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Modelo do futebol precisa ser revisto
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Erich Beting

A renúncia de Carlos Miguel Aidar, somada à crise da Fifa, reforça a necessidade de o modelo do futebol ser revisto.

A origem do futebol no Brasil remonta à formação social do país. Inicialmente, o futebol era jogado pelos clubes, que eram formado muitas vezes por grupos diferentes de pessoas. Os ingleses, os italianos, os alemães, os operários, os brasileiros, etc. Aos poucos, esses grupos começavam a querer rivalizar entre eles, literalmente para ver quem era o “melhor da cidade”.

Foi assim que surgiu, em 1902, o Campeonato Paulista. Até então, nada além da reunião de confrades, de clubes que tinham meramente como objetivo se divertir ao final de semana, mas numa brincadeira que foi ficando um pouco mais séria ao longo do tempo.

Os campeonatos pelo país evoluíram, desde os anos 1930 o jogador passou a ser considerado profissional, a televisão entrou na jogada, os patrocinadores também e, agora, o marketing dentro dos clubes começa a decolar. Mas e a estrutura de gestão dessas entidades?

Esse é o ponto que, literalmente, não mudou desde que Charles Miller trouxe as primeiras bolas para o Brasil.

Continuamos a ter o futebol regido por entidades que nada mais são do que meras associações de pessoas. E isso gera um ambiente completamente propício para a corrupção.

Tal qual acontece na política, o dinheiro no futebol não tem dono. A dor do prejuízo sempre cai sobre o clube, nunca sobre o dirigente responsável pela dívida. As acusações que recaem sobre Aidar, de recebimento de comissões sobre transação de jogadores e também em contratos de patrocínio, nada mais são do que o escancaramento da realidade dentro do futebol.

Enquanto os contratos não se tornarem públicos, será impossível vigiar a rota do dinheiro no futebol. Que o diga a tabelinha Neymar-Barcelona, ou o pagamento recém-descoberto de Blatter a Platini, que possivelmente mudará o rumo futuro da Fifa e, consequentemente, do futebol.

O modelo de associação clubística para o futebol funcionou até o momento em que se profissionalizou o esporte. Desde que os jogadores passaram a receber salários, criou-se a necessidade de fluxo de caixa para o futebol, e isso já exigia, desde aquela época, que o clube passasse a ser tratado como uma empresa, tendo como maior finalidade as conquistas, mas pensando o tempo todo em como atuar para gerar receita, montar times fortes e ganhar títulos.

Como não fez isso há 80 anos, o futebol passou a viver a mercê da honestidade de quem está no comando. O problema é que é muito dinheiro orbitando na esfera futebolística, com a maior parte dele indo para o atleta. Nos últimos 30 anos, o montante de grana envolvido se tornou ainda maior.

O ambiente do futebol, do jeito feudal como é organizado, é prato cheio para que a farra com o dinheiro alheio engorde os cofres errados. E isso se transforma em algo completamente incompatível quando comparado ao que se transformou o futebol na atualidade.

As decisões a serem tomadas pelo comitê de reforma da Fifa nos próximos meses podem ser fundamentais para começar, de cima para baixo, a mudar isso. O futebol vive hoje numa encruzilhada. As principais divisões de cada país são absolutamente profissionais dentro de campo, mas precisam urgentemente se tornar profissionais fora dele. Não dá para considerar, da mesma forma, uma equipe da Série A com uma de Série D.

O modelo não pode continuar a sendo o mesmo de 80 anos atrás.


Quanto pior, melhor?
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Erich Beting

O futebol da seleção brasileira parece ter entrado no mesmo espiral da política nacional. O grupo do “quanto pior, melhor” aparentemente está se tornando cada vez maior e mais influente.

Ontem, na derrota para o Chile, a seleção brasileira mais uma vez expôs os defeitos de um time ainda em formação, acossado cada vez mais pelo “fantasma do 7 a 1” e, ainda pior, sem contar com o principal jogador e referência da equipe. Pela frente, teve também o melhor time do continente na atualidade, embalado, jogando em casa.

A derrota para o Chile era previsível. O Brasil vive uma transição de gerações, atuando com um time bastante jovem, e recupera-se de um enorme trauma sofrido dentro de casa.

Mas o que aconteceu na derrota brasileira, para mim, foi novidade. Pela janela de casa, o primeiro gol chileno foi acompanhado de uma corneta tocada por um torcedor solitário. No segundo gol, porém, outras comemorações surgiram, acompanhadas até mesmo de um rojão estourando ao longe.

