Negócios do Esporte

Gatorade transforma placa de publicidade em geladeira
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Erich Beting

Conforme dito na última sexta-feira por aqui, cada vez mais os resultados de pesquisas mostram que as empresas que não ativarem seus patrocínios estarão fadadas ao esquecimento. Ou, pelo menos, a não obter o retorno frente ao alto investimento feito no esporte. No sábado, a Gatorade deu uma nova mostra de que tem sido uma das poucas marcas que estão preocupadas com o conceito de ativação dos patrocínios feitos no futebol no Brasil.

A produtora de isotônicos transformou a placa de publicidade do estádio da Vila Belmiro numa grande geladeira para guardar seus produtos. A ''placa-cooler'' esteve em funcionamento durante o jogo entre Santos e Criciúma, pela Copa São Paulo de Juniores. Ela foi posicionada atrás do gol, e continha produtos da marca, que estavam disponíveis para os jogadores.

Placa posicionada atrás do gol parece com uma outra comum...

Placa posicionada atrás do gol parece com uma outra comum…

... Mas quando o jogador do Santos abre a placa, tira de dentro o Gatorade

… Mas quando o jogador do Santos abre a placa, tira de dentro o Gatorade

A iniciativa faz parte de mais uma das diversas ações que a Gatorade têm feito para comunicar o patrocínio ao futebol. Com mais de 20 clubes patrocinados, além de alguns campeonatos, como a Copinha, a marca tem se destacado nos últimos tempos por não se restringir ao patrocínio.

Agora, a novidade foi aproveitar a exposição da marca na placa de publicidade para ir além, dando uma nova função para a peça. O caso mostra claramente que é preciso entender o negócio da empresa e do esporte para conseguir ter ótimo retorno para uma ação de patrocínio.

Para quem quer mostrar ao mercado que é um produto feito para atletas, nada melhor do que fazer o jogador tomar a bebida a partir da geladeira na placa de publicidade. Agora, se a moda pega, toda placa passará a ter uma novidade…


Sem ativação, patrocínio “some” num oceano de marcas
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Erich Beting

Reportagem da última quarta-feira na ''Folha de São Paulo'' traz uma interessante análise feita pela consultoria Nielsen sobre os patrocínios e os megaeventos esportivos (o link para a reportagem assinada por Eduardo Ohata está disponível aqui). Segundo pesquisa feita pela empresa desde 2007, a população tem dificuldade em lembrar quais foram os patrocinadores oficiais nos principais eventos do ano.

Os dados da Nielsen mostram que, após a Copa das Confederações-2013, das dez marcas mais citadas pelas pessoas, apenas quatro eram patrocinadoras do evento da Fifa. O índice de assertividade na Copa do Mundo de 2010 foi melhor: 6 para 10 empresas citadas. No Pan de 2007, realizado no Brasil, o índice foi de quatro acertos entre os top 10. Mas o melhor resultado foi obtido nas Olimpíadas de 2012, quando sete das dez empresas citadas eram de fato patrocinadoras do evento.

Os números revelam uma realidade que tende a ser a regra do mercado de patrocínio esportivo no Brasil daqui para a frente. Quem não fizer ativação do patrocínio não conseguirá ser lembrado. Cada vez mais as empresas têm investido em esporte. Com isso, muitas marcas aparecem atreladas a patrocínios, gerando no consumidor uma overdose de empresas. Para piorar, no futebol, carro-chefe da audiência esportiva no país, o entra-e-sai de empresas tem sido frenético nos últimos cinco anos, o que gera ainda mais confusão.

Como essa enxurrada de empresas, o consumidor tende a lembrar daquela que vai além da exposição e passa a comunicar, das mais diferentes formas, o patrocínio. Especialmente em ações que chegam diretamente a ele, sem ser de forma passiva. A prova disso está nos próprios resultados mostrados pela Nielsen.

