Negócios do Esporte

Arquivo : julho 2015

Por que pagar o Pato?
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Erich Beting

Imagine que você tenha comprado um belo carro de luxo, pago bem caro por ele e, no fim das contas, quando você foi dirigir, não conseguiu rolar “aquela química” com o carro. O motor não era tão potente, o combustível gastava mais do que o esperado, o seguro era caro demais, etc. Você decide, então, emprestar esse carro para um cunhado, com a promessa de que, após um determinado tempo, ou o carro volta “amaciado” para você, ou então você revende para outra pessoa com quem ele se dê bem.

Aí, quando o tempo de vencimento desse empréstimo está próximo de chegar ao fim, o carro até que parece mais ajeitado, tem tido melhor rendimento e tal. Mas você começa a alardear para todo mundo que o carro não te interessa e que você quer se desfazer dele de qualquer jeito.

A pergunta óbvia é: será que alguém vai pagar por ele o quanto você pagou ou algum valor próximo disso ou, já que você quer tanto vender, o máximo que receberá será uma oferta bem abaixo do valor de mercado que o carro teria?

É exatamente esse descuido que o Corinthians está tendo com relação à venda de Alexandre Pato.

Há quase três semanas, o presidente Roberto de Andrade declarou, ao programa Seleção Sportv, que “se Deus quiser, teremos a bênção de vender o Pato”. Na última semana, o ex-presidente Andrés Sanchez colocou mais lenha na história, desdenhando do jogador e afirmando que, se ele voltar do empréstimo do São Paulo, vai repassá-lo ao Bragantino, esquecendo-se de que Pato não é obrigado a aceitar isso. Em entrevista coletiva, o atleta saiu-se bem, afirmando que a preocupação dele era com o São Paulo, seu atual clube.

Que Pato não jogará mais pelo Corinthians está mais do que claro. O que resta saber é como o clube espera ganhar um dinheiro que reduza o prejuízo que teve com o atleta se, em declarações, seus dirigentes denigrem cada vez mais a imagem de Pato e o interesse em contar com ele.

A questão não é quem vai pagar pelo Pato, mas sim, do jeito que o Corinthians tornou a situação, por que pagar por ele?


O futebol baixou os preços ou a crise acabou?
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Erich Beting

No começo do ano, o Palmeiras fechou patrocínio com três empresas que nunca haviam investido em esporte (Crefisa, FAM e Prevent Senior). Pouco depois, a Jeep usou o Flamengo para anunciar o começo de produção no país. Depois, a 99 Taxis começou a aparecer nos uniformes de diversos clubes da Série A nacional. E, no próximo mês, a Voxx, marca de suplementos do Grupo Cimed, anunciará patrocínio a diversos times (leia aqui).

Um ano após a lenga-lenga dos dirigentes de que a Copa do Mundo e a crise haviam afastado os patrocinadores de seus uniformes, o futebol não encontra motivo que justifique um movimento grande de entrada de novas marcas em ações de patrocínio.

Quer dizer. O motivo é claro, apenas o orgulho impede que os dirigentes tenham coragem de explicar o que acontece.

O fato é que o futebol é um mercado imune a crise. O que estava faltando para os clubes era readequar o preço à realidade, algo que começa também a acontecer em boa parte da economia do país, afetada pelo surto de crescimento que transformou, em muitos casos, a moeda corrente do real para o surreal.

O futebol vivia, até o ano passado, numa bolha de ilusão. Os clubes achavam que valiam o preço do começo da década, quando Ronaldo e Corinthians, impulsionados pela mania de grandeza da Hypermarcas, haviam levado para valores fenomenais o patrocínio de camisa no país. Com a economia em crescimento, mais Copa e Olimpíadas a caminho, era natural que o mercado se inflacionasse.

Acontece que o milagre do esporte não aconteceu. O do país, começou a deixar de acontecer. E, no fim das contas, os clubes demoraram para entender que a moeda corrente deveria voltar para os reais, em vez dos surreais.

Ao mesmo tempo, as empresas começaram a perceber outra forma de se comunicar por meio do esporte. As mídias sociais se fortaleceram e se transformaram numa eficiente e barata plataforma de ativação de patrocínio.

