O esporte tem de buscar o fã, não o fanático
Erich Beting
''Mire o fã, não o fanático''. Essa é a frase de impacto de um anúncio de uma agência de marketing esportivo num semanário sobre o tema nos Estados Unidos. A mensagem não poderia ser mais clara e direta. No esporte, o importante não é buscar o fanático, mas o fã. E esse talvez seja, hoje, a grande miopia do esporte no Brasil. Não percebemos, ainda, que o importante não é falar com quem já é cliente, mas com quem tem vontade de ser!
O fanático, por excelência, é aquela pessoa que consome o esporte independentemente da situação em que ele esteja. É, no melhor exemplo dos dias atuais, o consumidor de um estádio de futebol. Ele vai lá por amor incondicional ao time pelo qual torce. Se não tivesse esse sentimento, ele estaria afastado dos estádios, que pararam nos anos 70 e não se reciclaram desde então (a maior procura pelos estádios novos e/ou remodelados para a Copa é mais um reforço disso).
Mas o que fazer com quem não é fanático? A parcela de fãs que existe no esporte é muito maior do que a de fanáticos. Como em qualquer segmento, aliás. Sendo assim, é o fã que precisa ser mais bem tratado para estar próximo e consumir. E é o fã que foi, nas últimas décadas, deixado de lado por quem comanda o esporte.
O fanático é o jornalista esportivo, o torcedor organizado, o dirigente amador, o próprio atleta, o leitor de todas as possíveis notícias sobre seu time, ídolo e ou esporte favorito, muitos patrocinadores. Como são esses hoje os principais responsáveis pela indústria do esporte no país, não se percebe que é preciso mudar o foco.
Seja no futebol, no basquete, no vôlei ou até mesmo na Fórmula 1, não há nada de novo, no Brasil, para engajar o consumidor que tem uma apreço pelo esporte, mas também tem apreço por diversas outras opções de entretenimento. Nos últimos anos, esse cara foi sendo seduzido pelas outras atividades de lazer, e o esporte foi deixando de ter tanto espaço no cotidiano.
Sem competições de alto nível para acompanhar, sem plano de exposição permanente na mídia, sem projetos para que novos talentos surjam, sem planos de criação de uma liga nacional forte (como prova o vôlei), sem opções atraentes de consumo do evento ao vivo, é impossível reter o fã.
O grande barato de uma Copa do Mundo, por exemplo, é que ela é um evento para o fã, e não apenas para o fanático.
O cara que é tarado por futebol tem como regra colecionar álbum de figurinhas, saber de cor a escalação da Coreia do Sul, a campanha da Bélgica nas Eliminatórias, as dificuldades enfrentadas pela Argélia para se classificar, o potencial craque da Copa do time de Honduras.
Mas os bilhões que a Fifa acumula em patrocínio, direitos de TV e venda de produtos licenciados são oriundos daquele cara que sabe quem é o Messi, o Cristiano Ronaldo e, claro, comprará a camisa do Brasil para torcer pelo Neymar. Mas, para ele, quem diz que a Bélgica é candidata a beliscar, quem sabe, uma semifinal, é apenas um metido a entendido de futebol (e, quase sempre, o desempenho em campo prova que ele está certo!)…
Enquanto o foco das ações no esporte não for para esse tipo de consumidor, vamos continuar a ter uma indústria esportiva limitada no país. Não precisamos de uma Copa do Mundo ou de Jogos Olímpicos para tornar o esporte maior. Precisamos ajustar o foco das ações. É preciso mirar o fã. O fanático, mesmo vendado, vai querer consumir. Só que ele representa, estatisticamente, uma fatia muito menor da população.