Negócios do Esporte

Arquivo : outubro 2011

O balanço do Pan na Record – parte I
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Erich Beting

Foram 15 dias intensos na programação da Record, com o primeiro evento esportivo de relativo peso exclusivo para a emissora. E qual o balanço que se pode fazer do Pan que acabou ontem para o mercado dos direitos de transmissão no Brasil?

É complicado analisar sob qualquer ótica, ainda mais num país acostumado, há pelo menos 15 anos, a um duopólio nos direitos dos principais eventos esportivos. Foi a primeira vez que um evento que tinha o Brasil competindo com boas chances de vitória (foram quase 50 ouros) não contou com a transmissão da Globo ou do dueto Globo-Band. Por isso mesmo temos de separar, e muito, essa análise da transmissão do Pan.

Farei pelos próximos três dias uma análise de três diferentes aspectos na transmissão do Pan. Coisas que percebi acompanhando o evento pela TV e que vão além da visão de apenas um consumidor da informação.

Quando falamos em exibição pela TV de um evento esportivo, necessariamente existem três partes envolvidas: o detentor do direito de transmissão, o consumidor e o dono do evento.

Hoje falaremos sobre a Record, que teve a responsabilidade de ser a única emissora de TV com os direitos de exibição do Pan. Para ela, o saldo do evento foi espetacular. Algumas transmissões chegaram a render, em alguns momentos, a liderança na audiência, contrariando algumas previsões de que não seria possível bater a soberania da Globo. Logicamente que o fuso horário ajudou, com a maioria das competições acontecendo no final da noite, no término do horário nobre, em que a Globo lidera com folga a audiência.

Além disso, o Pan foi lucrativo para a Record. Todas as cotas de patrocínio foram vendidas, gerando algumas dezenas de milhões de reais em faturamento. O sucesso comercial do evento representou também um aumento de expectativa em relação ao quanto a emissora poderá faturar com a exclusividade na TV aberta dos Jogos Olímpicos de Londres do ano que vem.

Por fim, o aspecto mais interessante para a emissora com o Pan foi também a aproximação da Record de um novo público. Segundo a medição do Ibope da audiência do evento, houve uma procura maior de espectadores das classes A e B pelo canal. Essa talvez tenha sido a maior vitória da emissora ao ter a exclusividade do Pan, já que a Record tem a maior faixa de consumidores inseridos na classe C.

Essa atração de um novo consumidor ficou clara durante as transmissões, quando os narradores anunciavam a grade de programação regular da emissora, na tentativa de fazer com que ele começasse a se acostumar ao canal, o que pode representar um aumento de audiência no longo prazo.

No final das contas, o Pan acabou sendo um bom negócio em todos os sentidos para a Record. A emissora conseguiu ter superávit na operação e, mais importante, trouxe para dentro do canal um novo tipo de público.

Amanhã falaremos sobre o Pan do ponto de vista do consumidor. Será que o fim do duopólio das transmissões foi benéfico para quem esteve sentado em frente à TV?


A necessidade de a marca ter atitude para o consumidor
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Erich Beting

Como fazer com que um consumidor decida por uma marca em detrimento de outra na hora da compra? Com o mercado cada vez mais nivelado e igualado entre os concorrentes, a necessidade para uma empresa é fazer com que sua marca tenha uma atitude que gere no consumidor o desejo de tê-la sempre perto.

Esse cenário faz com que o esporte seja cada vez mais atrativo para uma marca se aproximar do consumidor. Como mostra a ação feita pela marca de água francesa Contrex no vídeo abaixo. Como você vai vender água se não for pelo que a marca pode representar para o consumidor? Como sempre, de uma ideia simples surge um resultado muitas vezes surpreendente.


A difícil tarefa de Aldo Rebelo
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Erich Beting

Aldo Rebelo assumirá a bronca de ser o novo ministro do Esporte. Não bastará a ele ser honesto. Terá de parecer honesto. E aí está o maior desafio que o novo ministro tem pela frente.

Não é apenas a cabeça da Pasta que estava errada. Orlando Silva Junior caiu porque era a frente do negócio. Só que o caso mostrou mais uma vez que a corrupção, infelizmente, está enraizada não apenas no Esporte, mas em toda a sociedade.

Esse é o ponto maior que o novo ministro precisa combater. Não é pela honra do PC do B ou de Orlando Silva Junior que Aldo Rebelo terá de ser um bom gestor da Pasta de Esporte.

O partido que ele defende é o Brasil, e nenhum outro.

