Negócios do Esporte

Arquivo : abril 2011

Eike e o novo patamar que o vôlei precisará atingir
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Erich Beting

Eike Batista colocará R$ 13 milhões para criar um time de vôlei no Rio de Janeiro. A entrada do bilionário no mercado deve exigir que o vôlei atinja um novo patamar. Nem tanto por se tratar de um empresário bem sucedido passando a ser dono de um time, mas principalmente porque a criação do RJX vai elevar ainda mais os preços no já encarecido vôlei brasileiro.

Hoje, manter um time de ponta no Brasil é tarefa para muitos poucos clubes. Agora, a tendência é que a história deixe de ser uma brincadeira de alguns para se tornar um negócio sério para privilegiados.

O primeiro reflexo dessa nova realidade é o acordo entre Sky e Cimed. As duas empresas vão investir, juntas, mais ou menos o que Eike gastará no Rio de Janeiro para o seu time.

E aí é que entra essa necessidade de “reinvenção” do modelo de negócios dos times de vôlei. Até pouco tempo atrás, os times buscavam um patrocinador que pagasse as contas e davam-se por satisfeitos. Soma-se a isso uma condição peculiar do esporte, em que metade do ano o atleta está a serviço da seleção brasileira, e a estruturação do vôlei em clubes no Brasil sofria um grave problema.

Foi por isso que, desde os anos 80, observamos diversas empresas entrarem e saírem do esporte, vários projetos simplesmente acabarem de uma noite para a outra e, no final das contas, muita culpa sendo colocada na mídia, na empresa, na pressão pelo resultado.

Só que para o vôlei, agora, não bastará mais um patrocinador pagando as contas. O projeto precisa ser mais consistente, ter um trabalho de detecção e formação de talentos, ter envolvimento com a cidade local, ter geração de fontes de receita com o torcedor, ter mais de um patrocínio.

Não, tudo isso não é fruto da entrada de Eike Batista no esporte. Longe de ser um visionário, ele também não é um aventureiro. Mas, já há pelo menos cinco anos, a manutenção de uma equipe de ponta no vôlei passou a exigir, pelo menos R$ 5 milhões ao ano de orçamento. É muito para uma empresa só.

Nesse caminho, o Vôlei Futuro representa, de uma maneira ou de outra, o futuro do vôlei. Até então, a equipe de Araçatuba, no interior de São Paulo, era a única a não depender de uma fonte única de sobrevivência. Os ginásios lotados, o envolvimento da população local na compra de produtos do clube, a presença de diversas marcas apoiando a formação de talentos. Tudo isso já foi projetado desde a criação do time. E, agora, os resultados começam a ser colhidos na Superliga.

A criação do RJX apenas vai exigir que os clubes reestruturem o seu modelo de negócio. Do contrário, será cada vez mais improvável encontrar uma única empresa que tope pagar toda a conta, cada vez mais cara, de um time.


O poder da TV sobre o esporte
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Erich Beting

Na manhã desta sexta-feira, a assessoria de imprensa do Vôlei Futuro, que disputa as semifinais da Superliga masculina de vôlei, enviou um comunicado informando que um técnico e um produtor da Rede Globo aprovaram o uso do ginásio Plácido Rocha para o segundo jogo do playoff contra o Sada/Cruzeiro. A decisão permitirá que o Vôlei Futuro jogue em sua cidade, Araçatuba (a cerca 500km da capital do estado, São Paulo), em vez de ter de mandar a partida para Barueri.

A história, porém, mais do que significar um ganho esportivo para o Vôlei Futuro, reflete uma realidade absolutamente comum ao esporte em todo o mundo, mas que muitas vezes recebe ferozes críticas dos torcedores.

A mídia e, especialmente, a televisão, tem um enorme poder de influência sobre o esporte. Desde que a TV passou a ser o principal meio de propagação e de financiamento das modalidades esportivas, ela naturalmente se transformou numa das maiores “tomadoras de decisão” nas competições.

Em 2008, os Jogos Olímpicos de Pequim mudaram o horário das finais da natação (geralmente realizadas no período da noite, elas passaram para o horário matutino) para atender às exigências das emissoras americanas que exibiam as Olimpíadas. O recorde de oito ouros de Michael Phelps, assim, foi visto sempre no horário nobre dos lares americanos.

No caso do vôlei brasileiro, a Superliga já havia conseguido uma grande vitória ao chegar a um acordo com a Globo para a transmissão, em TV aberta, das semifinais da competição masculina.

Para isso, porém, a emissora havia determinado que precisaria fazer os quatro jogos em São Paulo, pela praticidade de os ginásios da cidade e região metropolitana em abrigarem a estrutura de uma transmissão de TV. Com a exceção aberta ao Vôlei Futuro, a tendência é que a decisão do título seja exibida independentemente do local de partida.

No basquete, a liga de clubes também decidiu fazer apenas um jogo final para a decisão do título da NBB em troca da exposição na TV aberta. No futebol, o início dos jogos às 22h também atende aos interesses da Globo.

O que muitas vezes o torcedor não consegue entender é que a TV é, hoje, a fonte de maior repercussão de uma modalidade esportiva. Com o apoio da mídia, o clube muitas vezes consegue negociar melhores contratos de patrocínio por conta da exposição gerada nos jogos. O torcedor que vai ao evento esportivo é importante, sem dúvida, mas o gestor de um clube também tem de olhar outra parte fundamental hoje do esporte, que é a mídia.

O poder da TV sobre o esporte é realidade desde a primeira transmissão ao vivo. O esporte não pode simplesmente ignorar essa influência, mas também não pode ser plenamente obediente a ela. Para isso, porém, quanto menor a dependência da exposição e do dinheiro da TV, melhores condições existirão para que a força da mídia não signifique poder total sobre o evento. O caminho para isso, porém, ainda é longo e, principalmente, difícil para ser percorrido.