Chegamos, então, ao cenário de hoje. Com valores mais factíveis e sem grandes concorrentes no mercado, o patrocínio no futebol voltou a ser uma alternativa mais barata e eficiente de atingir um grande contingente de pessoas com alta capacidade de atenção do consumidor. É só ver a movimentação do torcedor em cima de uma marca quando ela anuncia o patrocínio à equipe.

A economia do país mostra que estamos num momento pior do que o do ano passado. Mesmo assim, o futebol parece ter reencontrado o caminho do patrocínio. Não tem muito segredo. A desculpa da crise acaba assim que se entende que não pode cobrar três vezes mais do que o real valor de um patrocínio.


A imagem que resume o atual momento do futebol
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Erich Beting

Acabei não conseguindo, na semana passada, colocar a foto no ar. Mas ela é a síntese do que acontece hoje no mundo do futebol. O protesto dos jogadores panamenhos após a eliminação com dois pênaltis duvidosos (e só coloco duvidoso por não ter havido consenso no debate no dia seguinte na Máquina do Esporte, porque para mim foram pênaltis escandalosamente mal marcados) da Copa Ouro.

Atletas do Panamá protestam, ainda no vestiário, contra dirigentes da Concacaf

Atletas do Panamá protestam, ainda no vestiário, contra dirigentes da Concacaf

O protesto é a síntese do que pensam muitos jogadores sobre como funciona o meio no qual eles trabalham. Só que quando haveria um protesto semelhante a esse, numa manifestação pública de desgosto e revolta contra os dirigentes?

É só lembrar o que fez o time da Croácia no vestiário da Arena Corinthians depois de o Brasil ter ganho o jogo de abertura da Copa numa arbitragem desastrosa. Os atletas arrebentaram os vestiários, mas em nenhum momento expuseram, publicamente, qualquer mensagem contra a Fifa e seus dirigentes. Será que, se fosse hoje, não teriam feito o mesmo comportamento que os atletas do Panamá?

O futebol começa a passar por um período de gigantescas transformações. Uma delas é a manifestação pública dos atletas sobre o que eles pensam. Mudar o comando do futebol de um dia para o outro é impossível. Mas é impossível manter tudo do jeito que era antes…

É, mais ou menos, o que aconteceu com o Brasil após os 7 a 1. Será que o Bom Senso FC chegaria a existir caso o Brasil tivesse perdido num jogo apertado da Alemanha? Será que estaríamos questionando tanto o comando do futebol no país não fosse a goleada que calçou as sandálias da humildade nos torcedores?

Qualquer transformação sem revolução é lenta. Não será de uma hora para a outra que veremos novas caras no comando do futebol. Mas só o fato de os jogadores se sentirem incomodados mostra que muita coisa ainda está para mudar.


O grande prêmio do Grande Prêmio
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Erich Beting

Geralmente é nos momentos de dificuldade que aprendemos a nos reinventar. Hoje, não é novidade alguma, o setor de mídia passa por um momento de reinvenção. A realidade da área de mídia vem sendo transformada pela internet há pelo menos duas décadas. Primeiro, o próprio desenvolvimento da internet veio bagunçar o meio impresso. Agora, as redes sociais estão mudando a realidade do próprio veículo no meio digital. E, nesse período de tanta mudança, é preciso para o jornalismo se reinventar como negócio.

Na Europa e Estados Unidos, os veículos fecharam seus conteúdos e estão cobrando pelo acesso. É, a grosso modo, a migração do modelo de assinatura de jornal para o meio digital. Por aqui, a moda ainda não pega tanto. Já somos capazes de aceitar pagar pelo Netflix, mas não aceitamos a ter uma assinatura pelo conteúdo escrito. E, assim, os veículos vão se desesperando. Ainda vendem para o anunciante audiência, num modelo cada vez mais fadado ao fracasso.

O grande mérito de um veículo de mídia é sua relevância. Ele faz diferença para um determinado público? Então é isso o que o fará ser atrativo para um anunciante ou para um cliente. E é exatamente esse o “pulo do gato” que acaba de ser dado pelo Grande Prêmio, site especializado em automobilismo de Flávio Gomes e logicamente muito bem liderado pelo Victor Martins. Os dois são feras em jornalismo. E mostraram que sabem o essencial para manter uma empresa relevante: cativar o consumidor.

Flavinho explicou longamente quem são os patrões e patronos do GP (leia aqui). Para resumir, eles criaram um projeto que cria um clube de benefícios para os leitores do GP. O associado paga um valor por mês e, em troca, passa a ter acesso a toda gama de promoções, acessos exclusivos e experiências únicas proporcionadas pelo site e por parceiros (detalhes aqui).

