A piada paulistana
Erich Beting
Reportagem desta terça-feira na “Folha de São Paulo” dá o tom do despreparo brasileiro para pensar o que queremos com a Copa do Mundo. Desde o momento em que Joseph Blatter levantou o papel com o nome único do país, não gastamos um segundo de nosso tempo pensando o que de fato o Mundial pode trazer de benéfico o país.
Essa questão, que deveria ser um pensamento que ditasse todo o planejamento da Copa no Brasil, simplesmente nunca foi levantada. Engolimos, nos últimos seis anos, o discurso da Fifa de que o evento traria legados nas mais diferentes áreas, sem de fato nos atentarmos de que, para que isso acontecesse, seria preciso planejar nos mínimos detalhes o passo-a-passo da organização da Copa.
O caso mais gritante nessa história toda foi a tragicomédia produzida pela cidade de São Paulo desde a escolha do país como sede. A soberba paulistana fez com que, desde sempre, nossos governantes imaginassem o grande benefício promocional que a cidade teria ao ser eleita para o palco de abertura do Mundial.
Num acordo tosco, “aceitou-se” que o Rio de Janeiro abrigasse a final do torneio e, também, o centro de imprensa, que não deixa de ser a grande mina de ouro de quem abriga a competição, já que assegura a presença por pelo menos 40 dias de cerca de 10 mil pessoas na mesma cidade.
Ok, já partimos de um preceito soberbo de que a nata da Copa se resumiria a Rio e São Paulo. Do ponto de vista lógico, seria proveitoso para o país deixar os maiores eventos para as duas maiores cidades da nação, o que no futuro justificaria as estruturas maiores para uso pós-Mundial. Mas com certeza em nenhum instante o que motivou essa divisão Rio-SP dos jogos inaugural e final do torneio foi a preocupação com o que aconteceria após o evento.
Mas, a partir do momento em que foi acordado que as duas cidades abririam e fechariam o Mundial, São Paulo partiu para um novo show de estupidez e falta de planejamento.
A palhaçada promovida pela cidade para escolher seu estádio deveria resultar em prisão por gestão temerária de todos os envolvidos. Mais uma vez não se discutiu o futuro, mas sim a necessidade de se atender às exigências da Fifa. Com essa justificativa, além de uma bem tramada partida política nos bastidores da bola, o estádio do Morumbi foi retirado dos candidatos a sede e surgiu a alternativa Itaquera.
Nada contra ter um novo estádio numa cidade com 10 milhões de habitantes. Desde que estivesse faltando uma estrutura do gênero, não haveria qualquer problema. Mas a partir do momento que foi colocada a pedra fundamental no estádio corintiano, a cidade “ganhou” um problema espetacular.
O que fazer com o estádio do Pacaembu?
Cravado no centro da cidade, com acesso fácil por transporte público e privado, o primeiro grande estádio paulistano passou a ficar fadado ao fracasso. A prefeitura e os cidadãos paulistanos, mais preocupados com o “caderno de encargos” da Fifa, preferiram celebrar a garantia de que abriríamos a Copa do Mundo de 2014 em vez de pensar na cidade de 2015, 16, 17, 18…
Agora, a nova gestão da cidade afirma que irá ceder o Pacaembu para a iniciativa privada. Essa era a proposta inicial do Corinthians para a Copa do Mundo, numa reforma para que o local abrigasse a abertura da competição e, mais do que isso, se transformasse no grande centro de eventos da cidade após os seis jogos do Mundial.
O projeto de concessão foi barrado politicamente pelos vereadores paulistanos, que em vez de pensarem no futuro da cidade turvaram-se na disputa Corinthians x São Paulo pelo direito de ter o estádio que abriria a Copa.
Agora, três anos depois de toda essa grande piada, a cidade de São Paulo decide encerrar com uma nova chacota o seu show.
Porque dizer que o futuro do Pacaembu agora depende da concessão à iniciativa privada só pode ser piada.