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Estádio novo já vira diferencial competitivo
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Erich Beting

Reportagem de hoje do diário “Lance!” mostra que o Corinthians deverá bater, em 50 jogos, a marca de R$ 100 milhões de arrecadação com venda de ingressos para o torcedor na Arena Corinthians. O número deve ser alcançado já no jogo contra o Flamengo, dia 25 de outubro, curiosamente também a partida de número 50 feita pelo clube no estádio.

Se for considerar que cerca de 40% da arrecadação se esvai em pagamento de taxas, custo de pessoal no dia de jogo e outras coisas mais, o Corinthians conseguiu, em um ano e meio, R$ 60 milhões, que é equivalente a dois anos do contrato de patrocínio máster que possui com a Caixa.

Os números revelam o quanto o estádio novo já se transformou num diferencial competitivo dentro do futebol. Os clubes que atuam nas novas arenas estão arrecadando como nunca em bilheteria.

Em 2013, quando publicou a lista anual de clubes que mais faturam no mundo, a consultoria inglesa Delloitte afirmou que era preciso olhar cada vez mais atentamente para os clubes do Brasil e da Rússia. Segundo os britânicos, os estádios erguidos para a Copa do Mundo fariam de brasileiros e russos clubes com faturamento próximo ao dos times médios da Europa, colocando-os entre os 20 maiores faturamentos do futebol mundial.

O único erro da Delloitte nessa conta foi ter imaginado que brasileiros e russos possuem mercados tão maduros quanto os alemães e os ingleses. Numa realidade em que ainda patinamos muito para entender o que um estádio pode gerar de potencial de receita, a bilheteria aparece timidamente como a única fonte de arrecadação para os clubes.

O Corinthians tem conseguido colocar 30 mil pessoas por jogo em seu estádio. Quanto isso gera a mais de arrecadação para o clube? Essa é a resposta que ainda falta ser respondida. Foram poucas, até agora, as ações de ativação de marcas feitas dentro da Arena Corinthians. Até agora, uma ou outra empresa usou o recurso do telão para criar alguma ação com o torcedor presente no estádio.

Mas ainda há um potencial inexplorado de faturamento com a venda de produtos dentro dos estádios e, mais ainda, de alimentação. No caso da Arena Corinthians, as lojas da praça de alimentação no Shopping Metrô Itaquera, vizinho ao estádio e parada obrigatória de quem usa o metrô, são as que estão sorrindo com um aumento substancial de faturamento nos dias de jogos.

Só na bilheteria, os clubes arrecadam como nunca antes com os novos estádios. Imagine quando o futebol começar a entender que o importante não é venda de ingressos, mas a receita que é possível conseguir num dia inteiro de jogo?


Modelo do futebol precisa ser revisto
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Erich Beting

A renúncia de Carlos Miguel Aidar, somada à crise da Fifa, reforça a necessidade de o modelo do futebol ser revisto.

A origem do futebol no Brasil remonta à formação social do país. Inicialmente, o futebol era jogado pelos clubes, que eram formado muitas vezes por grupos diferentes de pessoas. Os ingleses, os italianos, os alemães, os operários, os brasileiros, etc. Aos poucos, esses grupos começavam a querer rivalizar entre eles, literalmente para ver quem era o “melhor da cidade”.

Foi assim que surgiu, em 1902, o Campeonato Paulista. Até então, nada além da reunião de confrades, de clubes que tinham meramente como objetivo se divertir ao final de semana, mas numa brincadeira que foi ficando um pouco mais séria ao longo do tempo.

Os campeonatos pelo país evoluíram, desde os anos 1930 o jogador passou a ser considerado profissional, a televisão entrou na jogada, os patrocinadores também e, agora, o marketing dentro dos clubes começa a decolar. Mas e a estrutura de gestão dessas entidades?

Esse é o ponto que, literalmente, não mudou desde que Charles Miller trouxe as primeiras bolas para o Brasil.

