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Mercado, aos poucos, volta ao ponto de origem
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Erich Beting

A notícia publicada aqui no UOL por Danilo Lavieri de que o Palmeiras vai anunciar nesta sexta-feira a ampliação do acordo com Crefisa e FAM (leia aqui), gerando consequentemente o fim das parcerias com TIM e Prevent Senior, mostra mais uma tendência de reordenação do mercado de patrocínio esportivo após o “fenômeno” Ronaldo e Corinthians.

Assim como o Palmeiras, o Atlético-MG e o Cruzeiro reduziram o número de marcas na camisa após acertarem os patrocínios com Dry World e Caixa, respectivamente. Com a saída de algumas outras empresas do mercado, alguns clubes também têm ficado com a camisa mais “limpa” neste ano em relação a 2015.

A “culpa”, nesse caso, não é tanto da crise, mas de um misto da falta de dinheiro no mercado com a falência do modelo criado pelos clubes desde 2009, quando o Corinthians loteou o uniforme para ter Ronaldo em campo.

Com a escalada de preço no mercado, somente se houver uma redução de marcas na camisa é que os patrocinadores vão se dispor a pagar o valor desejado pelos clubes. E é isso o que, aos poucos, começa a acontecer. O acordo do Palmeiras é mais um que se soma a essa situação.

Apesar de ainda ser o paternalismo (seja estatal ou de empresas de torcedores dos times) quem melhor paga os clubes, até mesmo quem desembolsa o dinheiro por amor ou benevolência sabe que é preciso ter retorno sobre o investimento que é feito.

O cenário da crise ajuda as marcas a cobrarem isso dos clubes. E, assim, tem-se um novo cenário dentro do esporte, com mais dinheiro nos patrocínios, porém menos marcas nas camisas. O que não inviabiliza o clube de manter os parceiros que estavam na camisa vinculados a ele, mas em outros projetos.

O que acontece agora não é novidade. Era até que relativamente comum no começo do milênio por aqui. A diferença, agora, é que há maior maturidade no mercado, além de uma gama de oportunidades abertas pelas redes sociais, que leva as marcas e os clubes a pensarem de que forma é melhor construir uma relação de patrocínio.


Com veto, CBF ligou a Primeira Liga
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Erich Beting

A CBF conseguiu fazer, pela Primeira Liga, mais do a própria entidade criada pelos clubes havia conseguido. A decisão de vetar o aval que havia sido dado para a competição dos clubes foi a melhor atitude tomada para que o torcedor se aproximasse do torneio.

Desde o seu nascedouro, a Primeira Liga tem encontrado dificuldades para existir. Briga entre os dirigentes, demora nas costuras políticas para definir a existência da competição, desencontro em declarações, falta de promoção do torneio para os torcedores. Os presidentes de clubes tinham, até ontem, enorme dificuldade para fazer o torneio se promover. Faltava foco para que os clubes pudessem se preocupar em fazer a Primeira Liga virar uma competição de interesse do torcedor.

O veto da CBF ao torneio, porém, parece ter ligado uma chama no torcedor. Se, até então, ele estava ali meio que em pré-temporada, só esperando ver no que ia dar, agora virou questão de honra ver – e consumir – a Primeira Liga. Até mesmo protesto em frente à Ferj, no Rio, está sendo agendado!

Por que isso acontece?

A CBF não conseguiu entender que, ao vetar a competição, ela está não apenas atrapalhando os dirigentes na formação de um movimento de diluição de poder. A entidade, ao brecar a Primeira Liga, fere diretamente o ego do torcedor. Quem é que pode determinar algo sobre a paixão da torcida?

Agora, parece ter virado questão de honra, para o torcedor, que a Primeira Liga exista. Como pode uma entidade que tem os três últimos presidentes acusados de crimes de corrupção, sendo que um deles está preso, se achar no direito de querer moralizar alguma coisa? Essa é a lógica básica que passa na cabeça do torcedor. E ela faz pleno sentido!

Uma coisa era a força dos clubes em criar um campeonato paralelo e, assim, conseguir fazer o negócio virar. Outra, bem diferente, é o torcedor comprar a ideia, desde o início, de que a Primeira Liga é um torneio para acabar com o círculo vicioso que corroeu boa parte do futebol pelo qual ele é apaixonado. Se, antes, o desafio da liga era justamente tentar engajar o torcedor para que o torneio viesse a ser atrativo nos próximos anos, agora é só colocar o carro para rodar – e fazer uma competição minimamente aceitável – para que as coisas fluam com naturalidade.

