Negócios do Esporte

Carta ao subprefeito de Itaquera
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Erich Beting

Caro sr. Mauricio Luis Martins.

Gostaria de pedir desculpas caso o artigo intitulado “Coisas do Brasil” publicado no Blog do Juca Kfouri tenha ferido de alguma forma sua honra. Revendo todo o processo de entrada da documentação necessária para a realização da segunda edição da Timão Run Caixa, corrida de rua do Corinthians, percebemos que houve uma falha da empresa contratada por nós para dar entrada em todo o processo burocrático relacionado ao evento.

Havíamos sido informados pela empresa de que o processo inicial de entrada para a prova fora feito no dia 14 de outubro de 2015, conforme protocolo enviado para nós.

Hoje, em reunião feita com o senhor, descobrimos que o processo havia sido feito de forma errada, tendo como única validade o protocolo de entrada para a licença da prova no dia 11 de novembro de 2015.

Dessa forma, não procedem as informações de que o processo de entrada feito em 14 de outubro se perdeu na burocracia do departamento, bem como não recolhemos em duplicidade a taxa de licença do uso de solo.

Agradeço todo o esforço feito pelo senhor para conceder o alvará de permissão para a prova.

Aposto que os 3,5 mil torcedores inscritos para a prova poderão desfrutar de um excelente momento de alegria pela iminente conquista do sexto título nacional pelo Timão.

Atenciosamente,
Erich Beting, jornalista, blogueiro do UOL e um dos organizadores da Timão Run


Crefisa evidencia o risco do patrocínio passional
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Erich Beting

Há cerca de dois meses escrevi por aqui que o patrocínio no futebol era guiado pela paixão (relembre aqui). Mais do que olhar um negócio, os executivos de empresa investem no clube por amor. Isso não significa que depois o acordo não se transforme num negócio, mas o primeiro passo só é dado pela paixão que algum executivo na empresa tem.

O risco que está embutido num patrocínio cuja decisão é guiada prioritariamente pela paixão é que, em algum momento, esse cordão que liga a relação se rompe de forma tão abrupta quanto o que os uniu. E o exemplo da vez nessa história é dado pela Crefisa, que soltou os cachorros para cima do Palmeiras, do presidente Paulo Nobre e da relação com o clube (leia detalhes aqui).

A polêmica entrevista dada por Leila Pereira, dona da Crefisa e da FAM, mostra o quão tênue é a linha que separa a decisão racional de patrocínio da passional. Ao procurar um veículo para reclamar publicamente do clube, a executiva mostra um tremendo despreparo para atuar com patrocínio esportivo. Isso fica claro quando Leila chega a ameaçar ir patrocinar o Flamengo, que dá ''maior visibilidade''.

A resposta é sintomática. Ela mostra o quão irracional foi a decisão de patrocinar o Palmeiras e quão passional é o motivo que a mantém ligada ao clube.

Se está em busca apenas de exposição, a Crefisa deveria ter feito uma análise e percebido que o Palmeiras deixou de ser um time exibido pela TV aberta há quatro anos. Saberia que, se quisesse apenas exposição de marca, deveria procurar Flamengo, Corinthians ou São Paulo. Aliás, a afirmação não deixa de ser uma confirmação daquilo que já se sabia desde o início, que a Crefisa estava praticamente acertada com o São Paulo mas que, na última hora, seus executivos decidiram patrocinar o Palmeiras por serem torcedores do clube.

Na continuação da entrevista, Leila Pereira também mostra que a empresa dela faz, no patrocínio, exatamente o oposto do que rege o seu negócio!

Ao afirmar que a Crefisa tem dado dinheiro ao clube para investir em contratação de jogadores ''de quinta categoria'', ela literalmente mostra que não faz, no patrocínio, o princípio básico de uma empresa de concessão de crédito. Por acaso não foi feita uma análise prévia da capacidade de reverter o investimento que seria feito?