Dos quatro eventos, o que teve  melhor aproveitamento foi o que não tem, dentro da arena esportiva, exposição de marcas. Nas Olimpíadas, as empresas precisam recorrer às ferramentas de ativação para dizerem que fazem o patrocínio, já que a marca delas não aparecem. Assim, investem em mídia, em ações com o consumidor em locais públicos, recorrem a atletas como garoto-propaganda, etc. Sem o patrocínio restrito à exposição, o retorno é maior.

Outro fator que ajuda o desempenho olímpico a ser maior é o interesse maior do brasileiro pelo futebol. Na Copa, e isso é claramente observado neste começo de ano, quase todas as empresas levam para o futebol a sua comunicação. Em Olimpíadas, com o apelo menor para o público, há menos marcas disputando espaço na cabeça das pessoas.

Os números, porém, revelam o óbvio. Hoje, patrocinar não é mais um diferencial para uma marca. Apropriar-se desse patrocínio para então montar uma estratégia de comunicação diferente ao público é que faz a empresa ter sucesso. Essa barreira, espera-se, é a última a ser quebrada a partir da experiência do Brasil com os megaeventos dos próximos anos.


O que foi fazer o Glorioso?
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Erich Beting

O Botafogo fechou um patrocínio com a Telexfree. Não seria assim nenhuma grande notícia, não fosse por um detalhe. A Telexfree é uma empresa que, desde 12 de junho de 2013, está proibida de atuar no Brasil por um suposto esquema de ''pirâmide financeira'', jargão usado para se referir a uma empresa que promete remunerar as pessoas que aportarem dinheiro nela mas que, com o tempo, só paga a pouquíssimas pessoas no topo da cadeia (entenda o caso aqui).

Sim, estamos falando de um clube com uma história centenária e que voltou, este ano, à disputa da tão almejada Copa Bridgestone Libertadores. Por mais que esteja precisando de dinheiro, o clube precisa saber preservar a sua marca.

Nos anos 80, quando as marcas começaram a aparecer nas camisas de futebol, virou motivo de chacota o Palmeiras ter anunciado a Galeria Pajé no uniforme. O espaço, na época, era um dos principais centros da pirataria na cidade de São Paulo.

Quase 30 anos depois, o que foi fazer o Glorioso se não algo absolutamente similar a isso?

O pior é que não dá nem para dizer que ''tem coisas que só acontecem com o Botafogo''. É só vermos o quão obscuro são os fundos de investimento que contratam jogadores para os clubes que penam para ajustar as contas. Em busca da glória da conquista, os dirigentes se perdem em acordos suspeitos. Que o diga o Corinthians, que após o baque com o MSI aprendeu a lição e mudou radicalmente suas atitudes no mercado, o que explica em parte o sucesso obtido dentro de campo.

Ou o futebol no Brasil entende que é preciso fazer um intenso e imenso trabalho de fortalecimento das marcas dos clubes, ou continuaremos a ver situações bizarras como a que o Botafogo acaba de protagonizar. E, com isso, o produto vai ficando cada vez menos atrativo para quem pretende fazer um trabalho sério dentro do esporte.

É só conferir abaixo o vídeo em que a Telexfree anuncia o acordo com o Botafogo. Ele sintetiza, bem, o nível do novo parceiro do Botafogo…


Sochi dá ao Rio sossego relativo para 2016
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Erich Beting

O Rio de Janeiro tem de agradecer a Sochi pela relativa calmaria que terá com a organização dos Jogos Olímpicos de 2016. Nas últimas semanas, a pequena cidade no interior da Rússia tem sido constantemente envolvida em diversos casos daquela que pode vir a ser a mais complexa sede de uma edição de Jogos Olímpicos nos últimos tempos.

A começar pelos atentados terroristas no final do ano na Rússia, passando pela controversa Lei Antigay do país europeu, Sochi conseguiu outra proeza. A sede das Olimpíadas de inverno é a cidade que mais gastou, na história, para organizar uma competição olímpica. A conta chegou aos US$ 46 bilhões, superando os já astronômicos US$ 44 bilhões investidos pela China em Pequim-2008.

