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Arquivo : Rio-2016

Ajuda estatal à Paralimpíada evidencia falha na gestão brasileira
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Erich Beting

Um socorro de última hora do governo vai garantir que os Jogos Paralímpicos comecem, como programado, em 7 de setembro. Enquanto corriam as Olimpíadas, havia uma grande possibilidade de que as Paralimpíadas fossem adiadas para outubro. O problema era dinheiro. Faltava verba para que o comitê organizador entregasse o evento.

Nesta semana, porém, verbas da prefeitura do Rio e de apoio de estatais foram injetadas por meio de convênios e patrocínios. Ao mesmo tempo, os ingressos começaram a ser realmente vendidos, e o cenário ficou menos turbulento.

Os Jogos Paralímpicos sairão na data prevista. Mas o que significa esse vigoroso aporte estatal de emergência?

A Paralimpíada sofreu, no fim das contas, da falha na gestão do evento por parte da organização. Preocupado com a entrega das Olimpíadas, o Rio 2016 negligenciou o evento seguinte. Menor, usando quase toda a estrutura olímpica e mais curta, a Paralimpíada é teoricamente mais fácil de ser gerenciada. Mas nem por isso pode ser colocada tão em segundo plano como aconteceu agora.

A preocupação é tão grande com o evento maior que o menor ficou “esquecido”, como se fosse algo distante. Quando a chama olímpica se apagou, o desespero passou a tomar conta da organização, que então partiu em busca de soluções para conseguir fechar a conta e entregar o evento. E, aí, quem se comprometeu a pagar a conta, não importasse o que acontecesse, foi o governo brasileiro. Daí a enxurrada de dinheiro público nas Paralimpíadas.

Se o discurso olímpico era o de que o evento aconteceria sem injeção de dinheiro público no que se referia às questões esportivas, o mesmo não pode ser aplicado à Paralimpíadas.

A lição que fica dessa história é a de que os comitês internacionais, Olímpico e Paralímpico, precisam urgentemente sentar para um bate-papo. As Paralimpíadas começam a ser cada vez maior e mais complexa. Se continuar a viver à sombra do evento principal, será sempre uma emoção conseguir entregá-la. Ainda mais quando os dois eventos acontecem num país que ainda não tem uma indústria esportiva vigorosa como é o Brasil.


NBA mostrou como o esporte precisa fazer no Rio
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Erich Beting

Após 20 dias no Rio de Janeiro para a cobertura das Olimpíadas, a volta à rotina do cotidiano esportivo brasileiro desinflado dos megaeventos é um tanto quanto dura. A retomada do futebol insosso de meio de semana (São Paulo e Flamengo que o digam), as ações de marca praticamente inexistentes nos estádios, a falta de engajamento da mídia na cobertura de esportes em geral, tudo vai aos poucos nos recolocando de volta às dificuldades do dia-a-dia.

Mas, na batalha de tentar tirar algo de bom do que foram os Jogos Olímpicos, muito provavelmente a NBA terá alguns pontos de vantagem em relação aos demais esportes e ligas. A liga americana de basquete apostou no conceito da NBA House no Rio. Montou um espaço no Boulevard Olímpico, atraiu parceiros comerciais e, acima de tudo, criou um “parque de diversões” do basquete para o torcedor que não estava dentro dos Jogos.

A casa recebeu 80 mil pessoas, ante uma expectativa de 50 mil (leia os detalhes aqui). Mas, mais do que receber gente e vender produto, a NBA usou o relacionamento com o torcedor para conhecer um pouco mais sobre ele.

O maior legado que existe na casa montada pela liga foi pegar dados de contato desses torcedores. Saber como e quando eles assistem ao basquete, de que forma tem interesse em ver os jogos da NBA, se curte também o basquete local, etc.

Ter acesso a informação de qualidade é vital para que as marcas possam entender melhor como explorar o esporte. A NBA soube criar um espaço de relacionamento não apenas para o torcedor se divertir no Rio, mas para gerar vendas e, mais além, conhecer melhor seus hábitos de consumo.