Por fim, a entrevista é a prova da miopia das empresas – e dos clubes – na relação de patrocínio. Patrocinar não é assinar um cheque no fim do mês, muito menos investir diretamente na contratação de atletas. Mas não é só a empresa que erra. O clube não pode, em hipótese alguma, deixar insatisfeito um parceiro comercial que investe R$ 42 milhões em patrocínio, sem falar em contratação de atletas e melhoria de infraestrutura.

É inacreditável que o Palmeiras tenha simplesmente repassado um e-mail da Adidas pedindo permissão para criar uma camisa retrô sem a marca do atual patrocinador sem antes olhar o contrato de patrocínio. Impressiona, também, a incapacidade do clube que não monta um núcleo de atendimento a um parceiro que é responsável por quase 40% do faturamento da empresa.

A profissionalização do patrocínio no país só será possível quando as duas partes, patrocinador e patrocinado, entenderem qual o papel de cada um nessa relação. Os dois precisam enxergar o patrocínio sob a perspectiva do outro, buscando propor soluções de negócios que sejam boas para os dois lados.

Até agora, o Palmeiras só viu na Crefisa uma fonte de receita. E a Crefisa só viu no Palmeiras um veículo para exposição da marca. Como o vínculo que uniu as duas partes foi a paixão palestrina dos executivos da empresa, essa relação tende a ficar desgastada pelas frustrações dos dois lados pela falta de performance esportiva.

Esse é o grande risco do patrocínio passional. Não entender que a relação que une patrocinador e patrocinado precisa ser de geração de bons negócios para os dois lados…


F-1 voltou a ser esporte de nicho. É o adeus à TV aberta?
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Erich Beting

O Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 de 2015 entrará para a história como a pior audiência na TV aberta na história. O 15 de novembro que valeu a Nico Rosberg o vice-campeonato mundial reforçou a certeza da Globo, de que não há mais apelo para a categoria ter todas as suas etapas transmitidas ao vivo na TV aberta.

Os 10,5 pontos alcançados pelo GP Brasil (leia aqui) representa a mesma audiência que teve o GP do Canadá, até então a melhor performance da temporada 2015 da F1 na TV aberta. O que eles têm em comum? O fato de terem sido exibidos no mesmo horário, com largada às 14h.

O número acende a luz vermelha sobre o futuro da F1 na Globo. Sempre a prova brasileira rendeu os melhores índices para a emissora. Neste ano, apenas igualou o recorde. Isso significa, claramente, que a F1 não é mais um objeto de desejo do público em geral. Ela continua a ser um grande produto, mas voltado para um nicho, que representa, na melhor das hipóteses 10 a 12 pontos de audiência em seu melhor cenário.

Na linguagem da Globo, esse é o primeiro passo para que a Fórmula 1 deixe de ser enquadrada como um bom produto para a TV aberta. Sim, como bem frisou Felipe Massa pré-GP, não é apenas a audiência da F1 que está caindo. A TV aberta, como um todo, perdeu audiência. A mídia pulverizou e, assim, ficou ainda mais difícil emplacar qualquer produto na programação.

O nível de exigência para um produto se adequar à TV aberta é a cada dia maior. Não tanto no conteúdo, mas na aderência do público. O grande dilema nos últimos anos é exatamente como fazer com que esse conteúdo consiga ser aderente ao máximo.

Seguindo essa lógica, quando a audiência da F1 não consegue representar a liderança no Ibope e, mais ainda, quando não consegue sair de um determinado patamar de alcance de público, ela deixa de ser um produto com diferencial para ser exibido em TV aberta.

E aí é que entra todo o enrosco, que deixa o fã de F1 frustrado, mas que representa o retrato fiel da realidade da categoria no Brasil. A categoria vive, hoje, do público que é apaixonado pelo automobilismo. Ela não consegue mais atrair a atenção do não-fanático, do ''modinha'', do cara que liga a TV simplificando a disputa na F1 para o ''chegar é uma coisa, passar é outra completamente diferente''.