Como brinquei ao ser apresentado ao projeto, é uma espécie de “sócio-torcedor” do GP. O leitor, fã do automobilismo, é também um fã do site. Do estilo que ele implementou na cobertura do esporte motor, do jeito que ele aborda os assuntos, etc.

Ao ser relevante, o GP passa a ser um diferencial para as empresas. Ele consegue engajamento, algo cada vez mais raro de alcançar num mundo em que a mídia está amplamente fragmentada e, pior, condicionada pelos algorítimos das redes sociais.

O Grande Prêmio traz, para a mídia, um grande prêmio. Ele mostra um caminho que é possível tomar para reinventar o modelo de negócios. Por mais anúncio direcionado que o Facebook ou o Google possam colocar para os internautas, as mídias sociais não são capazes de fornecer engajamento do público com a mídia. E isso, para uma estratégia de marca, é primordial.

O meio digital muda a cada três anos de forma brusca, rompendo modelos centenários e colocando quem está no mercado num teste de fogo. O esporte consegue um nível de engajamento do público que quase nenhum outro segmento é capaz de fazer. O GP percebeu, a seu modo, que isso pode fazer toda a diferença.

É impressionante como marcas centenárias do jornalismo não procuraram o mesmo – e óbvio – caminho. Tinham mais força comercial e estrutura para isso. Mas é mais fácil culpar a crise e promover cortes na empresa a tentar mudar um modelo de negócios quase secular.

A encruzilhada vivida pela mídia é similar à vivida pelo esporte no Brasil. O modelo que existia não se sustenta. É preciso repensar a estrutura. E nada melhor que uma época em que o dinheiro não cai no colo para isso…


Brasil terá um boom de novos estádios em 20 anos
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Erich Beting

Matéria da semana passada na Máquina do Esporte dava conta de que o Atlético Mineiro planeja erguer um novo estádio para o clube nos próximos anos (detalhes aqui). Ao Galo deverão se juntar em breve outros clubes. Eles vão trazer uma nova realidade para o futebol brasileiro nas próximas duas décadas.

Haverá, nos próximos 20 anos, um boom de novos estádios pelo país. Arenas modernas, mais confortáveis, com mais segurança para o público, melhores condições de trabalho para todos e, principalmente, maior geração de receita para os clubes.

O fenômeno segue a cadeia lógica de investimento em estádios que aconteceu primeiro nos Estados Unidos, depois nas duas potências econômicas da Europa (Inglaterra e Alemanha) e, agora, começa a se espalhar pela Itália.

Com a construção das novas arenas para a Copa do Mundo, os clubes começam a perceber que estádio precisa ser uma fonte boa de arrecadação para que isso se transforme em potencial competitivo mais à frente. Com novas instalações, é possível oferecer mais serviços e produtos para o torcedor. Da mesma forma, o novo local traz para os estádios um público que estava distante do futebol, acomodado na poltrona do sofá ou na mesa do bar.

Neste Brasileirão, Palmeiras e Corinthians puxam a fila e mostram a diferença que faz ter um estádio próprio e moderno. Mesmo que ambos ainda estejam em obras, já houve um aumento sensível de arrecadação dos dois times por conta dos novos  espaços. Ainda de maneira errada, baseado apenas na majoração dos preços de ingresso, mas já representando um diferencial para os times, especialmente para o Palmeiras, que em oito jogos faturou R$ 17 milhões em seu estádio.

Com o tempo, os gestores do estádio vão começar a perceber que, mais importante do que ganhar na cobrança do ingresso, é com os serviços que se faz realmente dinheiro no estádio.

É a transformação do conceito de “receita de bilheteria” em “receita do dia de jogo”, com direito a visita a museu, almoço em restaurante (ou lanchonete), estacionamento, loja oficial, quiosque de produtos, etc.

Até lá, porém, o Brasil ainda passará por um processo de construção de novos estádios, baseados na necessidade dos clubes, e não na megalomania de um grande evento. Foi essa transformação que revolucionou o negócio do futebol na Inglaterra, que mudou a cara do futebol alemão e que começa a querer resgatar o futebol na Itália.

