem no Japão, país-sede do evento daqui a quatro anos, a escolha do Comitê Olímpico Internacional (COI) mostra muito a preocupação que existe para manter acesa – e jovem – a chama dos Jogos Olímpicos.

Desde Londres-2012 que o COI se preocupa em tentar entender como os Jogos podem se relacionar com o jovem. A invasão das redes sociais tumultuou todo o esquema de venda de direitos de transmissão do evento. As regras rígidas de controle sobre quem pode publicar o que não ajudam a trazer o jovem para perto dos Jogos. E, para piorar, a tradição de um evento centenário faz com que os mais novos estejam longe de achar que a Olimpíada é um evento para eles.

A escolha de surfe, escalada e skate fere o princípio olímpico. Como pode um maratonista ter o mesmo status de um skatista? Ou de alguém numa escalada? Pode. E terá, cada vez mais, uma função importante para a estratégia de comunicação com o público do COI.

Se não abrir os olhos para os esportes que surgiram e cresceram nos últimos 50 anos, o COI rapidamente cairá no mesmo erro de uma Fórmula 1, que cada vez mais se aproxima do nicho, sem renovar o seu consumidor.

A tarefa principal do COI é preservar o espírito olímpico que fez a fama dos Jogos e do próprio comitê. Para isso, não só a tradição tem de ser preservada. É preciso renovar, sempre, o interesse das pessoas pelas Olimpíadas. Ou, como afirmou Thomas Bach, presidente do comitê, ao justificar as escolhas:

“Queremos levar o esporte ao jovem. Com as diversas opções que os jovens têm, não podemos mais esperar que eles venham até nós. Temos de ir até eles”, afirmou.

A tendência, para o futuro, não é apenas a inclusão de outros esportes não-tradicionais nas Olimpíadas, mas também a exclusão de algumas modalidades que foram importantes, mas que hoje representam dispêndio de tempo e grana para os organizadores, sem gerar tanto envolvimento do público.

O COI precisa do jovem. E mostrou que pode romper um pouco a tradição para ir em busca dele. Falta, agora, o comitê ter o mesmo tipo de atitude em relação ao trabalho que faz com a mídia. Especialmente nas redes sociais.


Cartola mostra poder de Fantasy Game no Brasil
Comentários Comente

Erich Beting

Apresentado pela Globo com certa pompa pouco antes do início do Brasileirão, o Cartola, único Fantasy Game oficial do Campeonato Brasileiro, já começa a mostrar o potencial mercadológico que existe dentro do nicho dos fanáticos por uma modalidade esportiva.

Nesta semana, o Grupo Globo anunciou que a versão PRO do game já conta com 100 mil assinantes. Isso significa que cerca de R$ 4 milhões entrarão nos cofres da empresa por conta do jogo virtual (leia aqui). A pergunta que fica é. E os clubes de futebol, estão abocanhando parte dessa fatia?

Quando negociam seus direitos de TV, ainda mais no modelo individual, os clubes abandonam a possibilidade de realizar esse tipo de ação por conta própria. E, ao entregarem para a Globo a exploração comercial dessas outras atividades, os clubes abrem mão de conseguirem ampliar a fonte de receita com o futebol e, mais do que isso, de se relacionar diretamente com o torcedor.

Outras modalidades poderiam, a seus modos, ter seus fantasy games também aqui no Brasil. Imagine o que representaria, hoje, para Superliga ou NBB ter 20 mil pessoas cadastradas pagando cerca de R$ 40 por temporada para poder jogar? E oferecer esse tipo de relacionamento com um torcedor fanático pela modalidade a empresas?

Nos EUA, onde o modelo de negócios foi criado lá nos anos 90 com a NFL, o mercado hoje está amplamente desenvolvido e muito mais complexo. Ligas e clubes sabem que essa é uma propriedade que, se bem explorada, amplia a relação com o torcedor para além das disputas esportivas e cria um canal de relacionamento constante com o fã.

