Negócios do Esporte

Arquivo : maio 2011

O Grêmio Itinerante e a gestão esportiva no Brasil
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Erich Beting

Era Barueri, virou Prudente e agora volta a ser Barueri. A saga do Grêmio que está mais para Itinerante do que para Barueri ou Prudente revela também a essência do que acontece com a gestão esportiva no Brasil. A troca constante de cidade é muito mais uma decisão política do que técnica/comercial. Ela é feita tendo como base favores e interesses de políticos do que o entendimento da gestão de um clube como negócio.

A ideia de migrar um clube de uma cidade para outra parte do modelo americano de olhar o esporte. Até hoje o americano não consegue ver um clube como algo que existe apenas por paixão, mas sim como um negócio que, quando bem administrado, pode gerar lucros milionários. Sendo assim, o dono de um time nos EUA escolhe muitas vezes mudar de região para fazer com que o clube gere lucro para ele. É uma decisão meramente técnica, como modelo de negócio.

O melhor exemplo disso talvez seja o Los Angeles Lakers, um dos mais tradicionais times da NBA, a liga de basquete dos EUA. O nome “Lakers” remonta ao período inicial do time, nos anos 50, quando ele era conhecido como The Lakers, da cidade de Minneapolis, no estado do Minesota. Conhecida como “Região dos 10 mil lagos”, em vez de ganhar o nome da cidade o time ganhou o nome de Lakers, que quer dizer lagos.

Nos anos 60, os donos do time decidiram mudar de cidade. Após um estudo de viabilidade econômica do negócio, transferiram os Lakers para Los Angeles. A história do time atualmente explica o sucesso dessa operação, com o time sendo um dos maiores campeões da NBA e uma das melhores médias de público no ginásios exatamente por conta da carência que a cidade de Los Angeles tinha de uma equipe de basquete.

Não é o caso, porém, do Barueri/Prudente/Itinerante. As mudanças de sede, até agora, foram feitas baseando-se no interesse político de promover uma região. Sem formar vínculos com a cidade em que está localizado, o time não consegue atrair dinheiro. Com isso, o negócio torna-se nômade, já que a única forma de assegurar a existência do clube é tratando de conseguir regalias da esfera pública para que o dinheiro cubra as despesas.

Caso o interesse do time fosse o de dar lucro para os seus donos, sem dúvida que ele apostaria em fixar a sede numa cidade e criar um programa de envolvimento com os moradores locais. Mas, do jeito que está hoje, o negócio não vai para a frente.

É, mal comparando, o que muitas vezes acontece com o vôlei. Em vez de buscar o engajamento da cidade para um clube prosperar, seus executivos correm atrás de um único patrocinador que pague todas as contas. Uma hora esse patrocinador percebe que o custo é muito elevado para um retorno menor do que o esperado, e tira o dinheiro. O clube, sem ter criado qualquer história com a cidade, tem de fechar as portas.

Já passou da hora de o esporte no Brasil olhar para o mercado americano. Enquanto isso, convivemos com os Grêmios Itinerantes da vida.


Palmeiras dá tiro no pé em acordo de estádio
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Erich Beting

Caso as exigências tenham sido, de fato, aceitas, a WTorre e o Palmeiras regrediram sensivelmente no novo acordo para que finalmente destrave o processo de construção do novo estádio do clube.

A notícia veiculada ontem no Blog do Perrone, aqui mesmo no UOL, dá conta de que o novo estádio terá estacionamento gratuito para conselheiros e um camarote para a diretoria palmeirense.

As exigências, feita por Mustafá Contursi e, pelo visto, aceitas por Walter Torre, dono da construtora, são extremamente prejudiciais para o negócio do estádio no longo prazo.

A receita de um estádio moderno não está apenas na realização de partidas de futebol. Claro que são os jogos e a bilheteria que pagam a maior parte da conta, mas a arrecadação com a cessão de espaços para camarotes e o uso de estacionamento em dias que não há eventos é considerável.

