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“Segunda Campeã” exige profissionalismo do atleta
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Erich Beting

Até que demorou mais do que esperava a primeira discussão acerca da proposta do SporTV na “Segunda Campeã”, como está sendo apelidado o jogo de segunda-feira à noite transmitido pela emissora com exclusividade. Veio do ex-jogador Tinga a crítica sobre o fato de os jogadores terem de conceder, dentro de um estúdio, ainda com a roupa de jogo, a entrevista para o programa “Bem, Amigos”, que começa colado na sequência da partida.

Na primeira “Segunda Campeã”, o vazamento da conversa de Cuca com Diego Souza sobre o time do Santos gerou insatisfação dos palmeirenses. Desta vez, Tinga desceu a lenha no fato de os jogadores serem obrigados a irem direto do campo para a entrevista “ainda cansados”, segundo argumentou o ex-jogador de Inter e Cruzeiro.

Particularmente, achei a proposta da entrevista pós-jogo num estúdio, só com dois jogadores e um treinador, um formato bem interessante. O atleta ali, ainda com o uniforme de jogo, é um elemento novo para os programas de debate. O “confronto” entre jogadores que acabaram de sair da partida, bem como de um treinador, também é outra situação que agrada do ponto de vista jornalístico. Ainda acho que o “Bem, Amigos” deve explorar ainda mais o conteúdo jornalístico trazido por essa situação, focar a entrevista nos detalhes do jogo, instigar ainda mais o atleta e o treinador, mas isso também fugiria demais da característica do próprio programa.

Para o torcedor, acredito também que seja legal sair daquele formato batido e modorrento das entrevistas coletivas pós-jogo. Lentas, massacrantes, repetitivas, etc. Ali existe mais dinamismo, o atleta está ainda com o jogo quente na cabeça, existe o confronto direto do debate com outros atores da partida.

Mas e para atletas e treinadores, será que Tinga está certo em reclamar?

Já havia tido essa percepção logo depois de Sport x Palmeiras e reforcei-a acompanhando o pós-jogo de Cruzeiro x Atlético-PR. O jogador precisará ser muito mais profissional para encarar esse bate-papo após a partida.

Respostas menos pasteurizadas, inteligência para se posicionar, preocupação com a imagem que será transmitida por ele após o jogo. Tudo isso é exigido no formato apresentado até agora. O atleta não poderá ficar naquela mesma expressão de sempre, mantendo o mesmo padrão de resposta, fugindo de respostas mais agudas.

No esporte profissional, o atleta precisa entender sua posição como protagonista não apenas dentro de campo. Ele tem de saber se posicionar e fugir do padrão. Nesse formato da “Segunda Campeã”, o jogador de futebol, pela primeira vez, precisa ser um pouco mais do que alguém que “faz parte do grupo”, que “chegou para somar” e que o “importante são os três pontos”.

E, como qualquer mudança de padrão, ela gera descontentamento. O fato é que o jogador de futebol no Brasil está tendo de sair da zona de conforto para ser mais atleta, mais profissional. “Só” jogar futebol é tarefa fácil demais nesse cenário…


Jogo de segunda é O programa da TV
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Erich Beting

O público na Ilha do Retiro foi alto. Mais de 26 mil torcedores estiveram presentes para o Sport 1×3 Palmeiras. Mas o que mais chamou a atenção, para quem esteve em casa, é que ficou claro que a rodada da segunda-feira à noite foi inteira programada para a televisão.

A escolha do confronto, o horário do jogo e o tratamento dado pelo Sportv à cobertura da partida fizeram com que, finalmente, entendêssemos o significado e a importância de tratar o futebol como um produto para a televisão.

O jogo das 20h de segunda é um pedido do Sportv, que agora tem todos os elementos para vencer com folga a disputa pela audiência da segunda à noite na TV paga. Com o jogo ao vivo no Brasileirão seguido do “Bem, Amigos”, será muito complicado para qualquer outro canal chegar próximo da concorrência.

