Negócios do Esporte

Patrocínio não é caridade

Erich Beting

Outro dia recebi aqui no blog uma indagação de um leitor sobre a dificuldade em conseguir um patrocínio para o projeto que ele tem envolvendo crianças e a natação. Na mensagem, o Sergio pergunta:

''Como fazer para obter parceria para padronizar a equipe de natação (7 a 13 anos) de um clube localizado na maior cidade da América Latina?
O projeto inicial seria padronizar camisetas e toucas para 40 crianças. O montante total daria cerca de R$800,00, se tanto.
Porém já contatei empresas grandes e pequenas e até agora as que me responderam, negaram o projeto. Queria uma orientação para idealizar o projeto.''

A pergunta do Sergio envolve muita gente que trabalha com esporte e não consegue manter o seu projeto auto-sustentável. O maior problema que existe é uma confusão das pessoas de que patrocínio é uma espécie de caridade. É muito bom sermos idealistas e mostrarmos que a pessoa estará, ao ajudar um projeto esportivo, fazendo o bem. Mas a realidade é que não podemos confundir fazer o bem com desembolsar dinheiro sem critério.

Diariamente diversas empresas recebem os mais variados projetos mirabolantes de patrocínio para investir. Ainda mais as grandes marcas, que estão na mídia com números milionários. E o que mais acontece, na maioria das vezes, é que as pessoas acreditam sempre que o seu projeto é o mais interessante e, mais ainda, é ''a cara'' daquela empresa. Só que, raramente, a pessoa que foi apresentar o projeto para uma empresa estudou primeiro qual é o objetivo que ela tem ao investir no esporte. Em vez de chegar com a pergunta, tenta enfiar na cabeça do empresário que ele sabe a resposta para a empresa que não é dele!

É aí que está o maior problema de um projeto que busca um patrocínio. Por muitas vezes, ele não consegue atender a necessidade da empresa. Aí, a pessoa parte para o discurso ''mas o que são 10 mil reais para uma empresa como a Coca-Cola?''. É dinheiro!

A maior evolução do mercado de patrocínio esportivo nos últimos anos tem sido essa. As empresas deixam cada vez mais de investir ''por caridade'' e passam a enxergar o esporte como um negócio. Ainda há muito erro nesse tipo de investimento (os abadás nos quais se transformaram as camisas de futebol no Brasil são uma prova disso), mas o fato é que o conceito do que é patrocinar o esporte tem mudado bastante.

O patrocínio não é caridade. Ele é um negócio. E é preciso que o esporte saiba se mostrar como um negócio para que seja mais fácil conseguir apoio. Hoje vivemos um processo meio que de seleção natural. As empresas estão mais criteriosas, o que dificulta a aprovação de muitos programas de patrocínio. Mas esse é o primeiro passo para a profissionalização da indústria do esporte.

  1. Erich Beting

    02/06/2011 18:30:10

    Tarcísio, obviamente não é problema de um lado só. Mas quis passar um pouco o quão trabalhoso é a situação de quem está do lado das empresas. Um abraço e parabéns! Erich

  2. Rogério

    02/06/2011 16:32:37

    Adorei esse post. O problema é o seguinte: Qualquer empresário, peq, medio ou grande recebe pedidos de patrocínio o tempo todo. Os donos dos projetos imaginam que a empresa tenha obrigação de sair distribuindo dinheiro, e não é bem assim. Publicidade só se faz se há retorno. O Problema é que na maioria das vezes é impossível mensurar esse retorno. Em cidades pequenas é ainda pior. se o cara tem uma empresa q está indo bem, dando um bom dinheiro, todo mundo acha q o dono tem q dar grana pra tudo q é coisa. E o q a gnt faz é justamente nem receber essas pessoas. Muitas vezes é melhor dificultar o acesso ao responsável pelo marketing,a ficar horas ouvindo planos mirabolantes... Quem pretende um patrocínio deve fazer um projeto para tal, tudo por escrito, detalhadamente e, principalmente, elencar as vantagens q o patrocinador vai ter.Senão é melhor nem perder tempo.Parabéns pela abordagem, Erich.

  3. Buju

    02/06/2011 13:42:25

    O que conta, certamente, nestes projetos é o custo-benefício. Para as empresas é necessário verificar qual o tipo de exposição de sua marca, público alvo etc. O patrocínio tem que ter contrapartida da divculgação da marca ou produto. Se for uma competição amadora de repercussão limitada sem cobertura dos meios de comunicação, quaol a motivação para as empresas investir dinheiro? Para projetos de inclusão social através do esporte quem deve liberar verbas é o poder público através dos Ministérios e Secretarias competentes ou as inumeras ONGs que acaptam dinheiro do exterior. O problema é que, tanto o poder público quanto algumas ONGs são, na verdade, focos de corrupção e o dinheiro nem sempre chega a quem precisa.