O maior problema que existe hoje quando uma entidade esportiva tenta vender algum projeto no Brasil é que quase nunca ela sabe apresentar uma solução de negócios para o patrocinador. Sem conhecer o seu cliente, a modalidade aponta a exposição de marca que gera e o histórico de conquistas, sem perceber que o real valor não é o que ela foi, mas o que ela pode gerar para o parceiro comercial.

A NBA, com sua casa, deu uma aula ao esporte brasileiro de como é possível divertir o público. E usar isso como ferramenta para conhecê-lo melhor.


Dinheiro não falta ao Brasil para ser top 10
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Erich Beting

A busca alucinada por medalhas do Comitê Olímpico do Brasil (COB) nos últimos quatro anos resultou naquilo que era esperado. Na hora de explicar o motivo de a meta de estar entre os dez maiores do mundo nos Jogos do Rio de Janeiro, o comitê saiu pela tangente: minimizou a posição final e exaltou o “melhor desempenho da história”, com aumento de presença em finais, maior número de medalhas da história de uma edição olímpica e pulverização de conquistas por diferentes modalidades.

Sim, tudo isso é verdade. Mas a realidade não dá tantos motivos para celebrar. O Brasil foi uma das nações que mais dinheiro despejou para a preparação de atletas no mundo. A falta de dinheiro e de empenho em investir não podem, hoje, serem usadas como muleta para justificar um desempenho abaixo do esperado no país.

O fato é que dinheiro não falta para o Brasil ser um país entre os dez mais potentes do esporte no mundo. Onde, então, estamos errando?

A conta é simples. O investimento que as confederações fizeram, no último ciclo olímpico, tinha como objetivo o alto rendimento de alguns atletas. Foram pagas viagens para melhorar desempenho, salários mais altos para se ter maior dedicação aos treinos, treinadores internacionais para trazerem maior conhecimento, etc. Pouco, para não dizer praticamente nada, foi feito para ampliar a base de praticantes daquela modalidade.

O que esse pensamento focado em medalha causa é uma distorção do processo de criação de uma nação que de fato seja uma potência esportiva.

Ao despejarmos muito dinheiro em poucos potenciais campeões, desestimulamos toda a cadeia. Não há condições para a formação de novos atletas e, pior, por estar com mais dinheiro, o atleta de alto rendimento que é beneficiado com Bolsa-Pódio, Bolsa-Medalha, Bolsa-Atleta, carreira militar, etc. não quer parar de competir, porque sabe que isso significará para ele a perda de receita. E, assim, criamos um modelo engessado, em que quem tem dinheiro continua a ter mais dinheiro, impedindo que novos talentos apareçam.

Um dos esportes que mais investe na base, no Brasil, é o futebol. E isso explica, em parte, o segredo do sucesso brasileiro em formar jogadores de futebol. Como é um grande negócio vender jogador, os clubes colocam um dinheiro a fundo perdido na formação de talentos. CTs modernos, equipes técnicas qualificadas, estrutura para o atleta se desenvolver pessoal e profissionalmente.

Assim como o COB, o clube de futebol foca seu investimento no alto rendimento. A preocupação é com o atleta vencedor. Mas o clube sabe que, para gerar mais dinheiro e manter um time competitivo, de nada adianta contratar o Messi e ter outros 10 coadjuvantes em campo.

Essa, porém, é a realidade de muitos esportes no Brasil. Investimos tudo em um único atleta, o que coloca sobre ele a pressão para obter resultado. A melhoria do país no quadro de medalhas e até mesmo em participação em finais não revela muita coisa sobre o rumo que temos tomado para crescermos como nação esportiva.

Muito mais importante do que colecionar medalhas é empregar os esforços para a disseminação da prática de atividade física no país. Isso só acontece se houver dinheiro, claro. Mas não um dinheiro para ser empregado em 50 potenciais atletas, excluindo-se dessa lista praticamente cem vezes mais de pessoas, por todo o país, que podem vir a ser um representante do país numa edição de Jogos Olímpicos.