Como a memória de dirigente parece ser curta, vale um lembrete. Foi mais ou menos esse o mesmo caminho que teve de percorrer a Liga do Nordeste, há quase dez anos. Por determinação judicial o campeonato teve de ser reconhecido pela CBF e voltar a ser organizado. No primeiro ano, foi tudo no improviso, contra a vontade da entidade então chefiada por Ricardo Teixeira e com a força de organizar a Copa do Mundo de 2014, mas com o desejo do torcedor de ver o torneio “vingar”. Hoje, a Copa do Nordeste é a terceira maior competição nacional que existe no Brasil e foi uma das molas para promoção do Esporte Interativo no país.

A Primeira Liga, pelo visto, deu liga. E pode agradecer a CBF por isso…


Lugano põe em choque o marketing e o esporte
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Erich Beting

A recepção para Diego Lugano no aeroporto de Cumbica feita pela torcida do São Paulo mostra o quanto a contratação do zagueiro é um fenômeno de marketing. Com Lugano de volta, o clube conseguiu, finalmente, criar um fato novo para o torcedor ter o desejo de consumir o time, tanto que rapidamente a camisa 5 que o marcou na primeira passagem pelo São Paulo se tornou a mais vendida na loja oficial tricolor (leia aqui).

A jogada de marketing, porém, durará até o instante em que Lugano entrar em campo. Ali, com a bola rolando, o zagueiro terá de corresponder à expectativa criada sobre a sua volta. Só assim será possível manter em alta a euforia do torcedor são-paulino.

 

E é exatamente isso que deixará claro, mais uma vez, que o marketing e o esporte não deixam de estar, constantemente, em conflito.

 

Quando da sua chegada ao Tricolor, Lugano foi jocosamente apelidado de “zagueiro do presidente”. Contratação defendida pelo então presidente, Marcelo Portugal Gouvêa, o zagueiro uruguaio vinha sendo constantemente criticado pela má performance dentro de campo. Mas a partir da vitoriosa campanha da Libertadores-2005, o fio virou em favor de Lugano, transformando-o hoje num ídolo que chega com o status de Salvador da Pátria.

A volta do uruguaio lembra, em muitos aspectos, a contratação de Leônidas da Silva, em 1942. O atacante, então no Flamengo, foi apelidado de “bonde”, pelo alto valor envolvido na sua aquisição e pela idade “avançada” que tinha à época (29 anos). Primeiro atleta marqueteiro que se tem notícia no futebol brasileiro, Leônidas foi recebido com festa na estação de trem, entrou em campo pela primeira vez com um Pacaembu lotado e, depois disso, se consagrou como o primeiro grande jogador da história do São Paulo.

Lugano pode repetir a trajetória de Leônidas. Mas tem um enorme problema pela frente. Será impossível não cair na tentação de comparar sua performance à da primeira passagem pelo São Paulo. E, nesse sentido, o tempo poderá ser muito cruel com o zagueiro uruguaio.

O marketing, como sempre digo por aqui, não consegue resistir a uma má performance em campo. Lugano é, até a bola rolar, uma baita contratação para o marketing tricolor. Resta saber se, depois que os jogos começarem, ele vai corresponder à expectativa e reeditar, agora com mais apelo comercial, a bela história que tem com o clube. Nesse período, porém, marketing e performance esportiva estarão constantemente em choque.

Férias – O blogueiro entrará em férias até o próximo dia 25. Até lá o blog ficará sem atualizações, a não ser que o FBI apronte mais uma vez…


Wendell Lira é o “abaixo o futebol moderno” na Fifa
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Erich Beting

Foi emblemática a vitória de Wendell Lira no prêmio Puskas de gol mais bonito de 2015 pela Fifa. A presença do brasileiro na festa da entidade é um tapa na cara do “futebol moderno” que foi colocado em seu modo hard  durante a cerimônia transmitida ontem para quase 200 países.

O Gala Fifa, como o evento tenta ser chamado, é a colocação do futebol como negócio em seu nível máximo.

O atleta é, desde o início, alçado ao patamar de estrela de Hollywood. Os fãs ficam à espera de um autógrafo ou uma selfie enquanto o jogador desliza sobre o tapete vermelho, no melhor estilo “red carpet” do Oscar. As entrevistas pré-prêmio com os finalistas, os carrões chegando ao auditório onde se realiza a premiação, tudo faz parte de um universo artificial que o dinheiro permitiu existir ao futebol.

