Em 2014, Valcke ajudou a Copa virar “vilã” no Brasil
Erich Beting
Jérôme Valcke ajudou, conscientemente ou não, para que a repercussão da Copa do Mundo na mídia brasileira ganhasse um tom negativo neste ano de 2014. Essa é uma das conclusões do estudo ''A Copa em nova perspectiva'' produzido pelo núcleo Análise & Perspectiva da agência de comunicação Inpress e obtido com exclusividade pelo blog.
Nos primeiros três meses do ano, a Inpress monitorou todo o material produzido sobre a Copa do Mundo por sites e jornais do país, além de repercussão em mídias sociais. Nesse levantamento, um dado chama a atenção. Valcke, secretário geral da Fifa, foi responsável por 25% do conteúdo produzido pelos porta-vozes do evento. Em segundo lugar está Dilma Rousseff, presidente da República, com 11%.
O problema é que além de o executivo da Fifa ser quem mais fala sobre o Mundial, ele também é quem mais traz repercussão contrária à Copa. De tudo o que Valcke disse, 63% eram frases negativas. Dilma, por sua vez, tem a proporção inversa. De tudo o que a presidente falou, 68% era discurso positivo. Mas, na proporção, ela apareceu muito menos do que Valcke, o que levou para baixo a percepção das pessoas sobre o evento.
Aí entram dois pontos importantes.
O primeiro deles é a própria estratégia de comunicação adotada pela Fifa após todas as confusões antes e durante a Copa das Confederações. A entidade decidiu fazer com que o ''Padrão Fifa'' não se tornasse o vilão do evento, mas um ícone da excelência dele. Sendo assim, Valcke passou a criticar, diretamente, a gestão brasileira para organizar a Copa. É só lembrar o episódio do ''chute no traseiro'', que pré-Confederações causou tanta repercussão contra a Fifa e que, agora, vira a favor da entidade, já que dois estádios ainda não estão prontos a quase um mês do evento, para ficar nos exemplos mais claros da nossa indigestão no Mundial.
O segundo ponto é a própria cobrança que a imprensa faz sobre o evento com o porta-voz da Fifa. Valcke é quem mais dá a ''cara a tapa'' para responder a todo assunto relacionado ao Mundial. Ele teve de falar sobre fan fests, situação de Curitiba, estruturas provisórias, atraso de obras, críticas de torcedores, etc.
No fim das contas, premeditadamente ou não, Jérôme Valcke virou uma figura central da Copa do Mundo no Brasil. Ele, hoje, é o principal portador de más notícias relacionadas ao Mundial. Muito por culpa da incompetência brasileira em gerenciar o evento. Se tivéssemos, por exemplo, entregue os estádios no período previsto pela Fifa, estaríamos desde janeiro de 2013 com o futebol rolando nas novas casas.
Agora, com tudo no limite, falamos muito mais sobre a preparação do país para a Copa do que dos atletas, como sempre aconteceu. E isso gera, por incrível que pareça, a véspera de Copa do Mundo com o menor clima de Copa do Mundo dos últimos tempos. Justamente quando ela acontece no país…
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