O Brasil, como sempre, estará com alguns anos de defasagem em relação à Europa, que por sua vez está sempre atrasada em relação aos EUA. O mais importante, porém, é que o futebol percebeu que, para melhorar, precisa repensar a forma como trata o torcedor, sua principal fonte de arrecadação.


O atleta-objeto é a deturpação do esporte como notícia
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Erich Beting

Ingrid Oliveira é, como qualquer jovem de 20 anos de idade, adepta das redes sociais e, especialmente, do Instagram. Há uma semana, Ingrid publicou uma foto em seu perfil com a legenda “Primeiro treino”.

Ela estava sobre a plataforma de salto da piscina onde ocorreram as disputas dos saltos ornamentais do Pan-Americano de Toronto.

A foto virou notícia. Não pelo treino realizado pela atleta, mas pela imagem de seu corpo na foto.

A imagem tem 16,2 mil curtidas e mais de 2 mil comentários. As fotos tiradas por Ingrid antes dessa raramente chegavam a mil curtidas.

Após virar notícia pela beleza de seu corpo, Ingrid ganhou mais de 50 mil seguidores no Instagram e foi alçada ao status de “atleta-musa”, a modalidade olímpica caça-clique adotada pelos sites em busca de números para justificar ao anunciante.

O caso mostra como a notícia, no esporte, deixou de ser o esporte para ser o atleta visto como celebridade. Nos anos 80, sem TV a cabo e internet, atletas-musas recorriam à Playboy para ganhar mídia e talvez assim uma verba de patrocínio.

O veículo, porém, só falava do atleta dentro da competição. Hoje, a regra mudou. A ordem é destacar o lado “muso” do atleta, ainda mais com a facilidade das redes sociais.

Ah, sim. Ingrid foi prata no salto em dupla. A foto com a medalha não teve grande destaque na mídia. Resultado? Metade das curtidas e um terço dos comentários no Insta…

A mídia precisa rever os critérios do que é notícia no esporte. Não só pelo bem do Rio-2016, mas para a própria sobrevivência pós-Olimpíadas.


O novo acordo da CBF diz muito sobre o futebol no Brasil
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Erich Beting

Trinta anos é um prazo muito longo. Mas foi por esse tempo que a CBF fechou seu novo contrato de patrocínio, com a rede de drogarias Ultrafarma (detalhes aqui). Muito provavelmente, Sidney Oliveira, fundador das farmácias que são um colosso em São Paulo, não estará vivo quando o contrato se encerrar. Assim como Marco Polo Del Nero. Ambos estão hoje na casa dos 70 anos de idade.

Mas o contrato Ultrafarma-CBF chama a atenção não apenas por isso. Ele diz muito sobre o futebol no Brasil.

Qual o novo patrocinador que aparece no futebol do país depois de um escândalo colocar o ex-presidente da CBF na cadeia? Uma rede de farmácias, que fecha exatamente com a entidade que é investigada na Suíça, nos EUA e vive sua maior crise de imagem na história.

Por que a mesma Ultrafarma não se interessou por nenhum clube? Será que o produto CBF e seleção brasileira seguem a ser o melhor investimento possível para uma marca quando ela pensa em futebol no Brasil?

O ponto é que, por mais absurdo que possa parecer, dificilmente algum clube de futebol tenha olhado para a Ultrafarma como um potencial parceiro comercial. Empresa que fatura R$ 1 bilhão ao ano, a marca não deve ter sido procurada para uma eventual parceria com algum clube.

Ou, se foi, a única proposta que recebeu foi por um investimento alto demais para ter a marca estampada na camisa do clube. Sem oferecer nada além do que essa exposição em troca.

Com o acordo, a CBF adiciona a 14ª marca no backdrop da seleção brasileira. Enquanto isso, o futebol tem dificuldades em se vender, jogando invariavelmente a culpa na crise.

Oferecer às empresas propriedades que sejam atrativas para além da exposição na camisa e procurar mostrar a importância que há no relacionamento com o consumidor é uma tarefa básica que o futebol no Brasil ainda teima em não entender.

Como pode a CBF ainda aparentar ser o melhor investimento de uma empresa que pensa em aportar dinheiro no futebol? E como nenhum outro clube consegue ser tão eficiente quanto à entidade?