Continuamos a ter o futebol regido por entidades que nada mais são do que meras associações de pessoas. E isso gera um ambiente completamente propício para a corrupção.

Tal qual acontece na política, o dinheiro no futebol não tem dono. A dor do prejuízo sempre cai sobre o clube, nunca sobre o dirigente responsável pela dívida. As acusações que recaem sobre Aidar, de recebimento de comissões sobre transação de jogadores e também em contratos de patrocínio, nada mais são do que o escancaramento da realidade dentro do futebol.

Enquanto os contratos não se tornarem públicos, será impossível vigiar a rota do dinheiro no futebol. Que o diga a tabelinha Neymar-Barcelona, ou o pagamento recém-descoberto de Blatter a Platini, que possivelmente mudará o rumo futuro da Fifa e, consequentemente, do futebol.

O modelo de associação clubística para o futebol funcionou até o momento em que se profissionalizou o esporte. Desde que os jogadores passaram a receber salários, criou-se a necessidade de fluxo de caixa para o futebol, e isso já exigia, desde aquela época, que o clube passasse a ser tratado como uma empresa, tendo como maior finalidade as conquistas, mas pensando o tempo todo em como atuar para gerar receita, montar times fortes e ganhar títulos.

Como não fez isso há 80 anos, o futebol passou a viver a mercê da honestidade de quem está no comando. O problema é que é muito dinheiro orbitando na esfera futebolística, com a maior parte dele indo para o atleta. Nos últimos 30 anos, o montante de grana envolvido se tornou ainda maior.

O ambiente do futebol, do jeito feudal como é organizado, é prato cheio para que a farra com o dinheiro alheio engorde os cofres errados. E isso se transforma em algo completamente incompatível quando comparado ao que se transformou o futebol na atualidade.

As decisões a serem tomadas pelo comitê de reforma da Fifa nos próximos meses podem ser fundamentais para começar, de cima para baixo, a mudar isso. O futebol vive hoje numa encruzilhada. As principais divisões de cada país são absolutamente profissionais dentro de campo, mas precisam urgentemente se tornar profissionais fora dele. Não dá para considerar, da mesma forma, uma equipe da Série A com uma de Série D.

O modelo não pode continuar a sendo o mesmo de 80 anos atrás.


Quanto pior, melhor?
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Erich Beting

O futebol da seleção brasileira parece ter entrado no mesmo espiral da política nacional. O grupo do “quanto pior, melhor” aparentemente está se tornando cada vez maior e mais influente.

Ontem, na derrota para o Chile, a seleção brasileira mais uma vez expôs os defeitos de um time ainda em formação, acossado cada vez mais pelo “fantasma do 7 a 1” e, ainda pior, sem contar com o principal jogador e referência da equipe. Pela frente, teve também o melhor time do continente na atualidade, embalado, jogando em casa.

A derrota para o Chile era previsível. O Brasil vive uma transição de gerações, atuando com um time bastante jovem, e recupera-se de um enorme trauma sofrido dentro de casa.

Mas o que aconteceu na derrota brasileira, para mim, foi novidade. Pela janela de casa, o primeiro gol chileno foi acompanhado de uma corneta tocada por um torcedor solitário. No segundo gol, porém, outras comemorações surgiram, acompanhadas até mesmo de um rojão estourando ao longe.

Comentei no placar em tempo real do UOL e no Twitter a situação. Apenas um comentário foi de que havia muito estrangeiro morando aqui. Os demais foram elogiosos à atitude e relembrando, sempre, os 7 a 1.

 

A situação é alarmante.

A má fase do time é um fenômeno absolutamente compreensível e passageiro. O Brasil ficou 24 anos entre o tri e o tetra mundial, penou antes de se classificar e ganhar o Mundial de 2002, escorregou nas últimas Copas. Mas, nunca, o torcedor se engajou tanto contra a seleção.