A função das entidades esportivas como o COB – e do próprio governo – é ajudar na formação de atletas no país, e não investir a maior parte dos recursos em quem tem melhor desempenho. Essa mentalidade é para ser usada pelas empresas privadas que usam o esporte para ganho de imagem e/ou vendas. Para elas, só o craque daquela modalidade interessa.

Pelo dinheiro que o COB e as confederações tiveram à disposição de 2012 para cá, o Brasil não estar entre as dez nações mais vitoriosas do Rio 2016 é um motivo a mais para nos preocuparmos. Enquanto os recursos não forem enviados para a disseminação da prática esportiva, seguiremos adotando um critério que foi inventado pelos americanos e seu conceito de que “sem ouro, sem medalha”. Basta comparar as realidades de um país e de outro para termos a certeza de que estamos no caminho errado.

Não falta dinheiro ao esporte no Brasil. O que falta, mais uma vez, é empregar de forma correta a verba.


A invasão ao Rio é um alento à Paralimpíada
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Erich Beting

A invasão ao Rio de Janeiro neste final de semana, seja de turistas ou até mesmo da população local, pode ser um alento para os Jogos Paralímpicos, que daqui 15 dias começa na Cidade Maravilhosa.

O comentário geral de quem está por aqui, perguntando por ingressos ou por “qual é a casa mais legal para ir”, é de que demorou-se muito para entender que a oportunidade era única. Conhecer o Parque Olímpico, vivenciar o clima de uma Olimpíada, ir ver a pira no Boulevard Olímpico, ir conhecer toda a região do Porto Maravilha, etc.

Ao mesmo tempo, na sexta-feira o Comitê Paralímpico Internacional confirmou que precisou reduzir o orçamento das Paralimpíadas, que começa dia 7 de setembro e tem apenas 12% dos ingressos vendidos até agora.

Quem tentou e não conseguiu chegar a tempo dos Jogos Olímpicos terá, em breve, a chance de ir ao mesmo Parque Olímpico. A vivenciar uma experiência inédita, que é conhecer a Paralimpíada, as histórias fantásticas dos atletas e, também, ver o Brasil faturar bastante medalha, que é também um dos esportes preferidos do país.

Nas próximas duas semanas, a obrigação do Comitê Rio 2016 é vender o conceito de que ainda há uma chance de ver o Rio das Olimpíadas. Só um bom trabalho de divulgação agora poderá ser capaz de fazer, pela última vez, o Rio bombar para os Jogos. Em menor proporção, mas num tamanho nunca antes visto pelo esporte paralímpico no país.


A imensa construção de histórias das Olimpíadas
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Erich Beting

Os Jogos Olímpicos possuem uma capacidade enorme de geração de boas histórias. E de colocar em conflito constante o que acontece na disputa esportiva com aquilo que vivemos na vida real. Desde o início dos Jogos, criamos no Boletim Máquina do Esporte uma seção dedicada ao Personagem do Dia. Não é o campeão do dia, mas aquele que traz a maior história humana sobre o evento.

Historicamente, os Jogos são marcados por grandes histórias, mais do que grandes campeões. De vez em quando, muito raramente, as duas coisas ocorrem juntas. Ontem, nos 100m livre feminino da natação, essa união se deu de forma mágica.

Uma prova que teve duas campeãs empatadas em 52s70, novo recorde olímpico. Mas que também teve a primeira campeã olímpica nascida neste milênio, a canadense Penny Oleksiak. Mas que entrará para a história como a prova que coroou a primeira negra campeã da natação nas Olimpíadas, a americana Simone Manuel.

“Essa vitória ajuda a trazer esperança de mudança sobre algumas questões que estão acontecendo no momento. Eu só fui lá e nadei o mais rápido que eu podia, mas minha cor de pele vem com todo meu repertório para isso”, declarou Simone.

