Impressões japonesas: os megaeventos e o país
Erich Beting
Andei ontem, pela primeira vez, de trem-bala. A experiência é decepcionante. Eficiente, sem atraso, sem filas ou super-lotação, tudo funciona com tamanhã perfeição que não tem como não ficar decepcionado ao compararmos com o histórico brasileiro de promessas sem concretização, de boas ideias sem execução prática, de falta de compromisso com o bem-estar de todos e com diversas outras coisas que nos deixa só imaginando a festa, sem de fato saber aproveitá-la.
Mas a maior frustração foi saber que o trem-bala que peguei, entre Nagoya e Yokohama, faz parte da linha inaugurada em 1964 e que unia boa parte dos principais centros populacionais do Japão com Tóquio. A inauguração do meio de transporte, mais rápido e com capacidade para mais passageiros, era uma das soluções encontradas pelo governo japonês para o país aguentar o tranco de receber a edição dos Jogos Olímpicos de Verão naquele ano e, mais do que isso, segurar o crescimento urbano que já se observava no país em recuperação e desenvolvimento pós-Guerra. A Olimpíada foi um bom motivo para que o trem surgisse para desafogar o tráfego futuro.
Por aqui, os planos para as cidades são feitos com base na demanda futura, e não na necessidade passada, como é histórico no Brasil. Um trem-bala para interligar a região sudeste brasileira não é algo que precisasse ser feito para uma Copa ou Olimpíada. É uma necessidade de 20 anos atrás para que hoje não tivéssemos tantos aeroportos com lotação mais do que máxima.
Mas, no Brasil, é mais fácil planejar a festa do que o futuro. Questão cultural, que nos permite ser tão diferente e, sem dúvida, mais extrovertido e festeiro do que os outros povos. Mas que, quando comparamos com outras realidades, não podemos deixar de nos envergonhar.
Os megaeventos podem servir como ótimo pretexto para melhorar o país. Afinal, ele são muito mais do que uma grande festa. O Japão deu um belo exemplo.
* O blogueiro viaja a convite da Toyota do Brasil