E aí é que está o grande ponto da estreia do jogo da segunda. O esporte é um entretenimento e, como tal, tem de ser moldado para atender aos interesses de quem ajuda a pagar a conta dele. Sendo a TV uma das principais financiadoras do futebol na atualidade, por que não criar um produto que atenda os seus interesses?

Com o título de “Segunda Campeã”, o Sportv refaz, no Brasil, o modelo que consagrou a popularização do esporte no país nos anos 80 pela TV Bandeirantes. Se, naquela época, a “Faixa Nobre do Esporte” era sinônimo de entretenimento ao vivo para o consumidor na TV (que o diga o Italiano às 11h de domingo, ou a sinuca com Rui Chapéu), nas duas últimas décadas esquecemos desse saudável hábito de pensar o esporte também para quem é um dos importantes propagadores dele.

Finalmente enxergamos que o futebol precisa ser pensado para a TV. E isso vai muito além do que apenas adequar o horário da partida para os anseios da grade de programação. O esporte pode oferecer conteúdo diferenciado para os seus parceiros de mídia. Essa foi a chave que transformou os campeonatos europeus em grandes produtos.


Cartola mostra poder de Fantasy Game no Brasil
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Erich Beting

Apresentado pela Globo com certa pompa pouco antes do início do Brasileirão, o Cartola, único Fantasy Game oficial do Campeonato Brasileiro, já começa a mostrar o potencial mercadológico que existe dentro do nicho dos fanáticos por uma modalidade esportiva.

Nesta semana, o Grupo Globo anunciou que a versão PRO do game já conta com 100 mil assinantes. Isso significa que cerca de R$ 4 milhões entrarão nos cofres da empresa por conta do jogo virtual (leia aqui). A pergunta que fica é. E os clubes de futebol, estão abocanhando parte dessa fatia?

Quando negociam seus direitos de TV, ainda mais no modelo individual, os clubes abandonam a possibilidade de realizar esse tipo de ação por conta própria. E, ao entregarem para a Globo a exploração comercial dessas outras atividades, os clubes abrem mão de conseguirem ampliar a fonte de receita com o futebol e, mais do que isso, de se relacionar diretamente com o torcedor.

Outras modalidades poderiam, a seus modos, ter seus fantasy games também aqui no Brasil. Imagine o que representaria, hoje, para Superliga ou NBB ter 20 mil pessoas cadastradas pagando cerca de R$ 40 por temporada para poder jogar? E oferecer esse tipo de relacionamento com um torcedor fanático pela modalidade a empresas?

Nos EUA, onde o modelo de negócios foi criado lá nos anos 90 com a NFL, o mercado hoje está amplamente desenvolvido e muito mais complexo. Ligas e clubes sabem que essa é uma propriedade que, se bem explorada, amplia a relação com o torcedor para além das disputas esportivas e cria um canal de relacionamento constante com o fã.

Isso, na ponta final do negócio, significa incremento de receita e até mesmo ampliação do conhecimento sobre o tipo de torcedor que se relaciona com o esporte. Claro que, para fazer o fantasy game, é preciso investimento em tecnologia e um trabalho de análise de dados posterior, para poder saber quem é o consumidor dele.

Por isso mesmo, não é por acaso que partiu da Globo a iniciativa de desenvolver o Cartola como uma unidade de negócios. Cabe ao esporte, agora, se mobilizar para entender que é ele, e não a mídia, quem deve fazer o investimento nesse tipo de negócio.

O Cartola mostra que há espaço para o Fantasy Game no Brasil. E que isso pode ser um ótimo negócio para o esporte.