Por solicitação da TV americana, as provas da natação acontecem no fim do dia aqui no Rio. Tudo para que a audiência dos Jogos seja cada vez mais alta.

E, ontem, a piscina do Rio 2016 presenciou a construção de uma nova história olímpica. Os EUA vivem um período de intensa discussão sobre conflitos raciais, especialmente envolvendo policiais brancos contra americanos negros. Soma-se a isso uma preocupante escalada de Donald Trump e seus conceitos um tanto quanto radicais nas prévias eleitorais americanas.

Simone Manuel não é só a primeira negra a vencer a natação em Jogos Olímpicos. Mais do que isso, ela mesmo sabe que sua conquista acontece num momento emblemático de aumento dos conflitos raciais, étnicos e religiosos pelo mundo inteiro.

A vitória de Simone Manuel e Penny Oleksiak nos 100m livre feminino é a prova de que os Jogos Olímpicos são formados não por vencedores, mas por ótimas histórias. Às vezes, até em menos de um minuto de prova…


Filas no Rio mostram imaturidade na gestão esportiva no Brasil
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Erich Beting

As irritantes filas nas arenas olímpicas persistiram no segundo dia de Jogos. Na tentativa de encontrar os motivos para faltar comida, levar 1h para comprar um refrigerante ou comprar um item e ele ter acabado no tempo em que se esperava, o Comitê Rio 2016 argumentou que há uma “falha operacional”.

A tradução para a frase é: “imaturidade”.

O Rio 2016 mostra que não aprendeu absolutamente nada com a Copa do Mundo. Ou mesmo com a realização do Rio Open, desde 2014, na mesma Cidade Maravilhosa. Isso para não considerarmos Carnaval e Copa do Mundo na lista…

O espetáculo esportivo continua sendo encarado, por aqui, como algo que só tem um local para acontecer, que é dentro da arena. O espaço para a competição precisa estar em ordem. E só.

É exatamente essa visão antiquada de como se trabalhar o evento esportivo que o futebol começou a quebrar pós-Copa. Entendemos que não seria possível mais esquecer de olhar para o torcedor, a mídia, o patrocinador. Hoje eles também são importantes para o espetáculo. Não mais do que o atleta, sem dúvida, mas precisam ser bem tratados.

Foi assustador chegar ao Parque Olímpico ontem e me deparar com a logística de compra de alimentos e bebidas, tanto nas arenas quanto nas áreas de conveniência do local que mais recebe gente nos Jogos.

Todos os alimentos e bebidas são comprados num caixa único. Ou seja. Se eu quero uma pipoca, tenho de ir lá na mesma fila de quem quer uma água ou uma cerveja. E, depois, eu tenho de me espalhar pelos diferentes quiosques de entrega de produtos.

O responsável por pensar essa logística, muito provavelmente, nunca foi a uma festa junina de escola primária.

Em vez de pulverizar os canais de compra, concentra-se tanto a compra quanto a distribuição. Não precisa ter nem experiência em megaevento para saber que isso torna até mesmo a compra de cinco pessoas num mesmo lugar inviável.

O Rio 2016, preocupado em erguer ótimas arenas e dar o máximo de qualidade para os atletas, esqueceu-se de que o show também tem um importante ator. O torcedor foi simplesmente ignorado. Esquecem-se, os organizadores, que são eles que espalham a fama do evento.

Quem está em casa vendo pela televisão uma partida de basquete pode achar que o ginásio estava com muitos lugares vazios. Pois saiba que tem muita gente que está na parte interior da arena, há meia hora, esperando para pegar uma ficha, para então ir para outra fila, para pegar apenas um saquinho de pipoca…

E a organização está tão perdida na resolução do problema que continua a importar food trucks, não entendendo que o problema não é apenas a falta de produto, mas os canais de venda.

Muito provavelmente não falharemos como Atenas e o padre irlandês, ou como a  China no sumiço da vara de uma competidora no salto com vara que era favorita à medalha.

