Negócios do Esporte

A bola não entra por acaso?

Erich Beting

Vou valer-me, aqui, da mesma frase usada há exatamente uma semana, quando descrevi um pouco da história por trás da conquista inédita da Copa Santander Libertadores pelo Corinthians. Mas, desta vez, não dá para evitar a interrogação ao final do título. Depois do título invicto da Copa Kia do Brasil conquistado ontem pelo Palmeiras, será que dá para dizer que a bola, de fato, não entra por acaso?

Afinal, fora de campo o Palmeiras não fez absolutamente nada para merecer o título. Uma boa prova disso foi a falta de estratégia para programar a festa do torcedor na partida final; o evento na Expo Barra Funda foi feito pelos responsáveis pela Casa Palmeiras, que é um serviço sem ligação, mas aprovado

pelo clube, e apenas depois que percebeu-se que a ''Casa do Espeto'' seria pequena para acomodar o torcedor…

Uma competição como a Copa do Brasil, disputada em mata-mata desde a sua primeira fase, permite que um time menos equilibrado fora de campo tenha sucesso dentro dele. E foi exatamente isso que fez esse time do Palmeiras. Uma vitória que pode ser creditada aos atletas e à comissão técnica, que souberam afastar do seu ambiente as disputas políticas, os erros e os desmandos que tanto machucaram o clube na última década.

Tanto que a conquista começou quando Felipão e Cesar Sampaio fecharam com o time após a eliminação no Campeonato Paulista e a classificação às semifinais. Foi a transpiração vista dentro de campo com o choro compulsivo de Thiago Heleno ao sentir a coxa e ter de deixar o time ainda no primeiro tempo e justo quando era o melhor jogador da partida. Ou de Luan, mancando e sentindo a coxa por quase meia hora, mas correndo, chutando e se esforçando para não deixar os outros dez companheiros na mão na reta final de um jogo tão importante. Isso sem falar dos choros de Marcos Assunção, Bruno e cia. quando o árbitro encerrou a partida.

Agora, porém, a vitória não pode servir para mascarar os erros no comando palmeirense. Do contrário, será necessária outra década para que a torcida possa voltar a ter motivo para comemorar um grande título.

Por outro lado, o trabalho do Coritiba segue louvável. O resultado dentro de campo mostra que a bola ainda está, pelo acaso, batendo na trave ou passando bem próxima dela, como no chute de Rafinha que poderia ter mudado a história da decisão ainda com menos de meia hora de jogo. A derrota não serve para repensar o caminho como o clube tem trabalhado fora de campo, apenas para olhar que mudanças podem vir a ser feitas dentro dele.

A bola não entra por acaso. Mas o futebol permite que o acaso ajude, às vezes, a bola a entrar nem sempre para quem era o maior merecedor por quem trabalha melhor fora dele. E essa é uma das grandes graças e que faz do esporte um baita negócio.