Isso, na ponta final do negócio, significa incremento de receita e até mesmo ampliação do conhecimento sobre o tipo de torcedor que se relaciona com o esporte. Claro que, para fazer o fantasy game, é preciso investimento em tecnologia e um trabalho de análise de dados posterior, para poder saber quem é o consumidor dele.

Por isso mesmo, não é por acaso que partiu da Globo a iniciativa de desenvolver o Cartola como uma unidade de negócios. Cabe ao esporte, agora, se mobilizar para entender que é ele, e não a mídia, quem deve fazer o investimento nesse tipo de negócio.

O Cartola mostra que há espaço para o Fantasy Game no Brasil. E que isso pode ser um ótimo negócio para o esporte.


Djokovic ‘rouba’ mais que o coração de Guga em Paris
Comentários Comente

Erich Beting

Ao “roubar”, com a devida permissão, o gesto que imortalizou Guga em Paris, Novak Djokovic coroou a primeira conquista dele no saibro francês com o que tinha de melhor o colega brasileiro e com algo que ele tem naturalmente de sobra: muito carisma.

Guga conquistou Paris ao usar a naturalidade de suas ações para se mostrar “um cara qualquer” dentro daquele monte de lendas que desfilavam por Roland Garros. Tanto que, ao fazer o coração no chão na épica campanha de 2001, ele conquistou de vez um lugar entre os grandes mitos do tênis.

Ao repetir o feito de Guga, que se mostrou emocionado com a homenagem, Djoko entrou também para o lugar que pertencia ao brasileiro, mas com um adicional. Em termos de performance, Guga não chega perto do sérvio.

Djoko está se transformando, aos poucos, no maior mito da história do tênis, indo para um lugar mais distante que já tinham conseguido chegar Pete Sampras, Andre Agassi, Rafael Nadal e Roger Federer. Todos esses caras são multicampeões, mas, em termos de carisma, não conseguem ter a leveza e simpatia de Djokovic.

O coração na quadra principal de Roland Garros é só mais uma prova do carisma absurdo que Novak Djokovic tem no mundo do tênis. Se Gustavo Kuerten acaba de ser nomeado embaixador mundial do tênis, pode apostar que Djoko, depois do gesto de domingo, tem tudo para também ganhar esse posto muito em breve.

 


Primeira rodada mostra que só Band perde sem futebol
Comentários Comente

Erich Beting

O resultado da primeira rodada de transmissão do Campeonato Brasileiro com exclusividade pela Globo mostrou o quanto, para a emissora carioca, o fim do acordo com a Band é benéfico, ao passo que, para a emissora paulista, a perda do futebol terá impacto negativo na audiência (detalhes aqui).

A justificativa da Band de que a conta do futebol não fecha tem, naturalmente, todo sentido. O problema é imaginar o quanto, para a emissora, deixar aos poucos de ser o “canal do esporte” (algo que ela já deixou faz tempo, mas ainda se beneficia do histórico) pode representar em relação a faturamento e audiência de outros programas da casa, esportivos ou não.

Curioso notar que a saída da Band, agora, acontece mais ou menos pelo mesmo motivo que fez a emissora deixar de ser “O canal do Esporte”, no começo dos anos 2000. Naquela época ocorreu o primeiro grande salto nos valores dos direitos de transmissão no país, e a Band optou por não arcar com os altos custos.

A decisão, então, foi sair do “Canal do Esporte” para o “Canal da Mulher”, algo que estava começando a representar bons índices de audiência e relativo sucesso comercial. O projeto, porém, não foi para  frente. Após cinco anos, mais ou menos, a emissora voltou a buscar no esporte o conteúdo que a diferenciava.

Sem o mesmo fôlego da época áurea do “Show do Esporte”, e com Luciano do Valle mais em Recife do que em São Paulo, a Band foi aos poucos retomando o esporte em sua grade. Já com a saúde debilitada e sem a mesma autonomia de antes, Luciano também não conseguiu retomar o projeto que consagrou a emissora nos anos 80/90, com a segmentação do conteúdo antes do advento da TV a cabo.