A crise é de imagem. A conexão de boa parte da torcida com a seleção, que havia se perdido dentro de campo, agora se transformou em histeria pelo fim de qualquer credibilidade do esporte fora das quatro linhas.

Quando o presidente da CBF precisa estar mais preocupado em não viajar com o time nacional do que em criar uma identificação da equipe com o torcedor, realmente a conclusão que se chega é a de que, quanto pior, melhor.

O futebol nunca esteve tão ruim fora das quatro linhas. O problema é que os dirigentes olham para os lados e não conseguem tomar uma atitude que mostre que é possível sair do buraco.

Qualquer semelhança com o momento político vivido pelo país não é mera coincidência. A troca do projeto de governo pelo projeto de poder acaba, no médio e longo prazo, com o modelo vigente. Ainda mais se ele está calcado numa estrutura corrupta.

Existe, hoje, além de uma crise técnica, uma enorme crise de imagem no futebol que faz o torcedor desertar não só para Miami, mas para qualquer rival brasileiro dentro de campo. Será que chegaremos ao ponto de até para a Argentina ver gente torcendo?

Assim como a crise econômica não é boa para o país, a derrocada da bola brasileira não é benéfica. Ela só causa a sensação de que não há realmente como acreditar que dias melhores virão e que qualquer crise tem seu ápice e, depois que se ajusta, volta a calmaria.

O problema é que, assim como no universo da política, não há no mundo da bola exemplos que nos indique que, no momento, exista algo mais eficiente para provocar a mudança do que a terra arrasada.


O futebol precisa de um Uber para quebrar a banca
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Erich Beting

A crise que sangra a Fifa há quatro meses começa a mostrar seus mais diferentes desdobramentos no universo do futebol, que por sua vez revelam a total falta de inovação que existe na cadeia de comando da modalidade.

A situação atual da principal entidade do futebol beira o ridículo. Um resumo da tragicomédia. Em 27 de maio, sete dirigentes ligados à Fifa são presos na Suíça por corrupção, em investigação feita pelos Estados Unidos. Dois dias depois, o presidente da entidade é reeleito para mais quatro anos à frente da entidade que comanda desde 1998. No discurso de posse, afirma que continuará sentado em seu trono para resgatar a imagem da entidade.

Quatro dias depois, o presidente afirma que não vai mais ficar na entidade. Mas que a renúncia não é imediata. Ela só vai acontecer dali a nove meses, literalmente para ter tempo de ser gerido o novo sucessor. Cerca de quatro meses depois, o secretário geral da Fifa se vê como principal ator de um esquema para revenda com ágio de ingressos da Copa do Mundo, em operação que lhe rendeu alguns milhões de dólares.

A Fifa, então, decide suspender o dirigente. Seu presidente, por sua vez, reitera que não há nada de errado nisso. Dias depois, é a vez de o presidente ser o alvo de investigação, acusado de má gestão e apropriação indevida de recursos. Nessa investigação, o principal candidato a sucessor do trono tem revelado um pagamento, com dez anos de atraso, de um serviço prestado para a Fifa. Pagamento feito sem qualquer ágio pelo atraso, numa data que coincidia com o período pré-eleitoral da entidade, em que o dirigente que recebeu o dinheiro era o principal candidato de oposição e, misteriosamente, desistiu da candidatura…

Passa-se mais uma semana e quem financia a Fifa decide falar. Os principais patrocinadores da entidade, alguns com mais de 60 anos de relacionamento com ela, pedem para o presidente renunciar, “pelo bem do jogo”, apropriando-se do slogan que a Fifa gosta de usar para justificar a imposição de seu “padrão” goela abaixo de quem recebe qualquer evento da entidade.

O que faz o presidente? Pede para sair? Não! Ele diz que continua no cargo… Agora, é o próprio comitê de ética da Fifa que decide propor o afastamento, por três meses, do presidente. Exatamente quatro meses antes da eleição, o que não lhe daria tempo para fazer muita coisa na preparação do sucessor. Aliás, sucessor esse que agora é uma grande incógnita, já que o favorito ao trono também tem o pedido de suspensão temporária após ter recebido esses tais de 2 milhões de francos suíços com dez anos de atraso.

