Negócios do Esporte

Arquivo : setembro 2013

Só o esporte pode reduzir a força da TV
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Erich Beting

As reclamações a respeito da mudança do set de vôlei para 21 pontos em vez dos 25 para atender a uma exigência da TV trazem à tona de novo uma discussão recorrente no esporte. É possível popularizar o esporte sem a televisão?

Futebol, vôlei e basquete no Brasil hoje são provas de que a lógica está invertida na relação entre o esporte e a mídia. Em vez de ser o meio, a televisão é vista no país como o fim. Ou, pior ainda, como o único meio para a existência do evento.

O grande ponto que o esporte no Brasil ainda não conseguiu entender é que o conteúdo não é a televisão quem fornece, mas o próprio evento esportivo. Historicamente, sempre deixamos a cargo das emissoras de TV a produção de imagens de um evento. Isso fez com que a mídia ganhasse uma importância muito grande para o esporte. Sem uma boa exposição dada por ela, a competição está fadada a naufragar.

O Brasil talvez seja um dos poucos países no mundo que tenha, ainda nos dias de hoje, uma concentração tão grande de mídia. A TV Globo segue a ter, mesmo atualmente, cerca de 50% da audiência no país. Isso faz com que a emissora ganhe grande importância no desenvolvimento e promoção do esporte.

O problema, porém, é que dessa importância criou-se uma relação de subserviência com a emissora. O esporte sempre viu na Globo não apenas o meio para transmitir seu evento, mas como a própria produtora dele.

Essa relação simplesmente não existe no restante do esporte pelo mundo. A TV é o meio que propaga o esporte, que por sua vez é o dono do conteúdo. O YouTube é a melhor prova de que o consumo da informação pode se dar por qualquer meio, e que o valor maior quem dá é o próprio conteúdo.

Para diminuir a força e a influência da televisão no esporte, apenas o conteúdo esportivo pode fazer frente.


Fifa e COL reúnem imprensa para “esclarecer” Copa
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Erich Beting

A Fifa e o Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 partiram para uma “ofensiva” com jornalistas, formadores de opinião e veículos de mídia. Desde a semana passada, a nova diretora de mídia da Fifa, Delia Fischer, o diretor de comunicação corporativa da entidade, Alexander Koch, e o diretor de comunicação do COL, Saint-Clair Milesi, têm se reunido com diversos jornalistas pelo Brasil.

A ideia dos encontros é aproximar mais as duas entidades dos formadores de opinião da imprensa brasileira e tentar diminuir a distância entre os dois lados na comunicação relativa à Copa do Mundo. A “força-tarefa” foi criada a partir de uma análise do que foi a cobertura de mídia da Copa das Confederações e, também, para diminuir o risco de a Fifa assumir o papel de vilã do Mundial.

A preocupação dos executivos se justifica. Um dos maiores indícios disso foi o uso do bordão “Padrão Fifa” para mostrar a indignação das pessoas com o alocamento de grande montante de dinheiro para obras relativas à Copa do Mundo quando deveriam haver outras prioridades para o povo brasileiro.

Como desde sempre pontuamos aqui no blog, o grande problema da Copa no Brasil não é a Fifa, mas o próprio país. Nunca soubemos, e continuamos sem saber (os protestos pré-Copa das Confederações deixaram isso mais claro ainda), o que queremos com a Copa do Mundo.

Tudo o que é relativo ao Mundial patinou aqui no Brasil desde antes mesmo da escolha do país como sede.

Desde pelo menos 2003, quando Joseph Blatter confirmou o rodízio de continentes para abrigar a Copa, que o Brasil aparecia como candidato único a sede de 2014. Teríamos, portanto, dez anos para nos prepararmos para o evento. Ok, vamos considerar que havia uma possibilidade de Ricardo Teixeira não conseguir a unanimidade entre os países da América do Sul e, com isso, apenas em 2007 sairia a decisão pró-Brasil. Teríamos, mesmo assim, seis anos para pensar, planejar e executar o Mundial.