E esse talvez seja o grande enrosco do novo ministro. Aldo Rebelo é do Partidão. Defende, e muito, o PC do B. Tanto que sua nomeação mostra claramente que ele é o bombeiro da sucessão de Orlando Silva Junior.

O PC do B precisa de alguém que seja a imagem do partido e que tenha tido uma relação histórica com o esporte. Aldo é essa figura.

Mas o Brasil não precisa de alguém que represente um partido, e sim um projeto. E essa é a tarefa que Aldo Rebelo tem pela frente. Seu ministério precisa ser limpo, transparente e, sobretudo, brasileiro. Não é pedir demais. É apenas o que deveríamos esperar e cobrar dos governantes.

Para isso teremos de fazer uma revisão dos últimos 100 anos de história política do Brasil.


PC do B usa TV para defender ministro
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Erich Beting

O PC do B, partido do Ministro do Esporte, Orlando Silva Junior, decidiu invadir a televisão para tentar defender o político das acusações que tem sofrido nos últimos dias.

Em Brasília, o partido usou o espaço a que tinha direito na TV Globo para fazer uma defesa pública a Silva Junior. O ministro inclusive é um dos que aparecem nas peças, que contam com outras figuras do partido para lembrar da história de luta e transparência do partido.

A atitude de Silva Junior e do PC do B, porém, é restrita ainda à televisão do Distrito Federal. As peças têm como objetivo reforçar a inocência do ministro nas acusações e, também, tentam desqualificar o policial militar João Dias, autor das primeiras acusações contra Silva Junior publicadas na “Veja”.

A campanha publicitária faz parte da estratégia armada por Silva Junior e pelo PC do B para mudar sua imagem e tentar derrubar as acusações que são feitas contra ele. O ministro também tem usado mais sua conta no Twitter para conseguir expor seu ponto de vista e também se defender.

O problema é continuar a defesa com uma nova acusação por dia aparecendo na imprensa…


A mudança de imagem de Ronaldo
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Erich Beting

“Acabou de chegar mais um louco para o Bando de Loucos”. Talvez o então atacante Ronaldo não pudesse imaginar o quão profética seria essa sua frase proferida lá em dezembro de 2008, quando dessa forma ele encerrou o “Jornal Nacional” confirmando o acerto com o Corinthians para defender o clube paulista.

Maior artilheiro de Copas do Mundo, campeão e protagonista do Mundial de 2002, um ídolo genuinamente brasileiro. Tudo isso cercava a imagem de Ronaldo em 2008, quando nem mesmo o episódio envolvendo-o com três travestis foi capaz de manchar uma imagem cercada de vitórias e derrotas que sempre pareceram acachapantes.

Não à toa que Ronaldo era o rosto mais significativo da campanha “Sou brasileiro e não desisto nunca” lançada pelo governo Lula em 2003 para mudar a imagem do país para o próprio brasileiro. Esse mesmo Ronaldo, um cara absolutamente nacional em termos de exposição, de alcance de imagem, de ligação com o torcedor, era o que desembarcava em dezembro 2008 para a aventura corintiana.

Três anos e alguns (muitos) quilos depois – e quem é que liga hoje para o peso dele? –, Ronaldo é muito menos do Brasil para ser muito mais do Corinthians. Ele não defende mais o clube dentro de campo, mas aos poucos se tornou um embaixador alvinegro no país.

Tanto que, semana passada, era ele quem estava ali no estádio do Corinthians, ratificado como palco de abertura da Copa do Mundo de 2014. Não era o Ronaldo Nazário do Brasil, mas o Ronaldo do Bando de Loucos. O cara que passou a ser alvinegro de corpo, alma e camisa.

O Ronaldo que, dia desses, postou no Twitter que passaria em breve o resultado de uma ação promocional da Claro, a patrocinadora de seu perfil no microblog. E que ouviu de resposta do botafoguense Helio de La Peña: “O resultado nós já sabemos! Foi 2 a 0. Foooogo”. Era mais uma piada do Casseta, mas que reflete exatamente como, hoje, Ronaldo não é mais do Brasil. Sim, os corintianos dirão que basta o Timão para ele. E, sem dúvida, o tamanho do alvinegro é grande o bastante para gerar emprego e negócios para muitos atletas. Mas não para Ronaldo.

É inconcebível que o cara que melhor representou o time brasileiro depois de Pelé (Romário é o terceiro nessa lista) não esteja nacionalmente ligado à Copa do Mundo. Em São Paulo, Ronaldo está ligado até demais, emprestando seu prestígio e sua marca para o polêmico Itaquerão. Pode até ser uma forma de retribuir a aposta feita pelo Corinthians em 2008, quando muitos já consideravam que o destino de Ronaldo, mais uma vez, estava selado.