O acordo CBF-Ultrafarma por 30 anos é um absurdo. Não pela decisão da empresa ou pela competência da entidade em achar mais um parceiro em meio a seu maior escândalo na história. Mas pela extrema incapacidade dos clubes em ter um novo parceiro comercial…


Quanto vale o mando de um jogo?
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Erich Beting

O Vasco enfrentou na quarta-feira o São Paulo em Brasília, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro. No final de semana anterior, a Ponte Preta aceitou ir a Cuiabá para receber o Palmeiras. Antes, o Vasco já tinha estado na capital mato-grossense para o clássico com o Flamengo. E, em breve, Londrina, no Paraná, será a “casa” do Asa, de Arapiraca (AL), no confronto decisivo contra o Palmeiras pela Copa Sadia do Brasil.

Nos quatro casos, Vasco, Ponte e ASA foram remunerados para ir jogar em outros estados. Os times abriram mão da competitividade esportiva para engordar o caixa. Em tempos de receita escassa no futebol, esse é um caminho tentador. E lógico. Esportivamente perde-se, mas pode-se ganhar mais atuando por uma receita fixa.

E a questão que fica é: quanto vale um mando de campo?

O Vasco recebeu R$ 1,7 milhão pelos dois jogos que fez longe de São Januário. As duas partidas arrecadaram pouco mais de R$ 1 milhão cada. A conta, nos dois casos, ficou próxima do zero ou deu prejuízo. Foi, no final, totalmente ruim para quem teve a ideia de pagar para ter o Vasco atuando em seu estádio.

Da mesma forma a Ponte Preta causou prejuízo para os promotores do jogo em Cuiabá. O cachê pago para a equipe campineira é mais absurdo ainda: os mesmos R$ 1 milhão do Vasco para atuar no Mato Grosso.

Na tentativa de evitar o branco-elefantismo, as arenas têm buscado desesperadamente atrair eventos. A lógica é relativamente simples. Paga-se um valor fixo para o clube ter o interesse em ir atuar no seu estádio. Com a receita de bilheteria, cobre-se o valor investido e ainda se tem lucro na operação.

Seria lindo, se os organizadores tivessem feito o mínimo de esforço em entender quanto vale o mando de campo para uma partida.

A Ponte Preta teve, no melhor jogo em seu estádio pelo Campeonato Brasileiro, pouco mais de R$ 50 mil de lucro. Sendo assim, qualquer valor acima disso que fosse oferecido estaria de ótimo tamanho para o clube. O ponto é que o milhão que ela ganhou por atuar em Cuiabá significa mais do que todo o lucro que a Ponte Preta terá em bilheteria nos 19 jogos atuando em seu estádio neste Brasileirão. Para a Macaca, o negócio foi espetacular. Para os promotores, se houvesse o mínimo de estudo prévio, estaria claro que, por 20% dessa verba que foi paga, muito provavelmente a Ponte aceitaria jogar longe de casa.

Da mesma forma, o Vasco não tem conseguido obter mais do que R$ 200 mil de arrecadação por partida atuando em São Januário. Será que realmente é preciso oferecer praticamente quatro vezes mais esse valor para convencer o clube a atuar fora?

Os novos estádios impõem uma necessidade completamente nova aos gestores. É preciso preencher uma grade de jogos nas arenas para que elas consigam ter dinheiro o suficiente para começar a gerar lucro. Mas como fazer isso se os promotores de eventos seguem a trabalhar com a (i)lógica dos dirigentes esportivos, de que não há nada maior do que o seu próprio clube?

Enquanto as arenas não entenderem que é preciso calcular com calma antes de fazer uma proposta para uma equipe atuar em sua casa e com isso gerar lucro para o dono da arena, será impossível acreditar que é um bom negócio ter novos estádios no país.


Daniel Alves dá aula de gestão em entrevista
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Erich Beting

Daniel Alves talvez seja hoje para a seleção brasileira o que foi Roberto Carlos. Um lateral espetacular, de alta qualidade técnica e ótimo vigor físico. Protagonista nos clubes por onde passou, na seleção brasileira não conseguiu ganhar o carinho devido da torcida. Às vezes, levou injustamente a fama pela derrota do time nacional.

Mas, assim como Roberto Carlos, Dani Alves sabe se posicionar. Dentro e fora de campo.

A ESPN exibiu o bombástico “Bola da Vez” com o lateral-direito do Barcelona e, muito possivelmente, ex-titular da seleção brasileira. É bem provável que, após a entrevista em que ele detonou de tudo um pouco na gestão do futebol brasileiro, seu lugar com a camisa 2 da seleção seja reservado para outro.

