Negócios do Esporte

Arquivo : janeiro 2013

Guia prático para ler uma pesquisa sobre tamanho de torcida
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Erich Beting

Bom, se alguém quiser registrar, já fui mais rápido. De qualquer forma, esse seria um bom título para um livro que abordasse a paixão que o ser humano em geral tem sobre pesquisas e seus resultados. Quando o tema é eleições para cargos eletivos ou tamanho de torcidas de times de futebol, então, aí é uma saraivada de bobagens para desmoralizar os números explicitados com exemplos muito bem embasados de vida pessoal.

Já faz quase um mês que saiu a pesquisa do Datafolha apontando empate técnico entre Corinthians e Flamengo no ranking de maiores torcidas do país. Na época não me manifestei porque daria a mesma opinião de quando saem essas pesquisas. Para mim, a validade delas vai até a obrigatória segunda pergunta. Você consumiu qualquer coisa relativa a seu time nos últimos seis meses?

Provavelmente a resposta seria não para a esmagadora maioria das pessoas. E isso não é presunção do blogueiro, mas estatística. Em qualquer segmento, a proporção de fanáticos é ínfima, não chega a 10% de todo o universo de pessoas. Na verdade, raramente passa de 2 a 5% do total. A quantidade de pessoas fanáticas pela Apple não chega a 2% da população mundial. Mas as filas que vemos se formar em frente às lojas para comprar um novo aparelho nos dão a impressão de que só há o Iphone no mundo. E, claro, só porque nós temos um celular desses, achamos absurdo alguém pensar em consumir um smartphone de outra marca ou, o que é mais comum, não ter sequer um telefone celular.

E esse é o ponto inicial do nosso “Guia Prático”.

Geralmente quem lê e comenta sobre as pesquisas é a pequena parcela de fanático que existe sobre aquele assunto. Sendo assim, ele precisaria entender que o “torcedor” em questão não é aquele cara que compra camisa do time, que assina pay-per-view ou que vai ao estádio. Pelo contrário. É o cara que torce só se for um programa legal de se ver, de curtir com os amigos, com o/a namorado/a, etc.

Partindo desse princípio, temos de seguir para o passo seguinte. O resultado da pesquisa, portanto, vai oscilar conforme o desempenho do time. Mas, como no caso do Brasil há um fator primordial, que é a transmissão da TV aberta, o resultado não vai fugir do básico: Flamengo e Corinthians serão as maiores torcidas, enquanto Palmeiras, São Paulo e Vasco vão oscilar na segunda posição, dependendo do desempenho de seus times. Fluminense e Santos, pelas conquistas recentes, poderão aparecer um pouco melhor num ou noutro ano.

Por isso mesmo, as pesquisas que são divulgadas amplamente no país sobre “tamanho de torcida” servem apenas para jogar conversa fora em bar, ou nas mesas-redondas que infestam os canais esportivos. Afinal, elas não dizem quase nada sobre o perfil do consumidor de um clube de futebol. O máximo que podemos ter é uma ou outra informação sobre a distribuição geográfica desses torcedores e também distinção por gênero e classe social.

Um dos mais importantes saltos que o esporte precisa dar no Brasil é com relação à busca de dados qualitativos sobre seu consumidor. Quem são, onde estão e o que fazem os consumidores do esporte no país? Há pelo menos seis anos essa pesquisa é feita anualmente pela empresa Sport Track. Os resultados são bem interessantes, e mostram que há muito mais vida inteligente do que apenas responder à pergunta: “Para qual time você torce”?

Mas, se a proposta for apenas ter mais assunto para a conversa no bar, então use esse guia prático que ele vai te ajudar bastante a repensar os números apresentados por essas pesquisas. Eles não estão distantes da realidade do país.

Na verdade, você – e seus amigos – é que são o ponto fora da curva…


Brasil, o levantador de medalhas
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Erich Beting

O esporte mais praticado no Brasil é o levantamento de medalhas.

Tomo aqui a liberdade de surrupiar a frase perfeita de Sergio Xavier, diretor do Núcleo Motor, Esporte e Turismo da Editora Abril, para explicitar o pensamento que toma conta do país a menos de três anos do início dos Jogos Olímpicos de 2016.

Temos, por cultura, o hábito de valorizar apenas as conquistas, e de preferência as douradas. Normal. É assim não apenas aqui no Brasil, mas na maioria dos países que têm o ego valorizado. O problema é que, pelas bandas tupiniquins, queremos atropelar um pouco as coisas e virar uma “potência olímpica” sem apresentar o requisito básico, que é ter planejamento para a prática de esporte.

Nos Estados Unidos, o lema “sem ouro, sem medalha”, inspira empresas e atletas a buscarem o ouro. É a essência da meritocracia em sua mais cruel face: só o que reluz é ouro. Mas, por lá, a estrutura existente para o atleta chegar a uma Olimpíada em condições de conquistar uma medalha permite que esse nível de cobrança exista e, no quadro de medalhas, acompanhamos o reflexo claro disso.

Por aqui, é impossível pensar num Brasil mais vitorioso do que já é no esporte. Não pela falta de capacidade do país, mas pela falta de condições em um atleta chegar ao nível máximo de performance. Daí o projeto absurdo do governo federal, turbinado pelo ego do comando do Comitê Olímpico Brasileiro, de valorizar apenas a conquista de medalhas.

