Negócios do Esporte

Por que falta patrocínio no futebol justo agora?

Erich Beting

Milagres não acontecem. Qualquer história por trás de um acordo de patrocínio tem, necessariamente, um pouco de suor, de esforço, de trabalho para que aquele negócio saísse. Pode ser um trabalho meramente de influência política, ou um esforço gigantesco para provar que aquele investimento vale o quanto se paga. O caminho para se conseguir um patrocínio é árduo. E a prova disso é que, até mesmo no futebol, está difícil para os clubes terem sucesso na busca por um patrocinador.

Mas como isso pode acontecer a quase um mês do início da Copa do Mundo?

Esqueça o discurso de que o Mundial afeta na busca pelo patrocínio. Nunca, e repito para reforçar mesmo, nunca foi tão fácil conseguir um patrocínio no esporte brasileiro. Vivemos, hoje, um momento muito mais aquecido e interessado das empresas em investirem em esporte. Em diversas modalidades, não apenas no futebol.

E isso é exatamente o principal motivo para que esteja mais difícil arranjar um patrocinador. As empresas começaram, como nunca, a pensarem antes de agir. Ainda pensam menos do que deveriam, mas pelo menos já é um alento. Sabe-se que investir em esporte é preciso, então começa-se a calcular melhor o passo que será dado dentro dessa indústria.

Hoje, na Série A do Campeonato Brasileiro, dos 20 clubes que lá estão, quatro não terão, após a pausa da Copa do Mundo, um patrocínio máster na camisa. Palmeiras, Santos, São Paulo (a partir do Mundial) e Sport não encontraram ainda alguém disposto a pagar pelo espaço mais nobre no uniforme.

Num país que não está em crise econômica como o nosso, o número preocupa. Pode-se dizer que 20% dos clubes não tem patrocinador principal. Nos outros 16 times, cinco tem acordos relativamente menores e 11 estampam a marca de uma instituição bancária no uniforme (detalhes aqui).

Os bancos, sem o perdão do trocadilho, são quem bancam a elite do futebol no Brasil. Pior ainda. São apenas três instituições em 11 clubes e todas elas com risco enorme de, até o fim do ano, mudarem de projeto. A Caixa possui sete times. O Banrisul, os dois do Rio Grande do Sul. E o BMG, os dois de Minas Gerais. Todos, sem exceção, são patrocínios calcados em decisões políticas. Seja do governo federal ou dos locais ou até mesmo da política de boa vizinhança do banco mineiro, que não deixou na mão os times (e credores) locais.

Com o cenário das eleições a caminho, é possível que haja um rearranjo nesses investimentos a partir de 2015. E, aí, a conta pode saltar assustadoramente. Dos 20 clubes de Série A, possivelmente 15 estariam sem um patrocinador. Justo agora?

Da mesma forma que o futebol não aprendeu ainda a precificar seus ingressos, falta ter a noção exata de quanto vale o patrocínio de uma camisa. Se o critério de venda continuar a ser a exposição da marca, o preço que os clubes querem cobrar está completamente fora de propósito.

Em cinco anos, triplicou-se o valor cobrado para o patrocinador máster, enquanto a incidência dos times na TV aberta só caiu. Como as empresas estão mais exigentes antes de colocarem dinheiro no esporte, as diferentes realidades estão distantes.

Falta patrocínio justamente agora no futebol porque as empresas começaram a estudar melhor qual deve ser o valor de um patrocínio, em vez de agir por impulso. Gente interessada não é problema. Desde que o futebol entenda que é preciso baixar a bola. Não é incompetência o problema de quem está sem patrocínio.

É muito mais a soberba que atrapalha…