“Ema, ema, ema, cada um com seu problema”…
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Erich Beting

CT do Corinthians, 11 de dezembro de 2013. Roberto de Andrade, então diretor de futebol do Corinthians, apresenta Mano Menezes como novo treinador do clube. Naquela época, fervia o caso Héverton, jogador que foi escalado pela Portuguesa, numa história ainda mal contada, sem condições de jogo na última partida do Brasileirão daquele ano. A Lusa estava para ser rebaixada, e o dirigente do Timão foi interpelado sobre o que achava do caso. Roberto se esquivou, tentou não falar muito mas, no final, emitiu a expressão que dá título ao post de hoje e que explica bem boa parte dos atrasos do futebol brasileiro.

“Então, ema, ema, ema, cada um com seu problema”, disse Roberto de Andrade para não responder, mas já respondendo, sobre o que pensava do caso da Portuguesa.

A Lusa praticamente começou o início de seu fim naquele episódio. Um clube tradicional do país, que revelou excelentes jogadores de tempos em tempos e que, afundado por erros próprios e de terceiros, caminha para uma melancólica subexistência, para desespero dos Gomes, Pintos, Medeiros, Sás e tantos outros lusitanos que tem na Portuguesa a razão de se apaixonar pelo futebol.

CT do Corinthians, 15 de junho de 2016. Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, explica a saída de Tite do comando técnico do clube, por decisão única e exclusiva do treinador, chamado para dirigir a seleção brasileira.

“Estou puto com a CBF para ser bem exato, pela maneira que eles vieram. Não recebi um telefonema do presidente da CBF. Esse é o respeito. Hoje, tentou falar comigo depois de tudo resolvido. O Corinthians merecia mais respeito”, disse Roberto de Andrade, para então depois vociferar: “Estou rompido com a CBF. Não preciso dela para nada”.

A frase dita dois anos e meio antes por Roberto de Andrade poderia, muito bem, ser usada para explicar o que aconteceu no caso Tite.

Ema, ema, ema…

E é exatamente esse o problema do pensamento da maioria no futebol brasileiro atualmente. Não há qualquer preocupação com o todo. Assim como há dois anos e meio o futuro presidente do Corinthians achava que não deveria se preocupar com o problema alheio, hoje o presidente da CBF também acha que não precisa procurar um filiado para conversar sobre a possibilidade de “roubar” o técnico do time.

O Corinthians depende, e muito, da CBF. Assim como depende da Portuguesa, do Flamengo, do Palmeiras ou do Audax, que há 15 anos nem existia.

O futebol necessita, urgentemente, de união. O que já era ruim ficou ainda pior em 2011, quando o Clube dos 13 entrou em colapso como representante comercial de parte dos clubes da Série A do Brasileiro. A partir dali, o conceito do “ema, ema, ema” se transformou em regra.

O que acontece hoje no futebol do Brasil é reflexo da cultura de achar que não se depende de ninguém para nada. De achar que a grandeza de um clube é maior do que a grandeza do futebol coletivamente.

Talvez hoje Roberto de Andrade saiba que não se pode ignorar os demais. Sim, já se vão quase três anos da infeliz frase do então dirigente de futebol do Corinthians, hoje presidente. Mas a forma como se conduziu todo o episódio envolvendo a ida de Tite para a seleção foi mais um claro exemplo de que nossos dirigentes não entendem que o ecossistema do futebol está, todo ele, entrelaçado.

O “ema, ema, ema, cada um com seu problema” precisa rapidamente se transformar em “ema, ema, ema, todos nós temos o mesmo problema”. Só assim o futebol poderá começar, gradativamente, a sair de uma crise de identidade como provavelmente só vimos após a derrota na Copa do Mundo de 1950.


A luz vermelha para o futebol brasileiro acaba de ser acesa
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Erich Beting

Antes era uma luz amarela. Uma camisa de time estrangeiro vestida por um garoto na rua. Uma loja que tinha o uniforme infantil do Milan, mas não o do Palmeiras (apesar de serem feitos pela mesma fabricante). Uma chamada na mídia que dá mais espaço para o Instagram de Cristiano Ronaldo do que para o time grande brasileiro que iria jogar naquele mesmo dia.

