Futebol precisa, ao menos, lustrar o sapato
Erich Beting
Com a inauguração da Arena Corinthians, no domingo, tivemos uma rodada de Campeonato Brasileiro com cinco dos dez jogos sendo disputados num estádio recém-inaugurado. Mineirão, Maracanã, Arena Corinthians, Arena do Grêmio e Arena Pantanal foram responsáveis por levar 122.958 torcedores aos estádios, ou uma média de 24.591 pessoas por arena.
O número está acima da média do campeonato (cerca de 15 mil torcedores por partida). E segue a tendência já vista no ano passado, quando finalmente passamos a usar novos estádios no Brasil. As arenas novas costumam levar mais torcida e, consequentemente, tem as melhores médias de público dos estádios brasileiros.
Só que a velha máxima de que basta fazer um estádio novo para o torcedor ir aos jogos é parcialmente verdade. Isso vale quando o novo espaço ainda é novidade. Prova disso foi o Cruzeiro, que voltou a campo sábado após ser eliminado da Copa Bridgestone Libertadores e levou apenas 11.603 pagantes ao Mineirão, o menor público dentre aqueles das novas arenas.
Quando o estádio é novidade, como foi o caso do Corinthians, é natural que haja um interesse prévio do torcedor. Ir ao jogo é conhecer a casa nova, ver como ficou, comparar como era (no caso de estádios remodelados), etc. Isso dura um, dois, no máximo uns cinco jogos. Depois, o torcedor volta a acompanhar o time conforme o desempenho dele dentro de campo.
Para acabar com essa máxima, o futebol precisa deixar de fazer com que apenas a caixa do sapato seja nova. O sapato precisa deixar de ser o velho e surrado conhecido do público. Ou, pelo menos, precisa ganhar uma graxa, um lustre. Na partida de estreia da Arena Corinthians, evento-teste da Fifa para a Copa do Mundo, se teve alguma coisa que com certeza ficou abaixo do padrão exigido pela entidade, foi o futebol. Os dois times maltrataram, e muito, a bola. Da mesma forma, em diversos outros estádios, o que se viu foi um belo estádio para um futebol pífio.
Se quiser realmente aproveitar os novos estádios do país para mudar o panorama do futebol, o Brasil precisa entender que o problema não está apenas no palco em que jogamos, mas na qualidade do evento que é apresentado ao torcedor. Para conseguir fazer um estádio dar lucro, é preciso colocar gente dentro dele o tempo todo. Mas, hoje, do jeito que está a qualidade do futebol, apenas com preços baixos é possível atrair mais torcedores.
O mais difícil está por vir, que é fazer um espetáculo no mesmo nível do estádio que é entregue aos jogadores. Do jeito que está, seguimos a vender sapato velho em caixa nova. O sapato precisa passar por um brilho, urgentemente. Do contrário, a caixa será colocada de lado rapidamente…