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Mudança na Fifa não pode ser rápida
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Erich Beting

A Fifa elegeu Gianni Infantino como seu novo presidente (veja aqui). Suíço, como era Joseph Blatter, o dirigente terá de ser hábil para tentar resgatar a imagem da entidade. Prometendo inchar a Copa do Mundo, como fez João Havelange em 1978, o dirigente terá de ser hábil para tentar aproximar os dirigentes e tornar a entidade governável.

Tudo isso nos dá a nítida impressão de que nada muda dentro da Fifa. Mas como poderia ser diferente?

Apesar do furacão que devastou toda a entidade, a transição de poder no mundo do futebol não pode ser rápida.

Após 41 anos de um sistema montado por João Havelange e aprimorado por Joseph Blatter, é praticamente impossível imaginar que haja alguma liderança de fato nova dentro do sistema político do futebol. É, a grosso modo, querer um político diferente daquilo que temos hoje em nosso país.

Se houvesse uma mudança radical na Fifa, entraríamos num período muito difícil para a gestão da entidade. Pior até do que ela enfrenta atualmente. É preciso, hoje, uma liderança que promova a mudança necessária, mas não pode ser uma figura sem qualquer trânsito dentro do mundo da bola.

A mudança radical, com raríssimas exceções, nunca é o melhor caminho para realmente melhorar algo. A Fifa tem um produto espetacular nas mãos, que é a Copa do Mundo, mas um sistema completamente corroído pela corrupção de seus gestores.

Se, com habilidade política, um novo/velho gestor conseguir implementar mudanças que significativamente alterem a estrutura de negócios da entidade, a Fifa conseguirá, finalmente, transformar sua realidade.

É impossível achar que uma mudança radical seja a solução para a Fifa. Mas é imperativo, para a entidade, que quem for assumir a gestão tenha um plano de governo que seja maior que o plano de poder e dinheiro que sempre seduziu quem sentou na cadeira de presidente até hoje.


Fla-Flu ou Rolling Stones? O Maracanã é palco para quem?
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Erich Beting

Se você tivesse de escolher entre assistir a um show de Rolling Stones ou a um Flamengo x Fluminense pela quinta rodada do Estadual do Rio, qual seria a sua opção? Parece um tanto lógico que os gestores do Maracanã tenham optado pela primeira opção e decidiram abrir mão do clássico mais tradicional do Rio de Janeiro para um domingo à tarde.

Muito mais curioso, porém, foi ver a reação um tanto quanto indignada de muita gente achando um absurdo que o “Maior do Mundo” abrisse mão do que foi sua essência para abrigar um show de rock.

O problema, aqui, não é o fato de o Maracanã, hoje, ser uma empresa privada e, como tal, precisar de lucro. O buraco é bem mais embaixo. Para o consumidor, o que é mais atrativo? Ver um jogo de futebol pela quinta rodada da primeira fase do Estadual do Rio, mesmo que seja um Fla-Flu, ou a uma das mais consagradas bandas de rock da história?

O futebol perdeu de tal forma o bonde da inovação que ainda não percebeu que o vilão não é quem rejeita assistir a um jogo, mas quem deteriorou o produto de tal forma que se chegou a isso. Não há qualquer atrativo para se ver um clássico Fla-Flu no Estadual do Rio, até porque os dois clubes fazem questão de dizer que não lhes interessa jogar a competição.

Entre o Fla-Flu ou o Rolling Stones, não há dúvida do que o público prefere. O futebol continua a achar que o errado são os outros, enquanto não trabalha para fazer com que haja muito mais atratividade para o seu espetáculo do que para o dos outros.

Já faz um bom tempo que o principal programa do final de semana deixou de ser, com sobras, o futebol.


Ranking de estádios é início de caminho para o país
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Erich Beting

A criação de um sistema nacional de pontuação para os estádios de futebol no Brasil é o início de um caminho para que o país comece a entender a importância de criar padronizações para buscar, então, elevar o nível do esporte. O ranking apresentado pelo Ministério do Esporte vai gerar polêmica e, para variar, vamos debater quantas bolas deveriam ser catalogadas para esse ou aquele local.

E é exatamente a existência desse tipo de debate que precisa acontecer. Se não começarmos a tentar criar padrões e determinar o que é um padrão de excelência A ou B, ficaremos sempre na idade da pedra lascada no que se refere às questões da indústria do esporte do Brasil.

Quando, há nove anos, o Brasil recebeu goela abaixo a realização da Copa do Mundo, não havia qualquer forma de se criar um planejamento do que queríamos com o evento. O resultado está claro agora.

