O que motiva o cancelamento da licitação de material esportivo de 2016?
Erich Beting
Essa é a pergunta, ainda sem uma resposta concreta, que paira no mercado esportivo desde a tarde de ontem, quando o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016 divulgou um comunicado informando que adiou o processo de licitação para a escolha do fornecedor do material esportivo para o quadriênio 2012-2016 do time brasileiro (leia aqui). A concorrência era para ser encerrada nesta sexta-feira, às 18h, depois de mais de um mês que o processo havia sido tornado público pelo Comitê.
A lacônica justificativa dada pela entidade, que não vai se pronunciar além do que já dito no comunicado (enviado igualmente para a imprensa e para as empresas concorrentes). Ou seja, quase nada.
Dizer que as ''recentes transformações de mercado'' levaram ao cancelamento do processo é o mesmo que nada. Até porque, se há um setor que não sofreu grandes alterações pela chegada de Copa do Mundo e Olimpíadas no país foi o de fornecimento de material esportivo. O crescimento econômico do país já tinha feito com que as empresas do segmento aumentassem seus lucros significativamente desde 2006 e, também, fossem obrigadas a investir mais em aquisição de propriedades patrocinadas.
Ao que parece, Rio-2016 sofre de um problema muito comum no mercado de patrocínio esportivo, que é quantificar o real valor de um investimento.
O primeiro processo de licitação das Olimpíadas no Rio de Janeiro foi para o setor financeiro, com a venda das categorias de serviços bancários e de seguros. Ambas foram vencidas pelo Bradesco, que ao todo pagou US$ 500 milhões pelo negócio. O valor astronômico se justifica pela necessidade que o banco teve em não ficar para trás de seu maior concorrente, o Itaú, que já patrocina a Copa do Mundo (por um valor cerca de cinco vezes menor do que esse).
O sucesso dessa negociação causou uma espécie de ''inflação'' nos direitos das Olimpíadas. Nas disputas seguintes, os valores continuaram próximos daquilo imaginado pela organização. Até chegar o processo relacionado ao fornecimento de material esportivo.
As cifras que envolviam a licitação beiravam os R$ 200 milhões, entre dinheiro pelo patrocínio e investimento em fornecimento de peças de uniforme. Um valor absurdamente alto para o que tem geralmente sido pago pelo vencedor dessas licitações nas últimas edições dos Jogos Olímpicos. Algumas empresas nem chegaram a continuar no processo depois de receber a carta de intenções para concorrer.
Obviamente o Rio-2016 não poderá dizer que ''não houve interessados'' para justificar o cancelamento da licitação, até mesmo porque havia empresas interessadas em ganhar a concorrência, mas talvez os valores a serem oferecidos não chegassem ao total planejado pelos organizadores. Daí a alternativa de se falar sobre as ''recentes transformações de mercado''.
A bola da vez, agora, é a licitação para o serviço de automóveis. É a primeira vez que o COI libera esse tipo de contrato para ser negociado localmente. A decisão é justificada pelo excelente momento que vive a indústria automotiva no Brasil, em detrimento de sua queda no restante do mundo. A ideia é alcançar cerca de US$ 150 milhões com o processo, novamente um valor acima do que paga mundialmente o consórcio Kia-Hyundai para apoiar a Copa do Mundo de futebol.
Será que teremos novamente um cancelamento às pressas do processo de licitação?