Comentei no placar em tempo real do UOL e no Twitter a situação. Apenas um comentário foi de que havia muito estrangeiro morando aqui. Os demais foram elogiosos à atitude e relembrando, sempre, os 7 a 1.

 

A situação é alarmante.

A má fase do time é um fenômeno absolutamente compreensível e passageiro. O Brasil ficou 24 anos entre o tri e o tetra mundial, penou antes de se classificar e ganhar o Mundial de 2002, escorregou nas últimas Copas. Mas, nunca, o torcedor se engajou tanto contra a seleção.

A crise é de imagem. A conexão de boa parte da torcida com a seleção, que havia se perdido dentro de campo, agora se transformou em histeria pelo fim de qualquer credibilidade do esporte fora das quatro linhas.

Quando o presidente da CBF precisa estar mais preocupado em não viajar com o time nacional do que em criar uma identificação da equipe com o torcedor, realmente a conclusão que se chega é a de que, quanto pior, melhor.

O futebol nunca esteve tão ruim fora das quatro linhas. O problema é que os dirigentes olham para os lados e não conseguem tomar uma atitude que mostre que é possível sair do buraco.

Qualquer semelhança com o momento político vivido pelo país não é mera coincidência. A troca do projeto de governo pelo projeto de poder acaba, no médio e longo prazo, com o modelo vigente. Ainda mais se ele está calcado numa estrutura corrupta.

Existe, hoje, além de uma crise técnica, uma enorme crise de imagem no futebol que faz o torcedor desertar não só para Miami, mas para qualquer rival brasileiro dentro de campo. Será que chegaremos ao ponto de até para a Argentina ver gente torcendo?

Assim como a crise econômica não é boa para o país, a derrocada da bola brasileira não é benéfica. Ela só causa a sensação de que não há realmente como acreditar que dias melhores virão e que qualquer crise tem seu ápice e, depois que se ajusta, volta a calmaria.

O problema é que, assim como no universo da política, não há no mundo da bola exemplos que nos indique que, no momento, exista algo mais eficiente para provocar a mudança do que a terra arrasada.


O futebol precisa de um Uber para quebrar a banca
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Erich Beting

A crise que sangra a Fifa há quatro meses começa a mostrar seus mais diferentes desdobramentos no universo do futebol, que por sua vez revelam a total falta de inovação que existe na cadeia de comando da modalidade.

A situação atual da principal entidade do futebol beira o ridículo. Um resumo da tragicomédia. Em 27 de maio, sete dirigentes ligados à Fifa são presos na Suíça por corrupção, em investigação feita pelos Estados Unidos. Dois dias depois, o presidente da entidade é reeleito para mais quatro anos à frente da entidade que comanda desde 1998. No discurso de posse, afirma que continuará sentado em seu trono para resgatar a imagem da entidade.

Quatro dias depois, o presidente afirma que não vai mais ficar na entidade. Mas que a renúncia não é imediata. Ela só vai acontecer dali a nove meses, literalmente para ter tempo de ser gerido o novo sucessor. Cerca de quatro meses depois, o secretário geral da Fifa se vê como principal ator de um esquema para revenda com ágio de ingressos da Copa do Mundo, em operação que lhe rendeu alguns milhões de dólares.

A Fifa, então, decide suspender o dirigente. Seu presidente, por sua vez, reitera que não há nada de errado nisso. Dias depois, é a vez de o presidente ser o alvo de investigação, acusado de má gestão e apropriação indevida de recursos. Nessa investigação, o principal candidato a sucessor do trono tem revelado um pagamento, com dez anos de atraso, de um serviço prestado para a Fifa. Pagamento feito sem qualquer ágio pelo atraso, numa data que coincidia com o período pré-eleitoral da entidade, em que o dirigente que recebeu o dinheiro era o principal candidato de oposição e, misteriosamente, desistiu da candidatura…

Passa-se mais uma semana e quem financia a Fifa decide falar. Os principais patrocinadores da entidade, alguns com mais de 60 anos de relacionamento com ela, pedem para o presidente renunciar, “pelo bem do jogo”, apropriando-se do slogan que a Fifa gosta de usar para justificar a imposição de seu “padrão” goela abaixo de quem recebe qualquer evento da entidade.