Nunca existiu, porém, um projeto do país para a Copa do Mundo. O discurso de que o Mundial pode mudar a vida de uma nação é verdadeiro, desde que o país esteja preparado para ele. A Alemanha, em 2000, iniciou uma revolução no seu futebol para se preparar para receber a Copa do Mundo de 2006 e, a partir dela, colher os frutos desse novo patamar que o futebol alemão iria atingir. Hoje, sete anos após o torneio, é que o país atingiu o topo técnico e gerencial que almejou pelo menos dez anos antes.

O papo de legado dos megaeventos é uma falácia marqueteira adotada inicialmente pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e que teve em Barcelona-1992 o seu melhor (e talvez único) exemplo. Desde então, o uso do termo “legado” passou a ser a vedete dos donos dessas competições esportivas.

Mas para ter legado é preciso ter, antes disso, planejamento e, principalmente, execução. É exatamente aí que reside a falha do Brasil com relação à Copa. Não planejamos o Mundial. Demoramos, por exemplo, um ano e meio para definir quais seriam as 12 sedes do evento, desperdiçando 25% do tempo que teríamos para o Mundial só com negociação política. Depois, levamos mais quase dois anos entre licitações e discussões sobre os projetos que devessem se adequar ao “Padrão Fifa”.

E aí, de uma hora para outra, o problema passou a ser as exigências da Fifa, que já estavam definidas antes mesmo de o Brasil se candidatar a sede do evento. Não que a entidade do futebol não tenha sua parcela de “culpa” nessa história, mas desde sempre já tínhamos concordado com as regras do jogo sem ao menos saber para que elas serviriam.

Hoje, Fifa e COL tentam trabalhar para melhorar sua imagem no país. O grande erro das duas entidades foi não ter controle rígido sobre os destinos da candidatura brasileira desde 2007. Para fazer com que o legado de um evento seja realmente positivo, é preciso fazer com que as promessas feitas para que ele viesse ao país sejam transformadas em metas a serem cumpridas.

No Brasil, a cultura do “no fim dá certo” transformou-nos num país acostumado ao improviso. Somos os melhores do mundo em matéria de dar um jeito para que as coisas aconteçam, mas isso faz com que simplesmente não desenvolvamos a capacidade de planejar e executar.

O grande problema que a Fifa enfrenta hoje é não ter se preparado para essa característica cultural brasileira. Para quem conviveu nos últimos 12 anos com a obediência oriental, a rigidez alemã e o desejo de superação sul-africano, o “desleixo” brasileiro é preocupante. Esse talvez tenha sido o grande erro de avaliação da Fifa após o Brasil ter sido eleito sede da Copa do Mundo. Confiar que seríamos capazes de entregar o evento trabalhando ao nosso modo.

A gritaria que o Comitê Olímpico Internacional faz hoje em dia sobre o Rio-2016 era o que a Fifa deveria ter feito lá atrás, ainda em 2008, quando as sedes da Copa continuavam sem qualquer definição e o planejamento do país para o Mundial era sufocado por debates sobre eleições, mensalões e outros ões.

Hoje, o trabalho de bombeiro que a entidade tenta fazer talvez já não seja tão eficiente. O maior problema é que, para o bem e para o mal, a Copa do Mundo é da Fifa. Ela apenas acontece no Brasil. Esse discurso, que antes servia para que a entidade fizesse suas exigências e lavasse as mãos para a falta de preparo do país-sede, agora mostra que pode se tornar um grande vilão para 2014.


Com Tóquio, COI troca legado pela certeza
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Erich Beting

A escolha de Tóquio para ser sede das Olimpíadas de 2020 pode ser um pouco creditada ao Rio de Janeiro. Sim, logicamente que a candidatura japonesa encantava por si só, mas é de se ponderar que as experiências recentes vividas pelo Comitê Olímpico Internacional com as sedes dos próximos Jogos, tanto de verão quanto de inverno, influenciaram na decisão para Tóquio.