No começo dos anos 80, quando a F1 era restrita um nicho, a Globo decidiu, por um ano, abrir mão dos direitos de transmitir a categoria. Justamente naquela temporada Nelson Piquet foi vice-campeão mundial, e a F1 passou a entrar na era em que mais se transformou num produto de massa no país, com a dobradinha Piquet-Senna colocando quase sempre o país no lugar mais alto do pódio.

Hoje, em período de vacas magras em relação a pilotos carismáticos para o público em geral, a Fórmula 1 voltou a representar um nicho. Dificilmente ela conseguirá justificar a transmissão ao vivo de todas as suas etapas, ainda mais com boa parte delas ocorrendo em horários que são ruins para aumentar a audiência da televisão.

Nunca foi tão fácil para a Globo justificar a saída da F1 da sua grade. A única alternativa plausível para ela permanecer na programação é vender todas as cotas de patrocínio para a temporada. O que, a cada ano que passa, fica mais difícil de acontecer, já que a audiência derrapa a cada curva de um novo ano…


Alemães dão mais uma pista para explicar seu sucesso
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Erich Beting

A Bundesliga se transformou, de uns três anos para cá, em referência de modelo de negócios para diversas outras competições esportivas na Europa. A final da Liga dos Campeões entre Bayern e Borussia, em pleno estádio de Wembley, foi uma espécie de tapa na cara dos ingleses, que até então consideravam que nada superava a Premier League em termos de eficiência na gestão e qualidade nos times.

Nesta semana, na redação da Máquina do Esporte, chegou um relatório impresso sobre o impacto econômico que a Bundesliga gera na Alemanha. Feito pela consultoria McKinsey, o estudo aponta o quanto o futebol gera de empregos, injeta na economia germânica e, mais ainda, onde podem crescer suas fontes de receita.

Um dos itens levantados pela consultoria é os direitos de transmissão do Campeonato Alemão. Por enquanto, os alemães têm um torneio cujos valores de venda para o exterior são baixos quando comparados a Inglaterra, Itália e Espanha.

Como os alemães mudam isso? Uma das estratégias adotadas foi ''exportar'' o conhecimento sobre a Bundesliga. Os alemães têm mapeado os diferentes mercados em potencial e adotado estratégias agressivas de negociação. Isso fica claro quando um veículo brasileiro sobre negócios do esporte recebe o relatório que fala sobre os negócios do futebol na Alemanha.

Entre os inúmeros itens que temos levantado para tentar explicar o sucesso do futebol alemão, algo que saltou aos olhos nos 7 a 1 e na posterior conquista do título mundial, quase nunca destacamos a eficiência do marketing e promoção da Bundesliga, principal produto de exportação do futebol da Alemanha.

Há cinco anos a liga decidiu que precisaria começar a ganhar o exterior para incrementar as receitas dos clubes. Tudo isso para fazer com que uma receita não mudasse, a de venda de ingressos. Sim, os alemães não aceitam encarecer o custo do futebol para o torcedor ir ao jogo. E, assim, busca ampliar as fontes de arrecadação.

Hoje, não por acaso, mais de R$ 30 bilhões são injetados na economia alemã pelo futebol. A taxa de crescimento do segmento só não é maior que o de aeronaves. Os detalhes você pode conferir aqui. Se o futebol quiser sair da mesmice, vale, bastante, passar um período de aprendizado na Alemanha…


A 9ine rompeu com o UFC ou ele já não é bom negócio?
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Erich Beting

O pomposo comunicado divulgado pela 9ine ontem, anunciando que ''rompia negociações com o UFC'' é, na prática, muito mais um jogo de cena do que realmente uma preocupação de negócios da agência presidida por Ronaldo Nazário.