O que faz o presidente? Pede para sair? Não! Ele diz que continua no cargo… Agora, é o próprio comitê de ética da Fifa que decide propor o afastamento, por três meses, do presidente. Exatamente quatro meses antes da eleição, o que não lhe daria tempo para fazer muita coisa na preparação do sucessor. Aliás, sucessor esse que agora é uma grande incógnita, já que o favorito ao trono também tem o pedido de suspensão temporária após ter recebido esses tais de 2 milhões de francos suíços com dez anos de atraso.

E o que faz o restante do universo do futebol frente a tanto descalabro?

Até agora, o que se vê surgir são alguns projetos de criação de ligas de clubes. Baseados meramente na premissa de que “tem de se dar poder aos clubes”. Como acreditar que algo realmente diferente virá desses clubes, em sua maioria deficitários e sem apresentarem um modelo de gestão que seja diferente do status quo vigente?

Há 45 anos a Fifa criou o modelo de gestão de eventos baseado na venda dos direitos de transmissão e patrocínio, com o atleta se tornando uma espécie de figurante de um produto maior.

As propostas “inovadoras” que surgem até agora são meramente réplicas desse modelo com novos atores. Seja uma agência de mídia turbinada por dinheiro de parceiros (no caso da Liga dos Campeões das Américas), seja uma liga de clubes que de inovador só tem o discurso de que o clube é mais capaz do que a CBF para transformar o futebol num produto (no caso da Liga Sul-Minas-Fla-Flu).

O futebol precisa urgentemente de um Uber. Um modelo de negócios novo, que rompa com o paradigma vigente, que traga inovação e possibilite mudar o ecossistema. Só assim será possível acreditar que realmente poderá ter uma mudança para melhor na modalidade…


São Paulo vai demorar para resgatar imagem
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Erich Beting

O barraco político em que se meteu o São Paulo e que teve seu ápice nesta segunda-feira fará com que o clube demore a resgatar o prestígio no mercado, especialmente naquele interessado em patrocinar um time de futebol.

É impressionante como, em meia década, o São Paulo saiu de exemplo de gestão, clube três vezes campeão do mundo e único tricampeão nacional seguido para um clube com os mesmos vícios de política arcaica que predominam e destroem a reputação do futebol brasileiro.

A áurea de vanguarda que cercava o clube foi-se embora com a soberania que o São Paulo imaginou ter conquistado.

Não por acaso, dos 20 times que jogam a Série A do Nacional hoje, o Tricolor está ao lado de Santos e Goiás como os únicos sem um patrocinador principal na camisa. Não que ter o patrocínio máster seja sinônimo de eficiência na gestão do clube, mas a ausência dele muitas vezes indica que algo não corre bem.

Como já destacado aqui no blog, o São Paulo é um dos poucos clubes que estava trabalhando numa nova proposta a ser oferecida para o mercado. Ciente da dificuldade do momento econômico, o marketing são-paulino foi às empresas oferecendo alternativas que gerassem maior engajamento e retorno do que a simples exposição na camisa de jogo do clube.

Agora, porém, o marketing tricolor terá de recuar.

Se fosse um país, poderíamos dizer que as agências de análise de risco reduziram o “grau de investimento” no São Paulo. A forma como o clube tem ocupado o noticiário, antes mesmo do entrevero entre Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerreiro, dificulta demais no convencimento das empresas de que vale a pena investir no clube.

O que amenizava, até então, era o desempenho esportivo do time, na disputa por vaga na Libertadores e na semifinal da Copa do Brasil. Mas, agora, a grave crise política se sobrepõe a esse cenário e interfere diretamente no negócio.

O trabalho que a nova diretoria são-paulina terá é de convencer o mercado de que o clube é seguro para se investir. E esse resgate de imagem é que é trabalhoso. O São Paulo tem, pela frente, o desafio de voltar a ser a referência, o modelo que deveria ser seguido pelos outros.

Os dois principais rivais do Tricolor, Corinthians e Palmeiras, passaram por semelhante problema na última década, tendo como desafio ainda maior o resgate de confiança também técnica, já que ambos foram rebaixados para a Série B nacional. O São Paulo precisará se espelhar nos rivais para entender como precisa tapar o buraco e estancar a crise política.

Mas o processo de resgate de imagem do clube para o mercado patrocinador deverá demorar, pelo menos, uns dois a três anos. Em tempos de concorrência cada vez mais acirrada pela verba das marcas, isso pode representar uma perda de desempenho esportivo muito grande.