Só para comparar, no ano passado, com um estádio antigo, o São Paulo faturou R$ 19 milhões com o aluguel de camarotes. Numa arena moderna, num país com a economia fortalecida e os investimentos em esporte aumentando, essa receita pode ser ainda maior. Ceder um espaço para dirigentes de clube e seus convidados é perda de receita. Da mesma forma, não cobrar pelo estacionamento é dar motivo para o abuso e, mais do que isso, para que o dinheiro se vá.

O Palmeiras cedeu os direitos de exploração comercial do estádio para a WTorre por 30 anos. Mas, depois desse tempo, como o clube resolverá um problema que ele mesmo criou?

O tiro no pé está dado.


As marcas estão sumindo do futebol!
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Erich Beting

A dúvida existia desde o ano passado na redação da Máquina do Esporte. Afinal, o que aconteceu com o mercado de patrocínio desde que as camisas dos clubes de futebol no Brasil tornaram-se uma espécie de abadá de carnaval, com mais de uma marca espalhada pelo uniforme?

Em tese, a sobrexposição de diferentes logotipos e sinais causa uma grande confusão na mente do consumidor. Para trabalhos de construção e fortalecimento de marca, esse tipo de atitude é péssima. A dúvida, porém, era como isso acontecia na prática do mercado brasileiro de patrocínio no futebol.

O resultado do levantamento que fizemos com os patrocínios dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro desde 2009 é assustador. Desde o início do projeto Ronaldo no Corinthians, que foi o grande motivador da poluição visual nas camisas dos clubes, as grandes marcas têm se afastado do futebol.

Em seu lugar, entram apenas empresas que não mostram interesse com um comprometimento de longo prazo com o esporte, enxergando meramente a já não tão clara oportunidade de mídia que o futebol representa no Brasil. Além disso, em 2011 apenas duas empresas começaram a patrocinar clubes (Netshoes e CSU). Para piorar, algumas grandes marcas saíram, como a Batavo, sem que novas grandes marcas ocupassem o lugar na camisa dos clubes.

Hoje, o investimento em patrocínio no futebol brasileiro se resume a BMG e Hypermarcas. O primeiro atrela a maior parte de seus acordos a assumir dívidas ou a ter participação na venda de jogadores, o que significa que não entra dinheiro na maioria dos contratos firmados. O segundo, depois de investir um caminhão de grana no Corinthians, começou a tirar o pé (como mostra a decisão de sair do Goiás a partir do mês que vem).

O resultado assusta, principalmente, porque os clubes claramente só veem a solução do problema de curto prazo (aumentando a receita com a entrada de mais patrocinadores ao dar mais espaço na camisa ou, então, trocando dívidas pela exposição no uniforme). Em pouco tempo, a cara do investimento no futebol já começou a mudar. O mercado hoje está aberto mais para as marcas de menor poder de investimento e com projetos anuais, diferentemente do que é praticado em quase todo mundo, onde as empresas investem durante períodos mais longos para fortalecer a construção de suas marcas.

Pelo visto as grandes empresas já perceberam que o retorno que o futebol tem dado hoje, pelo valor de investimento necessário para patrocinar um clube, não é mais tão sedutor assim. No longo prazo, pode ter certeza que o mercado agradece.

O estudo detalhado você pode ver na revista da Máquina do Esporte.


Bellucci e o momento de ouro para o tênis
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Erich Beting

Thomaz Bellucci acaba de perder para Paolo Lorenzi na rodada de abertura do Masters 1000 de Roma. Depois do que quase havia feito contra Novak Djokovic na semana passada, a expectativa dos torcedores era de que o paulista fosse com tudo para protagonizar um ótimo jogo na segunda rodada do torneio contra Rafael Nadal. Mas Bellucci perdeu.

Faz parte do jogo. Ainda mais num esporte individual e que consome tanto a cabeça do jogador quanto o tênis. Há três dias, Bellucci estava em quadra próximo de bater o número 1 da temporada, único tenista invicto do ano. Hoje, perdeu para o italiano que ocupa uma longínqua 148ª posição no ranking do tênis.

E é exatamente essa derrota de Bellucci que pode representar um ponto de virada para a modalidade no país. Temos o melhor atleta da América Latina (sim, mesmo com a derrota o brasileiro é o mais bem ranqueado entre os tenistas da região), estamos num cenário econômico excelente, o que facilita o investimento em esporte, e nos próximos anos teremos a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o que torna mais atrativo, para as empresas, aportarem dinheiro em patrocínio esportivo.