O sucesso do MasterChef ajuda a Band a ver que há vida fora do futebol. O problema é que, à exceção do programa da terça-feira à noite (um dia em que o futebol é tradicionalmente fraco em conteúdo), geralmente a audiência da emissora fica oscilando entre 1 e 4 pontos.

A reprise dos Simpsons, com certeza muito mais barata que o futebol, foi trágica na audiência.

A justificativa da crise para não apostar num produto que dá prejuízo financeiro, mas garante constância e status ao canal poderá, no médio prazo, mostrar-se à Band uma aposta tão desastrosa quanto foi a escolha por ser o “Canal da Mulher” no início dos anos 2000.

Ao renegar o futebol, a Band vai contra aquilo que a consagrou na audiência. Enquanto isso, a Globo sorri sozinha com a conquista de mais pontos na audiência. Isso, sem dúvida, fará com que a renegociação do pacote futebol, em 2017, seja benéfica para a emissora. No fim das contas, o futebol será o único produto que teve um acréscimo na audiência média de um ano para o outro.

E isso tem um impacto no próprio faturamento publicitário da Globo que, por sua vez, deverá compensar tranquilamente a saída da Band das transmissões do futebol…


O fantástico mundo paralelo da publicidade no esporte
Comentários Comente

Erich Beting

O jogo do Corinthians contra o Novorizontino, no dia 10 de abril, pela última rodada da primeira fase do Paulistão, servia para praticamente nada. O Timão já estava classificado para as oitavas, e o rival tentava uma improvável vitória para conseguir chegar à mesma fase do campeonato, por outro grupo.

No intervalo da partida, surge a mensagem no meu WhatsApp: “Pior ação da história do futebol mundial”, seguida de várias fotos do telão da Arena Corinthians com nomes de marcas e um contador de giros. Depois, a foto de um setor da ala oeste do estádio ocupado por cerca de cem torcedores com faixas com os nomes das marcas.

“Pediram para a torcida gritar o nome do patrocinador. Se atingisse um volume X, aconteceria algo que não foi possível entender pelo sistema de alto-falante da Arena. Mas foi um dos silêncios mais constrangedores que eu já vi no estádio”. Foi o relato de quem me mandou as imagens.

Fomos atrás da história e, à época, descobrimos apenas que ela era promovida pela agência de publicidade DM9 (detalhes aqui) e não envolvia o pagamento de nenhuma verba dos três patrocinadores da ação, apesar de a agência prometer um cheque de R$ 100 mil para o clube investir no Centro de Treinamento.

Avança a história para 6 de maio. Sexta, quase 23h, recebo outra mensagem no WhatsApp, com um vídeo feito pela DM9, sobre a história de toda a ação “Ganhar no Grito”. O vídeo, com narração em inglês, relata um efusivo sucesso de um clube que tem 30 milhões de patrocinadores, que gritam o nome das marcas com um fervor parecido ao momento em que soltam o grito de “Todo Poderoso Timão”…

Pelo jeitão do vídeo, época de lançamento e tudo mais, a DM9 decidiu inscrever essa ação para concorrer a algum prêmio no Cannes Lions, principal festival da publicidade. Este ano, pela primeira vez, haverá premiação para a categoria esporte, com dez diferentes sub-categorias.

Mas será que vale a pena inscrever essa ação para o festival? A DM9 faz um desserviço ao esporte ao usá-lo para inventar uma história que não existiu (vale ler o compilado do site “Meu Timão” sobre o vídeo). Pior ainda. Provavelmente para não invalidar a inscrição a um prêmio, a agência retirou a possibilidade de se colocar comentários sobre o vídeo publicado, que fatalmente revelaria o conto de fadas do “storytelling” criado por ela.

Sou um dos maiores críticos à entrada do publicitário com uma visão completamente deturpada de construção de marca para trabalhar a temática do esporte. Já critiquei, por aqui, a bobagem feita pela Zurique Seguros há quatro anos, quando resolveu fazer uma brincadeira antes de um Palmeiras x Santos (relembre aqui).

