Quanto vale o mando de um jogo?
Erich Beting
O Vasco enfrentou na quarta-feira o São Paulo em Brasília, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro. No final de semana anterior, a Ponte Preta aceitou ir a Cuiabá para receber o Palmeiras. Antes, o Vasco já tinha estado na capital mato-grossense para o clássico com o Flamengo. E, em breve, Londrina, no Paraná, será a “casa” do Asa, de Arapiraca (AL), no confronto decisivo contra o Palmeiras pela Copa Sadia do Brasil.
Nos quatro casos, Vasco, Ponte e ASA foram remunerados para ir jogar em outros estados. Os times abriram mão da competitividade esportiva para engordar o caixa. Em tempos de receita escassa no futebol, esse é um caminho tentador. E lógico. Esportivamente perde-se, mas pode-se ganhar mais atuando por uma receita fixa.
E a questão que fica é: quanto vale um mando de campo?
O Vasco recebeu R$ 1,7 milhão pelos dois jogos que fez longe de São Januário. As duas partidas arrecadaram pouco mais de R$ 1 milhão cada. A conta, nos dois casos, ficou próxima do zero ou deu prejuízo. Foi, no final, totalmente ruim para quem teve a ideia de pagar para ter o Vasco atuando em seu estádio.
Da mesma forma a Ponte Preta causou prejuízo para os promotores do jogo em Cuiabá. O cachê pago para a equipe campineira é mais absurdo ainda: os mesmos R$ 1 milhão do Vasco para atuar no Mato Grosso.
Na tentativa de evitar o branco-elefantismo, as arenas têm buscado desesperadamente atrair eventos. A lógica é relativamente simples. Paga-se um valor fixo para o clube ter o interesse em ir atuar no seu estádio. Com a receita de bilheteria, cobre-se o valor investido e ainda se tem lucro na operação.
Seria lindo, se os organizadores tivessem feito o mínimo de esforço em entender quanto vale o mando de campo para uma partida.
A Ponte Preta teve, no melhor jogo em seu estádio pelo Campeonato Brasileiro, pouco mais de R$ 50 mil de lucro. Sendo assim, qualquer valor acima disso que fosse oferecido estaria de ótimo tamanho para o clube. O ponto é que o milhão que ela ganhou por atuar em Cuiabá significa mais do que todo o lucro que a Ponte Preta terá em bilheteria nos 19 jogos atuando em seu estádio neste Brasileirão. Para a Macaca, o negócio foi espetacular. Para os promotores, se houvesse o mínimo de estudo prévio, estaria claro que, por 20% dessa verba que foi paga, muito provavelmente a Ponte aceitaria jogar longe de casa.
Da mesma forma, o Vasco não tem conseguido obter mais do que R$ 200 mil de arrecadação por partida atuando em São Januário. Será que realmente é preciso oferecer praticamente quatro vezes mais esse valor para convencer o clube a atuar fora?
Os novos estádios impõem uma necessidade completamente nova aos gestores. É preciso preencher uma grade de jogos nas arenas para que elas consigam ter dinheiro o suficiente para começar a gerar lucro. Mas como fazer isso se os promotores de eventos seguem a trabalhar com a (i)lógica dos dirigentes esportivos, de que não há nada maior do que o seu próprio clube?
Enquanto as arenas não entenderem que é preciso calcular com calma antes de fazer uma proposta para uma equipe atuar em sua casa e com isso gerar lucro para o dono da arena, será impossível acreditar que é um bom negócio ter novos estádios no país.