Real e Barça são os mais ricos do mundo; azar da Espanha
Erich Beting
Na semana passada foi divulgada a lista da consultoria Deloitte com os resultados financeiros dos principais clubes de futebol do mundo. Numa análise superficial, um dado chama muito a atenção. Real Madrid e Barcelona são os dois clubes mais ricos do mundo. E, antagonicamente, isso reflete exatamente o estado de falência em que se encontra o futebol na Espanha.
Desde a temporada 2008/2009, quando os dois clubes espanhóis passaram a liderar a lista da Deloitte, que ficou mais evidente o abismo que existe no futebol local. Só para se ter uma ideia, enquanto a dupla reina absoluta nos times que mais arrecadam do mundo, o restante das equipes raramente estão na lista dos mais ricos. Desde 2005, além dos dois, apenas o Valencia fez parte do grupo dos 20 clubes de maior faturamento. E, mesmo assim, sempre oscilando, aparecendo um ano entre os top 20 e no outro, fora dele.
A situação evidencia o problema hoje vivido pelo futebol da Espanha. O país tem a seleção que é a atual campeã do mundo, o time que mais encanta (Barcelona) e, também, o que mais fatura (Real).
E só isso.
Depois da dupla que dá a falsa impressão de que tudo vai bem por lá, temos um enorme abismo e uma situação de quase falência dos demais clubes. Para piorar o cenário, a crise econômica que afeta cada vez mais a renda das pessoas deixa os clubes em situação de penúria. Real e Barça vivem um mundo a parte, como potências multinacionais que não dependem do país para sobreviver. Pelo contrário, eles sugam a economia da bola espanhola de tal forma que é ela quem assegura o sucesso de ambos.
O contrato de televisão assinado individualmente faz com que Barça e Real tenham mais de 70% da receita de TV de toda a Espanha. Com isso, os demais clubes ficam sufocados, com algum deles partindo de uma diferença de quase 1000% na receita de mídia. Como esses clubes têm ficado restrito à atuação dentro da Espanha, a crise afeta diretamente o patrocínio. O Valencia só entra na lista dos mais ricos porque tem uma projeção internacional que lhe assegura alguns contratos mais interessantes. Para os demais, enquanto a dupla dinâmica assegura acordos de 20 a 40 milhões de euros ao ano, a realidade é composta por negócios de, no máximo, 5 milhões de euros.
Para quem olha de fora, Real e Barça são claros exemplos a serem seguidos. Uma gestão altamente profissional, acompanhada de um processo de internacionalização de marca muito bem sucedido, fizeram dos dois sonhos de consumo de todo torcedor. O custo para isso, porém, foi o uso da força de suas marcas para pressionar o futebol espanhol a ceder aos caprichos individuais de ambos.
A história é muito similar a uma vista aqui pelas terras brasileiras nos últimos tempos. Em breve o clube brasileiro que importou boa parte dos exemplos do que deu certo em Real e Barça deve figurar na lista dos top 20 em arrecadação no mundo. E provavelmente será muito tarde para os demais clubes acordaram para o erro que foi ter aceito deixar de negociar coletivamente o contrato que mais receita gera para um clube, que é o de televisão.