Em fevereiro de 2011, quando Ronaldo se aposentava dos gramados, sua agência dava o grande salto midiático ao anunciar um acordo para gerenciar os contratos de Anderson Silva, que começava a se transformar no grande astro do UFC também para o Brasil.

Nesses anos subsequentes, especialmente até 2013, quando Ronaldo se afastou da 9ine para embarcar no trem do Comitê Organizador da Copa do Mundo, Spider e 9ine faturaram bastante com patrocínios. O UFC, naquela época, tinha a política de permitir aos lutadores ostentarem marcas nos seus calções.

No melhor ano de Spider como negócio, a 9ine gerou cerca de US$ 6 milhões em contratos para o lutador. Nas lutas, os patrocínios que eram fechados pontualmente, renderam aproximadamente US$ 500 mil. O grosso da verba, naturalmente, veio dos acordos de longo prazo, como os assinados com Bud e Nike, entre outros.

O grande negócio para as marcas, naquela ocasião, não era aparecer no octógono, mas poder se aproveitar do prestígio de Anderson Silva para sua plataforma de comunicação. Foi a época em que Spider desafinava no comercial do Burger King, vendia seguros da HDI, lutava em comercial de cerveja, etc.

Qual o motivo, então, para a nova política do UFC atrapalhar os negócios da 9ine?

O UFC vive hoje um momento de reconstrução de marca. Chegou ao fim a era dos grandes heróis e vilões, personalizados em Anderson Silva e Chael Sonnen. Após os escândalos de doping que nocauteou algumas das maiores estrelas do MMA, a liga de lutas tenta se reinventar como negócio.

E isso significa, aqui no Brasil, um vácuo de exposição em mídia. Há quatro anos, Anderson Silva era o rei das aparições na TV entre os atletas. Com a queda do UFC em atrativos para o torcedor, especialmente nos dois últimos anos, os ídolos brasileiros foram desaparecendo da grande mídia.

Após o doping de Anderson Silva, o UFC reformulou completamente sua equipe de gestão no Brasil. Os eventos por aqui vão se tornar mais raros, porém mais atrativos. As ações promocionais nas lutas serão o grande atrativo para as marcas. E os ídolos serão pincelados a partir de pesquisas com o público. A geração que popularizou o UFC pelo mundo e principalmente no Brasil se aposentou, e o esporte passa agora por um momento de reformulação.

Muito mais do que a nova política de patrocínios do UFC, a 9ine sofre com a perda de atratividade do UFC para a grande massa. E isso torna muito mais difícil conseguir realizar fenômenos de mídia e patrocínio como Anderson Silva. A 9ine, assim como diversas outras agências que trabalham com lutadores, sofre muito mais pela falta de bons produtos comerciais do que pela baixa exposição de patrocinadores.

Até porque o próprio histórico de faturamento que a agência teve com Anderson Silva mostra que há muito mais atrativos para uma marca do que a exposição no octógono.


UFC tenta fazer o que Fifa e COI não conseguiram
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Erich Beting

A decisão da 9ine de se afastar das relações com o UFC é apenas mais um episódio envolvendo a atitude tomada em 2014 pela principal competição de MMA, quando anunciou um acordo com a Reebok. A revolta da 9ine é só mais uma. Nos EUA, a gritaria contra a decisão de fazer com que o atleta seja apenas um funcionário do UFC quando está dentro do octógono já é antiga.

Na prática, o que o UFC tenta fazer é algo que nem Fifa, nem COI, conseguiram. A liga de MMA quer fazer com que os direitos sobre a arena de luta sejam exclusivos dela. Ou seja, qualquer marca que for aparecer no octógono só pode se for parte de um negócio fechado pelo UFC.

A maneira radical com a qual o UFC trata o assunto tem explicação. Após a era dos grandes lutadores, o MMA vive hoje um vácuo de ídolos. Saiu a era dos brasileiros liderados por Anderson Silva e dos americanos comandados por Chael Sonnen e entramos num período em que Ronda Rousey é o maior expoente midiático do UFC, que claramente passou a apostar no apelo das lutas femininas.