E o que faz o restante do universo do futebol frente a tanto descalabro?

Até agora, o que se vê surgir são alguns projetos de criação de ligas de clubes. Baseados meramente na premissa de que “tem de se dar poder aos clubes”. Como acreditar que algo realmente diferente virá desses clubes, em sua maioria deficitários e sem apresentarem um modelo de gestão que seja diferente do status quo vigente?

Há 45 anos a Fifa criou o modelo de gestão de eventos baseado na venda dos direitos de transmissão e patrocínio, com o atleta se tornando uma espécie de figurante de um produto maior.

As propostas “inovadoras” que surgem até agora são meramente réplicas desse modelo com novos atores. Seja uma agência de mídia turbinada por dinheiro de parceiros (no caso da Liga dos Campeões das Américas), seja uma liga de clubes que de inovador só tem o discurso de que o clube é mais capaz do que a CBF para transformar o futebol num produto (no caso da Liga Sul-Minas-Fla-Flu).

O futebol precisa urgentemente de um Uber. Um modelo de negócios novo, que rompa com o paradigma vigente, que traga inovação e possibilite mudar o ecossistema. Só assim será possível acreditar que realmente poderá ter uma mudança para melhor na modalidade…


Blindagem à crise mostra demanda reprimida no futebol
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Erich Beting

Será que existe uma espécie de “blindagem” que o futebol atravessa hoje em relação ao restante da economia do país? Na última segunda-feira, mostramos na Máquina do Esporte que, em 2015, só com os novos sócios-torcedores do Movimento por um Futebol Melhor, as receitas dos clubes aumentaram em 128%, em média, recorde histórico do programa que já vai para o terceiro ano (veja aqui).

Por que, em meio a um cenário de retração econômica, com todo mundo tirando o pé da gastança, cresce tanto assim um programa de adesão de sócios-torcedores?

A situação mostra que há uma demanda reprimida no futebol, que aos poucos começa a ser atendida, ainda de forma esporádica, pelos clubes. O Movimento por um Futebol Melhor talvez seja o melhor termômetro disso. Há três anos no ar, o programa tem mostrado para os clubes a importância de colocar o torcedor no papel de um consumidor ativo do esporte, gerador de receita importante para o clube e responsável por uma parte significativa da receita da entidade.

Antes de olhar para o sócio-torcedor, os clubes flertaram com a exploração do bom momento do varejo. Foi no começo da década, quando vivíamos a febre das lojas oficiais, na esteira do crescimento do mercado de franquias e no bom momento do varejo.

Agora a situação é um pouco diferente. Com dívidas e dúvidas, a população parou de consumir produtos. É só ver a crise que pega no varejo, com redução de metas e queda brusca de vendas. O sofrimento das franquias de lojas oficiais dos clubes nada mais é do que reflexo da crise que assombra o mercado varejista.

 

E aí é que entra o segredo do sucesso do programa de sócios dos clubes. O sócio-torcedor compra, ao pagar a mensalidade ao clube, um sonho. É a facilidade na compra de ingresso, é a oportunidade de ter uma experiência exclusiva com ídolos do passado e do presente, com o estádio do time, com o centro de treinamento, etc.

O único benefício real que existe é o desconto na troca de produtos das empresas parceiras, mas parece que essa lógica varejista não é fundamental para levar o torcedor a aderir aos programas, apesar de muitos se beneficiarem disso.

O fato é que o sócio-torcedor atinge o fã exatamente naquilo que faz dele um consumidor do esporte. De um ano para cá, os clubes aumentaram significativamente as ações de experiência única para a torcida. Sócios-torcedores podem ser gandulas, perfilar com o time no hino nacional, assistir ao jogo de uma poltrona na beira do campo, etc.

