O milagre do X se desfez no esporte
Erich Beting
A saída de Eike Batista da IMX (leia aqui) mostra o quanto ainda não há uma indústria de esporte no Brasil. É claro que o movimento está ligado à queda do ''Império X'', muito mais do que qualquer eventual frustração que Batista possa ter tido ao trabalhar com o esporte. Mas a mudança do controle acionário da IMX mostra o quanto acabou a euforia dentro da indústria esportiva.
Voltemos no tempo. Em novembro de 2011, Eike anunciou a sociedade com a IMG para abrir, no Brasil, a IMX. A ideia, dita no comunicado distribuído à imprensa, era fazer com que a agência se tornasse uma das maiores do mundo, impulsionada pelo crescimento do esporte no país.
O cenário era lindo. Economia em alta, esporte idem. Brasil já detinha o status para ser a sede da próxima da Copa do Mundo e também havia sido eleito sede dos Jogos Olímpicos de 2016. As empresas patrocinavam o esporte como nunca antes. Eike ainda era visto como o excêntrico e audacioso empresário que seria a síntese do Brasil adulto, maduro, ex-emergente e novo dono do pedaço. A entrada dele no esporte só vinha mostrar que estávamos chegando a um novo patamar.
A IMX foi a última das grandes a se movimentar. Antes disso, já viviam a festa no Brasil do Esporte Octagon, Geo Eventos (união de Globo e RBS), o publicitário Nizan Guanaes e até mesmo o ex-jogador Ronaldo, com o grupo WPP. Todos estavam aqui, prontos para oferecer toda a estrutura dos melhores grupos do mundo para o novo Brasil do Esporte.
Por que hoje só perduram IMX (sem o X), Octagon (até quando, já que os sócios brasileiros foram morar em Orlando?) e a 9ine (ganhando dinheiro com shows, não com esporte)?
O problema que já existia naquela época e que hoje é muito mais evidente é que, na prática, são muitos prestadores de serviço para pouco serviço em si.
A IMX de 2015 tem quase metade do tamanho de 2014. O problema não foi a Copa, mas a lucratividade do negócio. A agência queria replicar o modelo da IMG nos Estados Unidos por aqui. Tinha o braço de gerenciamento de imagem de atletas, tinha área de consultoria, tinha área de eventos. Das três, só sobrou a de eventos.
Para uma agência prosperar no país, ela precisa ter um evento próprio. Do contrário, não há negócio para ela. Ou melhor. Até existe, mas é muito pouco. Hoje, o negócio da IMX está sustentado no Rio Open de tênis, torneio que gera R$ 25 milhões em receitas. Nenhum outro braço da empresa (talentos ou consultoria) é capaz de gerar tanto dinheiro assim.
No mercado americano, em que o esporte é profissionalizado, existe espaço para que haja gestores de imagem de atletas, consultoria para empresas interessadas em investir, etc. A IMG é um colosso mundial porque atua num mercado 100% profissional, em que há muito dinheiro envolvido na indústria esportiva e sem perspectiva de sair.
Por aqui, ainda estamos desenvolvendo uma indústria. O esporte quase nunca sabe construir um produto que possa ser vendido. As empresas quase nunca sabem investir no esporte e ajudar a transformá-lo em produto. As agências não crescem pela falta de maior maturidade da indústria. Em 2009, depois que o Rio foi eleito sede olímpica, todo mundo achou que era a hora do esporte.
O grande futuro da indústria estará depois dos eventos, quando será preciso fazer uso daquilo que foi construído para Copa e Olimpíada. Faremos muito mais coisas com o esporte, saberemos transformar muito mais ideias em produtos, teremos as empresas mais maduras para investir e, aí sim, será possível realmente crescer como se imaginava no esporte.
Mas, se alguém imaginava que a indústria esportiva se multiplicaria de uma hora para a outra só por causa dos megaeventos, vale lembrar a regra básica da matemática. Qualquer número multiplicado por zero é igual a zero.