  4. Tarcísio - Sorocaba

    02/06/2011 12:36:40

    Olá Erich, sou aluno da publicidade e marketing da Esamc de Sorocaba , e recentemente vivemos um caso parecido com a própria Coca-cola. Nosso trabalho dos alunos do 7º Semestre era fazer um lipdub para divulgar a faculdade. Escolhemos a música " abra a felicidade " ( da coca cola ) , o Di do grupo Nx zero participou da abertura do vídeo e tudo mais , marcamos uma reunião com a Coca-cola de Sorocaba , mas eles fizeram super pouco caso com o nosso projeto, mas mesmo assim contribuiram com alguns fardos de latinha e o urso deles. Mas enfim, feito o trabalho , foi sucesso total e alcansou por algumas horas os Trending Topics Br do twitter, e o vídeo foi acessado rapidamente por mais de 100.000 pessoas , ( hoje já ultrapassou os 160.000 acessos) , então a Coca cola de Atlanta ficou sabendo da repercussão , ligaram para a sede do Rj , que não sabia de nada , então ligaram para a sede de Sorocaba , que sabiam muito pouco sobre o acontecido. Agora eles nos darão uma palestra sobre os 125 anos da Coca e provavelmente farão alguma ação dentro da faculdade. Mas a questão é , se eles tivessem nos patrocinado desde o começo , provavelmente o que é 160.000 acessos , poderia ter passado 1.000.000 facilmente , você acha que os diretores de marketing das grandes empresas são os responsáveis por matar grandes oportunidades de projeto que trariam um ótimo retorno?Caso queira ver o vídeo , é só digitar lipdub Esamc , que está no youtube!abraço, Tarcísio.

  5. Erich Beting

    02/06/2011 12:20:02

    Paulo, o futebol no interior precisa saber usar a força da cidade para sobreviver e, mais do que isso, mostrar que pode ser uma boa chance de negócio. Não é caridade, é negócio! Por que a Francana não busca fazer de um jogo na A-3 uma festa? Faz um show após a partida, movimenta a cidade para o dia da partida (e essa é só uma ideia simples para levar mais gente e criar mais barulho em torno do time). Esperar o torcedor de braços cruzados é pedir para que ele não fique engajado com o time. E, quanto mais gente se envolver, mais interesse de empresas o clube consegue. Um abraço, Erich

  6. Paulo - Franca/SP

    02/06/2011 11:53:49

    Boa matéria. Aproveito a oportunidade para manifestar sobre as agremiações futebolísticas interioranas, que agonizam, como é o caso da nossa Francana que vive de pires na mão. A mídia concentra suas atenções nos grandes torneios, dos quais os pequenos clubes (cada vez menores) vão se distanciando. Sem espaço na mídia; com público restrito nos etádios; participando de torneios (como a A-3 do campeonato paulista) com duração de meros três meses por ano impossibilitando um planejamento anual adequado; questiono: como fazer sobreviver esses clubes de futebol? Além disso, surgem políticos, com mendazes interesses, que passam pelos clubes deixando uma nociva pesada herança. Assim, só resta o esforço de alguns abnegados para tentar fazer sobreviver o futebol do interior. Nestes casos, não é necessário a caridade? Obrigado pelo espaço.

  7. Felipe

    01/06/2011 21:45:20

    É isso aí , "patrocínio" é NEGÓCIO e não significa "responsabilidade social".

  8. Erich Beting

    01/06/2011 19:08:17

    Felipe, a aproximação é o mais difícil. Precisa ter contato e, claro, sorte para que a empresa te atenda. A apresentação do projeto depende de diversas variáveis. Não existe modelo fechado. Acho que, quanto mais você souber a necessidade da empresa, melhor. Um abraço, Erich

  9. Carlos Alberto

    01/06/2011 18:25:12

    Excelente matéria, como leitor de vários posts de esporte dá para notar que tem muita gente com conceito totalmente errado sobre o que é o Patrocínio, e essa matéria esclarece de forma bem objetiva o assunto.Parabéns.E quanto ao leitor do projeto de natação, se esse projeto não tem uma boa visualização e destaque entre a midia, ou seja se é mais um projeto social do que um projeto que visa sucesso e oportunidades de imagem, sugiro que tente uma ONG e as tais leis de beneficios fiscais, por ai vc terá muito mais chances de obter recursos.

  10. Felipe

    01/06/2011 15:03:20

    Claro, falo de projeto esportivo, como o citado no texto.

  11. Felipe

    01/06/2011 15:02:39

    Mas Erich, gostaria que houvesse a explicação para dois pontos: qual é o melhor modo de aproximação destas empresas e como apresentar um projeto? O texto está muito claro, mas estas questões me suscitaram quando o li.

  12. rica

    01/06/2011 14:10:16

    Concordo, tem muito cara ai viajando na maionese com esse assunto.Até hoje as pessoas não entenderam o que significa posicionamento de marca.Pera ai, o que é isso?http://migre.me/4He5x

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