Essa é a demanda que estava reprimida no futebol. Os clubes tinham, até pouco tempo atrás, a visão de que o torcedor era obrigado a ser um consumidor do time de futebol. Ele tinha de comprar produto oficial, ir ao jogo, vibrar sem criticar durante a partida, etc. Não era uma via de mão dupla.

Como sempre digo por aqui, toda paixão precisa ser correspondida. O que essas experiências restritas a sócios mostram é que existe o interesse do torcedor de consumir esse tipo de produto. Mas, para isso, é preciso ofertar o serviço a ele.

Por meio dos sócios-torcedores, os clubes perceberam o óbvio. Existe um mercado consumidor grande para o futebol, que não sente tanto os efeitos da crise e se dispõe a gastar bastante para a paixão dele. Mas é impossível achar que esse consumidor estará lá se não houver o mínimo esforço por parte do clube.

A “bilndagem” do futebol à crise nada mais é do que a descoberta de que há um bando de gente que é apaixonada por aquilo, mas que precisa de um mínimo de motivação para fazer parte do negócio. Se o esporte brasileiro tivesse levantado os olhos para além da arena de disputa esportiva, conseguiria ter percebido a necessidade de atender esse público muito antes.

O topo da curva de consumo no esporte ainda está longe de ter sido atingido. Não é o futebol que está imune à crise, mas sim o fato de que ele não conseguiu entregar ainda todo o potencial de produtos que os consumidores querem.


Futebol mostra que paixão é que direciona patrocínio
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Erich Beting

Aos poucos, a “seca” do patrocínio máster no futebol brasileiro vai chegando ao fim. Na Série A do Brasileirão, por exemplo, agora apenas Goiás, Santos e São Paulo não possuem um patrocinador principal na camisa. Mas, a julgar pelo que acontece no movimento desses patrocínios, a decisão das empresas é muito mais emocional do que racional (detalhes aqui).

Metade dos patrocínios da Série A são de empresas públicas: Caixa (Chapecoense, Figueirense, Atlético-PR, Coritiba, Corinthians, Flamengo, Vasco e Sport) e Banrisul (Grêmio e Inter). Dos outros sete clubes com patrocínio no espaço mais nobre do uniforme, a decisão de patrocinar o clube foi absolutamente passional. Em todos os casos, as empresas são de capital privado, sem ações em Bolsa, e ainda os donos geralmente têm o poder de decisão absoluto sobre o investimento.

O novo integrante desse grupo é o Cruzeiro, que “estreou” o Supermercado BH no último domingo (leia aqui). Mas o caso mais enfático é o do Palmeiras, que teve na família Lamacchia um mecenas que contribui com R$ 45 milhões no ano (entre os aportes da Crefisa e da FAM).

Em comum, todos os negócios são milionários e, não por acaso, os clubes, além de serem de grande torcida, estavam sem um patrocinador máster após a saída de um antigo parceiro. Essa situação só reforça o amadorismo da decisão. Em vez de estudarem o que buscam com o patrocínio, essas empresas alimentam uma situação ilusória no futebol.

Os clubes precisam se enxergar como uma plataforma de geração de negócios para seu patrocinador. Até hoje, as propostas comerciais de patrocínio procuram muito mais exaltar o clube e sua história do que mostrar quais soluções podem ser dadas para uma empresa que se associa a ele.

Quando começarem a fazer isso, os clubes voltarão a abrir suas portas para as empresas de capital aberto, que geralmente têm muito mais dinheiro para investir e entende a necessidade de longevidade de um patrocínio. Não por acaso, no fim do ano, de todos os clubes da Série A, apenas três têm contrato de patrocínio máster assegurado: a dupla Grenal e o Palmeiras, que passará de novo pelo mesmo perrengue em dezembro do ano que vem…

Enquanto os clubes seguirem com propostas amadoras para os eventuais parceiros comerciais, jogarão para a torcida com o argumento da crise para não conseguirem negócios. Ou precisarão fatiar o uniforme para diversas marcas, sem enxergar que o negócio dele não é a vitrine da exposição na mídia, mas o produto do relacionamento com uma base de consumidores absolutamente fiéis à marca.