O ponto é que o modelo de negócios do UFC é completamente diferente daquele que norteia o esporte. Os atletas são funcionários da liga. No período de consolidação do MMA, a geração de receitas tinha um caminho mais claro. O UFC ganhava em acordos de patrocínio e, principalmente, direitos de transmissão e pay-per-view, enquanto os atletas, além das bolsas de luta, tinham como receita os patrocínios pontuais e/ou acordos mais longos.

Só que isso causou um negócio em que o UFC perdia patrocínio para o próprio atleta contratado dele. A propaganda da Renault usando todos os principais lutadores brasileiros talvez seja o exemplo mais claro disso para o Brasil. Em vez de fechar com o UFC, a marca procurou os atletas e fez uma campanha com eles, voltadas para o país.

Agora, o UFC quer coibir exatamente esse tipo de atitude de seus funcionários. Assim, no octógono, apenas as marcas que são dele terão o direito de aparecer. É uma forma de melhorar a entrega para os patrocinadores, de profissionalizar a exposição das marcas e, consequentemente, de embolsar mais dinheiro.

O problema é que a primeira marca a entrar nesse novo esquema foi a de um fornecedor de material esportivo. E, ao fazer isso, a Reebok tirou dos atletas a chance de fechar o acordo que lhes é mais fácil de conseguir. Ao perderem essa fonte de receita, os atletas começaram a chiar.

Agora, sem poder mostrar outras marcas, os lutadores passam a reclamar ainda mais. Tudo, afinal, é uma questão de distribuição de receita. Na história das Olimpíadas e da Copa do Mundo, o artista ganhou a queda de braço. O problema, agora, é que o artista, no caso, é um funcionário contratado do UFC, e não um atleta que chegou até o octógono por índice técnico, em decorrência de seu desempenho esportivo.

A ruptura da 9ine é só mais um capítulo de uma briga que, nos EUA, até agora, tem o UFC como vencedor. O futuro apresenta três caminhos possíveis. A ruptura dos atletas e a criação de uma liga paralela que consiga se tornar um grande negócio como é hoje o UFC, a ''vitória'' do UFC, com os atletas aceitando buscar parceiros comerciais apenas para fora do octógono, ou então uma via de conciliação, que parece muito pouco provável dado o apetite da Reebok em reposicionar sua marca a partir do acordo com o UFC.


O que representa o fim da Era Campos Pinto para o futebol
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Erich Beting

Marcelo Campos Pinto já estava sendo colocado para escanteio na Globo há algum tempo. Desde que foi determinado o fim do adiantamento de cotas de TV para os clubes, meio que sem alarde, durante a Copa do Mundo, que o chefão do futebol da Globo nos últimos 20 anos começou a perder seu grande poder dentro da Globo.

Com os escândalos recentes no futebol, e a sempre próxima relação do executivo com as figuras centrais dos episódios que têm furado diversas cartolas mundo adentro, a situação de Campos Pinto ficou ainda mais complicada. Para ''piorar'', o grande interesse de Roberto Marinho Neto pelo tema esporte e direitos de transmissão ajudaram a aumentar a ingerência da Família Marinho sobre aquele campo que praticamente tinha dono único na emissora.

Campos Pinto talvez tenha sido, na última década, uma das figuras mais poderosas do futebol brasileiro. Seu crescimento na Globo veio na vitória pelos direitos da Copa do Mundo de 2002, após a conturbada negociação com a ISL, quando a emissora adiantou parte da verba pelos direitos, viu a agência falir envolvida num megaesquema de corrupção e livrou a empresa de um enrosco ainda maior.