Mas Ronaldo é muito maior do que isso. Tanto que, em meio ano de atuação dentro de sua agência de marketing esportivo, conseguiu alavancar quase uma dezena de clientes. Um fenômeno jamais visto na indústria do esporte e dificilmente alcançado por outras marcas em diferentes segmentos de mercado, ainda mais no ramo do entretenimento.

Seria uma boa para Ronaldo, hoje, repensar de que forma a sua imagem tem sido percebida pelos torcedores. Desde 1996, quando foi eleito pela primeira vez o melhor jogador do mundo, Ronaldo tinha um dos menores índices de rejeição no mercado, tanto que sempre foi a aposta número 1 para as empresas anunciarem.

Hoje, mesmo aposentado, ele teria o potencial de endossar campanhas de diversas empresas, tal qual acontece com Pelé. Mas, pelo menos num primeiro momento, claramente os garotos-propagandas preferidos do esporte são Neymar e Anderson Silva.

Seria interssante que Ronaldo procurasse contratar a mesma agência desses dois atletas para fazer um trabalho de reposicionamento de marca para ele. Talvez seja só questão de conversar com o cara da mesa ao lado da dele…


Palmeiras, Lusa e a falta de gestão de eventos no país
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Erich Beting

O lamentável episódio envolvendo torcedores da Portuguesa e seguranças do Palmeiras escancara o quão despreparado estamos na gestão de eventos esportivos.

Não vou me ater aqui a quem tem “culpa” pelo início da confusão. Muito mais triste é saber que não aprendemos, especialmente quando o universo é o do futebol, o básico.

O estádio do Canindé estava alugado para o Palmeiras. Por que motivo haveria de um torcedor da Portuguesa estar presente no mesmo local? Sim, o estádio é da Lusa, mas, naquele dia e horário, ele pertencia ao Palmeiras.

A questão deveria ser simples assim. O dono do evento é o responsável por gerenciar absolutamente tudo o que se passa no local, enquanto quem fez a concessão do espaço faz as suas exigências.

Fazemos isso em aluguéis de imóveis, espaço para a realização de festas, até mesmo na churrasqueira do prédio. Mas, no futebol, ainda temos a mentalidade de que há sempre um “dono”, que detém a posse sobre o lugar por merecimento.

Em Campinas, o time do Red Bull teve problemas com dirigentes da Ponte Preta por fazerem um copo plástico com o símbolo do rival Guarani no dia de jogo entre o Red Bull e o Guarani pelo Paulista da Série A-2. O local do jogo era o estádio Moisés Lucarelli, de propriedade da Ponte. Mas, no dia da partida, o dono do evento era o Red Bull, que pagou pelo aluguel do espaço.

Com a mudança de mentalidade na gestão de arenas que devemos assistir nos próximos anos, o futebol brasileiro precisará urgentemente aprender a gerenciar eventos. Do contrário, será difícil pensarmos em locais rentáveis para os donos dos estádios apenas com alguns poucos jogos de futebol para serem realizados.


Chame o Abílio, Dilma!
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Erich Beting

Ao que tudo indica, o Ministério do Esporte deve ter um novo comandante nos próximos dias. Até mesmo a Fifa já disse que mudará o interlocutor do governo com a entidade, numa demonstração clara de que, mesmo que comprove sua inocência, Orlando Silva Junior deve ser colocado para o banco de reservas.

Já que é assim, bem que a presidente Dilma Rousseff poderia pensar em deixar a política de lado e buscar alguém do mercado para ocupar o cargo. Depois de alguns dias pensando no que poderia ser o melhor, coloco aqui minha campanha: “Chame o Abílio, Dilma!”.

Abílio Diniz, presidente do Conselho do Grupo Pão de Açúcar, é bilionário. Não precisaria usar o cartão corporativo para comer uma tapioca, ou a verba pública para levar a família ao Rio de Janeiro.

Sua habilidade como gestor também é inquestionável. Conseguiu transformar o Pão de Açúcar de uma empresa à beira da falência no maior hipermercado do país. E, nesse tempo, a ligação e o envolvimento com o esporte solidificou não apenas a marca do Pão de Açúcar como ajudou no crescimento de diferentes modalidades no Brasil.