No fim das contas, tudo é superlativo na premiação que a Fifa criou de uns tempos para cá. Por isso mesmo, a vitória de Wendell representa o grito de “abaixo o futebol moderno” que ainda sobrevive em meio à transformação do esporte mais popular e, talvez, mais democrático do mundo, num circo comandado pela grana.

A realidade da bola é muito mais Wendell e muito menos Messi. Por isso foi tão legal ver aquele “penetra” na festa dos craques milionários e midiáticos. Embasbacado igual criança que vê seu ídolo pela primeira vez. Feliz igual criança que ganha a primeira bola oficial. Sincero como criança.

Para quem vive o negócio do esporte, ter um Wendell Lira entre os craques do mundo todo é nos trazer de volta à realidade. É lembrar o motivo pelo qual o marketing deve trabalhar.

Teimamos em colocar os jogadores no lugar de semideuses, num panteão quase inatingível, acessível apenas para alguns poucos próximos a um tapete vermelho na Suíça. Quando, na realidade, o que movimenta o futebol são os Wendells com suas acrobacias para conseguir marcar um gol na vida.

O futebol moderno não precisa acabar. Mas precisa, urgentemente, passar a ser feito por e para seres humanos. O nível de dinheiro envolvido ficou tão grande que os marqueteiros passaram a viver uma realidade paralela, cada vez mais descolada do “mundo real”.

Wendell Lira é o sopro que nos mostra para quem o futebol deve ser feito.

 


Receita para impedir o êxodo chinês
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Erich Beting

O desmantelamento do Corinthians ligou o sinal de alerta para um fenômeno que já vinha acontecendo nos últimos três anos no futebol brasileiro, mas que não se dava muita atenção. A China decidiu importar pé-de-obra brasileiro e ao que tudo indica não vai parar com isso tão cedo.

O projeto chinês, que começou a ser colocado em prática em 2010, é de fazer da liga de futebol um produto forte. Mas, para isso, os chineses precisam aprender a jogar bola. Para quem imagina que a marca da seleção brasileira está acabada, foi o fato de o país ser o único pentacampeão do mundo e ter criado jogadores como Pelé, Romário, Ronaldo e tantos outros que fez os chineses acreditarem que somos o país do futebol.

Fama, como se sabe, não é algo que acaba da noite para o dia. Se o 7 a 1 for a exceção, e não regra a partir de agora, a história do apagão vai virar verdade. O Brasil quase sempre está entre os oito melhores a cada Copa do Mundo. É impossível achar que não sabemos jogar futebol. Ainda mais para quem não entende muito do riscado.

E aí é que entra o ponto. Se a China quer tanto o pé-de-obra brasileiro, como fazer para acabar com o êxodo?

A fórmula não é mágica. Mas ela requer planejamento, paciência e, principalmente, persistência. A única forma de acabar com o interesse do jogador brasileiro em aceitar ir para o desconhecido é dar, a ele, perspectiva de continuar por aqui.

A história de colonização do mundo, bem ou mal, foi feita dessa forma. Quem decidiu ir para o desconhecido foi quem não tinha muita perspectiva no lugar onde estava. Não foram os reis e nobres portugueses que desembarcaram por aqui, mas emissários dos governantes, que não tinham muita alternativa de vida a não ser ir construir a vida noutro lugar, onde as terras eram novas.

O futebol brasileiro hoje não oferece perspectiva ao jogador. Qual o plano que o Corinthians tinha para Renato Augusto e Jadson, seus dois melhores jogadores no ano passado? Eles tinham um projeto de seguir atuando pelo clube? Havia um trabalho pensado em usar a imagem deles para criar produtos, aproximar do torcedor, aumentar a receita do clube e do atleta a partir disso?

Além disso, qual a perspectiva que Jadson e Renato tinham para o mercado de futebol na América do Sul? Qual a atratividade de jogar o Paulistão, a Copa do Brasil, o Brasileiro e, até mesmo, a Libertadores? Os jogos são entre os melhores do mundo, que todos param para assistir? Qual o bônus de disputar essas grandes competições? O que isso mexe com a vaidade do atleta, com o objetivo pessoal dele?

Dentro desse cenário, a diferença entre estar no Brasil ou na China é mínima.

Há a barreira cultural, o desafio de se viver num país praticamente oposto ao nosso. É por isso que, ao aparecer um caminhão chinês cheio de dinheiro para esses atletas, a resposta mais lógica é o “sim”.