Mas erramos num princípio básico dos grandes eventos, que é causar uma ótima impressão para o torcedor levar adiante uma boa imagem dos Jogos e da cidade que o abriga.

As falhas na organização da alimentação dos torcedores são a prova de que seguimos imaturos na gestão esportiva aqui no Brasil…

 


Rio pode mudar a relação das marcas com Jogos
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Erich Beting

Quando o torcedor chegar ao Parque Olímpico no sábado para as primeiras competições do Rio 2016, vai se deparar com uma situação não tão comum em Olimpíadas. Diversas marcas estarão com stands expostos para entreter o torcedor. A novidade brasileira tem relação com algumas características locais que podem levar para um outro patamar a relação entre patrocinadores e Comitê Olímpico Internacional (COI).

A revolução promovida pelo COI nos anos 80, que ajudou a transformar os Jogos Olímpicos num assombro comercial, já está precisando ser revista. Com valores de patrocínios cada vez mais altos, mas com a atenção do consumidor cada vez mais dividida, investir na Olimpíada precisa ter um novo significado. Não adianta mais ficar na fórmula em que a exposição de marca inexiste.

E aí é que entra o cenário do Rio.

Os patrocinadores terão, no parque, mais exposição de suas marcas e oferecerão mais experiências inéditas aos torcedores. Isso é uma forma encontrada pelo COI de ampliar o relacionamento do público com as empresas e, das marcas, de poderem se aproveitar de benefícios exclusivos.

“É muito bom poder ver a nossa parceria com a Samsung crescendo. Temos pela primeira vez uma linha exclusiva de produtos, e também esse espaço aqui, além daquele que sempre foi feito para os atletas”, resumiu, na terça-feira, durante a apresentação à imprensa do espaço da Samsung no Parque Olímpico, Timo Lumme, diretor geral de marketing e TV do COI.

O executivo mostra que a preocupação do comitê é ir além da simples relação de patrocínio + ativação na mídia. A Samsung dá um ótimo exemplo disso. A marca aproveitou que terá o stand no parque olímpico para apresentar um arsenal de novidades tecnológicas. O torcedor poderá usar óculos de realidade virtual, testar o modelo de telefone personalizado dos Jogos e comparar como evoluiu o patrocínio da empresa às Olimpíadas por meio das inovações nos aparelhos de telefone celular produzidos pela marca.

De certa forma, é a maneira de aplicar o conceito de ativação de patrocínio de um grande evento. Se, antes, o mercado se satisfazia em fazer isso por meio de filmes publicitários, agora ele necessita que o torcedor vivencie uma experiência de marca durante o evento.

Aos poucos, o mercado de marketing esportivo vai se adaptando às novas realidades. Os megaeventos acabam servindo como plataforma para lançamento de inovações das marcas. E, no Rio, a novidade é que isso será feito, quase que em tempo real, com os torcedores que forem aos Jogos.


Clima olímpico desembarca no Rio
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Erich Beting

A cada ponto de ônibus, uma propaganda de um patrocinador. Nas ruas, voluntários, profissionais de mídia e até mesmo atletas transitam entre as pessoas. Se alguém tinha dúvidas se os Jogos Olímpicos aconteceriam, elas começaram a ser sanadas desde a segunda-feira, dia 1º.

A virada do mês representou também a chegada do clima olímpico ao Rio. Os transtornos do trânsito adaptado à faixa olímpica, o aumento da muvuca no metrô, a confusão de uma cidade ainda em construção quando deveria estar pronta para os Jogos.

Tudo isso começa a ser colocado para escanteio, à força, pela chegada do evento. Não tem mais o que fazer a não ser entrar no espírito olímpico. O evento acontecerá, apesar dos erros do Rio de Janeiro.

E é esse o ponto de virada que tomou conta do Rio desde segunda-feira. Há uma semana, quem vinha à cidade sentia que algo estava para acontecer, mas ainda era uma realidade distante. Agora, com a Olimpíada invadindo cada local de convívio do carioca, o caminho é sem volta.