Hoje, a etapa de São Paulo da Maratona Pão de Açúcar de Revezamento é a maior corrida de rua da América Latina, reunindo mais de 30 mil corredores, dos quais quase a metade estreantes no universo da corrida. Além disso, o Audax, time de futebol fundado pela empresa e que tem equipes disputando os estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro, já teve quase 500 mil atletas que passaram pelas suas peneiras. Atrelado à performance dos jogadores está um trabalho social de educação.

Dilma quer aumentar a eficiência da gestão pública por meio da contratação de pessoas técnicas para os ministérios. Taí uma ótima oportunidade para, quem sabe, começarmos a mudar a realidade do esporte no país.


Agora só faltam os aeroportos!
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Erich Beting

A maior aberração prevista para a Copa do Mundo no Brasil foi eliminada para 2014. A Fifa colocou por terra o projeto de dividir o país em quatro regiões e, com isso, diminuir o trânsito das pessoas durante o Mundial. Ainda bem. Caso o projeto fosse mantido, o país perderia exatamente o maior trunfo de organizar o torneio, que é forçar o turista estrangeiro a passear por diferentes regiões, conhecendo mais lugares e dessa forma gastando mais e tendo maior interesse em voltar ao país depois da Copa.

O fim da divisão de grupos em sedes fixas é uma realidade desde 1994, quando os Estados Unidos decidiram aumentar o faturamento com o trânsito interno dos turistas e criou o sistema itinerante para as seleções, atendendo interesses locais e assim mostrando o melhor caminho para o país-sede turbinar a receita com o consumo.

O Brasil, felizmente, não deu o passo para trás. O problema, agora, é outro. Assim como na África do Sul, temos sérios problemas para atender a uma demanda de Copa do Mundo em nossas estruturas aeroportuária, ferroviária e rodoviária. Japoneses, coreanos e alemães tinham uma rede de diferentes meios de transporte para o torcedor ir de um lugar a outro.

Aqui, tal como na África, temos a infraestrutura de transportes baseada em rodovias e em aeroportos antigos e ultrapassados. Em 2010, Porth Elizabeth e Durban foram cidades que entraram em colapso nos dias de grandes jogos. Em solo africano, compensava, pelo menos, as excelentes condições das rodovias do país.

Por aqui, não é difícil imaginar que o projeto de uma Copa do Mundo em todo o território nacional, sem setorização, seja de difícil implementação. Enquanto tivermos a pífia infraestrutura de transportes do país, sem dúvida teremos muitos torcedores que serão prejudicados pela loucura de sair de São Paulo, ir a Manaus e voltar para Fortaleza, por exemplo.

Mas é preciso, para o marketing turístico do país, fazer o torcedor se deparar com as diversidades que existem entre São Paulo, Manaus e Fortaleza. Ou entre as 12 sedes da Copa.

Mas é absolutamente necessário, também, que o projeto de Copa do Mundo para o Brasil seja, urgentemente, definido. O que queremos com o Mundial? Ficou claro, com a divulgação da tabela da competição, que um dos objetivos é mostrar os diversos Brasis que existem aqui. O calor tropical com o frio gaúcho, a bagunça paulista e a paradisíaca Natal.

Só que falta, para que essa imagem de Brasil seja bem vendida para o turista, termos, pelo menos, aeroportos decentes. Do contrário, o Brasil vai mais uma vez querer dizer que é a quinta maior economia do país, mas com uma infraestrutura de quinta categoria.

Pelo menos o primeiro erro, que seria acabar com a chance de mostrarmos o Brasil por inteiro, foi corrigido a tempo. Resta saber se teremos tempo para o restante.

As disparidades das sedes

Brasília não precisa de sete jogos do Mundial, apesar de ser a capital do país, não há cultura futebolística e mesmo tanta atratividade turística que se justifique. Pior do que isso é saber que, por conta de tudo isso, o Novo Mané Garrincha terá de fato capacidade para 70 mil pessoas, que deverá ser cumprida apenas em seis ocasiões na vida da arena (ou em sete, no caso de o Brasil disputar o terceiro lugar do Mundial).

São Paulo como abertura foi um jogo de cartas marcadas. Belo Horizonte foi “recompensada” com a semifinal. O problema maior, porém, são os gastos abusivos para estádios acima de 40 mil lugares em locais como Manaus, Cuiabá e Natal. Curioso notar, também, que serão apenas nove jogos nos dois únicos estádios em que se prevê o uso de 100% de dinheiro privado (Curitiba e Porto Alegre).