O cenário está completo para que, pelos próximos anos, o Brasil assista a um investimento considerável no tênis, que nos permita sair da incômoda posição de coadjuvante na América do Sul, mesmo tendo, com larga vantagem dos demais países da região, as melhores condições para o desenvolvimento da modalidade.

Há dois anos, Guga deu uma entrevista para a Revista Máquina do Esporte em que analisava quais eram os motivos para o Brasil não ter se transformado numa potência do tênis quando ele estava no auge. A visão dele me impressionou.

“Não estávamos preparados para ter o número 1 do mundo. O mercado não estava, o tênis não estava preparado”. Sinceramente, pelo papo que tivemos com ele, até mesmo o Guga não estava pronto para ser o campeão que foi em Roland Garros em 1997. Na mesma entrevista, Guga defendeu que nosso país precisava encontrar um modelo próprio de desenvolvimento do tênis para que, ao longo dos anos, tivéssemos um jogador entre os 20 melhores do ranking, depois entre os dez, por fim alguém entre os cinco maiores e, depois, quem sabe, no topo.

Agora, dez anos depois do seu último título de Roland Garros, voltamos a ter um tenista que ocupa grande espaço nos torneios e na mídia. O mercado está muito mais maduro, especialmente o de tênis. E as empresas precisam investir no esporte.

O momento é de ouro para o tênis. Bellucci pode ganhar ou perder, mas já se consolidou entre os 30 melhores do ranking. Agora o tênis brasileiro tem de se preparar com projetos consistentes para que tenhamos cada vez mais jogadores entre os melhores. Não dá para esperar outro Guga sentado.


Uma questão de poupança*
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Erich Beting

Ganso não deve jogar durante um mês. A notícia serviu para os alertas de tsunami invadirem a Vila Belmiro nesta segunda-feira. A gritaria geral é com relação à presença não apenas do camisa 10, mas também de outros astros como Neymar e Elano, no primeiro jogo decisivo do Campeonato Paulista, neste último domingo.

Aconteceu com Ganso, como poderia ter sido com Pará, Liedson, Bruno César ou qualquer um dos 28 jogadores que estiveram em campo na primeira final do torneio. Mas tinha que acontecer justamente com um dos dois principais jogadores santistas, time que na quarta-feira tem duelo de quartas-de-final da Copa Libertadores.

É a Lei de Murphy, só pode ser!

Mas é, também, uma questão que vai muito além do que tentam supor a mídia e muitos torcedores. No final das contas, tudo é uma questão de poupança.

A presença do Santos na final do Paulista e nas quartas da Libertadores mostra que o time tem condições de, porque não, tentar os dois títulos. Mais do que isso, tem jogadores capacitados para tal função e, ainda além, tem motivos financeiros para buscar a vitória dupla.

O título estadual pode render, apenas com a premiação da Federação Paulista, mais de R$ 10 milhões para o Santos. Isso sem falar nos bônus dados pelos patrocinadores e na própria arrecadação com outras iniciativas de marketing relacionadas à conquista.

A conquista da Libertadores rende praticamente a metade desse valor em premiação, mas obviamente acrescenta ainda mais bônus de patrocinadores, a chance de iniciativas de marketing serem ainda mais lucrativas e uma receita maior ainda por conta da disputa do Mundial de Clubes ao final da temporada.

Ou seja, não existe decisão fácil que leve à priorização de um campeonato. Simplesmente não dá para um dirigente, um treinador e o próprio atleta abrir mão das premiações de uma competição para dar vazão unicamente a uma delas.

Curiosamente, no ano passado não se discutia a necessidade de o Santos priorizar a Copa do Brasil e abdicar da conquista paulista. No fundo, no fundo, tudo é uma questão de poupança. No caso, de milhões de reais a mais que entram para os cofres dos clubes.

E, pensando friamente, como torcedor, jogador, treinador ou diretor, você também acreditaria que é possível ganhar tudo, não é mesmo?

