O novo patamar que o esporte pode atingir
Erich Beting
Mas afinal qual o futuro de quem quer trabalhar com esporte no Brasil? A pergunta é cada vez mais repetida em cursos e eventos ligados ao tema. A expectativa inicial, vinda da confirmação de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos para cá, já foi substituída por um sentimento de desilusão por boa parte do mercado.
''Não vamos nos profissionalizar''. ''Tínhamos a chance, mas perdemos''. ''O bonde já passou e não soubemos aproveitar''. ''Estamos atrasados para fazer qualquer coisa em relação à Copa''. Provavelmente o leitor do blog já parou para pensar nisso ou já se deparou com alguém fazendo pelo menos uma dessas afirmações numa eventual conversa.
A situação atual do esporte no Brasil confirma que boa parte das expectativas iniciais foram frustradas. O problema crucial em tudo isso foi, como já em 2008 apontávamos na edição de aniversário da revista Máquina do Esporte, era a falta de planejamento e, principalmente, de execução. Fomos relaxados em executar tudo aquilo que havíamos planejado, e a prova mais clara disso é o fato de que apenas um estádio foi entregue no prazo estipulado pela Fifa quando as 12 sedes da Copa foram anunciadas (já com atraso, vale ressaltar).
Essa falta de execução é o que causa a maior parte dos problemas, uma vez que vira um efeito cascata sobre o mercado. Imagine como seria hoje a percepção do brasileiro com relação à Copa das Confederações se os campeonatos estaduais já estivessem usando os estádios novos? Isso levaria também a mídia a ter uma espécie de ''agenda positiva'' na cobertura do evento. Logo, as pessoas e as empresas falariam mais sobre o tema e, assim, a indústria toda já estaria com o clima do evento.
Sem esse cenário, restou a quem trabalha no esporte tentar tocar o barco tendo de lidar com a frustração por ainda não enxergar um mercado mais forte, parrudo, com investimentos claros e principalmente com oportunidades mais bem definidas na própria indústria.
Hoje, o mercado esportivo tem mais dinheiro, mas sem profissionalismo. A verba entrou porque as empresas precisam investir. E isso faz com que o próprio esporte ainda não perceba que é preciso se estruturar melhor para essa mudança.
E é aí que entra uma visão de que o esporte pode atingir um novo patamar, mas que isso não está necessariamente ligado aos grandes eventos. O aumento de investimento das empresas também fará com que elas tenham de permanecer no esporte para não se passarem por ''aproveitadoras''. Isso abre uma lacuna a ser preenchida.
Ontem, no Rio, a agência IMX apresentou o Rio Open de tênis com o objetivo estratégico bem definido. Fazer da competição o maior acontecimento esportivo permanente da Cidade Maravilhosa e, no médio prazo, tentar transformar o Rio numa espécie de capital do tênis. Da mesma forma, muitas outras empresas têm fechado contratos de patrocínio para além de 2016, apostando numa melhoria da experiência do consumidor dentro dos eventos esportivos.
Tudo leva a crer que vamos aprender a trabalhar melhor o esporte depois do furacão de Copa e Olimpíada. Se, antes, estávamos num período arcaico de gestão do esporte no país, a tendência é que tenhamos um nível mais apurado a partir de agora, quando os projetos não tiverem vínculo com os grandes eventos, mas sim com o retorno que o esporte dá para as marcas e para o público.
É um novo patamar no qual a indústria do esporte pode se inserir no médio prazo. Isso, porém, não tem relação direta com Copa e Olimpíada, mas com a mudança de percepção de marcas e gestores esportivos de que os benefícios trazidos pelo investimento perene no esporte podem ser cruciais dentro da estratégia de uma empresa.
Essa é a parte boa da história. A ruim, é que ainda temos muito a falhar para aprender a importância da execução no futuro da indústria esportiva.