Nasr na F1: é para comemorar ou não?
Erich Beting
O Brasil voltará a ter dois pilotos no seleto grupo da Fórmula 1 em 2015. A notícia surgiu agora a noite num comunicado enviado pelo Banco do Brasil. A instituição financeira vai patrocinar a escuderia Sauber. Em troca, Felipe Nasr será piloto titular da equipe. A notícia é ótima, já que dá ao país mais um piloto no grid, o que possivelmente amplia o interesse do público pela F1, em baixa nas duas últimas décadas desde a morte de Ayrton Senna.
Nasr, possivelmente, terá bom espaço na mídia e conquistará patrocinadores pessoais que vão além do BB. Sob essa ótica, ele será inteiramente beneficiado pela chegada à mais famosa categoria do automobilismo.
São motivos de sobra para comemorar. Porém, do lado do automobilismo brasileiro, a situação não parece ser tão bela assim. Ao ter a vaga assegurada por conta de um patrocinador estatal, o esporte ganha uma lufada de esperança, mas que pode ser falsa.
O jogo da F1 sempre foi assim e tem ficado ainda mais assim. Para chegar ao lugar mais alto do pódio do automobilismo, é preciso ter dinheiro. Ele abre portas e assegura vaga nos cockpits mesmo que o piloto não seja tão bom assim. É o velho e bom poder da grana. Não é privilégio de um ou de outro, é a regra mesmo. Até Fernando Alonso costuma levar o Santander a tiracolo por onde passa.
O problema é o que representa hoje o produto da F1. A categoria estacionou nos 8 pontos de audiência na TV aberta no Brasil. Os treinos de sábado nem são mais transmitidos integralmente. Mundialmente, após os anos de supremacia Schumacher, caiu o interesse global no evento. Fora das pistas, as equipes sofrem com os custos altos e estão começando a ameaçar um boicote pela divisão do bolo de receita.
No Brasil, como produto, a F1 deixou de ser interessante. Quando duas empresas estatais precisam ''socorrer'' a categoria no país, é sinal de que a coisa não está boa. Pior ainda é o argumento do Banco do Brasil ao anunciar o patrocínio: ''O principal objetivo da parceria é viabilizar a entrada de um piloto brasileiro na Fórmula 1'', nas palavras de Hayton Rocha, diretor de marketing do BB.
Ou seja. Não é um negócio para o banco investir na Fórmula 1. O aporte não é feito pensando numa possível internacionalização da marca, ou num projeto para levar clientes para todos os cantos do mundo. É só para ter o Brasil na Fórmula 1.
Sob esse aspecto, a presença de Nasr na F1 é mais um motivo para se lamentar o uso de dinheiro de uma estatal sem um projeto para a empresa, mas como uma forma de ''ajuda''.
Patrocínio não é caridade, ainda mais na Fórmula 1!