A política, como costumo dizer por aqui, sempre atrapalha o negócio. Por isso mesmo, não há qualquer surpresa em tudo o que foi anunciado nesta quinta-feira pela Fifa.


Para que serve o Ministério do Esporte?
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Erich Beting

Vamos deixar de lado o que pode vir a acontecer com o ministro Orlando Silva Junior. Agora é apurar se de fato houve mau uso do dinheiro público dentro do Ministério do Esporte e, conforme andar as investigações, que os culpados sejam punidos. Mas a crise na Pasta nos leva a uma discussão muito mais profunda e importante para o crescimento do esporte no Brasil.

Afinal, para que serve um Ministério do Esporte?

Temos, de partida, um problema a ser resolvido no Brasil. Desde os tempos de Getúlio Vargas que não sabemos nem mesmo o que queremos do esporte por aqui. No Brasil que se orgulha em ser “para todos”, o esporte continua a ser “para poucos”.

Uma nação mais saudável é, sem dúvida, uma nação que pratica esporte. Para isso acontecer, porém, temos de ter, essencialmente, uma política pública de acesso à prática esportiva. E isso passa, obrigatoriamente, pela criação de uma diretriz de atuação do Ministério do Esporte, já que existe uma pasta exclusiva para tratar do tema.

Afinal, criar leis de incentivo que só valem o incentivo quando o investimento é no esporte de alto rendimento é abrir o caminho para que tenhamos distorções tanto no uso do dinheiro público quanto na eficácia do Ministério do Esporte como meio de desenvolvimento do esporte no país.

Hoje, o Ministério do Esporte virou uma espécie de grande pedágio do esporte no país, a exemplo do que é o Comitê Olímpico Brasileiro. Mais do que criar meios para o crescimento da prática esportiva, o ministério atua como o grande centro distribuidor de verbas para o esporte de alto rendimento.

Sem dúvida precisamos do exemplo que vem de cima, que a mídia tem interesse em mostrar, para fomentar e desenvolver a base. Mas, enquanto houvermos apenas os poucos exemplos do alto rendimento, o esporte no Brasil continuará a ser uma excelente ferramenta para distribuir verbas em projetos nem sempre fundamentais para o crescimento de uma nação que pratica esporte.

O momento é mais do que apropriado para debatermos não apenas a lisura e transparência que se espera de alguém que usa o nosso dinheiro. Isso é condição básica para alguém que está num cargo público. Temos a chance de, como nunca antes na história desse país, discutir para que serve um Ministério do Esporte. E, mais do que isso, de que forma o esporte pode ajudar o Brasil a ser cada vez mais um país melhor.


O fim do rebaixamento é a solução do futebol?
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Erich Beting

O movimento começou na Inglaterra, com os donos de clubes da Premier League defendendo publicamente o fim do sistema de promoção e rebaixamento no Campeonato Inglês.

O receio, nesse caso, não é tanto pelo risco de ver o time na Segunda Divisão, mas muito mais pela lucratividade de uma competição com clubes tão díspares do ponto de vista financeiro.

O maior problema que existe hoje na Premier League é o abismo que existe entre os clubes de ponta e aqueles na rabeira da tabela. Há uma grande disparidade tanto na geração de receitas quanto na ambição mercadológica dos clubes. E isso, de uma certa forma, emperra o próprio crescimento do Campeonato como um produto global.

A hipótese de acabar com o rebaixamento ainda não é aceita na Inglaterra, mas começa a ser um indício de que, aos poucos, o futebol começa a criar um patamar de gestão que leva a um fenômeno similar ao das competições esportivas nos Estados Unidos.

Por lá, o esporte profissional é restrito a uma elite. Rebaixamento não é uma hipótese considerada para os campeonatos principais simplesmente porque o conceito é outro. A instituição existe enquanto for lucrativa. Do contrário, ela simplesmente fecha as portas.

Esse conceito começa a tomar conta do futebol na Inglaterra. O clube tem de ser viável economicamente para ser interessante como negócio. É por isso que muitos investidores passaram a comprar algumas equipes nos últimos anos. Agora, porém, para o negócio ser mais lucrativo, é preciso que o principal torneio do país também o seja.

E isso passa, necessariamente, pela revisão do conceito de existência de rebaixamento e promoção de equipes que são tão díspares do ponto de vista financeiro. O torcedor, sem dúvida, perde muito com isso. Mas no nível de profissionalismo que se encontra hoje o futebol, principalmente na Inglaterra, o debate é, no mínimo, um primeiro passo para se discutir o futuro do esporte mais popular do mundo.