A partir dali, ele passou a ditar as negociações. E, usando-se do artifício do adiantamento de cotas, passou a reger todo o destino sobre os direitos de TV no país. Em 2003, quando os clubes tentaram um levante para migrar para o SBT com o Brasileirão por pontos corridos, Campos Pinto usou o adiantamento de mais de R$ 50 milhões para manter os clubes sob contrato. Depois, em 2011, quando o Clube dos 13 começou a ruir, foi ele quem renegociou os contratos com os clubes, passando os direitos, antes negociados coletivamente, para os acordos individuais.

Ao que tudo indica, a Globo adotará uma nova postura na negociação de direitos. Campos Pinto sempre foi muito próximo dos dirigentes de clubes, vivia dando expediente na CBF e costumava ter liberdade para falar em nome da emissora. Centralizador, não deixava de liderar qualquer negociação que envolvesse o futebol.

Nas últimas semanas, o executivo vinha abrindo negociações com os clubes para tentar ampliar, de 2018 para 2020, os direitos de transmissão do Brasileirão com os clubes. Agora, com uma negociação menos centralizada, o projeto pode acabar sendo colocado em segundo plano pela própria Globo.

A saída de Campos Pinto do lado do principal financiador do futebol pode representar uma grande ruptura do modelo que foi criado em 1997, quando a emissora passou a querer exclusividade sobre o esporte, e gerar uma nova relação entre os dirigentes e a emissora.

No momento em que os clubes começam a ter cada vez mais interesse em assumir a gestão de campeonatos, a saída de quem negociava os direitos de transmissão da Globo é o primeiro passo para que um novo modelo comece a querer sair da inércia.

A Globo não deverá deixar de ter os direitos sobre os principais campeonatos do país. Mas ela perderá a influência que o principal executivo destacado para o futebol exercia sobre os dirigentes. E isso poderá, no médio prazo, significar um novo tipo de relação entre o futebol e a Globo.

Leia também: 

Escândalo de corrupção na Fifa derruba homem forte do esporte na Globo


Esporte amador x esporte de alto rendimento. Onde investir?
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Erich Beting

Matéria desta semana na Máquina do Esporte traz uma curiosa comparação. A Maratona de Nova York, realizada no último domingo, dia 1º, gera quase cinco vezes mais receita para a cidade americana do que o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, que será no próximo dia 15, acrescenta na economia paulistana (detalhes aqui).

A comparação é interessante. Durante décadas a Fórmula 1 sempre se vendeu como o supra-sumo do esporte. Vista como a mais glamourosa competição esportiva do mundo, a F1 sempre foi sinônimo de geração de riqueza para as cidades por onde ela passa. Mas, de uns tempos para cá, receber uma etapa de F1 não é lá um negócio tão fantástico para os municípios.

O automobilismo passa por uma crise de identidade que faz com que cada vez menos torcedores tenham o interesse de se deslocar para acompanhar a competição. E isso não tem relação alguma com o fato de que o campeonato deste ano já está decidido. A Fórmula 1, deliberadamente, envelheceu. Muito por conta de seu grande dirigente comercial, Bernie Ecclestone, que diversas vezes já declarou não ver sentido em a categoria olhar para o público jovem, que seu negócio é falar com senhores de 70 anos cheio de dinheiro, etc.

Há 30 anos que a transmissão da Fórmula 1 é exatamente a mesma. O máximo que evoluiu foi a inserção de uma ou outra câmera no carro do piloto, mas via de regra o telespectador não tem nenhuma novidade para auxiliar num melhor monitoramento da prova. Por que, então, ir a um autódromo?

Por outro lado, a Maratona de Nova York, em menos de 50 anos, é uma competição que não para de crescer. Apostando no aumento da prática de atividade física, a principal maratona do mundo fez, no ano passado, um acordo de naming right do evento que mostra bem para onde o evento quer caminhar. Fechou patrocínio com a empresa de consultoria em tecnologia Tata Consultancy Services.

