Uma nova era para a corrida de rua no Brasil
Erich Beting
Apontada já há alguns anos como a ''bola da vez'' no esporte, a corrida de rua tem tudo para querer, finalmente, ser uma parte importante da indústria do esporte no Brasil. Fenômeno nas principais capitais, ultimamente a corrida tem começado a entrar no calendário também de cidades grandes do interior e nas demais capitais brasileiras. Mas, até agora, o Brasil não completou nem ao menos uma prova de 5 km no que diz respeito ao número de praticantes da corrida.
Para começar, pesquisamos muito pouco esse mercado. Os números mais ou menos confiáveis são aqueles baseados nas inscrições de pessoas nas provas regulares no país. Nesse cenário, calcula-se que temos entre 2 e 3 milhões de praticantes, com os números mais otimistas chegando a 4 milhões. O problema é que a análise para por aí. Não temos mais dados sobre quem são essas pessoas, quais os hábitos de corrida delas, materiais que consome para a prática, etc.
Se o mercado brasileiro se inspira, e muito, no americano, falta ao país tornar a corrida de fato uma parte da indústria do esporte. Só para efeito de comparação, nos EUA, pelo menos 25 milhões de pessoas praticam corrida por 50 dias ou mais no ano. O corredor regular, com mais de 100 dias de prática anual, chega a 19 milhões (cerca de 6% da população do país). Os dados são da Sporting Goods Manufacturers Association (SGMA), entidade que mapeia não apenas o número de praticantes, mas também o hábito de consumo em diversas modalidades esportivas.
A realidade por aqui, porém, poderá mudar em breve. A grande novidade no jogo não é tanto a cientificidade entrando na corrida do lado dos negócios, mas sim a TV aberta como agente massificadora da modalidade. Desde o início do ano, a Globo inseriu o projeto ''Eu Atleta'' dentro do programa Bem Estar. Diariamente, exemplos de pessoas que usam a atividade física para mudar de vida serão colocados para as pessoas. É a melhor forma de popularizar a prática.
E por que a chegada da TV aberta nessa história é tão importante?
Diferentemente de modalidades como futebol, automobilismo, vôlei ou basquete, a corrida de rua não tem no atleta de alto rendimento o grande motivo para levar a pessoa a se interessar em consumir e praticar o esporte. Geralmente o que leva alguém a começar a correr é o interesse pela qualidade de vida. É por isso mesmo que a história de crescimento da corrida é muito similar à de modalidades como ciclismo e natação. Conforme as grandes cidades se desenvolvem, esses esportes se sobressaem e passam a ganhar mais praticantes.
Quando a Globo coloca a corrida e o atleta amador no primeiro plano, naturalmente vamos caminhar para um aumento do interesse das pessoas ''comum'' para a prática de atividade física. Nesse cenário, a tendência é a corrida ganhar espaço, já que é, entre as três atividades-âncoras para hábitos de vida mais saudáveis, a mais ''fácil'' de praticar.
É bem possível que os próximos cinco anos marquem o verdadeiro grande salto da corrida de rua no Brasil. O elemento que faltava para que a prática deixasse de ser restrita às pessoas que vivem nas grandes cidades do país começou a entrar no jogo.
Um indício ainda maior disso passa pela observação do que as marcas esportivas estão fazendo no segmento de corrida, um dos que mais receita gera para essas empresas. Quando muitas delas deixam de focar o atleta de alta performance e passam a buscar o entretenimento das pessoas, é sinal de que a biruta vai virar.
Uma nova era está próxima para a corrida de rua no Brasil.