Para evitar o êxodo chinês, o futebol brasileiro precisa oferecer algo além de bons salários aos atletas. Sem um bom produto, jogar em Itaquera ou em Pequim dá na mesma. Ou melhor. Rende muito mais aos cofres do jogador.

 


Esporte é promoção ou exposição?
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Erich Beting

Nos próximos dias o futebol brasileiro vai provar mais um pouco do gostinho de como se promove um evento esportivo com a participação de quatro clubes do país na Florida Cup. Torneio praticamente amador no que diz respeito ao apelo que tem com o público local, a competição que reúne cada vez mais equipes do mundo todo na Flórida dá ao país um pouco do sabor que é fazer uso da promoção para gerar interesse num evento.

Nos últimos dias, vimos diversas ações brotarem sobre o evento. Ronaldo como garoto-propaganda, Ronaldinho Gaúcho como atração em campo, jogo da NBA como forma de divulgação do evento e até de exposição dos clubes brasileiros lá fora (leia mais aqui).

Na prática, o que os americanos tentam fazer é ampliar o interesse para as pessoas sobre o evento. Com o futebol em estágio primário de evolução nos Estados Unidos, o que os promotores tentam fazer é criar diversos motivos para que o público tenha, de alguma forma, contato com a Florida Cup.

Fazer uso da promoção para atrair público, mídia e, então, patrocinadores, é um conceito mais do que batido em mercados onde o marketing já é mais desenvolvido. Nos Estados Unidos, onde o marketing é norma, o conceito é tão banal que é impossível pensar em fazer esporte sem ele.

Já no Brasil, os clubes da Primeira Liga mostram que estão ávidos por, primeiro, fechar o contrato de TV para então lançar a competição e, aí, quem sabe começar a atrair o interesse do público e os patrocinadores.

A preocupação dos dirigentes, logicamente muito válida, é de que o clube não perca dinheiro com o evento. Mas como achar que um negócio, em seu primeiro ano de vida, não vai ter prejuízo?

Se fosse mais do que um movimento político, a Primeira Liga deveria saber disso. Talvez os dirigentes de Atlético-MG, Fluminense e Inter pudessem usar a ida aos Estados Unidos para ver como é possível aplicar alguns conceitos primários de promoção de um evento esportivo na promoção da liga.

O que falta em boa parte ao esporte no Brasil é entender a importância da promoção na cadeia evolutiva da transformação de uma competição esportiva num produto. É só por esse caminho que será possível construir um negócio realmente rentável para todos.

Quando prioriza a exposição em detrimento da promoção, a Primeira Liga está desperdiçando a capacidade que tinha de se tornar um bom produto. Por mais novo que ele seja.


O Brasil não vê o esporte como entretenimento
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Erich Beting

Já se vão mais de 80 anos quando Cásper Líbero teve a ideia de fazer uma corrida de rua na virada da meia-noite do dia 31 de dezembro em São Paulo. Seu jornal, a “Gazeta Esportiva” tinha um problema para resolver naquela época. Faltava assunto para preencher as manchetes do veículo no dia 1º de janeiro.

Hoje, a “Gazeta Esportiva” deixou de ser jornal, a São Silvestre mudou diversas vezes o percurso, a prova acontece na tarde do dia 31 de dezembro e, o mais importante, o evento atrai quase 20 mil pessoas para as ruas de São Paulo no último dia do ano.

Há mais de 80 anos, o Brasil tinha a visão de que o esporte é entretenimento. Na falta de um evento que fosse além da básica comemoração da passagem de ano, a “Gazeta Esportiva” decidiu criar sua própria competição. Num período em que praticamente nem se sonhava em fazer corrida de rua no mundo, Cásper Líbero foi pioneiro e, para atender a uma necessidade própria, fez o básico. Criou a notícia a partir da criação de um evento.

Nessas próximas duas semanas, o noticiário do futebol entra numa espécie de marasmo. Os clubes estão negociando a contratação de jogadores. E só. Os atletas estão em férias, os estádios estão fechados, as transmissões esportivas cessam.

E o que fazem os outros esportes no país?

Acompanham o marasmo do futebol, que sempre é colocado como o bandido da história por roubar a maior parte da audiência e atenção da mídia ao longo do ano. Nos anos 1930 a “Gazeta Esportiva” já tinha percebido que, ao se criar um evento numa época em que não tínhamos evento, era possível atrair público e receita para a competição. Mesmo que esse evento fosse uma corrida de rua com largada à meia-noite!