Foram feitos projetos completamente surreais de previsão de receitas para os estádios novos, baseados em mercados maduros e consolidados como o dos Estados Unidos. A situação piorou com complicações em quase todas as arenas no pós-evento causadas pelas investigações que revelam o submundo das negociatas entre empreiteiras e governos.

E, no fim das contas, o que restam são estádios lindos, mas ainda sem qualquer previsão de quando poderão se pagar. Sim, estádio foi feito para fechar a conta! E as modernas arenas da Copa do Mundo não podem correr o risco de não conseguirem gerar o mínimo de receita para equilibrar as contas e proporcionar um salto de qualidade no futebol a partir da melhora da qualidade no atendimento ao torcedor.

Ao criar o sistema de qualificação dos estádios, começamos a criar subsídios para a indústria entender o que pode ou não ser um bom negócio nas arenas. O maior desafio que o Ministério do Esporte tem pela frente, porém, é ser técnico o suficiente para dar notas baixas a arenas que tiveram milhões investidos pelo governo em sua construção.

Se não houver qualquer ingerência política sobre a classificação das arenas, começaremos a ter a formação de uma indústria ao redor dos novos estádios. No mercado europeu, desde a criação da Amsterdam Arena, há 20 anos, que os próprios clubes e gestores perceberam que ter estádios mais modernos é crucial para ter vantagem competitiva nos médio e longo prazos.

Por aqui, com uma indústria ainda em formação, ainda é necessária a ingerência do governo para criar padrões e tentar pavimentar o caminho a ser seguido. Parece que, agora, a estrada foi pavimentada. Resta saber se os gestores dos estádios vão conseguir usar esse início de ordenação para construir uma indústria relativamente sólida.


Receita para impedir o êxodo chinês
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Erich Beting

O desmantelamento do Corinthians ligou o sinal de alerta para um fenômeno que já vinha acontecendo nos últimos três anos no futebol brasileiro, mas que não se dava muita atenção. A China decidiu importar pé-de-obra brasileiro e ao que tudo indica não vai parar com isso tão cedo.

O projeto chinês, que começou a ser colocado em prática em 2010, é de fazer da liga de futebol um produto forte. Mas, para isso, os chineses precisam aprender a jogar bola. Para quem imagina que a marca da seleção brasileira está acabada, foi o fato de o país ser o único pentacampeão do mundo e ter criado jogadores como Pelé, Romário, Ronaldo e tantos outros que fez os chineses acreditarem que somos o país do futebol.

Fama, como se sabe, não é algo que acaba da noite para o dia. Se o 7 a 1 for a exceção, e não regra a partir de agora, a história do apagão vai virar verdade. O Brasil quase sempre está entre os oito melhores a cada Copa do Mundo. É impossível achar que não sabemos jogar futebol. Ainda mais para quem não entende muito do riscado.

E aí é que entra o ponto. Se a China quer tanto o pé-de-obra brasileiro, como fazer para acabar com o êxodo?

A fórmula não é mágica. Mas ela requer planejamento, paciência e, principalmente, persistência. A única forma de acabar com o interesse do jogador brasileiro em aceitar ir para o desconhecido é dar, a ele, perspectiva de continuar por aqui.

A história de colonização do mundo, bem ou mal, foi feita dessa forma. Quem decidiu ir para o desconhecido foi quem não tinha muita perspectiva no lugar onde estava. Não foram os reis e nobres portugueses que desembarcaram por aqui, mas emissários dos governantes, que não tinham muita alternativa de vida a não ser ir construir a vida noutro lugar, onde as terras eram novas.

O futebol brasileiro hoje não oferece perspectiva ao jogador. Qual o plano que o Corinthians tinha para Renato Augusto e Jadson, seus dois melhores jogadores no ano passado? Eles tinham um projeto de seguir atuando pelo clube? Havia um trabalho pensado em usar a imagem deles para criar produtos, aproximar do torcedor, aumentar a receita do clube e do atleta a partir disso?

Além disso, qual a perspectiva que Jadson e Renato tinham para o mercado de futebol na América do Sul? Qual a atratividade de jogar o Paulistão, a Copa do Brasil, o Brasileiro e, até mesmo, a Libertadores? Os jogos são entre os melhores do mundo, que todos param para assistir? Qual o bônus de disputar essas grandes competições? O que isso mexe com a vaidade do atleta, com o objetivo pessoal dele?

Dentro desse cenário, a diferença entre estar no Brasil ou na China é mínima.