Publicidade nos pontos de ônibus e até pista de atletismo no metrô dão o clima olímpico ao Rio

Publicidade nos pontos de ônibus e até pista de atletismo no metrô dão o clima olímpico ao Rio

Mas por que isso acontece?

A maior lição que um megaevento nos deixa é sobre a necessidade que existe de patrocinadores, parceiros de mídia, organizadores do evento e poder público se engajarem para fazer o evento “pegar”. A diferença que existe é gritante, especialmente num mercado ainda em desenvolvimento como a indústria do esporte brasileira.

Acostumamo-nos, por aqui, a apenas nos preocupar com o evento esportivo apenas no que se refere ao âmbito da competição entre atletas. Assim, negligenciamos toda a parte de promoção do evento, que fica quase sempre relegada ao deus-dará da mídia, que atua com o compromisso de ser fiel aos fatos, não ao negócio.

Quando chega um megaevento, em que o próprio país despeja um grande montante de investimento (em dinheiro e energia), a necessidade de fazer o evento pegar é enorme. Por isso, há uma cobrança forte por parte do Comitê Olímpico Internacional em cima de parceiros comerciais, de mídia e cidade-sede para que os Jogos aconteçam.

Se há um legado que os Jogos deixam é o da importância de se fazer um evento cair no gosto das pessoas para ser um sucesso. E que, para conseguir isso, é preciso trabalhar bastante.

Não existe mágica. Assim como a conquista de uma medalha, é preciso de muito esforço para que o evento seja percebido pelo público. Negligenciar a importância de criar um clima antes do evento é o primeiro erro. Demorou, mas o Rio mostra que essa primeira etapa foi vencida.


Qual Brasil queremos ser?
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Erich Beting

A pergunta, se não me falha a memória, já surgiu em outro post no longo dos sete anos de processo entre a escolha por candidatura única do Brasil a sede da Copa do Mundo e o Mundial em si. E, agora, ela é repetida, de forma ainda mais enfática, dada a situação do país como um todo.

Que país queremos ser?

Está chegando a hora de passarmos pelo nosso segundo megaevento. E, com ela, a cobrança que isso gera para o país. Podemos achar normal entregar uma obra ainda sem os arremates finais. Atrasar o cronograma em “alguns diazinhos”. Gastar com extras supérfluos dentro de algo grandioso.

Na cabeça do estrangeiro, isso não é normal. Por isso mesmo, as críticas aparecem de forma pesada. E tornam proporções mundiais.

O maior problema, porém, é que simplesmente não sabemos aceitar essa crítica.

O “chute no traseiro” de Jérôme Valcke e o “canguru” australiano foram prontamente rebatidos com veemência pelos nossos políticos. E da pior forma possível. Tratamos as críticas como algo que fere a soberania nacional, sem fazermos o serviço de autocrítica de como nos comportamos ao longo de 6 anos e meio de preparação para os Jogos Olímpicos.

 

Pior ainda é ver como Eduardo Paes tenta desmerecer as críticas que o Rio recebe, ou tenta ironizá-las, sem ao menos fazer a mea culpa e reconhecer que o erro é todo nosso. Imagino qual seria a reação do digníssimo prefeito do Rio se ele chegasse a um hotel em Maricá que estivesse sujo. Se é que ele aceitaria se hospedar em Maricá…

O exercício que Copa do Mundo e Jogos Olímpicos deveriam ter gerado para nós, brasileiros, era o de exame da consciência. Os megaeventos servem para apresentar nosso país ao mundo. Que imagem queremos deixar? A de um país encantador, mas cheio de defeitos? Ou a de um país encantador, que batalha e se esforça para ser de primeiro nível?

A Copa já havia mostrado para o estrangeiro que, apesar dos pesares, fizemos um evento espetacular. As Olimpíadas, como expus aqui outro dia, também nos deixarão a mesma impressão. “No final dá certo”, mas qual o preço que se paga por isso?

