Somos todos bananas!
Erich Beting
Sim, título é título. Feito para vender, chamar a atenção do leitor. Mas confesso que, desde ontem, tenho remoído, e muito, a repercussão do caso Daniel Alves. E a conclusão é de que, nessa história toda, estamos mais para bananas do que para macacos.
O gesto audacioso do lateral-direito brasileiro do Barcelona de comer a banana que lhe foi atirada foi, realmente, muito interessante. Mas não acho que a iniciativa de Neymar em tornar ainda mais popular o feito ao criar o seu ''#somostodosmacacos'' seja, de fato, tão louvável quanto isso.
Ao louvarmos a campanha pelas redes sociais, imitando o gesto de comer bananas, focamos o debate no que realmente não está em questão, que é a resposta do indivíduo ao preconceito sofrido. É preciso ter uma autoestima em alta para ter coragem de comer a banana. E, convenhamos, é muito mais fácil fazer isso sendo lateral-direito do Barcelona do que um menino pobre do interior da Bahia como foi Dani Alves. É um ato de bravura, mas que leva o foco do debate para o caminho errado.
Legal não é ser macaco, mas sermos humanos.
Os estádios de futebol são, há anos, locais de reunião de movimentos de ultradireita. Na Itália, na Espanha, na Alemanha, na Inglaterra, na França, em Portugal, na Rússia, na Ucrânia, etc. Não é, como disse o técnico Pep Guardiola, um ''privilégio'' dos espanhóis. Ainda mais numa Europa em crise econômica e com crise de desemprego, o cenário preocupa. Isso para não falar dos casos recentes em estádios sul-americanos.
Por isso mesmo, não podemos nos assumir ''macacos''. Nós raciocinamos, sabemos, ou pretendemos saber, conviver em sociedade.
A resposta de Dani Alves é linda, mas muito mais correto fez o Villareal ao banir seu torcedor dos estádios. Punição severa para crimes severos é uma forma inteligente de se criar, pelo menos, o receio do delito. Se, como acontece desde sempre, formos apenas banir estádios, aplicar multas e/ou pedir ''respeito'', não conseguiremos evoluir como sociedade. Isso não inibe o preconceito, isso não ajuda a criar a consciência de quão errado é destratar o outro, por qualquer motivo que seja.
O alcance mundial do esporte faz dele um dos bons instrumentos para educar pessoas. Aprender que se ganha e se perde, que é preciso trabalhar duro para alcançar um objetivo, que o trabalho em equipe gera as conquistas, que o talento individual necessita do apoio coletivo para brilhar, que todos somos iguais… Tudo isso pode ser inserido e ensinado para as pessoas numa partida de futebol.
Estamos, há anos, ensinando também que o estádio é um lugar em que há total permissividade para o preconceito. Há tempos que os atos racistas são vistos e passados impunemente. Quer dizer que foi preciso a pessoa alvo dos insultos responder a eles para que uma punição exemplar pudesse acontecer? Ou começamos a jogar contra o preconceito, a violência e tudo o mais que joga contra a sociabilização do esporte, ou seremos engolidos por eles.
Sinceramente, mais do que macacos, somos todos bananas.