Mas é impossível não se impressionar com a aula de gestão que o baiano arretado deu nessa entrevista. Dani colocou, até onde dava, o dedo na ferida. A história de que o Guardiola queria a seleção e a CBF o desprezou foi o de menos. Não necessariamente ele resolveria o problema do time nacional. E, muito menos, é a solução para um futebol que está parado no tempo.

Interessante mesmo foi a aula de gestão que Dani Alves deu. Falou sobre como o futebol, por aqui, está preso a conceitos arcaicos. E, após ser cobrado por não dar resultados, mostrou que queria falar. E falou. Não tirou o dele da reta pelo fiasco em campo nos últimos anos, mas deu alguns indícios de que muito do que não anda dentro de campo, é reflexo do que está desandando fora dele.

Infelizmente o jogador brasileiro, para se tornar profissional, ainda precisa cruzar o Oceano. Dani Alves foi só mais uma prova disso. Tanto que foi emblemática a última resposta na entrevista. Em linhas gerais ele deixou claro que agiu de forma pensada, procurando um microfone que pudesse ecoar aquilo que estava entalado na garganta.

O Bom Senso foi um movimento que só conseguiu surgir no Brasil depois que os jogadores que atuaram no futebol profissionalizado da Europa regressaram, em fim de carreira, ao país. Dani Alves foi o primeiro a ter ainda algo a perder que colocou a boca no trombone.


O que mudou nos 7 a 1 foi a autoestima do torcedor
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Erich Beting

Reforma já!

Técnico estrangeiro já!

Muda tudo!

Não foi um apagão!

Fora, Marin!

Abaixo à CBF!

Gol da Alemanha!

Há um ano, ouvíamos, ainda tão atordoados quanto os 11 jogadores em campo naquele fatídico 8 de julho de 2014, algumas dessas frases sendo proferidas por torcedores destroçados pela maior humilhação já sofrida pela seleção brasileira dentro de campo.

E, um ano depois, o que mudou após os 7 a 1?

A percepção geral é de que nada mudou. Saiu Marin, entrou Del Nero. Saiu Felipão, entrou Dunga. Sai Neymar, o time não se acha…

E talvez seja exatamente essa a grande mudança que exista no imaginário brasileiro após os 7 a 1.

De forma visível e palpável, nada mudou. Os dirigentes seguem os mesmos, tentando forçar a não-aprovação de leis que minem o poder quase supralei da CBF na atualidade. O treinador é quase o mesmo, com a diferença de que agora chamaram o pessoal do passado para dar ideias sobre o futuro. O Brasileirão segue a ser (des)organizado do mesmo jeito, sem uma preocupação com o produto apresentado.

Mas, de forma estrutural, muita coisa começa a mudar.

Os jogadores fizeram, após os 7 a 1, a maior mobilização já vista da categoria no Brasil. Cruzaram as pernas e sentaram nos chãos, protestando contra o descaso dos cartolas com o futebol. Viraram uma frente de combate à CBF tão importante a ponto de influenciar a presidência da República a tentar melhorar alguma coisa no futebol.

Os torcedores, a seu modo, também refletem o impacto dos sete gols na cabeça. A crença de que ser apenas o país pentacampeão do mundo já garante títulos e favoritismo ao Brasil caiu pela terra arrasada. A sensação de que não somos mais “o melhor” faz bem para o próprio processo de mudança que precisa acontecer.

No fim das contas, 7 a 1 não foi pouco. E, um ano depois do massacre alemão, o Brasil ainda procura juntar os cacos do maior pesadelo futebolístico da história.

Dá para virar o jogo, mas isso requer muito esforço e trabalho de planejamento no longo prazo. Algo que o Brasil, dentro e fora de campo, na economia e no esporte, na política e nas artes, não está acostumado a fazer.

O que não dá para imaginar é que nada tenha mudado após os 7 a 1. Imagine o que teria de fato mudado se o Brasil tivesse ganho a Copa? Possivelmente, ainda teríamos o mesmo Brasileirão apagado e insosso, mas a sensação era a de que ninguém pode com o único hexacampeão mundial.

A maior mudança provocada nos 7 a 1 foi a diminuição da autoestima do torcedor. E isso é o primeiro passo para, aí sim, mudar mais coisa no futebol brasileiro.