Negócios do Esporte

Arquivo : julho 2013

O fim do mito Anderson Silva pode levar ao fim do UFC?
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Erich Beting

O nocaute sobre Anderson Silva pode ter acabado muito mais do que “apenas” com o mito em torno do multicampeão do UFC. Pelo menos para o torcedor comum, que segue o esporte não pela paixão a ele, mas muito mais pelo interesse social proporcionado quase sempre pela presença de um ídolo.

Foi em cima da imagem de Anderson Silva que o UFC ancorou sua proliferação no Brasil. Com a promoção do principal lutador do país, passamos a nos familiarizar com o tema desde o programa da Ana Maria Braga até as propagandas de automóveis, cursos de inglês e rede de fast food, entre outras.

Silva personificava o sucesso do UFC. Mas Chris Weidman colocou a nocaute toda essa imagem. Pelo menos para o torcedor distante da história do UFC, o que passou foi a ideia de um lutador arrogante que foi merecidamente levado à lona por alguém que o respeitou.

Assim, o mito de Silva beijou a lona junto com ele na madrugada do último sábado em Las Vegas. Sim, ele repetiu exatamente a mesma estratégia de outras lutas. Foi o showman que costumou nocautear seus rivais também fazendo uso da mesma artimanha. Mas dessa vez a história não teve o mesmo final feliz das outras vezes.

Como o público que acompanha o UFC é cada vez mais “novo”, não familiarizado pelo esporte, o nocaute de Anderson Silva pode ter levado a nocaute o próprio interesse das pessoas pelas lutas.

Hoje, no horário do almoço, deparei-me com duas situações que refletem bem essa situação. Uma mesa com três mulheres debatia sobre o assunto “nocaute de Anderson Silva”. Uma delas, entusiasmada, contava o quanto o brasileiro havia sido prepotente e beijado a lona por menosprezar o adversário. Pouco depois, o “Globo Esporte” fez uma extensa reportagem tentando mostrar exatamente que fazia “parte do jogo” a derrota da maneira como foi. Anderson não deixaria nunca de ser o grande campeão por ter sido derrotado, tanto que a matéria relembrava nocautes históricos do brasileiro usando a mesma estratégia que o derrubou no sábado.

A Globo tem um importante interesse ao mostrar esse lado da história. O fã do UFC na emissora não é o cara que sempre assistiu às lutas e assina o pay-per-view para acompanhar tudo o que acontece nesse universo. Pelo contrário. Prova disso é que a audiência deste sábado foi a maior da história do UFC no país, e a luta foi exibida com 30 minutos de atraso. Ou seja, Silva já estava na entrevista coletiva pós-nocaute quando a maior parte das pessoas no Brasil acompanhou o duelo.

Quando Mike Tyson mordeu a orelha de Evander Holyfield, em 1997, o boxe perdeu boa parte de sua atratividade e popularidade mundial. No Brasil, a derrota de Anderson Silva poderá ter o mesmo efeito para o torcedor que não é aficionado no UFC, mas que acompanhava as lutas por ter um grande ícone brasileiro do esporte.

O nocaute de Chris Weidman pode ter sido muito mais potente do que se imaginava…


O futebol brasileiro vai virar itinerante
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Erich Beting

Flamengo x Santos em Brasília. Botafogo x Fluminense em Pernambuco. Aos poucos, parece que os gestores dos novos estádios no país estão encontrando uma solução para tentar fazer com que as modernas arenas não se transformem em elefantes brancos.

A tendência para os próximos meses é a de que tenhamos diversos jogos sendo disputados por todo o país. Sem as arenas de algumas cidades da Copa prontas, alguns times estão “sem-teto”, como Botafogo, Flamengo e Fluminense, para ficar apenas no exemplo do Rio de Janeiro.

Mas o que vai acontecer quando todos os novos estádios estiverem prontos e em uso?

A estratégia de levar um caminhão de dinheiro para ter times de prestígio em suas bandas parece ser a alternativa para as arenas que não possuem clubes em divisões principais. Bandeira de propagação do discurso torto quando o Brasil foi eleito sede da Copa, está mais do que provado que o fato de um time não estar na elite faz muita, mas muita diferença para manter um estádio de alto padrão em funcionamento e, mais do que isso, com as contas em dia.