*Coluna publicada originalmente na Universidade do Futebol


Como um clube pode ser global?
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Erich Beting

Escrevi anteontem um post sobre a preocupação do esporte americano com o crescimento global do futebol. Ao final do texto, a provocação sobre a forma de atuação dos clubes brasileiros em relação à adoção de uma possível estratégia global de se relacionar gerou um monte de teses e debates.

Uma pergunta legal feita foi a seguinte:

Erich,
Voce poderia nos dar exemplos de acoes de marketing (ou esportivas) que clubes ou entidades no meio esportivo fazem para crescer sua marca ou presença global? Evidente que “simplesmente, jogar o Mundial de Clubes no final do ano” nao e’ suficiente, mas seria interessante conhecer os bons “cases” neste sentido.
Grato!

Muitos argumentam que os clubes brasileiros não conseguem ser globais porque não é dada a eles a chance de excursionar no exterior. O calendário é colocado como o motivo número 1 para o time do Brasil não ser conhecido lá fora.

Bom, no mesmo dia em que li à pergunta do leitor, surgiu em meu email um convite para participar de um evento para a imprensa na próxima semana. O lançamento, no Brasil, do projeto de parceria entre o Manchester United e a Concha Y Toro, produtora chilena de vinhos.

Sim, o evento é no Brasil, e contará com a presença de executivos da vinícola para contar como as duas marcas vão trabalhar para lançar produtos para o consumidor brasileiro.

A última vez que o Manchester esteve com o seu time de futebol no Brasil foi em 2000, na disputa do primeiro Mundial de Clubes organizado pela Fifa. O time inglês veio aqui a passeio.

Mas, desde antes dessa data, o Manchester está presente, pelo menos, uma vez por semana no mercado brasileiro. Agora, até mesmo as prateleiras dos supermercados serão ocupadas com a marca do clube.

Jogar no exterior é a melhor desculpa usada pelo futebol brasileiro para não montar projeto de expansão de sua marca. Mas, considerando que nem mesmo uma proposta para o mercado nacional existe, é sonhar muito em vermos as grandes marcas do país cruzarem fronteiras.

Afinal, no Brasil, o único vinho de um clube que existe é “made in England”…


Uma interessante questão sobre o “Brasil do Esporte”
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Erich Beting

Na última terça tive uma conversa informal com um engenheiro sobre a construção do Brasil da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Além da eterna reclamação que envolve qualquer pessoa da área das ciências exatas sobre a falta de planejamento a respeito das obras relacionadas aos dois grandes eventos, esse engenheiro levantou outro ponto interessante para debate.

Do jeito que anda o setor da construção civil no país, será que conseguiremos estar prontos a tempo de 2013, 2014 e 2016, que são os três anos cruciais para a infraestrutura de esporte no país?

A questão aqui não é filosófica. O problema não é ainda não termos feito as licitações para obras públicas, não termos resolvidos nossos parcos aeroportos ou não termos nem acertado qual é a cidade-sede do jogo de abertura da Copa do Mundo.

O que começa a preocupar quem está no ramo da construção é algo básico mesmo. Será que teremos cimento, vergalhão de aço, plástico, areia, alumínio, fios, madeira, asfalto e até mesmo mão-de-obra para darmos conta da construção de 12 estádios e da estrutura nas cidades para a Copa?

Com o mercado da construção em ritmo acelerado de crescimento nos últimos anos, a escassez de matéria-prima é uma realidade cada vez maior desse segmento. Além disso, nem ao menos temos o maquinário suficiente para erguer tantas novas edificações. Paralelamente, concorremos com a China e seu ritmo de expansão na casa dos 10% ao ano.

Esqueçam os estádios. Sem dúvida eles são o menor dos inúmeros problemas que teremos de enfrentar nos próximos meses. Uma pena que o Brasil só foi eleito sede da Copa de 2014 neste ano…


Força do futebol assusta mercado dos EUA
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Erich Beting

A força dos clubes de futebol tem assustado o mercado americano. Há uma semana, o “Sport Business Journal”, principal veículo sobre negócios do esporte dos EUA, publicou uma reportagem sobre a presença dos clubes de futebol nas redes sociais. O resultado, segundo a publicação, é alarmante: das cinco marcas ligadas a esporte e que tem o maior número de seguidores, quatro são clubes de futebol. O levantamento tinha como universo a soma de seguidores dos clubes no Facebook e no Twitter.