Sim, é uma delícia poder estar de folga com a família e os amigos nas festas de fim de ano. Mas quem trabalha com esporte deveria saber, muito bem, que é nesses momentos que a audiência sobe, a grana aparece e o torcedor acompanha com mais afinco as disputas.

Enquanto o esporte não perceber que ele é parte do entretenimento das pessoas, seguirá como um subproduto. Basquete, vôlei e outras modalidades não deveriam, nunca, pensar em ter folga no fim do ano. Só assim seria possível fazer seus esportes sobreviverem à overbola que atrapalha o maior desenvolvimento da cadeia produtiva do esporte nacional.

Sorte a nossa que temos, na TV paga, a chance de acompanhar os jogos do basquete, do futebol americano, do futebol inglês, etc…


Os patrocinadores nunca deixarão a Fifa
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Erich Beting

As declarações estapafúrdias de Joseph Blatter, tentando ver problema na investigação iniciada pela Justiça dos Estados Unidos, e não no sistema corrompido que domina boa parte do futebol, colocam ainda mais lenha na fogueira acesa desde 27 de maio, quando começou para valer o jogo de xadrez na política da bola.

Soma-se a isso uma declaração, um pouco mais contundente, da Adidas, parceira de mais longa data da Fifa, clamando por mudanças significativas no controle da entidade.

Será que a bonança da Fifa está com os dias contados? Os patrocinadores farão uma fuga em massa da entidade? Veremos as empresas tomando a atitude que delas esperamos?

Não, não veremos.

Os patrocinadores principais nunca deixarão a Fifa. Pelo menos se continuarem a serem empresas do tamanho que são hoje, quase todas líderes, ou quase isso, em seus mercados.

E o motivo é muito maior do que a Fifa e a corrupção nela impregnada.

As marcas não deixam a Fifa porque isso é um péssimo negócio. Apesar de toda a sujeira que existe no futebol, a Copa do Mundo é um negócio que se tornou maior do que a Fifa mesmo. As marcas se atrelam à entidade apesar da corrupção, para ganharem com os direitos exclusivos que passam a deter sobre o Mundial a cada quatro anos.

Não por acaso, quase 90% da arrecadação da Fifa atualmente é de contratos relacionados ao Mundial. A previsão orçamentária feita pela entidade leva em conta o quadriênio do Mundial. Os contratos de TV e patrocínios somam quase US$ 4 bilhões, praticamente tudo o que a Fifa ganha de dinheiro a cada quatro anos.

Por conta disso, por mais desastroso que seja o comando da entidade, ele consegue entregar um dos melhores produtos que existe, que é a Copa do Mundo. Seja ela na África do Sul, no Brasil, na Alemanha, na Rússia ou até mesmo no Qatar.

A Fifa sobrevive à pior crise já passada por uma entidade esportiva do tamanho dela porque ela conseguiu ter um produto que é um dos mais desejados do esporte mais popular do mundo. Enquanto isso não mudar, e dificilmente irá, as marcas nunca deixarão a Fifa. Por mais corrupta que a entidade possa ser.

 


Barça e River mostram a diferença do Mundial para os continentes
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Erich Beting

Há uma invasão argentina no Japão em curso. Até o domingo, 15 mil argentinos estão espalhados pelo país asiático para acompanhar a tentativa do River Plate de ser campeão do mundo contra o gigantesco Barcelona, que levou pouca gente da Espanha para o Japão para acompanhar o que pode ser o tricampeonato mundial do clube.

A presença maciça dos torcedores do River, em detrimento dos fãs do Barça, mostra de forma cristalina a diferença que existe no Mundial de Clubes na visão de europeus e sul-americanos.

Os argentinos demonstram que, o que interessa a eles, é exclusivamente a bola. Ser campeão, levantar a taça e poder se dizer melhor time do mundo.

O mesmo sentimento não existe no Barcelona. Logicamente que os jogadores anseiam pela vitória, mas para o torcedor do clube, não há o mesmo peso a conquista do mundo como há na conquista da Europa. Se houvesse, o Japão também estaria pintado de azul e vermelho.

O Barcelona não está a passeio no Japão. Mas o propósito do clube ao disputar a competição é completamente diferente daquele vivido pelo River Plate.