Até agora, Cuiabá não encontrou um gestor interessado na Arena Pantanal pós-Copa. Da mesma forma, penarão os gestores de Manaus, Brasília e Natal, especialmente. Nada contra essas cidades, mas tudo contra o modelo de negócio proposto para esses estádios.

Por conta do “Padrão Fifa”, essas arenas são feitas para terem lucro na venda de espaços corporativos, os populares camarotes. Para serem atraentes para uma empresa, esses camarotes precisam abrigar grandes eventos esportivos constantemente. Para abrigar grandes eventos, os donos dos estádios precisam desembolsar uma quantia razoável de dinheiro para levar os melhores artistas para esses espaços.

O futebol brasileiro vai virar itinerante. Mas a vida nômade vai acabar quando a fonte pública de financiamento dessas viagens acabar e, também, quando os clubes passarem a ter estádios próprios, que gerem muito mais receita do que uma viagem no sistema “all inclusive”.

E, depois que a fase nômade passar, o rombo que a conta do Mundial de 2014 deixará para essas sedes sem grandes times será gigantesco… Mesmo assim, o impacto que essas novas arenas causará na gestão do futebol será benéfica para a cadeia produtiva do esporte como um todo.


Os estádios sem “alma” pelo Brasil
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Erich Beting

“O Maracanã perdeu sua alma”. A frase foi compartilhada com alguns amigos pouco depois de reencontrar-me com o gigante, na véspera da final entre Brasil e Espanha. Realmente, a sensação que fiquei foi essa. Acabaram, por dentro e por fora, com aquele Maracanã que conheci.

Sim, é o progresso. A modernização, a melhoria do tratamento para o público, etc. Pontos que sempre defendi aqui no blog. Ir para um estádio tem de ser um programa, e não uma aventura. E isso passa pela criação de estádios mais modernos, seguros e confortáveis para o público.

Mas em nome disso o Maracanã foi destroçado. Pelo menos o que era dele. Em nome da padronização, matamos o que existia de história para refazer uma nova obra de arte. Seria simplório colocar a “culpa” de tudo isso nessa necessidade de adotarmos o famigerado “Padrão Fifa”.

Afinal, o padrão Fifa não tirou a alma dos estádios de Nuremberg, Berlim, Pretoria e Ellis Park (Johanesburgo), para ficar em exemplos que vivenciei na Alemanha-2006 e na África do Sul-2010. Ou o padrão Uefa, que é até anterior ao da Fifa, também não destruiu com diversos estádios pela Europa, como o Camp Nou (Barcelona) ou o Santiago Bernabéu (Real Madrid).

O problema a meu ver está na arquitetura. Construímos ou reformamos estádios pensando nas imagens aéreas feitas pela televisão, que é a grande promotora dos eventos. Por fora, esses colossos são lindos, distintos, bonitos. Mas e dentro? Como vou saber se estou no Maracanã ou no Stade de France? Como a Itaipava Arena Fonte Nova pode ser diferente da Itaipava Arena Pernambuco, que não nos percamos pelos acordos idênticos de naming rights? E, o que é pior, esses são os locais em que realmente as TVs estão focalizando suas imagens.

Os arquitetos destruíram a alma dos estádios brasileiros. A prova está abaixo. Vamos ao jogo dos seis erros. Todas as fotos foram extraídas do arquivo disponibilizado pela Getty Images aos diferentes parceiros da Fifa nesta Copa das Confederações. E aí, você consegue ver diferença entre os estádios?


Como denegrir o seu próprio produto
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Erich Beting

Muita gente considera que, pelo andar da carruagem, em breve a América do Sul conseguirá produzir uma Copa Libertadores que consiga ter porte similar ao de grandes competições da Europa. Alguns fatores contribuem para isso. O Brasil deve puxar a fila de investimentos em novos estádios, a economia latino-americana segue em melhor fase que a européia, os jogadores por aqui ficam por mais tempo do que anteriormente, os patrocinadores estão em profusão nos eventos.

Falta, porém, o grande salto para isso, que é acabar com a extrema dependência que a Conmebol tem da televisão.

Nesta quarta-feira, a semifinal da Libertadores não terá transmissão para boa parte do país. Mais uma vez, o contrato frouxo com a TV permite que outra competição seja exibida no mesmo horário pela Globo, detentora dos direitos de transmissão.