Entrave maior para uma liga nacional é comercial
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Erich Beting

Alexandre Kalil, designado principal executivo da Liga Sul-Minas, deu algumas entrevistas após a reunião que houve na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e deixou claro que a ambição do grupo de dirigentes que foram à entidade é, em algum momento, formatar um projeto para finalmente tirar do papel uma Liga Nacional, que represente diversas divisões do futebol brasileiro.

Numa entrevista de Kalil ao Globoesporte.com (leia a íntegra aqui), porém, fica claro onde há hoje o maior entrave para a criação de uma liga. Diz o dirigente/executivo:

“O futebol brasileiro precisa de uma conta simples: quem vende, tem que cuidar. Quando houver a Liga, vamos cuidar da Série A, B, C, da quarta divisão. Vamos ter responsabilidade na hora de dividir. Não adianta pensar que eu tenho que ganhar mais que os outros”.

Kalil foi um dos poucos dirigentes que, em 2011, quando começou a implosão do Clube dos 13, se opôs ao modelo individual de negociação dos direitos de TV. Tanto que o Atlético-MG, clube que presidia, foi o último a assinar o contrato com a Globo, que acabou com a única negociação coletiva de direitos que existia no futebol brasileiro, provocando uma regressão de pelo menos 30 anos na organização da modalidade no país.

Agora, essa mesma situação criada no início da década se volta contra os clubes. Os contratos de cessão dos direitos do Brasileirão estão assinados com a Globo por pelo menos mais três anos.

Essa situação já cria o primeiro impasse para a formação de uma liga nacional. A maior receita que existe, em qualquer liga, em qualquer esporte, é a de televisão. E ela precisa seguir, como bem apontou Kalil, uma divisão democrática de receita, para fazer prevalecer a lógica da competitividade esportiva em vez da competitividade econômica.

Como conseguir convencer os clubes, principalmente os de maior torcida, de que eles terão de abrir mão do conforto da situação atual para diminuir a sua receita e tornar sua equipe menos competitiva?

Se os clubes olhassem para além do próprio umbigo, ou para além do fluxo de caixa defasado, seria absolutamente normal ter esse pensamento. O modelo de liga que comercialmente é mais eficiente, que é o dos Estados Unidos, parte do princípio de que todos os clubes são sócios de um negócio maior. O desempenho esportivo não pode ser unicamente dirigido pelo poderio econômico. Isso gera desinteresse do torcedor nesse negócio no médio/longo prazo.

Mas, por aqui, a lógica comercial é colocada em segundo plano. O dirigente, em vez de pensar no todo, olha o seu problema. É natural, é do ser humano. Mas, hoje, isso é um absoluto entrave para que haja condições de se criar uma liga nacional.

Na análise que faz, Kalil é preciso ao dizer que “esse tipo de coisa só nasce quando há vontade dos clubes”, respondendo sobre a possibilidade de a Liga Sul-Minas virar, com o tempo, a Liga Nacional.

A questão é que, além de haver uma miopia na direção de boa parte dos clubes sobre a necessidade de eles serem unidos fora de campo, o principal contrato que daria força econômica à liga hoje está dividido entre os clubes, com cada um recebendo, muito provavelmente, mais individualmente do que estaria se houvesse um contrato coletivo, em que seria obrigatório ser mais democrático na divisão das receitas e no financiamento das demais competições menores, subordinadas à liga.

A boa notícia, porém, é que os clubes finalmente entenderam que, se for para criar uma liga, ela não pode representar apenas alguns clubes, mas uma competição. Esse já foi um primeiro grande passo para que não aconteça, numa eventual criação da liga, o mesmo erro de princípio que, em pouco tempo, acabou com a Copa União e, posteriormente, o Clube dos 13.


Ronaldinho e a visão deturpada de “negócio” no futebol
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Erich Beting

O Fluminense exaltou o “retorno de marketing” que Ronaldinho Gaúcho proporcionou ao clube em menos de três meses que esteve com um contrato assinado com o clube. Diz o Flu que a presença do astro, mesmo que apagada, gerou maior receita com bilheteria e adesão ao programa de sócio-torcedor do clube.

Quando foi anunciado, em julho, Ronaldinho realmente representou um incremento de receita para o Flu. O clube rompeu a barreira dos 30 mil sócios-torcedores pela primeira vez, com um recorde de 9 mil adesões durante o mês. Além disso, no clássico contra o Vasco, teve até então seu melhor público e renda no Brasileirão (detalhes aqui).

