No final, dá Bayern…
Erich Beting
“O Campeonato Alemão é um torneio em que 20 times jogam para no final ganhar o Bayern de Munique”. A frase é uma piada, não tão engraçada assim, para resumir o que é a disputa do futebol na Alemanha. Um time é muito mais rico que os outros e, assim, consegue ser, ano sim, outro quase sempre, ser o campeão nacional.
Na primeira decisão alemã da história da Liga dos Campeões da Europa, o ditado mais uma vez valeu. Um gol aos 43 minutos do segundo tempo, marcado pelo holandês Robben, deu a taça para o Bayern, depois de um jogo muito parelho com o time do Borussia Dortmund. O confronto entre os dois principais times alemães da atualidade também marcou o duelo de dois estilos de gestão.
De um lado o abastado Bayern, megapoderoso dentro e fora de campo. Do outro, o eficiente Dortmund, que desde a quase falência no início do milênio, passou a investir na formação de talento e na racionalidade do controle dos gastos para ter sucesso.
O jogo marcou também a perfeita definição do que é a globalização, feita por meio de um sugestivo anúncio da empresa Evonik, patrocinadora do Dortmund, na edição deste sábado do jornal “Financial Times”.
“Globalização é quando o Borussia Dortmund tem de viajar até Londres para ganhar do Bayern de Munique”.
Até que o roteiro a ser seguido parecia que seria esse.
Sem Mario Goetze, seu maior astro já negociado com o time de Munique e que sentiu uma providencial lesão na coxa antes do jogo mais importante do ano, o Dortmund decidiu invadir o terreno rival na primeira etapa da partida.
A ausência de seu mais criativo jogador foi compensada por um ótimo trabalho de marcação no campo de ataque, liderado por Lewandovski, que não se perca pelo nome. O começo mais ofensivo do Dortmund desestruturou o esquema de jogo do Bayern, baseado especialmente na saída de bola dos dois volantes, Schweinsteiger e Martinez.
Aos 15, 18 e 21, o time amarelo só não fez o gol por incompetência de seus atacantes. O golpe triplo foi sentido pela torcida do Bayern. Colocada atrás do gol de Neuer, os bávaros reduziram seus cantos, e o “Paredão Amarelo” improvisado do outro lado do estádio começou a se sobressair.
Até que entrou o fator arbitragem em campo… De um jeito um tanto quanto inusitado.
Aos 24 minutos, quando Marco Reus iniciava um contragolpe após nova roubada de bola na saída do Bayern, o árbitro italiano Nicola Rizzoli mostrou-se o defensor mais eficiente do time de Munique.
Pego de surpresa com a velocidade do camisa 11 do Dortmund, ele não conseguiu saltar a bola colocada em velocidade em direção à entrada da área e parou com classe a jogada que deixaria Reus na cara do gol…
Thomas Muller recuperou a bola e iniciou o contragolpe. A jogada não resultou em gol, para sorte do italiano, mas colocou finalmente o Bayern no jogo.
Aos 25, cabeçada perigosíssima de Mandzukic que terminou em espetacular defesa de Weidenfeller, ainda no desdobramento do tropeção de Rizzoli. Pouco depois, nova oportunidade na bola alçada na área, nova intervenção do goleiro do Dortmund.
A primeira etapa ficou equilibrada a partir daí, com chances esporádicas brotando dos dois lados. Pelo menos até agora a força na marcação ofensiva do Dortmund foi o ponto alto do time amarelo. O Bayern, franco favorito, ficou acanhado como não se esperava, apesar de ter ficado quase 60% do tempo com a bola nos pés.
A volta do intervalo foi marcada pela alteração de estratégia. O até então sufocado Bayern passou a ser quem sufocava a bola na defesa adversária. Tanto que por pouco não marcou o gol logo nos minutos iniciais da segunda etapa.
Até que aos 15 minutos, após boa jogada de Robben pela esquerda, Mandzukic só teve o trabalho de empurrar a bola para um gol vazio. A partir daí, o torcedor bávaro no estádio de Wembley passou a cantar que a hora estava chegando. E de fato o tempo passava sem qualquer esboço de reação por parte do Dortmund, que bem marcado sentia a ausência de Goetze.
Mas uma lambança de Dante na marcação resultou em pênalti, convertido sem dificuldade por Gundogan. O empate fez o jogo pegar fogo. O Dortmund voltou a ser ofensivo, mas sem a mesma qualidade de marcação na defesa.
Tanto que Thomas Muller serviu Robben, mas em cima da linha Subotic fez o corte providencial para evitar o segundo do Bayern. Neuer, goleiro do Bayern, passou a ser espectador do jogo. E, lance após lance, Weidenfeller salvava a equipe do Borussia.
A partir dos 35 minutos, as torcidas pararam de incentivar seus times. Concentrados, os torcedores refletiam a tensão da partida. Qualquer grito era rapidamente dissipado. Até que, aos 43 minutos, num estouro da zaga, Ribery ganhou no corpo e serviu Robben, que numa velocidade impressionante deixou dois zagueiros para trás e só deslocou a bola para o fundo da rede.
O gol da redenção de Robben e do Bayern, e da desolação, mais uma, do Dortmund frente ao grande e abastado rival. O aplauso acalorado dos torcedores do Borussia aos jogadores derrotados fica como lição de quem nem sempre é possível vencer.
Ou de que, até mesmo quando a disputa vale a conquista da Europa, os times alemães se enfrentam para, no final, dar Bayern.
Haja chope nesta noite em Londres. Para celebrar e, também, afogar as mágoas!