Só que, dessa vez, o absurdo é ainda maior. No lugar de um evento da Conmebol será transmitido… Outro evento da Conmebol!!!!

Sim, a própria entidade canibaliza dois eventos dela. Como fazer para justificar uma atitude dessas para os patrocinadores de um ou de outro campeonato? A TV é quem manda no negócio ou é a entidade? Por que a Globo é obrigada a transmitir as semifinais e finais da Liga dos Campeões da Europa e não precisa dar o mesmo tratamento quando o evento tem jogadores brasileiros em campo?

Para o desenvolvimento do futebol na América do Sul, é urgente passar a respeitar o princípio básico de todo grande evento esportivo. Não há nada maior do que a competição. Patrocinadores e televisão precisam entender e valorizar isso.

Mas, na Conmebol, a lógica parece ainda ser inversa. E a cada ano que passa a entidade dá uma nova aula de como denegrir o seu próprio produto.


Ah, se fosse no Brasil…
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Erich Beting

Parece piada, mas não é.

A gafe na apresentação do mais estrelar reforço do Bayern de Munique para a temporada beirou o ridículo. Mario Götze vestindo uma camisa da Nike em plena apresentação no clube que só é patrocinado há 50 anos pela Adidas já seria absurdamente errado. Erro do atleta, erro do clube que não se atentou para esse “detalhe”.

Seria uma gafe perto do nível daquela cometida por Júlio César na final da Copa das Confederações, usando a camisa de Casillas, com as três listras claramente expostas, em vez da do Brasil, com a marca da Nike. Mas na situação de Júlio o erro foi exclusivo do atleta, já que a Nike não tinha acesso ao gramado do Maracanã para impedir o acontecimento.

Mas há um complicador ainda maior na história de Götze. A Adidas não é só patrocinadora do Bayern. Desde 2002 ela é acionista do clube alemão, com 9,4% das ações. Herbert Hainer, presidente da fabricante de material esportivo é também membro do conselho do Bayern.

Possivelmente alguma demissão rolou nesta noite de terça-feira na Alemanha. Imagine se fosse no Brasil o que nós falaríamos sobre o amadorismo dos dirigentes?

Para quem não viu, seguem as duas fotos.

Götze e a nada discreta camisa com a marca da Nike, na apresentação ao Bayern, da Adidas

Júlio César, patrocinado da Nike, usando a camisa de Casillas, da Adidas


A seleção vai voltar a ser um produto?
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Erich Beting

Essa acho que é a dúvida que permeia boa parte dos patrocinadores da seleção brasileira desde o domingo. Será que, com o excelente desempenho obtido pelo time nacional, a seleção voltará a ser um produto para que essas marcas explorem?

Nunca a seleção teve tanto patrocinador quanto agora. Prepare o fôlego para contar. São 12 patrocinadores do time brasileiro: Nike, Ambev, Itaú, Vivo, Sadia, Nestlé, Extra, Gillette, Volkswagen, Gol, MasterCard e Seguros Unimed.

Isso ficou claro na estratégia adotada por Itaú e Ambev, que patrocinam também a Copa do Mundo. As duas marcas preferiram falar do evento do que do time brasileiro.

A única a fazer alguma coisa para reforçar o patrocínio foi Gatorade. A marca, que no Brasil faz parte do rol da Ambev que pode usar o status de patrocinador da seleção junto com Brahma e Guaraná, criou vídeos com o time brasileiro para serem exibidos nas redes sociais. A ação também se justifica pelo fato de sua maior concorrente no mercado, a Powerade, ser patrocinadora da Copa.

Todos os outros patrocinadores, sem exceção, pouco fizeram para lembrar o torcedor de seu vínculo com a equipe. Um pouco por conta do sentimento duvidoso em relação ao desempenho dos atletas e o engajamento do torcedor com o time, outro pouco por conta de experiências frustrantes no passado (como a Brahma e o “time de guerreiros” de 2010).

Só que esse comportamento impõe um desafio para as empresas e outro para a CBF a partir de agora.

