E para as marcas, como é que fica?
Erich Beting
As imagens do saguão de guerra que se transformou o embarque do Palmeiras nesta quinta-feira já dizem claramente o quão lamentável são os episódios que têm ocorrido envolvendo torcedores de futebol nos últimos dias. Sim, são casos completamente distintos e que não refletem o pensamento de toda a torcida. Mas não podemos dizer que situações como essa (uso de artefatos para serem ''atirados'' contra torcedores rivais e/ou intimidação de atletas por parte de torcedores) não sejam relativamente comum no cotidiano dos mais fanáticos e brigões.
Só que a situação começa a parecer tomar uma proporção que beira o inaceitável. Afinal, a pergunta que começa a ser feita hoje é: o quão prejudicial podem ser essas histórias de violência envolvendo os torcedores para o futebol?
A morte de um garoto na Bolívia ou o quebra-quebra no aeroporto em Buenos Aires deixam marcas. Há cerca de 20 anos, a briga de torcidas no campo de jogo criou no imaginário das pessoas a sensação de que não dá para ir com segurança a um estádio de futebol. Convivi boa parte da adolescência com essa disputa dentro de casa. Os pais não queriam, de forma alguma, que eu fosse para os jogos. Em clássico, então, muito menos. Reflexo direto do mau comportamento do torcedor.
Quando os mais brigões perceberam que o prejuízo de imagem para as torcidas era muito grande por causa disso, com aumento de fiscalização da polícia, Ministério Público na cola e outras ações menos tolerantes, passaram a preservar o clima dentro do estádio. Mas, agora, parece que o copo voltou a transbordar mais uma vez. O limite do racional está sendo amplamente ultrapassado.
Só que o momento começa a ser prejudicial até para quem investe no esporte. Em meio à briga de torcedores com atletas, além da camisa da principal torcida organizada palmeirense claramente percebia-se a marca dos patrocinadores do clube. E aí, como é que fica para a empresa essa situação?
Sim, o componente exposição na mídia + paixão (a verdadeira, não a doentia) do torcedor são suficientes para que as empresas ''passem por cima'' de algumas histórias. Mas, quando cada vez mais elas são afetadas indiretamente pelo mau comportamento de torcedores, a situação pode começar a mudar.
Assim como a violência nos estádios no fim dos anos 80 e começo dos 90 fez com que a ida aos jogos diminuísse bastante, a que começa a aparecer com frequência na atualidade pode afastar as marcas do esporte. Num Brasil com investimentos em alta por conta de Copa e Olimpíada isso é menos perceptível. Mas, no longo prazo, a fuga das empresas pode gerar um prejuízo financeiro irreversível para o futebol.
Ou os clubes acordam para isso, ou será tarde demais para recuperar o dano causado. O primeiro passo seria, em vez de ajudar na existência das torcidas organizadas, começar a cobrar pelo direito de uso da imagem do clube. Hoje, um dos maiores concorrentes em geração de receita para os clubes é a própria torcida, que não paga por explorar a marca do clube e ainda obtém dinheiro do torcedor que teoricamente seria destinado à instituição.