Há a barreira cultural, o desafio de se viver num país praticamente oposto ao nosso. É por isso que, ao aparecer um caminhão chinês cheio de dinheiro para esses atletas, a resposta mais lógica é o “sim”.

Para evitar o êxodo chinês, o futebol brasileiro precisa oferecer algo além de bons salários aos atletas. Sem um bom produto, jogar em Itaquera ou em Pequim dá na mesma. Ou melhor. Rende muito mais aos cofres do jogador.

 


Esporte é promoção ou exposição?
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Erich Beting

Nos próximos dias o futebol brasileiro vai provar mais um pouco do gostinho de como se promove um evento esportivo com a participação de quatro clubes do país na Florida Cup. Torneio praticamente amador no que diz respeito ao apelo que tem com o público local, a competição que reúne cada vez mais equipes do mundo todo na Flórida dá ao país um pouco do sabor que é fazer uso da promoção para gerar interesse num evento.

Nos últimos dias, vimos diversas ações brotarem sobre o evento. Ronaldo como garoto-propaganda, Ronaldinho Gaúcho como atração em campo, jogo da NBA como forma de divulgação do evento e até de exposição dos clubes brasileiros lá fora (leia mais aqui).

Na prática, o que os americanos tentam fazer é ampliar o interesse para as pessoas sobre o evento. Com o futebol em estágio primário de evolução nos Estados Unidos, o que os promotores tentam fazer é criar diversos motivos para que o público tenha, de alguma forma, contato com a Florida Cup.

Fazer uso da promoção para atrair público, mídia e, então, patrocinadores, é um conceito mais do que batido em mercados onde o marketing já é mais desenvolvido. Nos Estados Unidos, onde o marketing é norma, o conceito é tão banal que é impossível pensar em fazer esporte sem ele.

Já no Brasil, os clubes da Primeira Liga mostram que estão ávidos por, primeiro, fechar o contrato de TV para então lançar a competição e, aí, quem sabe começar a atrair o interesse do público e os patrocinadores.

A preocupação dos dirigentes, logicamente muito válida, é de que o clube não perca dinheiro com o evento. Mas como achar que um negócio, em seu primeiro ano de vida, não vai ter prejuízo?

Se fosse mais do que um movimento político, a Primeira Liga deveria saber disso. Talvez os dirigentes de Atlético-MG, Fluminense e Inter pudessem usar a ida aos Estados Unidos para ver como é possível aplicar alguns conceitos primários de promoção de um evento esportivo na promoção da liga.

O que falta em boa parte ao esporte no Brasil é entender a importância da promoção na cadeia evolutiva da transformação de uma competição esportiva num produto. É só por esse caminho que será possível construir um negócio realmente rentável para todos.

Quando prioriza a exposição em detrimento da promoção, a Primeira Liga está desperdiçando a capacidade que tinha de se tornar um bom produto. Por mais novo que ele seja.


Abílio Diniz seria o fato novo que a CBF precisa
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Erich Beting

A tentativa de articulação de Marco Polo Del Nero para manter tudo aparentemente como está na CBF tem hoje um dia decisivo, com o término do prazo para inscrições de candidatos para a vaga de vice-presidente da região Sudeste, posto que era ocupado por José Maria Marin.

Há uma corrente, que envolve gente graúda e preocupada com mudanças no futebol, que tenta convencer Abílio Diniz a se lançar candidato.

Nenhum dos 27 presidentes de federações, e dos vice-presidentes que estão na CBF, conseguem ter a imagem forte de Abilio, nem o preparo dele para conduzir mudanças realmente profundas no futebol, mesmo o executivo sendo, até hoje, apenas um fã ardoroso do esporte.

Diniz tem uma oportunidade única.

O problema é que são menos de 3h disponíveis para que ele dê o sim para a proposta. E, se aceitá-la, com a mudança de forças no colégio eleitoral da CBF, conseguiria aplicar a manobra do bem em cima da manobra que vem sendo articulada para que Delfim Peixoto não consiga ser o novo presidente da entidade com a renúncia mais do que certa de Marco Polo Del Nero.

Abilio Diniz Seria o fato novo de que a CBF tanto precisa.

Acossada por crimes cometidos pelos três últimos presidentes e revelados pela Justiça dos Estados Unidos a partir da delação premiada de J. Hawilla, a CBF, por uma questão de sobrevivência, tem de começar a realmente mudar. Até para o nosso futebol não viver da geração espontânea que insiste em nos manter fortes, apesar de tudo.