As marcas precisarão saber como trabalhar a comunicação do patrocínio. Se resolver, só agora, demonstrar orgulho por apoiar o time na “alta”, possivelmente passarão a ser vistas como oportunistas aos olhos do torcedor. Exceção que pode ser feita a Gol, Sadia e Seguros Unimed, que entraram no patrocínio praticamente com o jogo na prorrogação.

Quem quiser, terá de construir uma história que leve adiante o relacionamento entre torcida e time, superando até o momento da Copa do Mundo. Isso acaba sendo bom para a própria indústria do esporte, já que exigirá mais investimento na ativação do patrocínio (o que significa mais ações de publicidade na mídia e também ações fora da mídia para o torcedor).

E aí entra o desafio que a CBF terá pela frente. Como ela fará para dar conta de mais de dez empresas solicitando diferentes ações para atender a seus anseios? Atualmente, o departamento de marketing da entidade não conseguirá dar conta. É por isso que sempre dissemos por aqui que o processo de profissionalização da indústria do esporte no país virá de fora para dentro.

Com mais de R$ 200 milhões de faturamento com os patrocinadores, a CBF terá de criar um departamento que consiga atender a esses patrocinadores. Do contrário, passada a Copa esse dinheiro, fatalmente, começará a reduzir…


Fifa muda estratégia para agradar parceiros
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Erich Beting

Em 2005, uma pesquisa da publicação inglesa Sport Business com os então 15 patrocinadores oficiais da Copa do Mundo da Alemanha apontava uma alarmante realidade. Todos eles, sem exceção, disseram que estavam insatisfeitos com a relação com a entidade. Pior que isso, acreditavam que o valor pago pelo patrocínio não dava o retorno devido para a marca.

A divulgação dessa situação fez com que, em 2007, a Fifa revisse o programa de patrocínio oferecido. Se, em 2006, eram 15 patrocinadores que dividiam o espaço ao redor do gramado em placas de publicidade e tinham quiosques para realizar ações nos estádios, para o Mundial de 2010 a coisa mudou significativamente.

Na África do Sul a entidade estreou o sistema de divisão de categorias de patrocínio. Hoje, são seis patrocinadores da entidade, seis patrocinadores da Copa do Mundo e outros seis apoiadores locais. Em 2010, foram 12 empresas envolvidas na relação comercial com o Mundial. A redução do número de marcas foi compensada com o aumento do faturamento.

Agora, para 2014, a Fifa dá mostras de que entendeu que precisa ceder ainda mais propriedades aos patrocinadores, e elas não estão ligadas à exposição da marca, que já foi resolvida a partir da disponibilidade de painéis rotativos durante os jogos. Na Copa das Confederações, as marcas tinham diferentes propriedades disponíveis para entregar a seus convidados “experiências únicas”.

Essa história começou ainda em 2002 com o McDonald’s e os torcedores-mirins que entram junto com os times em campo. São 22 crianças contempladas por jogo ao longo de 16 jogos na Copa das Confederações e 64 partidas no Mundial. O negócio acendeu o alerta para os demais patrocinadores, que passaram a exigir esse tipo de produto para ser trabalhado em conjunto com o patrocínio. A mudança, porém, só começou mesmo agora.

Na Copa das Confederações, a Fifa “loteou” diferentes ações. O Itaú, por exemplo, levou um torcedor por jogo para assistir à entrevista coletiva para a imprensa realizada após a partida. A Visa levava um grupo de convidados para ver de dentro do campo o aquecimento das equipes. A Sony tinha um torcedor que ficava na posição dos fotógrafos credenciados para o jogo, durante a partida. A Adidas teve os guardiões da bola e da bandeira, que carregavam a bola do jogo e a bandeira dos times antes da execução dos hinos nacionais.

Além disso, na véspera e no dia da final, convidados dos patrocinadores puderam rodar pelos bastidores do Maracanã para conhecer por dentro o estádio. Ida a vestiário, banco de reservas e áreas reservadas para a imprensa estiveram dentro do roteiro de algumas marcas.

Não à toa, a cada negociação os patrocinadores desembolsam ainda mais dinheiro para ficar com os direitos sobre a maior competição do futebol. E, com as promoções, vão ajudando na valorização do Mundial.

Os esportes americanos entenderam esse conceito lá pelos anos 80. Só agora o universo do futebol parece que entendeu qual é o melhor meio de construir e promover um grande evento esportivo…