Barcos e a formação de um ídolo
Erich Beting
Em recente entrevista ao UOL, José Carlos Brunoro, diretor executivo do Palmeiras, afirmou que sofreu ao decidir pela saída de Hernán Barcos do clube. A história é conhecida de todos, e claramente é o típico caso para ser exposto em sala de aula. Esqueça o que você faria como torcedor. Mas e no papel de gestor do clube, qual decisão você tomaria?
Por todas as circunstâncias envolvidas no atual Palmeiras, a escolha foi pela saída do atleta mais carismático e um dos poucos motivos de orgulho à época para o palmeirense médio.
Aqui já vai uma primeira ressalva importante. Entenda por “palmeirense médio” o torcedor que gosta e acompanha o time, mas não é fanático por ele. Sim, existe esse tipo de cidadão, que raramente é aquele que se dispõe a comentar em blogs, ir a jogo de futebol, mas está por dentro do que acontece no cotidiano do time de coração. Ah, e o mais importante. Estatisticamente ele é a maioria do composto de uma torcida. Em qualquer clube.
A saída de Barcos é o típico caso de falta de gestão de marketing dentro de um clube. Sim, existe toda a história do risco financeiro, mas no caso, como o próprio Brunoro comentou, não haveria risco de perda do atleta por um processo contra o clube. O problema era, claramente, fazer com que o jogador tivesse um nível de relacionamento com o Palmeiras praticamente inviabilizasse a sua ida para qualquer outro time.
Na Europa, os departamentos de marketing dos clubes entenderam a importância de formar e cultivar a relação dos ídolos com os torcedores. Um bom exemplo é o Chelsea. O clube tem contrato de gerenciamento de imagem de 18 atletas da equipe principal. Para cada um deles, cria uma série de ações de relacionamento com o torcedor, criando vínculos emocionais que fazem o jogador sempre ter um carinho maior com a instituição.
Em menos de dois meses no Grêmio, Barcos conquistou o torcedor com o mesmo estilo que ganhou a torcida palmeirense. Entra em campo e faz gols. A grande diferença foi no jogo de terça-feira pela Copa Bridgestone Libertadores. Em ação com a imagem do jogador, o Grêmio pediu que os torcedores fossem à Arena com um tapa-olho nas cores do clube e com o número 28, usado por Barcos. Uma ação simples e eficiente, que já torna o atleta uma “propriedade” do seu torcedor.
No Palmeiras, sem a existência de um departamento de marketing montado de forma a fazer com que haja estrutura suficiente para se trabalhar a imagem do ídolo, Barcos foi apenas mais um jogador, sem criar um vínculo maior com o torcedor.
Para criar o ídolo, é preciso trabalhar ações que, por menor que sejam, deixe o atleta vinculado ao clube. Pode apostar que há fanáticos suficientes para consumir esses produtos. E, com certeza, haverá um carinho muito maior do atleta com o clube. Esperar que a paixão do atleta por um time seja espontânea é coisa de uma era em que o futebol não tinha nem transmissão pela TV.
Sim, há exceções, mas quase sempre elas são os grandes craques que marcaram uma era dentro de um clube. O jogador que tem destaque por um breve período precisa de muito trabalho para seguir vinculado ao clube. E isso, esportivamente, pode ser muito bom para o time.