Mas a euforia ficou estacionada aí.

Depois que “entrou” em campo, Ronaldinho passou a decepcionar o torcedor. E, com o time mal em campo, o sonho não se realizou. O Flu estacionou no programa de sócios (só teve mais 2 mil novos sócios nos dois últimos meses) e a receita de bilheteria minguou com o time muito mal em campo.

O caso evidencia uma miopia do esporte no Brasil, acentuada desde o fenômeno Ronaldo-Corinthians. O futebol no Brasil precisa entender que não é só pelo fato de o jogador ter tido boa performance esportiva no passado e ser um ídolo nacional que ele, necessariamente, será um bom negócio.

O primeiro motivo para isso é lógico. Um clube tem como seu principal negócio a performance esportiva. Ele não pode achar que o torcedor espera dele, em primeiro lugar, lucro no balanço financeiro ou estupendas arrecadações com contratos comerciais. Sim, de uma forma indireta ele almeja isso, mas desde que essas duas coisas sejam revertidas para a construção de um time vencedor. O torcedor só passou a se preocupar com valores de patrocínio e balanços financeiros nos últimos anos pelo que eles podem representar em termos de performance esportiva.

O erro do Fluminense, como já havia sido do Flamengo, foi acreditar que Ronaldinho poderia gerar retorno dentro e fora de campo para o clube. Já faz tempo que ele não consegue trazer as duas coisas. Na realidade, apenas nos dois anos mágicos do Barcelona que ele foi capaz de trazer retorno nos dois campos.

Se, esportivamente, Ronaldinho foi indiscutível, fora de campo sua capacidade de gerar receita quase sempre esteve restrita ao momento bom que ele viveu dentro de campo. O Atlético Mineiro que o diga.

Em nenhum aspecto a passagem-relâmpago de Ronaldinho pelo Fluminense foi bem-sucedida. Dentro de campo, se é que ele esteve lá, ela foi um fiasco. Fora dele, só correspondeu quando ainda era uma promessa. A partir do instante em que o campo passou a interferir na percepção do torcedor, o encanto se quebrou.

Na esteira do sucesso Ronaldo-Corinthians, os clubes apostaram em nomes que, pretensamente, poderiam ser ótimo negócio para gerar caixa, movimentar a marca e criar um caso de sucesso. Adriano, Kaká e Ronaldinho são a prova de que isso não é possível.

O futebol tem de entender o que é negócio e, mais ainda, como fazer negócio. Achar que é só chamar um medalhão para as vendas dispararem é um erro primário. E que, quase sempre, acarreta num desequilíbrio financeiro – e técnico – para o time.


Lógica da grana começa a se destacar no Z-4 do Brasileiro
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Erich Beting

A lógica da bola é a lógica da grana num campeonato disputado pelos pontos corridos. Num sistema em que a imprevisibilidade é reduzida ao máximo possível, quanto mais dinheiro um time tem, mais possível se torna a sua conquista. Geralmente por haver melhor estrutura, pelo dinheiro poder fazer o time contar com melhores atletas e, também, por dar mais fôlego para aguentar a competição em alto nível.

No cenário em que os direitos de transmissão são negociados individualmente, os patrocínios sofrem com o abismo criado pela região econômica do país e o tamanho da torcida, esse cenário tende a ficar ainda mais evidente. Mas, no Brasil, essa lógica raramente se aplica, uma vez que a má gestão dentro dos clubes praticamente anula o efeito da grana sobre a bola.

Só que, em relação ao rebaixamento, a lógica da grana começa a ficar evidente. Os clubes com menor arrecadação começam, na fase final da competição, a abrir o bico. Negociando jogadores e tendo problemas de lesão sem conseguir substituir os atletas titulares à altura, os clubes de menor poder aquisitivo começam a ficar para trás.

Hoje, o Z-4 nacional é composto por Joinville, Vasco, Figueirense e Chapecoense. A presença de três catarinenses, mais o Avaí, logo ali perto, não é de se estranhar. Com quatro clubes do estado na Primeira Divisão, até mesmo o fôlego de investimento das empresas nos times locais teve de ser dividido. E isso, no fim das contas, causou uma perda de receita em potencial pelos clubes.