Mas agora a luz está vermelha, pulsando firme.

No final de semana, a audiência da final da Liga dos Campeões da Europa na TV aberta foi maior do que a da transmissão do futebol brasileiro. E, pior, maior do que a exibição de dois clássicos estaduais válidos pela principal competição do país (detalhes aqui).

De quem é a culpa? Realmente temos de acabar com essa história de achar que resolvemos nossos problemas a partir do momento em que achamos um culpado.

O futebol brasileiro precisa trabalhar, e muito, para retomar seu espaço com o torcedor. Como parte da indústria do esporte, não podemos aceitar que um jogo de Brasileirão, ainda mais um clássico, seja menos popular que uma partida de futebol europeu.

Foi exatamente essa disparidade de qualidade de produto que fez com que o basquete mundial perdesse espaço para a NBA. E, após literalmente engolir todos os outros países, a própria liga americana percebeu que, agora, precisar ajudar no desenvolvimento do esporte mundo afora, começando inclusive pelo Brasil, ao se associar ao NBB.

Será que vamos continuar a abandonar nosso produto a tal ponto que uma Uefa, Premier League ou Bundesliga decidam vir até aqui para nos recolonizar?

Há pouco começou um movimento dentro da CBF para mexer um pouco no Brasileirão. Apesar de duramente criticadas, as medidas de criar hino da competição, dar padrão na entrada dos times, dos campos, etc. são formas de tentar começar a mexer no produto. É pouco, mas é um início de algo.

O problema é saber se o plano estratégico para o Brasileirão foi desenhado ou se estamos tomando medidas no escuro, percebendo que é preciso melhorar algo, mas sem nem conseguir saber por onde.

Se, antes, havia apenas uma preocupação, agora a luz vermelha foi acesa para todos neste final de semana. É preciso, urgentemente, que o futebol comece a unir esforços para recuperar o torcedor. Do contrário, quando formos olhar de novo, os europeus voltarão com duas bolas debaixo do braço para refundar o futebol no Brasil…


Primeira rodada mostra que só Band perde sem futebol
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Erich Beting

O resultado da primeira rodada de transmissão do Campeonato Brasileiro com exclusividade pela Globo mostrou o quanto, para a emissora carioca, o fim do acordo com a Band é benéfico, ao passo que, para a emissora paulista, a perda do futebol terá impacto negativo na audiência (detalhes aqui).

A justificativa da Band de que a conta do futebol não fecha tem, naturalmente, todo sentido. O problema é imaginar o quanto, para a emissora, deixar aos poucos de ser o “canal do esporte” (algo que ela já deixou faz tempo, mas ainda se beneficia do histórico) pode representar em relação a faturamento e audiência de outros programas da casa, esportivos ou não.

Curioso notar que a saída da Band, agora, acontece mais ou menos pelo mesmo motivo que fez a emissora deixar de ser “O canal do Esporte”, no começo dos anos 2000. Naquela época ocorreu o primeiro grande salto nos valores dos direitos de transmissão no país, e a Band optou por não arcar com os altos custos.

A decisão, então, foi sair do “Canal do Esporte” para o “Canal da Mulher”, algo que estava começando a representar bons índices de audiência e relativo sucesso comercial. O projeto, porém, não foi para  frente. Após cinco anos, mais ou menos, a emissora voltou a buscar no esporte o conteúdo que a diferenciava.

Sem o mesmo fôlego da época áurea do “Show do Esporte”, e com Luciano do Valle mais em Recife do que em São Paulo, a Band foi aos poucos retomando o esporte em sua grade. Já com a saúde debilitada e sem a mesma autonomia de antes, Luciano também não conseguiu retomar o projeto que consagrou a emissora nos anos 80/90, com a segmentação do conteúdo antes do advento da TV a cabo.

O sucesso do MasterChef ajuda a Band a ver que há vida fora do futebol. O problema é que, à exceção do programa da terça-feira à noite (um dia em que o futebol é tradicionalmente fraco em conteúdo), geralmente a audiência da emissora fica oscilando entre 1 e 4 pontos.