O apetite por leões de Cannes faz com que as agências busquem o esporte para conversar. Isso resultou, no passado, em duas ótimas ações. Uma foi a da Ogilvy com o Sport (leia aqui) e a outra, da Leo Burnett com o Vitória (relembre aqui). Mas isso não pode virar desculpa para que os clubes virem plataforma para se criar histórias fictícias que vão contra a essência do vínculo do torcedor com o clube.

O fantástico mundo paralelo da publicidade no futebol tem mania de transformar uma relação verdadeira num conto de fadas que não transmite a realidade do engajamento do fã com o esporte. Quando consegue fazer essa ligação, o esporte é uma ferramenta capaz de gerar excelente retorno para as marcas. Quando vão longe disso e, pior, tentam fingir que a ação foi um sucesso, o fracasso é redundante.

O vídeo abaixo é a prova de quão impossível é acreditar no conto de fadas contado pela DM9. Muito mais inteligente teria sido a agência se preocupar em contar a linda história da ação promovida pelo Corinthians com refugiados torcedores do clube que moram no Brasil, ocorrida dias depois daquele 10 de abril na mesma Arena Corinthians.

Mas, muito provavelmente, essa não foi uma sacada publicitária da agência…

PS: Alguns minutos após a veiculação do comentário no blog, o vídeo foi colocado em modo privado


TV precisa de bom produto; Champions e Libertadores são a prova
Comentários Comente

Erich Beting

Um dos maiores problemas do arrastado Campeonato Estadual com 19 datas no atual calendário brasileiro é que, aos poucos, ele vai se transformando num péssimo produto também para a televisão.

Prova disso foi a audiência de quarta-feira do futebol na TV aberta.

De tarde, Atlético de Madri x Barcelona pelas quartas-de-final da Liga dos Campeões da Uefa atingiu 18 pontos de audiência no Ibope (com 39% das TVs ligadas) em São Paulo e 19 pontos (41% de participação entre as TVs ligadas) no Rio de Janeiro.

De noite, São Paulo x River Plate, jogo decisivo da primeira fase da Copa Bridgestone Libertadores, rendeu 26 pontos no Ibope (com 41% das TVs ligadas) em São Paulo. No Rio, Remo x Vasco pela Copa Continental do Brasil somou 25 pontos no Ibope, com 42% das TVs ligadas.

Os números se assemelham. E mostram que, hoje, a Liga dos Campeões começa a ser um produto tão bom quanto jogos importantes de times brasileiros.

E os Estaduais? Na fase de classificação, à exceção dos clássicos, a audiência dos jogos ficou próxima dos 20 pontos. É pouco, quase nada. Teve jogo com menos de 35% de participação em TVs ligadas.

Com uma concorrência cada vez mais acirrada de outros meios de comunicação e atividades de lazer, a TV precisa de um bom produto para exibir para ter altos índices de audiência.

Nesse cenário, os Estaduais são um estorvo cada vez maior. Ou as federações reduzem o número de datas e deixa os jogos mais importantes ou, rapidamente, começarão a ser colocadas para escanteio pela televisão, hoje a principal fonte de renda dos Estaduais.


O acordo da NFL que leva o esporte a um novo patamar
Comentários Comente

Erich Beting

A NFL é a nova parceira do Twitter. Ou seria o Twitter o novo parceiro da NFL? A ordem dos fatores, nesse caso, não altera tanto o produto, mas o anúncio feito na última terça-feira entre as duas empresas é daqueles para deixar qualquer um que trabalha com esporte com a antena ligada (detalhes podem ser lidos aqui).

Dois pontos são extremamente importantes de serem considerados para uma análise mais profunda de onde esse negócio pode dar.