Briga na CBF mostra que troca de poder sempre é lenta
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Erich Beting

Quando Ricardo Teixeira se afastou da presidência da CBF, em março de 2012, ficou claro que abria-se ali um vácuo de poder dentro do futebol brasileiro. Depois de quase 25 anos, a maior liderança saía de cena para não mais voltar (hoje percebe-se quão bem antecipado foi esse movimento feito por Teixeira).

O levante que começa a ser organizado pela Primeira Liga e pela carta dos clubes paulistas (detalhes aqui) mostra que qualquer troca de poder, quando feita de forma democrática e pacífica, requer tempo. Não bastou Teixeira renunciar há quase quatro anos. Muito menos José Maria Marin ser preso em maio deste ano.

Só quando Marco Polo Del Nero caiu acusado pelos mesmos crimes de seus dois antecessores é que os clubes perceberam que haveria condições para levantar a voz contra o poder constituído há quase três décadas.

Em 1987, os clubes decidiram dar um tapa na enfraquecida e falida CBF para assumirem o poder e criarem a Copa União. Desgastada pelos sucessivos desmandos da ditadura militar, que levaram o Brasileirão de 1986 a ter 80 clubes, 680 jogos e terminar só em fevereiro de 1987, a CBF teve de aceitar a imposição dos clubes e entregou a eles o controle do Brasileirão.

Agora, quase 30 anos depois, são os sucessivos desmandos de gestões fraudulentas que levam a CBF a ter de aceitar a nova imposição dos clubes. Se não for agora, será no próximo ano. Mas, da mesma forma que não havia condições para a entidade trazer para si a gestão do futebol jogado entre clubes naquela época, agora também não há.

O poder começa, lenta e gradualmente, a trocar de mãos.

Lá atrás, o movimento de transferência de poder aos clubes acabou a partir do instante em que Ricardo Teixeira, amparado pelo sogro João Havelange, então presidente da Fifa, assumiu o controle do futebol, em 1989. Hoje, é difícil imaginar que exista alguém que consiga ter poder suficiente para recolocar os clubes sob controle.

A mudança representa, nesse começo, um sopro de esperança. O problema a resolver, na cada vez mais natural Liga do Brasileirão, é o contrato de televisão. Se continuar negociado de forma individual, a liga não terá força econômica suficiente para levar o poder todo para as mãos dos clubes. Para essa mudança acontecer, porém, a mentalidade dos dirigentes de clube precisa mudar radicalmente.

É exatamente nesse sentido que paira a grande dúvida sobre o quão eficiente será, para o espetáculo futebol, a transferência de poder que se aproxima.


A Copa do Brasil vai superar o Brasileiro?
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Erich Beting

Essa pergunta, não dessa forma, veio à cabeça quando entrei no saguão do aeroporto de Congonhas, antes de vir ao Rio de Janeiro participar do Seleção Sportv. Em dez minutos, contabilizei pelo menos dez camisas ou adereços do Palmeiras espalhadas pelo local. Da mesma forma, o buzinaço pela cidade, até 2h, 3h da manhã, lembravam a todo instante da conquista palmeirense de horas antes.

Claro, havia um nó que travava a garganta alviverde muito grande e de muito tempo. Natural que, numa conquista como a da quarta-feira, essa desentalada se fizesse mais sentida do que o normal.

Mas duas semanas atrás, quando o Corinthians empatou com o Vasco e foi pela sexta vez campeão brasileiro, não houve tanto estardalhaço, não havia tanta celebração em ser Corinthians como houve agora com o Palmeiras.

Desembarquei no Rio e, pelo Facebook recebi essa pergunta de um amigo carioca: “Acha que a Copa do Brasil possa estar “ganhando” do Brasileirão em interesse do público em acompanhar os jogos e o desfecho?”

Ele baseou a pergunta no que viu pela orla de Copacabana em 2014 e 2015. Bares com aglomerações de torcedores para acompanharem o jogo decisivo do campeonato. Cruzeirenses, atleticanos, santistas e palmeirenses, no Rio de Janeiro, possivelmente também em outros lugares do país.

Como sempre costumo dizer, não somos um país acostumado a planejamento de médio/longo prazo. Historicamente nunca tivemos estabilidade econômica suficiente para isso. Dessa forma, temos dificuldade em entender a lógica de uma competição por pontos corridos. São raros os anos em que o título só é decidido na última rodada. Os clubes não têm essa cultura, a torcida, a mídia, etc.