A reprise dos Simpsons, com certeza muito mais barata que o futebol, foi trágica na audiência.

A justificativa da crise para não apostar num produto que dá prejuízo financeiro, mas garante constância e status ao canal poderá, no médio prazo, mostrar-se à Band uma aposta tão desastrosa quanto foi a escolha por ser o “Canal da Mulher” no início dos anos 2000.

Ao renegar o futebol, a Band vai contra aquilo que a consagrou na audiência. Enquanto isso, a Globo sorri sozinha com a conquista de mais pontos na audiência. Isso, sem dúvida, fará com que a renegociação do pacote futebol, em 2017, seja benéfica para a emissora. No fim das contas, o futebol será o único produto que teve um acréscimo na audiência média de um ano para o outro.

E isso tem um impacto no próprio faturamento publicitário da Globo que, por sua vez, deverá compensar tranquilamente a saída da Band das transmissões do futebol…


Jogo na segunda à noite? É disso que o povo gosta!
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Erich Beting

A grande novidade da festa de abertura do Brasileirão foi a implementação do jogo na segunda-feira às 20h. A medida causa um impacto gigantesco na disputa cada vez mais acirrada pela audiência da TV paga no Brasil. Se, até a próxima semana, a segunda à noite era reservada para as mesas de debates nos canais esportivos a cabo, agora as emissoras terão de achar outro dia, ou horário, para o bate-papo.

O jogo da segunda à noite pode ser considerado o “Jogo do Sportv”. Vai atender aos anseios da emissora, mas também começar a retomar algo que fez parte da cultura futebolística do país nos anos 80.

Naquela época, a segunda à noite era o dia do Campeonato Carioca na TV aberta. Nossa geração cresceu vendo, na Band, o “Canal do Esporte”, o Januário de Oliveira consagrar Super Ézio, Peri de Pelotas, Charles Guerreiro, Valdir Bigode, Valdeir “The Flash” e, claro, os bordões “É disso que o povo gosta”, “Tá lá um corpo estendido no chão” e mais um monte de outras diversões pelos gramados de Moça Bonita, São Januário, etc.

Foi cruel, muito cruel, quando os contratos de TV começaram a se profissionalizar, em 1997, e mudamos radicalmente os horários de transmissão no país. A turma seguinte à minha, que hoje está na faixa dos 20 aos 30, não pegou mais essa distribuição de futebol brasileiro pela TV, aberta ou fechada, ao longo de quase toda a semana.

A realização de um jogo importante na segunda à noite é fundamental para resgatar o princípio da relação entre o esporte e a televisão. A TV é a principal parceira comercial do esporte. Isso não é exclusividade do Brasil. Em qualquer lugar, quem mais coloca dinheiro numa competição é a TV. Depois, muito depois, estão as verbas dos patrocinadores.

Como principal parceiro comercial do esporte, a TV tem o direito de ser bem atendida. É preciso pensar em como dar a ela a maior audiência possível, para recompensar o investimento que é feito no produto pelo qual ela paga milhões. Até porque, ao fazer isso, o esporte diretamente se beneficia de uma maior audiência e maior promoção de seu evento.

É fundamental o futebol brasileiro tentar, constantemente, atualizar suas ideias e pensar em mudanças para deixar o torneio atrativo para todos: atletas, clubes, patrocinadores, mídia e torcedores. O futebol não tem consumo apenas às quartas, quintas, sábados e domingos.

Nos EUA, onde há a maior taxa de ocupação das arenas esportivas e índices altos de audiência, o esporte sabe que, para ser consumido, precisa ter presença constante na telinha.

Afinal, como diria Januário, “é disso que o povo gosta”…


Saída da Band mostra como futebol recua como negócio
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Erich Beting

A saída da Band da transmissão do futebol é um baque. Não só para a emissora, mas também para os clubes, que ficam ainda mais enfraquecidos na relação de poder com a Globo, detentora mais do que exclusiva dos direitos de transmissão do futebol.