Sochi, na Rússia, tem sido envolvida na polêmica referente à lei anti-gay do governo russo. No Rio, a preocupação com o atraso nas obras tem deixado cada vez mais o COI em cima do comitê brasileiro. Recentemente, também, Pyeongchang, na Coreia do Sul e sede dos Jogos de Inverno de 2018, declarou que não aceitaria dividir alguns eventos com a vizinha Coreia do Norte.

Em meio a esse festival de dúvidas, a escolha de Tóquio foi uma aposta no que dificilmente dará errado. A capacidade japonesa de cumprir prazos e manter o planejamento em dia pesou bastante na decisão do COI. Além disso, a própria instabilidade econômica vividas por Espanha e Turquia jogou contra os planos de Madri e Istambul. Os gastos públicos com Olimpíadas, que são sempre a maior parte da conta, poderiam se transformar em vilão da opinião pública quando o evento se aproximasse.

Vale, aqui, a frase dita por Craig Reed, vice-presidente do COI: “A certeza foi um fator crucial. A certeza de que eles vão entregar”, afirmou o dirigente.

Se, em 2009, o legado era o grande mote para a candidatura olímpica vitoriosa do Rio de Janeiro, o COI agora dá sinais de que o papo de benefício que o evento gera para a cidade-sede começa a ser o menos importante. Na dúvida entre ser uma mola propulsora da transformação de um país a partir do evento ou ter apenas a certeza de que o evento acontecerá sem grandes problemas, o comitê optou pela segunda opção.

Prova de que o legado não é assim só um mar de rosas como se tenta vender…


NBA negocia com TV aberta para ganhar o Brasil
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Erich Beting

O Gigante acordou. A expressão que foi apropriada por boa parte das pessoas durante os protestos do início de junho no Brasil serve também para explicar o novo momento da NBA, a liga de basquete americana, com relação ao mercado brasileiro.

A NBA finalmente olha o Brasil com um potencial de geração de receitas. E a prova disso vai além da realização de uma partida de pré-temporada da liga no país, no próximo dia 12 de outubro, no Rio de Janeiro.

Em entrevista ao blog, Arnon de Mello, gerente geral da NBA no Brasil, confirmou que está negociando com emissoras de TV aberta para que alguns jogos da NBA voltem a ser exibidos para todo o país. A negociação faz parte de uma estratégia que inclui a realização cada vez mais frequente de eventos de basquete no Brasil e, também, a busca pelo aumento da base de fãs do basquete no país.

“Esse é um dos nossos grandes desafios no Brasil, que é aumentar a distribuição e fazer com que as pessoas que não eram fãs ardorosos do basquete da NBA possam de vez em quando se esbarrar com a programação da NBA na televisão. Acho que isso é muito importante, porque é assim que a gente vai crescer”, disse.

No último final de semana, o Parque de Madureira, no Rio de Janeiro, recebeu um torneio de 3×3. O foco principal das ações foi o jovem. Com várias disputas e promoções, a NBA conseguiu se aproximar, ali, de cerca de 20 mil pessoas num final de semana. Os torcedores foram “imersos” em diversas brincadeiras e vivenciaram a marca NBA como nunca aconteceu com qualquer outro evento de basquete no país.

Se conseguir colocar alguns jogos na TV aberta, a liga americana aumenta a popularidade. Mas o próprio Arnon diz que há um outro bom caminho para popularizar ainda mais o basquete dos EUA por aqui.

“O digital é o grande negócio nosso no momento. O League Pass (pacote com a transmissão de jogos pelo site da NBA) no Brasil é o quinto mais vendido no mundo. E a gente acredita muito que isso vá crescer ainda mais. Então queremos colocar transmissão ao vivo de alguns jogos de graça pela internet, pela TV a cabo e pela TV aberta”, afirmou Arnon.

Com um modelo claro de negócios, pautado pela busca incessante do consumidor, a NBA poderá fazer com que o Brasil tenha sérias dificuldades em produzir pessoas interessadas em acompanhar e consumir o basquete nacional. Apesar de a liga dizer que vê nos times daqui grandes aliados para crescer também no país, o choque de cultura que existe na promoção do esporte é grande demais para isso.