1 – Tudo o que se refere a vanguarda na comercialização de direitos de mídia está na NFL. A liga americana foi a primeira a apostar na geração própria de imagens do evento. Foi a primeira a vender direitos exclusivos sobre jogos, e não sobre a competição. Foi a primeira a criar um canal próprio para transmissão de conteúdo via cabo. Foi a primeira a vender transmissão por streaming na internet, etc. Tudo o que ela fez as outras ligas copiaram.

2 – Como já destacado aqui anteriormente, as redes sociais ganharam tanto corpo nos últimos tempos que passaram a ser, elas próprias, a se preocuparem em gerar conteúdos exclusivos. Se, antes, Twitter, Facebook e congêneres eram apenas meios, eles passaram a ser também fim no que se refere a fonte de informação.

Com essas duas situações postas, fica mais fácil entender a dimensão que pode alcançar o acordo firmado entre NFL e Twitter para que dez jogos das quintas-feiras sejam transmitidos pela plataforma, que pode ser considerada um pouco de tudo hoje, menos um microblog.

A partir do momento que Facebook e Twitter começam a ter interesse em transmitir eventos esportivos ao vivo, o esporte precisa se preparar para oferecer esse tipo de conteúdo a essas plataformas. As redes sociais estão, hoje, se transformando em produtoras de conteúdo. De preferência, de conteúdo exclusivo.

O acordo NFL-Twitter é o primeiro do gênero. E pode mostrar, para outras modalidades, como é possível reduzir cada vez mais a dependência da TV, aberta ou fechada, para ampliar o alcance de seus eventos.


Futebol começa a acordar para as redes sociais
Comentários Comente

Erich Beting

Um anúncio divulgado praticamente aos 45 do segundo tempo pela Primeira Liga e pelo Twitter, na noite de terça-feira, revelava uma parceria entre as duas empresas para a promoção do campeonato organizado pelos clubes. No dia anterior às semifinais, o Twitter se transformou no primeiro parceiro de mídia oficial de uma competição esportiva no Brasil (detalhes aqui).

O negócio mostra que, aos poucos, o futebol começa a acordar para as redes sociais.

Ter um perfil dos clubes nos principais canais sociais é perceber parte da necessidade de usar esses canais para promoção. Mas levar para um novo patamar, que é a promoção do evento que as redes sociais pode gerar, é parte importante da evolução do esporte e, mais do que isso, sua conexão com o torcedor jovem, necessidade de toda empresa que quer garantir a vida futura.

Nos Estados Unidos, mercado muito mais maduro, a NFL fez acordo com a Amazon para promover filmes de bastidores de equipes no aplicativo concorrente da Netflix (veja aqui). É uma evolução desse negócio. Não é mais só o jogo ao vivo que pode ser um produto que renda valor para o esporte.

Com o desenvolvimento da tecnologia para captação de imagens, o esporte precisa se colocar como produtor de conteúdo. A tendência, já quase uma realidade, é que os departamentos de comunicação se transformem em grandes redações de jornalismo, produzindo tudo sobre o cotidiano daquele clube, atleta ou competição.

Mais do que apenas questão de aproximação do público jovem, as redes sociais abrem uma nova oportunidade para a geração de receita no esporte. Com conteúdo exclusivo e de qualidade, será praticamente impossível para a mídia tradicional concorrer com isso. E, na parte final da ponta, o jogo ao vivo terá cada vez mais valor para os veículos.

O jogo de forças entre mídia e esporte tende a ter um claro vencedor mais para a frente.


Rede social produz conteúdo. E o esporte ganha com isso
Comentários Comente

Erich Beting

O Google anunciou na última terça-feira, num evento em São Paulo, a criação de uma plataforma que reunirá vários vídeos do YouTube com a temática dos Jogos Olímpicos (detalhes aqui). O projeto, inédito, é um sinal de alerta para as empresas de mídia e de alento para o esporte.

O projeto foi lançado tendo quatro patrocinadores olímpicos como parceiros comerciais da iniciativa. Esse é o sinal de alerta para as empresas de mídia. Se já estava difícil elencar motivos para as empresas colocarem dinheiro em propaganda nos veículos mais tradicionais, agora, com o canhão de big data do Google, fica ainda mais complexo, ainda mais quando o anúncio está vinculado a conteúdo, algo que até então era restrito aos veículos de mídia.