O estouro no orçamento (a previsão inicial de gastos era de US$ 12 bi), porém, é até pequeno perto dos problemas que a cidade vem enfrentando. Com a infraestrutura ainda deficiente, a logística da competição tem sido bastante complexa, o que tem encarecido substancialmente a hospedagem e transporte de quem vai acompanhar os jogos.

Sochi tem se revelado uma dor de cabeça tremenda para o Comitê Olímpico Internacional e para os seus patrocinadores. O protesto de entidades defensoras dos direitos humanos tem exigido das marcas um cuidado muito grande quando vão se relacionar com o evento. Da mesma forma, as polêmicas com a Lei Antigay (a Rússia proibiu manifestações homossexuais no país) afastaram ainda mais os patrocinadores do evento.

Internamente a crítica à realização do evento também é grande. Em agosto, a insatisfação da população russa era enorme. Cerca de 60% das pessoas diziam-se contrárias ao gastos excessivos com a organização do torneio e criticavam a sua realização.

Pelos problemas que Sochi apresenta até agora, o Rio de Janeiro representará um relativo mar de calmaria para o COI e as empresas que quiserem se associar às Olimpíadas. Até mesmo por conta do que virá a ser o incerto cenário de manifestações na Copa do Mundo e o aprendizado do que deve vir a acontecer em 2016. Nesse sentido, o Mundial ajudou o Rio.

Para quem teria de conviver com a fantástica experiência de Londres (tanto na gestão dos gastos como no sucesso do evento em si) como base de comparação, o Rio acabou se dando muito bem pelos tropeços de Sochi. Mas a cobrança do COI deverá, a partir de abril, vir pesada para cima da cidade.


A lenta agonia da São Silvestre
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Erich Beting

Foram 22.502 concluintes da edição de 2013 da prova. Estiveram presentes 11 patrocinadores, sendo apenas duas empresas estatais nessa conta. Mas, aos poucos, a corrida de São Silvestre começa a agonizar. Porque, aos poucos, a corrida de rua mais popular do mundo vai se distanciando daquilo que era o grande barato dela, que era o não-corredor, o não-atleta, o ''mero'' espectador.

Concebida nos anos 30 para ajudar a Gazeta Esportiva a ter o que noticiar na edição de 1° de janeiro, a Corrida de São Silvestre ganhou o mundo por ser exatamente a única atividade esportiva profissional da virada do ano. O que fez a fama dela foi exatamente ser algum bom acontecimento para o público num dia em que raramente há algo para nos entreter além da arrumação da festa de fim de ano.

Há dois anos, a direção da prova tomou a tacanha decisão de retirar da Avenida Paulista a chegada da prova. Na ocasião, escrevi que aquilo iria significar a morte da São Silvestre (leia, ou releia, clicando aqui). No ano passado, a decisão foi revista, mas os organizadores tiveram então a ideia de mudar o horário da largada. Em vez de fazer a prova no período da tarde, ela passaria para a manhã. Com isso, não haveria mais tanto atropelo na chegada dos atletas da São Silvestre com o público da festa de Reveillón na Paulista.

Só que essa mudança de horário tirou da São Silvestre o contato com o público não-aficionado pela corrida. Em 2011, último ano da prova no período da tarde, a audiência da transmissão da Globo foi de 19 pontos, na medição do Ibope. Isso significa algo em torno de 3,3 milhões de pessoas sintonizadas, acompanhando a cerca de uma hora de transmissão da corrida.

Neste ano, a Globo somou 9 pontos no Ibope durante a transmissão da prova. No ano passado, a audiência havia sido de 8 pontos. No total, a edição de 2013 da São Silvestre foi vista por 1,8 milhão de pessoas, pouco mais da metade do que havia assistido em 2011.

A tradução dessa numeralha pode ser feita no diálogo durante o café da manhã do dia 31 de dezembro em família:

O cunhado pergunta: ''Quem ganhou a São Silvestre?''
Eu respondo: ''Dois quenianos. No masculino e no feminino''.
A sogra intervém. ''Nossa, já foi a prova?''