No anúncio do acordo, um dos motivos celebrados pelos organizadores do novo contrato era o de que ele poderia possibilitar um incremento em soluções de tecnologia e uso de aplicativos para telefones para os mais de 50 mil participantes da prova. Até a data da corrida deste ano, o aplicativo oficial da prova contabilizava mais de 268 mil downloads…

É, como se vê, um caminho radicalmente oposto ao adotado pela F1, que ainda enxerga o esporte e o relacionamento entre as pessoas como nos anos 80.

E, aí é onde entra toda a questão. Quando se compara o resultado financeiro que gera para uma cidade a realização de um grande evento esportivo amador, incentivando a prática de atividade física das pessoas, o esporte de alto rendimento começa a perder de goleada.

A comparação Maratona de NY x GP Brasil de F1 é apenas um exemplo evidente de como, hoje, o esporte de alto rendimento se tornou algo caro e de retorno financeiro duvidoso. Ou, se não é duvidoso, com um retorno financeiro menor do que aquele que envolve um evento pensado para colocar o atleta amador em atividade.

O esporte de alto rendimento ainda é um melhor negócio para as marcas pelo alcance que ele gera a partir da exposição na mídia de massa. Mas, para uma cidade, não há dúvida que é mais rentável investir num grande evento para as pessoas praticarem esporte do que promover uma competição que envolva atletas de alto rendimento.


Corinthians pode ter mais um recorde: o “campeão do sofá”
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Erich Beting

A situação promete dar um novo capítulo à modorrenta discussão ''pontos corridos x mata-mata''. No próximo domingo, o virtual campeão nacional Corinthians poderá bater outro recorde. Ser o primeiro campeão a ter celebrado o título ''do sofá''.

A proeza do dia é mais uma obra de irresponsabilidade de quem pretensamente deveria comandar o futebol do país. A CBF dormiu no ponto, não percebeu onde poderia acabar essa história e deixou acontecer. Sem ter tempo hábil, pelo seu próprio regulamento, para mudar o horário do jogo do Corinthians, a entidade teve de manter a partida contra o Coritiba para o sábado às 19h30.

O clube paulista sairá dessa partida da mesma forma que terminou o jogo contra o Atlético Mineiro. Sabendo que será o campeão, só não se sabe quando. Poderá ser no dia seguinte, num churrasco entre os jogadores e seus familiares, o que seria legal exclusivamente do ponto de vista pessoal para os atletas.

E aí entra o ponto central dessa história. A CBF deveria ter pelo menos UM funcionário pensando exclusivamente na promoção de seu maior produto com periodicidade definida, que é o Campeonato Brasileiro. Já se sabia, há pelo menos 15 dias, que uma combinação de resultados poderia fazer do duelo contra o Coxa a decisão do título.

Não havia ninguém na CBF olhando a tabela, ou pelo menos acompanhando o noticiário (roda de debates na TV e simulador de classificação nos sites é o que não faltam hoje em dia no cotidiano do futebol) para já prever que seria de bom tom fazer o time estar em campo, ao lado da torcida, na hora do apito final em Belo Horizonte?

Geralmente a CBF guarda certa antecedência para promover todos os jogos nos mesmos dias e horários. Deixa para as três rodadas finais, impulsionada pela outra novela chatíssima do futebol nacional, a tal da ''mala branca''. Foi assim que tudo funcionou bem até agora. Mas…

O episódio do Brasileirão que pode ter seu campeão pelo sofá é só mais um que deveria provocar indignação e mexer um pouco mais com o modelo de descaso com o qual é tratado o principal campeonato do país.

Não se trata de exigir muita coisa, apenas que a CBF esteja atenta para cuidar com um pouco mais de carinho do Brasileirão. Mas como parece que a entidade tem dificuldades até para renovar o passaporte de seu presidente poder viajar para o exterior, fica difícil acreditar que alguma mobilização virá dali…


Temos o nº 1 do mundo do tênis. E agora?
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Erich Beting

O Brasil voltou, após quase 15 anos, a ter um tenista no topo do ranking mundial. Agora nas duplas, Marcelo Melo conseguiu repetir o feito de Guga em dezembro de 2000 ao chegar no lugar mais alto da lista dos melhores do tênis.