Todos os clubes possuem patrocinadores distintos. Mas, muito provavelmente, alguns não conseguiram um outro aporte por conta do receio que algumas empresas ainda têm de se associar a uma equipe e deixar a outra “órfã”. Isso acontece com frequência em estados polarizados, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A verba acaba sendo “dividida” pelos clubes, que ganham menos quando poderiam faturar mais. No caso de Santa Catarina, com quatro clubes para serem agraciados, a conta simplesmente não fecha, e a empresa desiste de investir no futebol.

Ah, mas o que faz o Vasco no Z-4 mesmo tendo uma das cinco maiores torcidas do país? Como dito no começo do post, a lógica da grana só não se aplica mais no país por conta das falhas na gestão. O Vasco é o exemplo perfeito dessa realidade na ponta de baixo da tabela…


O futebol não tem espaço para um CEO
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Erich Beting

Durou pouco mais de três meses o trabalho de Alexandre Bourgeois como uma espécie de CEO do São Paulo. A saída do executivo sem ter tido tempo para apresentar minimamente qualquer resultado é só mais uma queda de um CEO no mercado do futebol. E deverá ser a realidade para qualquer novo executivo que queira se aventurar no cargo.

O problema não é do futebol em si, mas da cultura de empresa familiar que impera na maioria dos negócios no país.

O futebol, assim como a maioria das empresas, tem uma estrutura de gestão completamente centralizadora e cujas tomadas de decisão são feitas por um núcleo muito pequeno de gente, geralmente de confiança de quem está “no comando”.

Esse cenário é tão enraizado na cultura brasileira que é só acompanhar um pouco o noticiário de economia e negócios para perceber como o tema de “governança corporativa” é recorrente. As empresas procuram profissionalizar a gestão, trazem isso no discurso mas, na prática, a teoria é outra.

São poucas as corporações com faturamento similar ao dos clubes de futebol que possuem, em sua gestão, um corpo técnico altamente profissionalizado e não tenha ainda as principais decisões sendo tomadas com base no “feeling” do dono ou da família controladora da empresa.

Se já é difícil ver algo assim no mundo dos negócios, o que dizer de um ambiente ditado pela paixão e pela política?

A gestão no esporte tem quase todas as nuances da gestão pública. A sustentação do modelo não está no negócio, mas na política. Um presidente não é eleito e reeleito apenas pelos bons resultados apresentados. Sendo assim, colocar a figura de um CEO no esporte e esperar que, como mágica, tudo se torne profissional é tão difícil quanto imaginar que a solução para os problemas em qualquer governo seria colocar um executivo de mercado abaixo do presidente, governador ou prefeito e, com um excelente trabalho de gestão, tudo estaria resolvido.

No esporte, o maior erro que os dirigentes cometem, ajudados pela falta de conhecimento da mídia, é acreditar que, ao se colocar um CEO, os problemas de gestão serão rapidamente solucionados e, de uma hora para outra, o clube passará a obter desempenho esportivo e resultado financeiro.

Para que se profissionalize a gestão no esporte, não basta apenas ter um CEO. Se nenhum dos departamentos que são responsáveis pela existência do clube estiverem com profissionais que possam se dedicar integralmente ao negócio, o CEO será apenas um para-raio para a crise que vai acontecer invariavelmente numa entidade sem estar bem estruturada.

Essa é a mesma realidade encontrada pelos executivos em empresas de médio porte que decidem profissionalizar a gestão, mas ainda têm uma estrutura completamente centralizada no fundador da companhia, ou na família dele. Muitas vezes, o CEO não resiste à cultura familiar da empresa, que não abre mão da tomada de decisão centralizada e, mais ainda, não respeita toda a tecnicidade que o executivo possui.

No cenário do esporte, essa realidade é ainda mais crítica. O CEO precisaria, antes de tudo, ser político. Uma pessoa que teria de entender que a manutenção dela no cargo necessita de costura com quem é o dirigente “estatutário”, aquele que não recebe salário mas está todo santo dia no clube, influenciando as tomadas de decisão, mesmo sem ter qualquer comprometimento com a gestão.

É preciso, urgentemente, acabar com o mito de que um CEO é, obrigatoriamente, sinônimo de gestão profissional dentro de uma instituição esportiva. O cargo está longe de representar isso no ambiente corporativo, o que dirá então dentro do esporte, onde toda a estrutura de poder está atrelada à política, e não ao negócio.