O grande caminho para o sucesso do Brasil no esporte passa pela realização dos Jogos Olímpicos. Não pelo que isso representa no quadro final de medalhas, mas pela mudança de entendimento do povo brasileiro do que é esporte. Somos monotemáticos na prática e consumo de informação do esporte. O futebol domina o noticiário e, naturalmente, a prática esportiva das crianças. Com as Olimpíadas, podemos construir espaços para outros esportes surgirem, já que não será apenas na estrutura do Rio que os países vão se alojar, sendo necessária a melhoria de infraestrutura esportiva como um todo em todo o país.

Só que o governo só quer olhar a medalha. Pressionado pelo COB e pela mídia (que insiste em só exaltar as histórias vitoriosas), criou um plano para que as empresas estatais invistam no esporte. Não na base, nem na melhoria de estrutura, ou na formação de novos atletas, mas sim nas “modalidades com potenciais de medalha”.

Da mesma forma, o Ministério do Esporte e o COB, quando consultados por empresas que querem investir no esporte, indicam aqueles mesmos atletas e aquelas mesmas modalidades que já dispõem de recurso e estrutura para conquistar uma medalha.

Ou seja, continuamos a praticar nosso esporte predileto, que é levantar medalhas. Nada contra a empresa obter o retorno de visibilidade pela conquista de um medalhista olímpico. Mas, como projeto de nação, deveríamos estar mais preocupados não em ter uma boa posição no quadro de medalhas sem melhorar a estrutura esportiva, acreditando que um levaria ao outro.

A proporção é radicalmente inversa. Sem ampliação da prática de atividade física pela população, com mais acesso a áreas públicas e não-públicas para fazer algum esporte, fica muito difícil conseguir bom desempenho nas grandes competições.

Se quisermos ser, realmente, um país levantador de medalhas, temos de deixar de priorizar quem já tem condições de levantá-las.


A grande contratação do Flamengo
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Erich Beting

O Flamengo anunciou, quase no último dia útil de dezembro, aquela que talvez seja uma de suas principais contratações. Marcelo Vido foi apresentado como novo diretor de esportes olímpicos do clube. Ex-Minas Tênis Clube, Vido retorna ao Rubro Negro agora como executivo (ele atuou no time de basquete do Fla nos anos 80).

A contratação de Vido é emblemática para definir o novo momento que vive o clube e que, na ponta final, pode refletir num poderoso retorno do Flamengo à condição de protagonista do mercado esportivo brasileiro. Um dos primeiros ex-atletas com formação acadêmica em gestão do esporte, Vido comandou ao lado de Sergio Bruno Zech Coelho uma revolução na gestão do Minas Tênis Clube.

Um dos principais clubes sociais do país, o Minas também é hoje um dos principais formadores de atletas olímpicos e, mais do que isso, um dos únicos clubes com modelos autossuntetáveis de modalidades esportivas. Muito disso tem a ingerência de Vido, que era gerente de marketing e negócios do Minas.

No Flamengo, sua missão será parecida. E, ao mostrar essa preocupação com o clube, a nova diretoria aponta para um rumo totalmente diferente das anteriores. No lugar do “popularidade a qualquer preço”, entra o lema “austeridade a todo custo”. Tanto que um dos passos mais importantes dado pelo clube rumo ao futuro foi a condução de Carlos Langoni a “vice-presidente de negociação da dívida”.

Renegociar a dívida e colocar executivos sem apadrinhamento político em cargos chaves do clube é o ponto de partida para que o Flamengo volte a ser um gigante. É o tal “choque de gestão” que muitos políticos em campanha apregoam mas que, quando chega a hora de sentar na cadeira de presidente, parecem não ter força para fazer.

Vido chega em boa hora ao Flamengo, talvez como a maior contratação para o departamento de esportes do clube que não o futebol. E, para o esporte brasileiro como um todo, é um alento que os clubes, cada vez mais, procurem profissionalizar suas estruturas. O esporte está com muito dinheiro. É hora de tornar a estrutura forte para que a grana não escoe assim que a economia brasileira frear.


Os melhores do ano
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Erich Beting

O mercado de marketing esportivo no Brasil está em mutação. E a prova disso foi a árdua tarefa que tivemos para escolher os dez melhores casos do ano na Máquina do Esporte. A eleição, criada junto com o site, em 2005, é uma maneira divertida que nossa equipe encontrou para relembrar o ano.

O “problema” é que, em 2012, estouramos a cota de boas lembranças daquilo que de melhor aconteceu no marketing esportivo no Brasil. Isso é um excelente indício de que o mercado começa a amadurecer. Com a Copa das Confederações no ano que chega, parece que finalmente teremos a profissionalização começando a dar as caras por aqui.

Ok, talvez esse ainda seja mais um desejo de Ano Novo do que propriamente uma mudança por inteiro no mercado, mas algumas mudanças são perceptíveis no dia-a-dia do esporte no Brasil. As estratégias de patrocínio mais centradas, a intenção de que o mercado do esporte absorva mais pessoas qualificadas para a gestão de suas entidades e o uso da mídia para alavancar a lembrança do patrocínio na mente do consumidor são alguns desses indícios de que as coisas tendem a melhorar.

Falta, sem dúvida, o esporte empregar cada vez mais pessoas no mercado. Isso é o que permitirá a consolidação dos cursos de gestão e marketing esportivo pelo país, a melhor relação do esporte com os consumidores e mais uma série de outras mudanças que vão fazer com que as competições esportivas sejam cada vez melhores para todos aqueles que consomem esporte: mídia, atletas, dirigentes e, especialmente, torcedores.

Mas isso faz parte da linha evolutiva do marketing esportivo no Brasil. E, para celebrar o ano que chega, vamos relembrar o que de melhor aconteceu no ano que termina! É só clicar!