Na lista apresentada pelo “SBJ”, os cinco primeiros clubes mais populares nas redes sociais são os seguintes:

  1. Barcelona (13,5 milhões de seguidores)
  2. Real Madrid (13,2 milhões de seguidores)
  3. Manchester United (12,1 milhões de seguidores)
  4. Los Angeles Lakers (9,5 milhões de seguidores)
  5. Arsenal (5,9 milhões de seguidores)

O resultado, na visão americana, mostra uma preocupação para o negócio dos outros esportes. O futebol, segundo eles, tem tomado conta do mercado mundial, ao passo que os times americanos, independentemente de qual esporte represente, continuam com atuação restrita aos Estados Unidos.

Esse é um ponto crucial e um dilema que os americanos terão pela frente nos próximos anos. Com a retração do mercado dos EUA, é fundamental para o crescimento dos times de lá a busca de novos torcedores. Com menos dinheiro para gastar desde a crise, o americano tem cortado os investimentos em esporte. O crescimento da audiência de TV no esporte e a queda da presença de público nos estádios e ginásios são um reflexo disso. Sem tanta verba, o torcedor prefere acompanhar de casa o esporte a ir ao evento.

Com isso, é fundamental que o esporte vá para outras regiões do planeta, em busca de dinheiro novo, especialmente dos mercados da China, da Índia e do Brasil, os três mais cobiçados na atualidade. Mas, aí, o problema para o americano é que em sua maioria esses países já estão tomado pelos clubes de futebol, especialmente os da Europa.

“Se tem algo que temos de aprender com o que tem acontecido lá fora, é que esses times de futebol são hoje marcas globais”, resumiu o vice-presidente da área digital da NBA, Bryan Perez, na reportagem do SBJ.

Sim, dentre a mais de uma centena de funcionários que a liga de basquete dos EUA têm, um é responsável por olhar a área de ações digitais. Prova de que o modelo americano de gerenciar o esporte está anos-luz à frente do restante do planeta. Mas, agora, o americano percebeu que não adianta mais olhar apenas para o próprio umbigo.

Enquanto isso, no Brasil, os clubes, salvo raríssimas exceções, seguem considerando que globalização significa, simplesmente, jogar o Mundial de Clubes no final do ano…


Indy, UFC e o conceito “o show tem que continuar”
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Erich Beting

O final de semana foi tão lotado de assunto que faltou tempo para comentar sobre todos eles. Mas, tentando juntar um pouco de tudo o que passou, uma coisa ficou clara: o modelo americano de esporte é algo para ser estudado (e, quando der, adaptado) pelo Brasil.

No Canadá, a disputa do UFC #129 foi uma das mais insanas dos últimos tempos. O lutador da casa Mark Hominick foi, literalmente, deformado pelo adversário, o brasileiro José Aldo. Como era canadense, tinha o apoio da torcida e, claro, todos os interesses comerciais envolvidos, Hominick não desistiu de lutar enquanto o embate não fosse encerrado.

Em São Paulo, a corrida da Itaipava São Paulo Indy 300 Nestlé (eita naming right mais comprido, esse!) só foi acontecer na manhã de segunda-feira, para desespero da população paulistana. Depois de várias tentativas de fazer o evento acontecer, a direção da prova optou por transferir para hoje a corrida, assumindo os riscos da fúria do morador que já havia sofrido com a lentidão do trânsito na sexta-feira.

Os dois casos deixam claro o modelo americano de pensar o esporte. O mais importante é o show, acima de qualquer outra coisa. A integridade física dos participantes do espetáculo chega ao limite, mas o americano entende que o compromisso com o público é vital para a saúde do negócio.

Quando o torcedor, com razão, reclama de alguns horários impostos pela mídia a competições esportivas, chega a hora de o esporte parar e olhar para ver se está fazendo o certo. O show não pode parar, mas o dono do espetáculo é, em última instância, o seu consumidor.