O projeto reunirá dicas e situações que colocam o esporte como algo mais acessível a todas as pessoas. Esse é o alento para o esporte. Se a concorrência por espaço na mídia tradicional é cada vez maior, agora, com o canhão de alcance de público do Google, fica ainda mais fácil alcançar boa divulgação para o esporte.

O fato, porém, é que a criação de uma plataforma que reúna conteúdo sobre Olimpíada mostra uma nova tendência das redes sociais. Como elas, sem querer, se transformaram em meio para propagação de informação, hoje é um negócio interessante para essas redes serem produtoras de conteúdo.

É, a grosso modo, o modelo do Netflix, que ao ter dificuldade para comprar conteúdo relevante e colocar em seu catálogo, passou a produzir suas próprias séries. O esporte, nesse contexto, pode se beneficiar bastante disso. Como as redes sociais hoje são capazes de direcionar seu conteúdo para públicos específicos, um bom trabalho nelas feito pelo esporte é meio caminho andado para reduzir a dependência da exposição na TV para ser relevante.

A maior transformação causada pela internet é que o processo de transformação das coisas é cada vez mais acelerado. Há seis anos, a maior relação do esporte pelas redes sociais era o comentário do torcedor em tempo real no Twitter. Hoje, esse mesmo torcedor é capaz de gerar conteúdo em tempo real como protagonista do evento… As transformações são cada vez mais rápidas. E significativas para ditar um novo caminho para o esporte. E para a mídia.


Clubes verão, agora, o erro cometido em 2010
Comentários Comente

Erich Beting

Até que foi pouco o espaço de tempo necessário para que os clubes percebessem a burrada que fizeram ao abandonar a negociação coletiva pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. Pouco mais de cinco anos após terem forçado a implosão do Clube dos 13, imaginando que, sozinhos, conseguiriam valores maiores da televisão, os clubes se deparam agora com uma dura realidade.

A proposta inédita do Esporte Interativo para a TV paga (detalhes aqui) tem tido grandes dificuldades para conseguir ser ouvida dentro dos clubes, que são obrigados a levar a seus conselhos a proposta para que haja um novo canal exibindo os jogos do Brasileirão, algo que há 20 anos não acontece.

Não se discute, aqui, qual acordo seria mais vantajoso para os clubes. Mas sim o modo como essa negociação precisa ser feita.

Em vez de sentar-se à mesa com apenas uma instituição, que tem como objetivo único olhar a perspectiva do negócio, o Esporte Interativo e a Globo precisam, atualmente, negociar individualmente com 20 clubes, que por sua vez levam depois para um grupo de centenas de pessoas descompromissadas com a gestão e sem menor conhecimento técnico, as propostas para análise.

Sem ter uma entidade única para negociar os direitos comerciais do Brasileirão, os clubes perdem seu trunfo para poder barganhar mais dinheiro da TV, seja ela a Globo, a Turner, a Fox ou qualquer outro grupo. As negociações individuais fazem com que as necessidades colocadas à mesa também sejam individuais. E, assim, os valores dançam conforme a música de cada um.

Isso tem feito com que, agora, os clubes encontrem enorme dificuldade para entender e negociar uma proposta que leve a valores antes inimagináveis os direitos para a transmissão pela TV paga do Brasileirão. Isso não significa aceitar a emissora A ou B, mas simplesmente poder ter unidade na negociação.

Em 2010, havia previsto que, em 15 anos, o país perceberia a burrada que fez ao abandonar qualquer negociação coletiva da televisão. Pelo visto será em metade desse tempo que perceberemos isso. Poderia ser uma evolução, mas, ao que tudo indica, esse debate proposto pela entrada do Esporte Interativo nas negociações do Brasileiro só fará, mesmo, com que os clubes continuem sem saber a força que podem ter.