O futebol não tem espaço para um CEO. Não da maneira como é hoje concebida a imagem dele.


Torcida organizada virou poder paralelo no futebol
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Erich Beting

A notícia da semana é o lançamento de um cartão pré-pago da Gaviões da Fiel(leia aqui). Numa parceria com uma empresa emissora de cartões e com a MasterCard, a torcida organizada formada por corintianos ofereceu um novo serviço a seu filiado. Um cartão que não precisa de comprovação de renda ou conta no banco para ser emitido. Basta que o associado pague R$ 14,90 para ter o seu cartão.

O negócio é a prova de que a torcida organizada é, hoje, um poder paralelo ao clube de futebol no Brasil. O cartão pré-pago da Gaviões leva o símbolo do Corinthians, já que a própria torcida tem como emblema o gavião “carregando” o símbolo do clube.

Isso faz com que o Corinthians possa ser judicialmente acionado pela Caixa, sua patrocinadora e detentora exclusiva do direito de emitir cartões com o símbolo do clube. E, mais ainda, faz com que o clube até deixe de ter uma receita alternativa, que viria do oferecimento desse mesmo serviço ao torcedor.

O caso ainda tem muito a se desenrolar, mas ele mostra como não há mais espaço para a torcida organizada no futebol profissionalizado no marketing.

Até pouco tempo atrás, as organizadas cumpriam um papel que deveria ser do clube. Elas acolhiam o torcedor, faziam com que ele se sentisse pertencente a um grupo e ofereciam alternativas para ele expressar a paixão pelo time. A quadra da torcida era o local onde ele encontrava seus iguais, vivia suas aventuras e compartilhava da mesma paixão. No estádio, empunhava a bandeira, gritava para incentivar os jogadores e azarar os adversários.

A torcida, sem ter a vigilância do clube, tomou conta do pedaço. Passou a oferecer viagens para acompanhar jogos, vendeu produtos com seu símbolo (e o do clube a tiracolo) e se autodenominou “representante” de todos os torcedores do clube, indo reclamar após a má performance da equipe, apesar de muitas vezes não representar nem 0,01% do universo de torcedores.

Isso, porém, mudou radicalmente na última década. Os clubes começaram a entender que a fonte de receita primária dele é o consumo do torcedor. Não só na ida ao estádio, na compra do pacote de pay-per-view ou da camisa oficial, mas em serviços para alimentar a paixão dele.

Foi por isso que vieram os programas de sócio-torcedor, proliferaram-se os produtos licenciados e, mais recentemente, criaram-se as lojas oficiais do clube, promovem-se encontro de torcedores com ex-jogadores, etc. O movimento, basicamente, foi o de fazer com que o clube assumisse a condição que antes era um “oferecimento” da torcida organizada.

Mas como acabar com 30 ou 40 anos de existência desses organismos de poder paralelo aos clubes? Aos poucos o negócio começa a minguar, e a última barreira de poder está próxima do fim.

Se o poder paralelo das torcidas tende a ficar ainda menor com a proliferação dos programas de sócios-torcedores, agora ele começa a ser sepultado com o começo do fim da farra de só conceder às organizadas os ingressos para as partidas dos clubes como visitantes.

O que geralmente acontecia é que o clube repassava às organizadas os bilhetes para os jogos fora de casa. Assim, elas organizavam caravanas e promoviam a ida de seus integrantes a essas partidas, quase como direito exclusivo. O torcedor comum tinha de ficar com a “sobra” da carga de ingressos.

Nos últimos anos, a curva tem mudado. Os clubes começaram a oferecer viagens a seus torcedores, ficando com a receita disso. Os novos estádios têm promovido a venda de ingressos ao visitante pela internet (Maracanã e Allianz Parque já fizeram acordo para realizar essa experiência, já colocada em prática no Palmeiras x Flamengo do primeiro turno). Os sócios-torcedores das cidades onde o clube joga geralmente são contemplados com alguma ação diferenciada.

O poder paralelo que as torcidas organizadas ainda tentam ter nos clubes está começando a se extinguir. E, nesse sentido, a tentativa da Gaviões da Fiel de criar um cartão usando a imagem do Corinthians pode ter sido um tiro no próprio pé, já que colocou o clube em conflito com seu principal patrocinador.

Os clubes perceberam que o torcedor é a chave para ter mais dinheiro. E, por isso, o poder econômico das torcidas organizadas precisará ser sufocado. O que possivelmente representará o início do seu fim. Pelo menos em relação ao tamanho que elas já tiveram há alguns anos.