Sem o apelo da TV, a São Silvestre vai virar mais uma prova como todas as outras que acontecem no calendário brasileiro. E, assim, as pessoas que decidiam sair do sofá na letargia pré-Reveillón ao assistir a prova ainda não terão nem saído da cama quando algum queniano cruzar a linha de chegada na primeira posição…

O futuro da São Silvestre, infelizmente, parece ser o mesmo do seu criador, o jornal ''Gazeta Esportiva''.


Fifa notificará Decolar por se “apropriar” da Copa
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Erich Beting

O site de compras de passagens aéreas e pacotes de estadia Decolar.com receberá uma notificação da Fifa por apropriação indevida da Copa do Mundo em promoção. Nos próximos dias a empresa deverá ser notificada a tirar do ar o site ''Viva o Mundial'', hospedado sob o domínio www.mundialdecolar.com.

A decisão foi tomada após o blog entrar em contato com a entidade questionando se o Decolar havia fechado acordo com a Fifa, uma vez que o uso da palavra Mundial, diretamente associada à Copa, em promoções comerciais, é uma propriedade apenas ligada a parceiros da entidade. Em resposta, a Fifa afirmou que não havia qualquer acordo comercial entre a entidade e o Decolar, que seria notificado sob o uso indevido da marca da Copa do Mundo para a promoção.

O mais impressionante dessa história toda é uma empresa do porte dessa ainda não ter entendido as restrições que existem para a sua atuação no cenário de um grande evento como Copa do Mundo. Ainda mais quando se trata de uma empresa de serviço de turismo, que tem de tomar ainda mais cuidado para não ser impedida de vender pacotes para o consumidor por erros tão primitivos.

Durante 60 anos, o mercado brasileiro teve a liberdade de fazer o que quisesse em relação à Copa, uma vez que o país não estava no centro das atenções do controle da Fifa. Agora, com o Mundial acontecendo no país, é assustador perceber que as marcas ainda não têm a preocupação em saber o que é possível fazer antes de criar uma campanha para o evento.

O prejuízo que a retirada do ar de uma campanha causa é muito maior do que aquele que ela eventualmente teria se consultasse um escritório de advocacia ou pelo menos o site da Fifa, em que há o guia do que é permitido fazer de promoção sem ser um parceiro da entidade.

Apesar de a Copa parecer um torneio de domínio público, pelo alcance e força que tem, ela tem um dono. E esse precisa zelar pelo uso correto da marca que ele detém.

Um dos legados que a Copa do Mundo pode trazer ao mercado de patrocínio e promoção no Brasil é exatamente a criação de um sentimento de proteção ao evento. É função de quem organiza um torneio cuidar pela boa reputação dele. E isso significa, também, evitar o uso indevido dessa marca.

Abaixo está a foto com a página de abertura do ''Viva o Mundial'' da Decolar.

decolar_blog


Os melhores de 2013. E um feliz e decisivo 2014…
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Erich Beting

Finalmente chegou.

O tão esperado ano da Copa do Mundo no Brasil se apresenta em meio a um monte de incerteza sobre o mercado esportivo no país. Se há cinco anos as projeções eram absolutamente eufóricas a respeito da Copa de 2014, hoje o cenário não é tão favorável assim.

Mas ao resgatar na memória as melhores ações do ano que acabou de acabar, uma coisa é clara. A Copa do Mundo trouxe reflexos positivos sobre o mercado de esporte no Brasil. Prova disso é a retrospectiva que fizemos na Máquina do Esporte com os melhores do ano. Dos dez casos nacionais apresentados, seis têm relação, de alguma forma, com o Mundial (veja detalhes aqui).

Além desses casos, muita coisa boa feita a partir da temática da Copa foi deixada de lado, como o uso de Paolo Rossi e Zidane como garotos-propagandas da Visa, ou a própria iniciativa da Centauro de entrar no patrocínio da Copa, quase aos 45 do segundo tempo, numa forma de divulgar e incentivar o uso da loja virtual da marca.

