Sem alternativa, futebol vai virar refém da grana da Caixa
Erich Beting
O mercado secou. Não num acontecimento isolado e repentino. Pelo contrário, essa secura do patrocínio no futebol já vem sendo desenhada desde a loucura provocada pela alta de preços e de exposição de marcas com Ronaldo no Corinthians. Mas agora o problema é evidente.
Num Brasil que convivia com a expectativa do “pibão” e tinha também a realidade de que a Copa do Mundo se aproximava, o futebol se tornou uma vedete. As marcas nacionais começaram a achar que o patrocínio ao esporte mais popular do país seria a solução de seus problemas para não perder o bonde da década dourada do esporte no Brasil.
O cenário, então, fez com que o futebol virasse de cabeça para baixo a relação com os patrocinadores. Muitas marcas na camisa, muitos milhões de reais a serem oferecidos para os clubes e parecia que tudo ficaria mais rico no universo do futebol no Brasil, num caminho praticamente sem volta.
Só que, no intuito de verem mais dinheiro entrando, os clubes caíram no erro básico. Olharam apenas a grana e se esqueceram de reparar em quem era a fonte pagadora. No milagre da crise que não passava de uma marola, marcas sólidas de atuação multinacional foram sendo trocadas por construtoras, empresas do varejo e outras de menor calibre, mas infladas pelo peito estufado da economia brasileira ante Europa e Estados Unidos falidos.
Nesse cenário, desde 2011 que as grandes patrocinadoras do esporte mundial começaram a se afastar do principal esporte no Brasil. Ou melhor. Começaram a mudar seus investimentos. Ao mesmo tempo, porém, as marcas brasileiras perceberam que o futebol não era assim um aporte tão seguro quanto o que parecia. Pior ainda, ficava a cada dia mais caro.
O resultado é que, depois da “Era BMG”, o futebol no Brasil passa a viver a “Era Caixa”. São hoje dez clubes que contam com o aporte do banco estatal, sendo os dois de maior torcida do país nessa lista. Mais interessante ainda é notar que metade desses times está na Série A do Campeonato Brasileiro, torneio em que teoricamente os clubes são bastante atrativos para as marcas.
A dependência da verba da Caixa, porém, é um perigo para o futebol. Com os valores lá no alto, dificilmente os clubes conseguirão acordos tão eficientes indo atrás de empresas “do mercado”. Da mesma forma, até agora pouco, para não dizer quase nada, foi feito pelo banco para justificar o patrocínio.
A diminuição dos investimentos no patrocínio no futebol é uma necessidade para o mercado. Os valores estavam absolutamente distantes da realidade. Só que essa “baixa” só vira quando a bolha da Caixa estourar. O problema é que, até isso acontecer, muitos clubes vão ficar reféns do dinheiro do banco.
Para a Caixa, o patrocínio no futebol faz sentido para fazer frente ao avanço dos concorrentes na modalidade. Mas do jeito que está sendo feito, com os clubes no Brasil tornando-se praticamente reféns do banco, o negócio não se sustentará no longo prazo. A grande mudança que vai acontecer no futebol nos próximos anos é que os contratos de patrocínio vão ser fechados por longos prazos, exatamente para as marcas trabalharem a construção de uma história a partir do patrocínio. A julgar pelo que acontece agora, o que está se formando é uma bolha, que está prestes a estourar. De 2015, sem dúvida, ela não deve passar.