Negócios do Esporte

Esporte, afinal, dá dinheiro ou prestígio?

Erich Beting

Ontem, 7 de abril, comemorou-se o Dia do Jornalista. A efeméride, além de servir para as tradicionais congratulações pelas redes sociais, foi marcada por uma notícia, no mínimo, emblemática. O jornal ''O Estado de S. Paulo'' demitiu dezenas de jornalistas e decidiu colocar fim ao seu caderno de esporte. Isso não significa o fim da cobertura do tema, mas sua redução de espaço dentro do veículo, que só terá um caderno específico sobre o tema a princípio nas edições de domingo.

Por que, a 18 meses da primeira edição de um Jogos Olímpicos no Brasil, torna-se inviável manter um noticiário regular de esportes num dos principais jornais do Brasil?

A resposta a essa pergunta, porém, passa por outra pergunta, mais intrigante. Por que o esporte, apesar de movimentar bilhões, não consegue ter uma indústria a ponto de sustentar um caderno sobre o tema num veículo do tamanho do ''Estadão''?

Aí chego ao título do post. Esporte, afinal, dá dinheiro ou prestígio? No ano passado, o ex-CEO da Microsoft Steve Ballmer comprou o time do LA Clippers, da NBA. Pagou US$ 2 bilhões por ele, no negócio mais caro envolvendo a compra de times de basquete da história. Ballmer teve a chance de comprar o Clippers e despejou um valor que, dificilmente, voltará a seus cofres.

Os US$ 2 bi não se pagam. E isso pouco importa a quem tem US$ 30 bi como fortuna estimada. Mas por que raios ele foi investir em esporte? Desde fevereiro de 2014, Ballmer, que era notícia por ser CEO da Microsoft, passou a ser notícia por ser o dono do time mais valioso da NBA. E, a partir disso, ele vive constantemente na mídia.

Da mesma forma, bilionários de países emergentes se transformaram em pessoas de prestígio nos últimos anos por investirem em times de futebol na Europa. Chelsea e PSG talvez sejam os casos mais elucidativos disso. Os investidores não estão atrás de um negócio rentável, mas de algo que o coloca com relativa frequência na mídia e na condição de um investidor de algo de status.

No Brasil, se não vivemos a era dos investidores privados nas entidades esportivas, temos o esporte como meio de os dirigentes ganharem mídia para alçarem outros voos, sejam em negócios particulares ou em carreira política. Da mesma forma, os patrocinadores usam o esporte como mídia.

E isso leva à situação que vemos acontecer com as diferentes mídias que precisam ''vender'' o esporte. Como ter anunciante se o potencial investidor está interessado na mídia espontânea gerada a partir do investimento que ele já faz no esporte? O esporte é conteúdo, é mídia. E, como tal, dificulta a vida de quem precisa viver de vender anúncio.

O Estadão acabar com sua página de esportes faz total sentido quando o modelo de negócios está baseado na venda de publicidade. Hoje, o patrocinador do esporte, quando investe em mídia, pensa na televisão, já que ela tem um modelo híbrido que une jornalismo com entretenimento do evento esportivo.

O esporte não dá dinheiro. Mas assegura prestígio. A mídia é o canal para esse prestígio ser reforçado. A TV já percebeu isso há muito tempo. Os outros meios precisam olhar para esse modelo para conseguir ganhar dinheiro ao falar de esporte…