O fato é que o mercado brasileiro chegou ao primeiro de seus anos decisivos do próximo triênio. A prova de fogo que a Copa do Mundo representa é também o pontapé inicial para uma mudança de comportamento da indústria esportiva nacional. Ou começamos a encarar o esporte como um negócio, ou os investimentos e inovações que vieram, mesmo que por inércia por conta da Copa, vão virar casos isolados e deixarão uma enorme sensação de que poderia ter sido, mas não foi…

Um Feliz – e decisivo – 2014 para todos nós!


Brasileirão no STJD liga alerta para Unimeds pelo país
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Erich Beting

Em 2012, quando o Fluminense foi campeão brasileiro, a Unimed celebrou mais uma conquista após 13 anos de parceria com o clube carioca. O título do Brasileirão coroava o patrocínio de longa data ao Tricolor e reforçava a imagem da empresa de saúde. Um ano depois, a lambança de decisão do último time a ser rebaixado no Brasileirão-2013 nos tribunais de justiça desportiva fez com que o sinal de alerta fosse ligado nas Unimeds espalhadas pelo país.

Da mesma forma que as empresas se beneficiaram da conquista do Flu em 2012, agora podem ficar com a imagem arranhada pela permanência, nos tribunais, na elite do futebol brasileiro.

A maior preocupação atualmente gira em torno da Seguros Unimed. A empresa, que já patrocinou o Palmeiras entre 2010 e 2012, agora é patrocinadora da seleção brasileira. Assim que a Portuguesa perdeu na Justiça os pontos por escalação do atleta Heverton irregularmente, diversos posts nas redes sociais lembravam da associação da Seguros Unimed com a CBF e a consequente relação que poderia haver dela com a permanência do Fluminense na Série A, já que o clube é patrocinado também pela Unimed.

A parte curiosa dessa história toda é que, apesar de terem o mesmo nome e um ''dono'' em comum, Unimed e Seguros Unimed são empresas absolutamente distintas. Funcionando no sistema de cooperativas, a Unimed tem, em cada cidade, empresas diferentes, que em comum tem apenas o mesmo nome. Sócios, funcionários e orçamento são absolutamente distintos.

Isso fica evidente na relação entre as patrocinadoras da seleção e do Flu. A Seguros Unimed firmou, em agosto, contrato de patrocínio à CBF. O acordo garante à empresa, com sede em São Paulo, a chancela de ser patrocinadora da seleção brasileira. Já a Unimed Rio é quem patrocina, desde 1999, o Fluminense. Nem mesmo a cor das empresas são iguais. A com sede paulistana usa a cor azul, enquanto a empresa do Rio, assim como quase todas as outras cooperativas pelo país, tem a cor verde.

Procurada pela reportagem, a Seguros Unimed disse que a única relação em comum entre as empresas é o fato de ambas serem do sistema Unimed, como são outras 375 empresas. Os patrocínios no esporte são até diferentes, já que a empresa paulistana também apoia provas de corrida de rua e atletas que disputam a paralimpíadas, algo que já fez parte e que hoje saiu do escopo da Unimed Rio, que por sua vez, além de corridas, apoia atletas do vôlei de praia, o time de vôlei da Unilever, entre outros.

Ao todo, são 377 cooperativas, que atuam de forma independente. Como forma de ''unificar'' a comunicação das cooperativas, a matriz da Unimed sugere às empresas locais que invistam no esporte e, de preferência, no futebol. A unificação do plano de marketing foi adotada no final dos anos 90, pouco depois de a Unimed Rio começar a investir no Fluminense, por força de Celso Barros, ativo sócio do clube carioca e que decidiu ajudar o time após a queda à Série C nacional.

