A triunfal volta de Eurico. E de tantos outros
Erich Beting
Eurico Miranda está de volta. Com o velho charuto de sempre, numa tumultuada eleição que teve direito a uso de frase intimidatória e tiro para o alto, segundo os relatos dos repórteres do UOL Bruno Braz e Pedro Ivo de Almeida (o texto completo está aqui). É o jeito Eurico Miranda de ser. É o preço que o Vasco pagará por achar que quem foi o maior responsável por colocar o clube no lugar onde está atualmente seja também quem possa pretensamente ''salvar'' o clube.
Mas não é só Eurico que voltou de maneira triunfal. No Palmeiras, ainda é Mustafá Contursi quem dá boa parte das cartas, mas não as caras. No São Paulo, Carlos Miguel Aidar foi presidente nos anos 80. No Flamengo, Marcio Braga ainda exerce influência entre os conselheiros e, de forma indireta, algum poder dentro do clube. No Grêmio, Fábio Koff voltou aclamado à presidência, enquanto diversos outros clubes continuam a apostar nos presidentes que foram figuras influentes lá nos anos 80 e 90.
Depois da grande crise causada no começo dos anos 2000, com a saída dos grandes grupos investidores no futebol, parecia que uma nova geração de dirigentes começaria a aparecer. Os clubes, quebrados, começaram a pedir por mudanças. Foi assim que saíram as dinastias Contursi, Dualib, Miranda, Teixeira e quetais.
Mas não se passou nem uma década para que ressurgissem as velhas caras de sempre. Por que isso acontece?
O clube de futebol é, acima de tudo, uma entidade que reúne associados e esses, por sua vez, elegem seus dirigentes. Sendo assim, quem sabe trabalhar bem esse bastidor eleitoreiro acaba sendo alçado aos cargos mais importantes.
Há 30 anos, quando o futebol começou a viver um primeiro período de profissionalização a partir da entrada mais pesada da TV e de patrocinadores, essas figuras começaram a aparecer, representando o ''novo''. Dualib, Eurico, Mustafá, Koff e outros eram os representantes do fim de uma geração anterior.
No começo da década, passamos por mais um processo de transformação. Os clubes europeus passaram a ser grandes compradores de atletas brasileiros e o futebol atingiu patamares ainda mais altos de profissionalização. Jogadores, treinadores, TV e patrocinadores passaram a exigir mais. Dinheiro, entrega, gestão. Aí, Dualib, Eurico, Mustafá, Koff e outros passaram a representar o ''velho''.
Num primeiro momento, esses dirigentes perderam força. Entraram, então, novas caras, com um discurso de equacionamento de dívidas e solução do passivo dos clubes. O problema é que, de cinco anos para cá, após a mudança provocada pelo Corinthians no mercado, os clubes perderam o rumo do equilíbrio financeiro. Enquanto o Timão fazia um tremendo barulho com Ronaldo e Cia., mas absolutamente amparados do ponto de vista financeiro, os clubes tentavam dar resposta para a torcida sem saber como trabalhar as finanças.
Desde 2009 que o futebol no Brasil aumentou sensivelmente as receitas, mas de forma completamente irresponsável gastou esse dinheiro. Hoje, o que acontece com os clubes é exatamente o que aconteceu no fim dos anos 90, quando os grupos investidores começaram a sair após as alterações da Lei Pelé. Os custos estão essencialmente maiores do que as receitas.
Quem eram os dirigentes que conseguiam montar times fortes mesmo num cenário desfavorável naquela época? São eles que, hoje, voltam de forma triunfal para os clubes, como se fossem salvadores da pátria.
A questão é que esses mesmos dirigentes foram, em grande parte, responsáveis por colocar os clubes num buraco cada vez maior. O torcedor, olhando apenas o desempenho dentro de campo, exige times cada vez mais competitivos. Os dirigentes, pressionados por buscar isso, adiantam verbas de patrocinadores e televisão, endividam ainda mais o clube e comprometem o futuro.
Agora, voltam a dar as cartas – e as caras – no futebol os mesmos cartolas que ajudaram a levá-lo para um estágio de falência. Em breve não haverá alternativa a não ser vender os clubes para milionários e, depois, fundos de investimento.
Foi assim que a Inglaterra conseguiu reerguer seu futebol a partir principalmente da última década.