Para o time espanhol, a disputa do Mundial de Clubes no Japão, no meio da temporada, é uma ótima forma de o clube ter contato com o fã asiático. As imagens de televisão deixam claro isso. O Sportv mostrou, antes da partida em que o Barça ganhou com sobras do Guangzhou, o frisson causado pelos jogadores do time espanhol quando andavam pelo hotel lotado de fãs. Lembrou, bastante, o que representavam os Beatles em sua época de ouro.

Por isso mesmo, jogar o Mundial se transforma num ótimo negócio para o Barcelona. Tanto que o clube jogou hoje com a camisa azul, lançada recentemente. Muito mais do que diferenciar-se do uniforme vermelho do Guangzhou, o propósito de elevar as vendas da terceira camisa no Japão deve ter sido levado em conta nessa escolha.

Para o sul-americano, a viagem ao Japão é muito mais do que uma simples oportunidade comercial. O clube, a mídia e os atletas estão focados na competição. Os negócios que podem eventualmente ser feitos na Ásia ficam em segundo plano.

Com visões tão distintas de enxergar o evento, Barcelona e River Plate evidenciam, também, a diferença que existe no futebol como negócio na Europa e na América do Sul.

Por aqui, ainda olhamos apenas o desempenho dentro de campo como forma de mensurar o sucesso de um clube. Sim, o futebol é o produto principal. Mas ele não pode mais ser concebido de forma a se pensar só no campo.

Por lá, os clubes sabem que são empresas. O produto principal deles é o futebol, mas para alimentar isso eles precisam investir pesado em atletas. E isso só é possível de se fazer com dinheiro. Dinheiro que, por sua vez, é bastante provável de se encontrar nos ardorosos fãs asiáticos.

O comportamento de Barcelona e River Plate no Mundial de Clubes mostra de forma bem clara como sul-americanos e europeus encaram o futebol. E revela, também, como ainda demoraremos a ter uma visão de futebol como produto que ajudou a revolucionar a cara da bola jogada na Europa nos últimos 30 anos…


Briga na CBF mostra que troca de poder sempre é lenta
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Erich Beting

Quando Ricardo Teixeira se afastou da presidência da CBF, em março de 2012, ficou claro que abria-se ali um vácuo de poder dentro do futebol brasileiro. Depois de quase 25 anos, a maior liderança saía de cena para não mais voltar (hoje percebe-se quão bem antecipado foi esse movimento feito por Teixeira).

O levante que começa a ser organizado pela Primeira Liga e pela carta dos clubes paulistas (detalhes aqui) mostra que qualquer troca de poder, quando feita de forma democrática e pacífica, requer tempo. Não bastou Teixeira renunciar há quase quatro anos. Muito menos José Maria Marin ser preso em maio deste ano.

Só quando Marco Polo Del Nero caiu acusado pelos mesmos crimes de seus dois antecessores é que os clubes perceberam que haveria condições para levantar a voz contra o poder constituído há quase três décadas.

Em 1987, os clubes decidiram dar um tapa na enfraquecida e falida CBF para assumirem o poder e criarem a Copa União. Desgastada pelos sucessivos desmandos da ditadura militar, que levaram o Brasileirão de 1986 a ter 80 clubes, 680 jogos e terminar só em fevereiro de 1987, a CBF teve de aceitar a imposição dos clubes e entregou a eles o controle do Brasileirão.

Agora, quase 30 anos depois, são os sucessivos desmandos de gestões fraudulentas que levam a CBF a ter de aceitar a nova imposição dos clubes. Se não for agora, será no próximo ano. Mas, da mesma forma que não havia condições para a entidade trazer para si a gestão do futebol jogado entre clubes naquela época, agora também não há.

O poder começa, lenta e gradualmente, a trocar de mãos.

Lá atrás, o movimento de transferência de poder aos clubes acabou a partir do instante em que Ricardo Teixeira, amparado pelo sogro João Havelange, então presidente da Fifa, assumiu o controle do futebol, em 1989. Hoje, é difícil imaginar que exista alguém que consiga ter poder suficiente para recolocar os clubes sob controle.

A mudança representa, nesse começo, um sopro de esperança. O problema a resolver, na cada vez mais natural Liga do Brasileirão, é o contrato de televisão. Se continuar negociado de forma individual, a liga não terá força econômica suficiente para levar o poder todo para as mãos dos clubes. Para essa mudança acontecer, porém, a mentalidade dos dirigentes de clube precisa mudar radicalmente.

É exatamente nesse sentido que paira a grande dúvida sobre o quão eficiente será, para o espetáculo futebol, a transferência de poder que se aproxima.