Esportivamente, os pontos corridos são mais justos. Isso é inegável. Reduz-se a probabilidade do acaso, dá-se muito mais condições para quem se planeja melhor ser o campeão.

Mas será que economicamente esse é o modelo mais interessante para o futebol? Quando a Copa do Brasil passou a ser disputada com todos os clubes mais fortes do país, tivemos sempre um desfecho de campeonato com casa cheia e altos índices nas transmissões da TV.

Somos um país acostumados a uma final. É o último capítulo da novela, a decisão do vencedor de um concurso de culinária, ou de uma competição entre cantores. Os índices prévios de audiência do jogo entre Palmeiras e Santos apontam para uma “vitória” no Ibope em relação ao que foi o Vasco x Corinthians que decidiu o título brasileiro. A comparação, aliás, talvez nem seja válida. Ao mesmo tempo que jogavam os times pelo Brasileirão, outras equipes estavam em campo, entre elas o São Paulo x Atlético-MG que também ajudou a decidir o título.

A atenção estava, portanto diluída.

Assim como em 2014, quis o destino que o Brasileirão já tivesse definido o título antes do campeão da Copa do Brasil. Isso também ajudou bastante na promoção do duelo entre Palmeiras e Santos.

Mas é inegável que, aos poucos, a Copa do Brasil começa a se transformar num produto mais atrativo que o Campeonato Brasileiro. Pelo menos em sua reta decisiva, a competição consegue concentrar a audiência e fazer com que o torcedor se envolva mais com o jogo.

Se ela poderá passar o Brasileirão como produto é muito cedo para dizer, já que há muito menos jogos em disputa num torneio em comparação ao outro. Mas, ao que tudo indica, o Brasil terá, muito provavelmente, duas grandes competições, comercialmente falando, para se trabalhar.


Que Brasil queremos ser?
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Erich Beting

O final de semana prometia. As atuais campeãs e vice-campeãs mundiais estariam em Brasília para a disputa de um torneio amistoso de handebol. Desde o Mundial de 2011, esse talvez tenha sido o maior evento de handebol no país.

O Quatro Nações reuniu Brasil (campeão de 2013), Sérvia (vice), Argentina (campeã do Pan-Americano) e Eslovênia. O evento é um exemplo de como os gestores esportivos no país têm sido mais ambiciosos nos últimos anos. Não só eles têm se arriscado a realizar eventos maiores e mais atrativos para o público, mas têm feito algo com alto nível técnico, como prometia ser o último evento pré-Mundial da Dinamarca.

O esforço da confederação em trazer os países para jogar tinha sua compensação. Transmissão ao vivo pelo Sportv dos duelos, presença de público assegurada e, ainda, ações de ativação dos patrocinadores da CBHb, que conseguiam, assim, pegar carona pré-Mundial. O roteiro foi bem desenhado a ponto de o time brasileiro se encontrar com Dilma Rousseff durante a semana, entregar uma camisa para a presidente e ainda anunciar dois anos de renovação do patrocínio com os Correios.

Apesar de ainda depender de verba estatal, o handebol passou um recado de seriedade, de preocupação com o público, com os patrocinadores e com os atletas, que teriam a chance de estar “em casa” pré-Mundial, junto da família e num momento de celebração.

Mas…

Choveu em Brasília, e o ginásio Nilson Nelson, palco dos jogos, ficou encharcado. Sim, um ginásio que há sete anos recebeu R$ 15 milhões para reforma. Mas que, sem manutenção, tinha algumas goteiras que molharam a quadra. O jogo de abertura do Quatro Nações, na sexta-feira à noite, foi adiado para o dia seguinte, com o público recebendo o pedido de desculpas feito pelas jogadoras, ali na quadra.

Ou seja, as atletas tiveram de assumir a bronca pela falha grotesca no ginásio pago com dinheiro do torcedor e, com selfies, autógrafos e afagos, acalmaram os ânimos de torcedores mais exaltados (o ingresso para o jogo era 1kg de alimento não-perecível).

No sábado, novamente com as jogadoras em quadra, as goteiras foram contidas, mas a umidade no ginásio era tanta que, para manter a segurança das atletas, decidiu-se paralisar o Brasil x Eslovênia com 19 minutos jogados. Os jogos foram transferidos para um ginásio fechado e sem condições de abrigar câmeras para a transmissão pela TV.

No final das contas, o Quatro Nações, que tinha tudo para ser o torneio de promoção do handebol brasileiro, se transformou num amistoso fechado para as seleções, sem presença de público, sem transmissão da TV.