Comunicado oficial – Arbitragem
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Erich Beting

Este blog vem a público esclarecer que repudia, veementemente, qualquer nota oficial de repúdio, de qualquer clube, sobre a performance da arbitragem numa determinada competição. Avisa, também, que já protocolou “junto à” direção da CBF uma reclamação formal pedindo que o clube que reclama da arbitragem nunca mais possa atuar nas competições em que ele trabalhe. Informamos ainda que iremos até o fim na busca por justiça, indo à Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, para recuperar aquilo que nos foi tirado.

Nas últimas semanas têm sido esse o teor dos “comunicados oficiais” dos clubes em relação aos erros de arbitragem que ocorreram de forma mais decisiva no Campeonato Brasileiro. Uma tremenda bobagem, que só serve para que os dirigentes alimentem, ainda mais, uma polêmica já levantada de forma completamente deturpada pela mídia, que tenta encontrar má fé onde só existe, de fato, má qualidade na execução do trabalho.

 

Uma das melhores decisões tomadas neste Brasileirão foi a de fazer do árbitro uma figura inquestionável dentro de campo. Por mais autoritária que tenha sido a regra, ela contribuiu, e muito, para que os jogadores parassem de fazer cena e se preocupassem em jogar de forma mais leal o jogo. É só ver que as reclamações acintosas, agora, são contra lances que realmente foram mal marcados pela arbitragem, como nas recentes mãos bobas que aconteceram.

Isso deu, de uma forma ou de outra, mais qualidade para o jogo. O atleta não reclamar é um enorme ganho para o torcedor. Mas isso gera, para a arbitragem, uma obrigação. Tendo menos pressão sob seus apitos, sobra mais lucidez para reduzir o erro.

Agora, a missão da CBF é caminhar para isso. Trabalhar para reduzir o erro. Fazer do trio de arbitragem um quinteto parece uma obrigação. Isso ajudaria demais a reduzir erros de interpretação ou até mesmo de má colocação do árbitro na área.

Os clubes, em vez de jogarem para a torcida com suas notas oficiais de repúdio, deveriam brigar por uma melhora na qualidade do espetáculo. Afinal, o que o futebol vende para o público é isso. Um bom jogo, com o menor grau de interferência externa possível, para assegurar ao torcedor o máximo de emoção que uma partida possa proporcionar.

Quando disparam seus “comunicados oficiais”, os dirigentes contribuem para a discussão vazia dentro da mídia se o árbitro age ou não de má fé. Muitos fazem isso para atrair a audiência e alimentar a discussão que permeia o ódio nas redes sociais.

Cabe ao esporte reduzir a pó esse tipo de atitude dos jornalistas. Mas, para isso, precisamos de menos “comunicados oficiais” e mais união em torno da resolução de problemas. De nada adianta transformar o árbitro na autoridade máxima de fato dentro de campo se, fora dele, a CBF continua a permitir que os clubes joguem contra o próprio produto.

Erros sempre vão acontecer. Para A, B ou C. Contra A, B ou C. Alguns são banais e não interferem no resultado do jogo. Outros são cruciais para definir uma partida.

No tênis, resolveu-se isso com a conferência eletrônica de bolas dentro ou fora. Ela é feita após um pedido do atleta, que tem um limite de pedidos por set. Se acerta a marcação, não perde esse direito. Se erra, perde.

O futebol poderia adotar isso. Termina o lance, o capitão do time pede o direito de os árbitros reverem a jogada na TV e, aí, tiram a teima. Com um limite de um pedido por tempo de partida, o sistema poderia funcionar da mesma forma que o tênis. Se ele acerta, volta a marcação. Se erra, não pode mais pedir. Isso evitaria o jogo de parar a toda hora, mas seria usado para os lances cruciais, aqueles em que todo o time não se conforma com a marcação.

Batalhar pela melhoria da qualidade do jogo, e não pela vitória do time, deveria ser o desejo de todo mundo que trabalha com esporte. A CBF, preocupada em fazer do árbitro a autoridade máxima dentro de campo, deveria agora se preocupar em transformar essa figura num profissional menos suscetível a erros que mudam a história do jogo.

Só assim o discurso de torcedor da mídia e dos dirigentes seria sufocado pelo bom senso. Mas parece que essa palavra causa calafrios na CBF…