Negócios do Esporte

Clube sem dono atrapalha a evolução do futebol

Erich Beting

A frase foi publicada na edição de terça-feira do jornal ''Folha de São Paulo'' por Arnaldo Tirone, presidente do Palmeiras: ''O clube não tem dono. O Palmeiras não é de ninguém''. Tirone, com isso, justificava a saída de profissionais da assessoria de imprensa, do departamento jurídico e do departamento administrativo.

Mas a frase é elementar e serve para explicar, e muito, como ainda há tantos desmandos no futebol brasileiro.

A sensação de que não há um ''dono'' para o clube é o que faz com que muita coisa ainda funcione na base do amadorismo e o futebol não seja mais evoluído no Brasil enquanto negócio.

A revolução no futebol inglês, existente desde o início dos anos 90, reside exatamente no fato de que, por lá, ficou claro que para um clube ser competitivo tanto no mercado interno quanto externo, é preciso que ele tenha um dono. O mesmo conceito é aplicado atualmente na Alemanha e, aos poucos, começa a transformar a cara do futebol na Itália, modernizando os clubes, antes controlados por famílias, mas sem qualquer profissionalismo na gestão.

Na Espanha, o sucesso de Barcelona e Real Madrid é o que pode mais servir de exemplo para o mercado brasileiro. Por lá, tal como cá, os clubes são associações esportivas, tendo um presidente eleito e diretores não-remunerados dentro da estrutura do clube. Mas o amadorismo para por aí. Daí para baixo, toda a estrutura do clube é profissional, com executivos contratados do mercado tendo como função gerar um aumento de receitas suficiente para fazer o time ser ainda mais competitivo dentro de campo.

Por lá, os clubes não têm ''dono'', mas quem é o presidente do momento atua de forma responsável, preocupado com absolutamente tudo o que é feito com o dinheiro da instituição.

E é esse o problema da frase de Arnaldo Tirone. Apesar da existência de uma lei que permite a punição de um dirigente esportivo que fizer mau uso do dinheiro do clube, raramente o cartola sente-se responsável pela gestão, o que agrava ainda mais o problema da falta de profissionalismo.

Desde que assumiu o Palmeiras, Tirone conviveu com muitos problemas oriundos da gestão anterior. O principal deles foi a falta de dinheiro em caixa, sendo que diversas receitas já tinham sido antecipadas pelo antecessor, Luiz Gonzaga Belluzzo. E aí está um dos maiores absurdos existentes ainda hoje no futebol brasileiro. Os clubes seguem adiantando o dinheiro futuro para resolver o problema do presente. E, assim, é impossível gerenciar de maneira minimamente adequada.

Do jeito que está, a solução é buscar um dono para os clubes, antes que eles se desintegrem pela falta de gestão oriunda dos problemas políticos. O Palmeiras é hoje o grande exemplo de como a política interfere no gerenciamento do clube. Nessas horas, a pior coisa que pode acontecer é o clube não ter um ''dono''. A falta de centralização do poder só prejudica. Isso não significa a perpetuação de dirigentes no cargo, mas a garantia de um mínimo de governabilidade para a instituição.

O clube sem dono é um dos maiores entraves para que o futebol brasileiro consiga evoluir e tornar-se cada dia mais profissional. O maior problema de tudo isso é que, quando a euforia econômica passar, a terra estará arrasada. Mais uma vez.