Com quase 15 anos de história de investimento dos mais diversos no esporte (só para lembrar, a Unimed Rio Grande do Sul faz o patrocínio à dupla Gre-Nal, e a Unimed de Santa Bárbara d'Oeste apoiou o nadador César Cielo no começo da carreira), pela primeira vez a Unimed entra num princípio de crise de imagem, graças à lambança do campeonato decidido na Justiça.

Como já dito no blog há algum tempo, a decisão extracampo, por mais justa que seja, tira do futebol o sentimento de credibilidade que havia sido resgatado nos últimos anos. Quando essas discussões começam a respingar em patrocinadores, cria-se ainda mais um sentimento de insegurança para que haja um investimento.

A Nissan já saiu do Vasco por conta das cenas de barbárie produzidas pela torcida vascaína. Um dano à imagem da Unimed, nesse momento, é mais um arranhão que o futebol brasileiro consegue produzir nos seus parceiros comerciais.


Por parceiro, Fifa permite a cegos tocar taça da Copa
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Erich Beting

Para atender à estratégia de comunicação de um patrocinador, a Fifa abriu uma exceção à rígida política de manuseamento da taça da Copa do Mundo. Pela primeira vez, uma pessoa ''comum'' pode tocar a taça do Mundial. A permissão, que é restrita a chefes de estado e aos jogadores que a conquistam, teve como objetivo cumprir uma parte do plano de divulgação da Coca-Cola relacionado à Copa.

Em setembro passado, o time de cegos do futebol de 5 do Brasil, que é campeão paraolímpico, teve a permissão para tocar pela primeira vez a taça da Copa. O encontro dos atletas com a taça foi gravado pela Coca-Cola, que nesta quinta-feira (dia 26) lança um vídeo de 30s na televisão para mostrar às pessoas como foi a reação de Ricardo Alves, o Ricardinho, um dos principais jogadores do time brasileiro e que é o personagem da campanha (o vídeo, que ainda não foi divulgado, você encontra ao final do texto).

A peça publicitária marca o pontapé inicial das ações de ativação da Coca para o ano da Copa (leia mais detalhes aqui). Como afirmou ao blog Victor Bicca, diretor de comunicação da Coca-Cola, a ideia é mostrar que a empresa tenta fazer um Mundial inclusivo. O mote da campanha da empresa para o torneio é ''A Copa de todo o mundo''.

''Pretendemos fazer uma conexão grande com os legados que estamos construindo a partir do Mundial. A Copa, para nós, não é somente as ativações das propriedades, mas é  também baseada em legados socioambientais'', disse Bicca.

Para a Copa do Mundo, a grande ativação será com o tour da taça. A partir de abril, a taça do Mundial, que está rodando o mundo, chega ao país. A partir dali, ela vai passar pelas 27 capitais, num giro inédito no Brasil. ''Algumas cidades que receberão a taça não receberam nem mesmo a seleção brasileira'', exemplificou Bicca, mostrando o tamanho do alcance que terá o tour da taça.

A ideia de tornar a Copa mais inclusiva possível fez com que a Coca-Cola adotasse um discurso diferente para a promoção da marca no Mundial. Até agora, ela tem sido a empresa que mais tem tentado falar sobre os legados que ela tem gerado para o país a partir do evento. Com isso, a expectativa é conseguir passar uma imagem mais positiva do patrocínio à Fifa, algo que tem preocupado bastante os patrocinadores, especialmente com os protestos que aconteceram na Copa das Confederações.

O resultado prático das ações só deve vir no fim do ano, quando a Copa terá de fato passado e aí começaremos a contabilizar os reflexos disso. Até lá, as empresas vão tentar, cada uma a seu jeito, mostrar que o patrocínio é um bom negócio. Também para o consumidor.


O ouro europeu do Brasil no handebol. Alguma novidade?
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Erich Beting

A inédita conquista do ouro pela seleção feminina de handebol no Brasil é europeia. Não há mal algum em constatar o fato e, mais do que isso, não há qualquer problema em aprender com ele. O Brasil é o país campeão do mundo num esporte que sempre foi dominado pelos países nórdicos e/ou anglo-saxões. E o mérito disso é o fato de que o país foi para o exterior para conseguir virar essa potência mundial.