Quando nossos políticos se comportam como crianças birrentas diante de um puxão de orelha ao rebater as críticas que são recebidas, nós colocamos a perder a grande chance que havia com os megaeventos. Eles poderiam ajudar a mostrar ao mundo que o brasileiro é um povo muito mais do que apenas cativante. Somos preparados, dedicados, batalhadores.

Bilhões de reais estão sendo investidos por empresas privadas nos Jogos Olímpicos para ajudar a transformar a imagem do país para o estrangeiro. Empresas que têm investido bastante para tentar promover o evento e fazer com que ele seja realmente transformador, de alguma forma, da nossa realidade. 

Quando ironiza as críticas sobre as falhas da organização do evento, Eduardo Paes joga contra não apenas a própria imagem, mas também a do Brasil como um país que cresceu e chegou à fase adulta. O Brasil que queremos ser ficou, mais uma vez, deitado eternamente em berço esplêndido…


Procura por Rio 2016 dá motivo para “soberba” do COI
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Erich Beting

Primeiro foi o Zika. Depois, a falência do Estado. Agora, as reclamações que sempre acontecem pré-Jogos com os primeiros a desembarcarem na Vila Olímpica (e que quase sempre estão corretas). Coloque mais alguns ingredientes nesse bolo. Um país com uma instabilidade política enorme, cercado por constantes protestos. A violência local flagrante. E o medo de um novo modelo de terrorismo, muito mais imprevisível e solitário. Tudo isso num ambiente que é completamente novo para os Jogos Olímpicos.

A lista de motivos para não ir ao Rio de Janeiro no próximo mês parece ser, a cada dia, mais extensa. No mesmo dia em que o Comitê Organizador do Rio 2016 colocou 100 mil ingressos à venda, o Ministério da Justiça brasileiro disse ter capturado dez pessoas que agiam de forma suspeita, planejando um ataque terrorista ao evento. Se havia mais um bom motivo para não sair de casa, ele apareceu ali, sem nem disfarçar sua cara de zombeteiro.

Mas, no final das contas, já são 75% dos ingressos vendidos para o Rio 2016. Sim, é possível usar o “já” na expressão. Afinal, esses Jogos são num país com baixíssima cultura poliesportiva e em meio a situações nem um pouco convidativas para acompanhá-los. E, mesmo assim, a meta de faturamento com a venda de ingressos já foi alcançada e pelo menos 3/4 das arenas estarão preenchidas.

A carga de 100 mil ingressos extras se esgotou, e os eventos “encalhados” são aqueles que não têm muito apelo nem para o público nacional, nem para o estrangeiro. É parte do jogo das Olimpíadas termos eventos de baixo interesse das pessoas. Em Londres, há quatro anos, as primeiras disputas aconteceram com clarões na arquibancada que coraram a família real. Depois de colocarem guardas do exército para preencher os espaços, o comitê optou pela decisão mais óbvia. Recolocou os ingressos à venda na bilheteria. E as arenas lotaram…

Outro dado que chama a atenção para o Rio é a venda de produtos licenciados. O Rio 2016 já fala em conseguir superar em 17% a estimativa inicial de venda. Sinal de que as pessoas têm procurado os produtos com a marca dos Jogos.

Em meio ao caos pré-olímpico, o Rio de Janeiro dá ainda mais motivo para o Comitê Olímpico Internacional (COI) poder dizer que os Jogos são o maior evento do planeta. Na falta de um, o Rio deu dezenas de motivos concretos para que as pessoas não se deslocassem até a cidade para acompanhar os Jogos. E, mesmo assim, o evento aparentemente vai ser um sucesso.

Aos 120 anos, os Jogos Olímpicos conseguem se descolar da realidade local e entregar para o público um evento de alto grau de interesse. E, para o COI, fica a certeza. A soberba apresentada quando se impõe uma série de condições para uma cidade ser candidata a receber uma Olimpíada tem a sua parcela de razão.