O basquete no Brasil que se prepare, porque o gigante resolveu olhar para cá.


O preço dos ingressos e a caixa nova para o sapato velho
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Erich Beting

O Fluminense decidiu se juntar ao São Paulo e jogar lá para baixo o valor cobrado pelo preço dos ingressos. A medida tem como objetivo atrair o público para os jogos do Tricolor e, com isso, tentar conseguir maior apoio para que o clube saia da incômoda situação que se encontra dentro de campo.

Os dois casos revelam a dura realidade dos novos estádios de futebol no país.

Até pouco antes de eles começarem a ser usados pelos clubes, tinha-se a certeza dentro do país que os estádios seriam elitizados, que o público de baixo poder aquisitivo jamais voltaria a ver ao vivo um jogo de futebol e que, assim, acabaríamos com a cultura torcedora do futebol brasileiro, construída durante cerca de uma centena de anos.

Pois bem. Os novos estádios estão aí e o que hoje mais se discute não é a elitização do público, mas a falta de gente nas arquibancadas.

O grande problema é que os novos estádios nada mais são do que uma caixa nova vendendo o mesmo sapato velho e surrado de sempre.

Para variar, quando começaram os discursos contra o movimento de aumento de preços nos estádios, não nos atentamos para um fator que é primordial para levar ou não um torcedor ao campo.

Qual é a qualidade do futebol que nossos atletas estão apresentando? Isso ajuda, e muito, para trazer ou repelir o torcedor. Enquanto não melhorarmos como um todo a qualidade do jogo, não será só por ter novos estádios que o público vai querer ir ao estádio.

Não é apenas a violência, o trânsito e o horário de início das partidas que afasta o torcedor. Um jogo de baixa qualidade técnica também não é atrativo. Pelo menos não para o ingresso mais caro.

Desde a Copa das Confederações, temos uma sapataria repleta de caixas bonitas. Dentro delas, porém, o sapato continua o mesmo, desgastado, já até meio sem brilho.

Enquanto isso não mudar, será impossível para o futebol brasileiro encher a arquibancada. A não ser em dia de jogo decisivo…


Alonso pode ser a peça-chave para o ciclismo
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Erich Beting

Não, eu não estou louco. Da mesma forma, você não leu o título de forma errada. Fernando Alonso é a boa notícia para o ciclismo nesta segunda-feira. O piloto espanhol da Fórmula 1 anunciou hoje a compra da equipe Euskaltel Euskadi, que havia anunciado seu fechamento. Fã e praticante do ciclismo, Alonso negociou a compra do time após ver o risco de mais uma equipe espanhola desaparecer do circuito.

O fato alentador dessa história, porém, é que, no comunicado sobre a compra da Euskaltel Euskadi, Alonso deixa claro que o novo projeto será calcado nos pilares de “transparência e tolerância zero”. Como diz o próprio texto no site do piloto “Alonso está muito feliz por participar de forma ativa do ciclismo e poder contribuir na medida do possível para a melhora da imagem desse esporte”.

Assim como outros donos de equipe já fizeram, Alonso também levanta a bandeira da “limpeza” do esporte. Hoje, essa é a medida essencial para que o ciclismo resgate a credibilidade perdida após sucessivos escândalos de doping, inclusive a dopagem retroativa de Lance Armstrong que jogou a zero a imagem do esporte.

Melhor ainda, porém, indica ser a ambição do projeto. “De uma equipe mediana a um projeto internacional”, segundo o comunicado divulgado no site de Fernando Alonso.

Com a Espanha quebrada, o milionário piloto virou o mecenas de uma equipe de ciclismo do país. Se a moda pega, o esporte por lá só conseguirá sobreviver por conta da boa vontade dos abastados atletas locais que fazem fortuna nas modalidades que são globais e, assim, menos suscetíveis à crise.

De qualquer forma, Alonso pode ser uma peça-chave para o ciclismo. A força da imagem dele, e a necessidade que ele tem de não manchar sua própria imagem, podem ajudar a resgatar o mínimo de credibilidade para um dos esportes mais tradicionais do mundo.