Como bem escreveu Alexandre Cossenza em seu Saque e Voleio (leia aqui), o feito de Melo deveria significar algumas coisas. O duro é o uso do futuro do pretérito para explicar o tamanho da façanha conquistada pelo mineiro.

Talvez o mais claro a se pensar seja que Melo conseguiu igualar Guga, mas nas duplas, porque o Brasil não conseguiu acompanhar Guga. Não soubemos, há 15 anos, preparar o terreno para semear o topo do ranking.

Melo tinha 17 anos quando Guga alcançou o maior feito da história do tênis brasileiro. Desde então, os tenistas brasileiros se beneficiaram de um aumento de interesse pelo tênis em geral. A mídia deu muito mais espaço à bola amarela, os patrocinadores começaram a entender que poderiam tirar bom proveito do esporte em suas estratégias de exposição e construção de marca, os torcedores entenderam, de certo modo, o que é um ace, um forehand, um slice.

Mas, da mesma forma que a conquista de Guga foi possível graças principalmente à dedicação e talento de uma família e um treinador, a conquista de Melo agora é também muito mais fruto da perseverança de um núcleo duro formado em torno do jogador do que um processo natural de quantidade x qualidade.

Nos últimos 15 anos, a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) não soube olhar nada além do que o alto rendimento. Não é apontar o dedo da culpa, mas é um fato. Tivemos muito mais torneios de base, buscamos encontrar novos talentos, mas efetivamente não soubemos propagar o tênis para além do profissional.

E isso é péssimo quando temos de desenvolver o esporte no país. Guga deu ao país uma oportunidade única. Nunca houve tanto interesse pelo tênis como quando ele chegou ao topo. Isso fez com que, naturalmente, surgisse uma geração de bons tenistas no país.

Melo, André Sá, Bruno Soares e Thomaz Bellucci são alguns exemplos. Foram caras que surgiram ou mantiveram a caminhada no esporte graças ao aumento de cobertura da mídia e de disponibilização de verba de patrocinadores. O caminho deles foi bem mais fácil do que os de Guga, Jaime Oncins e Fernando Meligeni, por exemplo. Não na competitividade de um esporte que passou a ser praticado em todo o mundo, mas sim no aumento do interesse do Brasil como um todo pela modalidade.

Só que esse movimento não foi acompanhado por quem deveria ter a preocupação de criar um estilo brasileiro de jogo. Não capacitamos treinadores, não criamos mais torneios de base, não procuramos ampliar a prática do esporte. Ficamos, passivamente, acompanhando tudo pela TV, esperando que o raio caísse duas vezes no mesmo lugar.

O Brasil nunca teve uma geração tão talentosa no tênis quanto a dos últimos 25 anos. Caras que deveriam ser chamados a todo instante para opinar, ajudar a propagar e desenvolver o esporte. Não apenas na mídia, mas no projeto social que ainda carece de ídolos para dar exemplos, no evento para empresas que precisam entender mais de que forma o tênis pode gerar benefícios para as marcas, no dia-a-dia para além do número 1 alcançado.

Guga foi fruto do acaso. Melo, em menor escala, também. Daqui a 15 anos, será que teremos um novo número 1? Isso provavelmente só será possível se usarmos os bons exemplos que surgiram em nossa vida para impulsionar novos fãs e, naturalmente, novos praticantes do tênis.

E, para isso, é preciso olhar mais do que o esporte no topo. Construir quadras e capacitar treinadores é uma missão bem menos dispendiosa de se realizar do que organizar torneios com os principais nomes do esporte.

O Brasil tem, novamente, um break point a seu favor…