A presença de apenas uma emissora transmitindo o Brasileirão é a prova de que o futebol reflete a crise econômica pela qual o país passa. Como a Máquina do Esporte mostrou outro dia, o futebol depende hoje da verba de instituições financeiras, respondendo por 70% dos patrocínios na Série A nacional.

Hoje, há apenas seis patrocinadores máster nas camisas de 16 clubes (Banrisul, Caixa, Crefisa, Intermedium, MRV e Schin), enquanto outros quatro não possuem um patrocínio principal. Há dez anos, o cenário era completamente diferente, com várias marcas investindo no esporte mais popular do país.

O futebol, como negócio, enxugou. E a saída da Band é um reflexo disso. Não há mais tanta empresa interessada em pagar a conta, seja ela de patrocínio na camisa, seja ela de transmissão de jogos. Com menos empresa envolvida, há menos dinheiro disponível no mercado para que o futebol seja sustentável.

Ao perder um parceiro de transmissão do futebol, os clubes perdem mais ainda um poder de barganha com a TV. Hoje, há dois financiadores do futebol no Brasil, a Globo e a Caixa. Por mais que tenham evoluído na busca pela diversificação de receitas, especialmente com o sócio-torcedor, os clubes estão cada vez mais dependentes das duas fontes para conseguirem manter suas estruturas.

De nada adianta os valores de TV e de patrocínio terem aumentado substancialmente nos últimos anos se isso significa que os clubes estão cada vez mais dependentes das fontes pagadoras desses altos valores.

A pior notícia da saída da Band do futebol é a certeza de que não há alternativa para os clubes de desenvolverem seu produto sem depender excessivamente da verba da Globo. O maior problema está no fato de que os clubes entregam à Globo toda a necessidade técnica de produção das imagens dos jogos. Assim, a transmissão de um jogo fica muito encarecida, já que a emissora precisa não só pagar pelos direitos como custear toda a transmissão de um jogo.

Na Europa, Alemanha e Inglaterra evoluíram seus campeonatos a partir do instante em que passaram a ditar a regra sobre os direitos de transmissão, sendo as ligas as responsáveis por gerar as imagens das competições. Isso aumentou o valor pago pelas TVs e permitiu uma pulverização maior da transmissão em diferentes empresas, cada uma pagando aquilo que pode por um pacote de jogos.

Por aqui, seguimos caminhando no sentido inverso. Além de teimar em manter a negociação individual, os clubes não percebem que estão deixando o produto cada vez mais na mão de poucas empresas. Vai levar muito tempo ainda para o futebol se recuperar disso. E a saída da Band é só mais um capítulo dessa difícil caminhada…


Clubes verão, agora, o erro cometido em 2010
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Erich Beting

Até que foi pouco o espaço de tempo necessário para que os clubes percebessem a burrada que fizeram ao abandonar a negociação coletiva pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. Pouco mais de cinco anos após terem forçado a implosão do Clube dos 13, imaginando que, sozinhos, conseguiriam valores maiores da televisão, os clubes se deparam agora com uma dura realidade.

A proposta inédita do Esporte Interativo para a TV paga (detalhes aqui) tem tido grandes dificuldades para conseguir ser ouvida dentro dos clubes, que são obrigados a levar a seus conselhos a proposta para que haja um novo canal exibindo os jogos do Brasileirão, algo que há 20 anos não acontece.

Não se discute, aqui, qual acordo seria mais vantajoso para os clubes. Mas sim o modo como essa negociação precisa ser feita.

Em vez de sentar-se à mesa com apenas uma instituição, que tem como objetivo único olhar a perspectiva do negócio, o Esporte Interativo e a Globo precisam, atualmente, negociar individualmente com 20 clubes, que por sua vez levam depois para um grupo de centenas de pessoas descompromissadas com a gestão e sem menor conhecimento técnico, as propostas para análise.

