Negócios do Esporte

Brasileirão e F1 mostram o mal do esporte ser previsível

Erich Beting

No esporte, a melhor coisa que pode existir é a imprevisibilidade. A prova disso será tirada neste final de semana, quando teremos, praticamente na sequência, o GP do Brasil de Fórmula 1 e a penúltima rodada do Campeonato Brasileiro de futebol.

Enquanto a F1 já está decidida, o Brasileirão pega fogo com três times como postulantes ao título a duas rodadas do fim. O resultado é óbvio. A F1 tem até promoção de venda de ingressos em sites de compra coletiva, enquanto as filas para compra de bilhetes para os jogos decisivos do Nacional são cada vez maiores.

Um dos grandes desafios do esporte brasileiro no passado foi mostrar para quem investia nele que o maior retorno não é só quando a equipe vence, mas também quando há um grande suspense no ar sobre como será o desfecho daquela disputa.

Há 20 anos, uma empresa geralmente investia no esporte sem pensar que a marca dela poderia não estampar o uniforme do atleta vencedor, mas mesmo assim ela se beneficiaria dessa exposição e dessa ligação com o esporte.

Por isso víamos alguns absurdos em algumas modalidades, como o time de basquete da Nossa Caixa, no início dos anos 90, contando ''apenas'' com Paula e Hortência na mesma equipe. Simplesmente a Ponte Preta conseguiu o título mundial na época, mas o interesse do público pelo basquete caiu, já que não havia equipe capaz de disputar em pé de igualdade com aquele Dream Team.

A temporada de 2011 da F1 foi mais ou menos isso. Só deu Vettel. E qual a graça para o consumidor nisso? Para não ficar só na teoria, vale comparar a audiência do GP do Brasil da Fórmula 1 desde 2006, quando Michael Schumacher se aposentava pela primeira vez.

Naquele ano, a Globo teve 27 pontos de média na medição do Ibope, em prova que também definiu o bicampeonato de Fernando Alonso. Em 2007, Kimi Raikkonen foi o vencedor no GP maluco, que registrou 26 pontos no Ibope. Em 2008, Massa e Hamilton duelaram até a última curva. O resultado, além da vitória  do inglês, foram os 33 pontos de audiência registrados. No ano seguinte, Barrichello ainda tinha um fio de esperança pelo título em Interlagos, e a Globo chegou aos 26 pontos de audiência. No ano passado, com o título ainda indefinido, mas sem os brasileiros com chances de vitória, a audiência despencou: meros 16 pontos.

Ok, vamos tirar um pouco de lado o fato de que a audiência da TV aberta tem caído nos últimos anos, mas qual a expectativa que se pode ter de aumento do índice do Ibope para a prova deste domingo? Sem chance de ter campeão e, além disso, com uma temporada péssima dos brasileiros, a certeza é de que teremos uma audiência terrível para a prova. Um pouco mais tarde, porém, o Ibope do Brasileirão possivelmente registrará um dos melhores resultados aos domingos em 2011.

Do ponto de vista do patrocinador, quanto maior a imprevisibilidade de uma competição, maior é a chance de sua marca aparecer para mais pessoas. E, dado o componente de emoção que envolve o esporte, mais importante ainda é saber que uma eventual conquista de título poderá turbinar ainda mais o resultado do investimento que foi feito.

Na indústria do entretenimento, nada é mais imprevisível que o esporte (o que também faz desse investimento também o mais arriscado e mais caro). Se ele perder essa característica, também perderá, e muito, o seu apelo comercial.