O esporte e sua lógica perversa de remuneração
Erich Beting
Mais uma grande agência começa a rever seus planos no esporte no Brasil. Depois da Geo Eventos, das Organizações Globo, agora é a vez da IMX, da badalada parceria entre Eike Batista e a IMG, colocar-se à venda para o mercado (leia aqui). E, tal como foi com a Geo, um dos motivos para a tomada de decisão pela negociação da agência é a falta de lucratividade do negócio. Ou a baixa correspondência desse lucro com a expectativa criada em torno dele.
E é aí que entra uma questão que parece estar à margem desses megainvestidores quando decidem aportar dinheiro no esporte. O segmento esportivo tem uma lógica perversa de remuneração. Ou, pelo menos, uma lógica que é diferente daquela que permeia o mercado de trabalho ''normal''.
O esporte tem como prática remunerar melhor o empregado do que o patrão. O atleta é o grande dono do espetáculo. Mais do que o dirigente, é ele quem pode decidir os rumos da ''empresa''. Além disso, o grande objetivo de uma ''empresa'' no esporte é o desempenho esportivo, mais do que o lucro financeiro. Sendo assim, é dispendioso conseguir montar um projeto de sucesso financeiro. E, seguindo essa lógica, serão necessários alguns anos até que o projeto seja de fato viável.
Aí é que entra a dificuldade do atual mercado no Brasil. Com a confirmação de Copa e Olimpíadas no país, diversas empresas criaram agências ou braços para cuidar da temática esportiva. Até agora, porém, pouco ou praticamente nada foi feito de investimento no segmento que assegurasse a essas empresas uma alta lucratividade em seus negócios.
No caso das duas grandes agências que entraram com movimentos fortes, como Geo e IMX, o custo de manutenção das operações era ainda maior, já que elas partiram para o projeto de ter eventos proprietários. Com isso, a lucratividade dos projetos, nesse período de início de profissionalização da indústria no país, tornou-se menor.
Mundialmente, grandes fortunas costumam se aliar ao esporte não por causa do dinheiro que ele gera, mas pelo prestígio que ele proporciona. Bilionários americanos, geralmente, tornam-se donos de franquias nas diferentes ligas para usar isso em favor de outros negócios que possuem. No futebol inglês, movimento similar foi adotado por bilionários russos e, agora, pelos petrodólares do Oriente Médio.
Os lucros milionários no esporte geralmente estão com os atletas. Cristiano Ronaldo, Messi, Tiger Woods, Roger Federer, Rafael Nadal e Usain Bolt lucram anualmente dezenas de milhões de dólares. Seus patrões, raramente, conseguem terminar o ano com um lucro de uma dezena de milhões de dólares.
Enquanto os investidores em esporte no Brasil não entenderem que, para obter lucro é preciso muito tempo de investimento, será praticamente um entra-e-sai frenético de grandes agências e grandes empresários no esporte. Afinal, para que o show aconteça, é preciso pagar muito bem o artista. Só depois de garantir um bom evento é que é possível torná-lo lucrativo, como provam Fifa e COI com Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
Os outros exemplos mostram que quem realmente ganha no esporte, quase sempre, é o empregado.