Sem ter uma entidade única para negociar os direitos comerciais do Brasileirão, os clubes perdem seu trunfo para poder barganhar mais dinheiro da TV, seja ela a Globo, a Turner, a Fox ou qualquer outro grupo. As negociações individuais fazem com que as necessidades colocadas à mesa também sejam individuais. E, assim, os valores dançam conforme a música de cada um.

Isso tem feito com que, agora, os clubes encontrem enorme dificuldade para entender e negociar uma proposta que leve a valores antes inimagináveis os direitos para a transmissão pela TV paga do Brasileirão. Isso não significa aceitar a emissora A ou B, mas simplesmente poder ter unidade na negociação.

Em 2010, havia previsto que, em 15 anos, o país perceberia a burrada que fez ao abandonar qualquer negociação coletiva da televisão. Pelo visto será em metade desse tempo que perceberemos isso. Poderia ser uma evolução, mas, ao que tudo indica, esse debate proposto pela entrada do Esporte Interativo nas negociações do Brasileiro só fará, mesmo, com que os clubes continuem sem saber a força que podem ter.


Ainda vai rolar muita água na questão dos direitos de TV
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Erich Beting

No mais tardar depois do Carnaval devemos ter o anúncio do que parecia impossível. Após 20 anos a Globosat deve perder a exclusividade na transmissão do Campeonato Brasileiro (detalhes aqui). Desde 1997 que a emissora de TV paga reina absoluta na telinha do Brasileirão.

Foi naquela época, aliás, que os direitos de TV no Brasil viram o primeiro grande salto, saindo dos R$ 3 milhões ao ano (sim, você não leu errado) para então impensáveis R$ 97 milhões pela exclusividade, em todas as mídias, da Globo.

Agora os valores voltam a ser exorbitantes. A Esporte Interativo propôs um contrato, por clube, próximo de R$ 28 milhões ao ano apenas para os jogos da TV paga. A oferta não foi coberta pela Globosat, que hoje paga, para 20 equipes, R$ 60 milhões anualmente.

O salto dos valores na TV paga é uma realidade cada vez mais próxima do Brasil. Depois de ficar anos e anos sem concorrência em relação aos valores pagos, a Globosat/Sportv viu surgir, nos últimos cinco anos, dois gigantes mundiais da televisão dispostos a investir bastante no Brasil. Com Fox/Fox Sports e Turner/Esporte Interativo, a briga agora é tão forte quanto a existente nos Estados Unidos, o maior mercado de mídia do mundo.

Mas não é possível ter a certeza de celebração do fim de um domínio da Globo sobre os direitos de TV no Brasil. Até agora, a Esporte Interativo tem contrato para apenas 5 clubes. Desses, três estiveram recentemente na Série B, o que é indicativo de que não necessariamente os times estarão, lá em 2019, na elite nacional. Há, ainda, os fatores TV aberta e pay-per-view, que podem ser empecilhos para essas equipes terem algum outro tipo de relação com a Globo.

O fato é que, nessa disputa toda, para variar, o futebol pode sair com a sensação de vitória, mas com uma derrota contundente. Como explicitado longamente aqui no blog lá em 2011, quando começou a ser quebrado o Clube dos 13, a comercialização individual de direitos tem como consequência a desvalorização do produto que é comercializado com a televisão e, pior ainda, a perda de outras receitas pelos clubes por um embate que faz alguns times não ganharem espaço na TV por conta de contratos individuais.

Ainda tem muita água para rolar.

O caminho mais natural é que, uma vez assinado o acordo EI e clubes, mais para frente haja um acordão EI e Globo para a adequação de todos os clubes dentro das grades das televisões. Esse é o caminho necessário para o futebol traçar daqui para a frente.

Do contrário, o dinheiro a mais que os clubes pensam que receberão vai, no médio prazo, virar contra eles próprios.