O descaso com o ginásio Nilson Nelson não é novidade. Em 2011, um Mundial de patinação foi suspenso pelo mesmo problema. Naquela época, eram só três anos que haviam se passado desde a reforma de 2008, feita para o Mundial de futsal realizado na cidade.

O ponto, porém, é que o problema não é só no Distrito Federal. Hoje, há menos de cinco ginásios em condições de receber eventos esportivos de alto nível no país. E, na lista, quase sempre ficam como opções Maracanãzinho, HSBC Arena e Ibirapuera, todos no concorrido eixo Rio-São Paulo de eventos.

O Brasil é capaz de pensar grande e realizar grandes feitos, como a realização de um torneio amistoso que envolve campeão e vice-mundial de uma modalidade. Mas o Brasil também é capaz de, por descaso, permitir que esse evento acabe simplesmente porque existem goteiras (!!!!) no principal ginásio da capital federal.

Qual o Brasil que queremos ser?

Aquele capaz de grandes feitos ou o Brasil de pequenos defeitos que insistem em nos colocar para baixo?


F-1 voltou a ser esporte de nicho. É o adeus à TV aberta?
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Erich Beting

O Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 de 2015 entrará para a história como a pior audiência na TV aberta na história. O 15 de novembro que valeu a Nico Rosberg o vice-campeonato mundial reforçou a certeza da Globo, de que não há mais apelo para a categoria ter todas as suas etapas transmitidas ao vivo na TV aberta.

Os 10,5 pontos alcançados pelo GP Brasil (leia aqui) representa a mesma audiência que teve o GP do Canadá, até então a melhor performance da temporada 2015 da F1 na TV aberta. O que eles têm em comum? O fato de terem sido exibidos no mesmo horário, com largada às 14h.

O número acende a luz vermelha sobre o futuro da F1 na Globo. Sempre a prova brasileira rendeu os melhores índices para a emissora. Neste ano, apenas igualou o recorde. Isso significa, claramente, que a F1 não é mais um objeto de desejo do público em geral. Ela continua a ser um grande produto, mas voltado para um nicho, que representa, na melhor das hipóteses 10 a 12 pontos de audiência em seu melhor cenário.

Na linguagem da Globo, esse é o primeiro passo para que a Fórmula 1 deixe de ser enquadrada como um bom produto para a TV aberta. Sim, como bem frisou Felipe Massa pré-GP, não é apenas a audiência da F1 que está caindo. A TV aberta, como um todo, perdeu audiência. A mídia pulverizou e, assim, ficou ainda mais difícil emplacar qualquer produto na programação.

O nível de exigência para um produto se adequar à TV aberta é a cada dia maior. Não tanto no conteúdo, mas na aderência do público. O grande dilema nos últimos anos é exatamente como fazer com que esse conteúdo consiga ser aderente ao máximo.

Seguindo essa lógica, quando a audiência da F1 não consegue representar a liderança no Ibope e, mais ainda, quando não consegue sair de um determinado patamar de alcance de público, ela deixa de ser um produto com diferencial para ser exibido em TV aberta.

E aí é que entra todo o enrosco, que deixa o fã de F1 frustrado, mas que representa o retrato fiel da realidade da categoria no Brasil. A categoria vive, hoje, do público que é apaixonado pelo automobilismo. Ela não consegue mais atrair a atenção do não-fanático, do “modinha”, do cara que liga a TV simplificando a disputa na F1 para o “chegar é uma coisa, passar é outra completamente diferente”.

No começo dos anos 80, quando a F1 era restrita um nicho, a Globo decidiu, por um ano, abrir mão dos direitos de transmitir a categoria. Justamente naquela temporada Nelson Piquet foi vice-campeão mundial, e a F1 passou a entrar na era em que mais se transformou num produto de massa no país, com a dobradinha Piquet-Senna colocando quase sempre o país no lugar mais alto do pódio.

Hoje, em período de vacas magras em relação a pilotos carismáticos para o público em geral, a Fórmula 1 voltou a representar um nicho. Dificilmente ela conseguirá justificar a transmissão ao vivo de todas as suas etapas, ainda mais com boa parte delas ocorrendo em horários que são ruins para aumentar a audiência da televisão.

Nunca foi tão fácil para a Globo justificar a saída da F1 da sua grade. A única alternativa plausível para ela permanecer na programação é vender todas as cotas de patrocínio para a temporada. O que, a cada ano que passa, fica mais difícil de acontecer, já que a audiência derrapa a cada curva de um novo ano…