''A verdade é que ainda dependemos de atletas, como essas meninas, que vão para o exterior evoluir. Ainda estamos dez anos atrasados em relação à Europa''.

A frase é de Morten Soubak, o treinador do selecionado brasileiro. Dinamarquês que veio para um ano de estágio no Brasil, há quase 15 anos. Foi auxiliar no Clube Pinheiros, treinou times de faculdade, gostou do país e decidiu ficar. Com a seriedade de um dinamarquês, mas adaptado ao estilo brasileiro, ele conseguiu levar o país ao inimaginável. Agora, traz apenas o panorama real.

Para ser o melhor do mundo no handebol entre as mulheres, o Brasil precisou de um trabalho de planejamento. Levou atletas para o exterior, onde competem em alto nível, procurou participar ao máximo de competições e, também foi importante, há dois anos o país recebeu o Mundial da modalidade. Em casa, mesmo que para pouca torcida, as meninas já haviam chegado até o quinto lugar. A experiência serviu para em Londres, nos Jogos Olímpicos, o time evoluir mais um pouco. E, agora, o resultado máximo apareceu.

Só que a frase de Soubak sobre a conquista é a que mais deve ser levada em conta se o país quiser ser também do handebol, como é do voleibol e do judô e que já foi do futebol e do basquetebol. Sim, é isso mesmo. Só somos o país do vôlei e do judô. Nas outras modalidades, hoje, estamos atrasados em relação ao jogo que é jogado lá fora.

O alerta de Soubak é também o alerta para o futebol, para o basquete, para o handebol, para a peteca, a bola de gude e o que mais quisermos pensar em termos de competição. À exceção do vôlei e do judô, em que as confederações montaram um sistema de aperfeiçoamento técnico que nos equiparou aos melhores do mundo, não há uma gestão que pense estrategicamente no desenvolvimento dos atletas.

Talvez o rúgbi em cerca de dez anos consiga isso, mas o abismo que hoje separa o Brasil das demais nações ainda é muito grande.

Nos demais esportes, e o futebol está incluído nessa conta, o Brasil precisa ir para fora para começar a extrair bons resultados. Nossas ligas estão enfraquecidas, nossa capacidade técnica de formação de talentos parou no tempo, nossa condição para treinamento e desenvolvimento de atletas é precária.

Teoricamente as confederações, no Brasil, têm tanto ou mais dinheiro que as principais entidades do mundo todo. O problema é muito mais de conseguir elevar o padrão do esporte como um todo. O ouro do handebol evidencia isso. Um grupo de atletas que abdicou de morar em seu país para poder ter rendimento e levar o Brasil ao topo. É a prova de que talento existe, mas ele precisa de muita lapidação para poder chegar ao melhor.

O futebol no Brasil vive, hoje, o mesmo problema do handebol ou do basquete. Não temos mais um campeonato forte, que faça com que nossos atletas atinjam níveis altos de competitividade. Para evoluir, é preciso expatriar o talento, o que enfraquece as competições locais, diminui o interesse da imprensa e, naturalmente, o do torcedor.

O ouro do Brasil no handebol é europeu. Assim como a vitória do futebol na Copa das Confederações tem o DNA do Velho Continente.

O Brasil é campeão do mundo de handebol, sim. Mas precisa começar a importar qualidade se quiser manter-se no patamar mais alto dentro da modalidade. Do contrário, será como em várias outras histórias, de vitórias conquistadas por conta de grupos talentosos de atletas que se formaram, e não por um trabalho constante e eficiente de formação de talentos.

Visão estratégica da CBHb e da comissão técnica brasileira que foram buscar, lá fora, o que não se tem aqui. Mas é necessidade de o país usar essa conquista para solidificar as próximas. Ser patriota, afinal, não é bradar que aqui temos o melhor handebol do mundo, mas saber olhar o porquê de essa conquista ter precisado deixar o país para acontecer.