O futebol baixou os preços ou a crise acabou?
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Erich Beting

No começo do ano, o Palmeiras fechou patrocínio com três empresas que nunca haviam investido em esporte (Crefisa, FAM e Prevent Senior). Pouco depois, a Jeep usou o Flamengo para anunciar o começo de produção no país. Depois, a 99 Taxis começou a aparecer nos uniformes de diversos clubes da Série A nacional. E, no próximo mês, a Voxx, marca de suplementos do Grupo Cimed, anunciará patrocínio a diversos times (leia aqui).

Um ano após a lenga-lenga dos dirigentes de que a Copa do Mundo e a crise haviam afastado os patrocinadores de seus uniformes, o futebol não encontra motivo que justifique um movimento grande de entrada de novas marcas em ações de patrocínio.

Quer dizer. O motivo é claro, apenas o orgulho impede que os dirigentes tenham coragem de explicar o que acontece.

O fato é que o futebol é um mercado imune a crise. O que estava faltando para os clubes era readequar o preço à realidade, algo que começa também a acontecer em boa parte da economia do país, afetada pelo surto de crescimento que transformou, em muitos casos, a moeda corrente do real para o surreal.

O futebol vivia, até o ano passado, numa bolha de ilusão. Os clubes achavam que valiam o preço do começo da década, quando Ronaldo e Corinthians, impulsionados pela mania de grandeza da Hypermarcas, haviam levado para valores fenomenais o patrocínio de camisa no país. Com a economia em crescimento, mais Copa e Olimpíadas a caminho, era natural que o mercado se inflacionasse.

Acontece que o milagre do esporte não aconteceu. O do país, começou a deixar de acontecer. E, no fim das contas, os clubes demoraram para entender que a moeda corrente deveria voltar para os reais, em vez dos surreais.

Ao mesmo tempo, as empresas começaram a perceber outra forma de se comunicar por meio do esporte. As mídias sociais se fortaleceram e se transformaram numa eficiente e barata plataforma de ativação de patrocínio.

Chegamos, então, ao cenário de hoje. Com valores mais factíveis e sem grandes concorrentes no mercado, o patrocínio no futebol voltou a ser uma alternativa mais barata e eficiente de atingir um grande contingente de pessoas com alta capacidade de atenção do consumidor. É só ver a movimentação do torcedor em cima de uma marca quando ela anuncia o patrocínio à equipe.

A economia do país mostra que estamos num momento pior do que o do ano passado. Mesmo assim, o futebol parece ter reencontrado o caminho do patrocínio. Não tem muito segredo. A desculpa da crise acaba assim que se entende que não pode cobrar três vezes mais do que o real valor de um patrocínio.


A imagem que resume o atual momento do futebol
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Erich Beting

Acabei não conseguindo, na semana passada, colocar a foto no ar. Mas ela é a síntese do que acontece hoje no mundo do futebol. O protesto dos jogadores panamenhos após a eliminação com dois pênaltis duvidosos (e só coloco duvidoso por não ter havido consenso no debate no dia seguinte na Máquina do Esporte, porque para mim foram pênaltis escandalosamente mal marcados) da Copa Ouro.

Atletas do Panamá protestam, ainda no vestiário, contra dirigentes da Concacaf

Atletas do Panamá protestam, ainda no vestiário, contra dirigentes da Concacaf

O protesto é a síntese do que pensam muitos jogadores sobre como funciona o meio no qual eles trabalham. Só que quando haveria um protesto semelhante a esse, numa manifestação pública de desgosto e revolta contra os dirigentes?

É só lembrar o que fez o time da Croácia no vestiário da Arena Corinthians depois de o Brasil ter ganho o jogo de abertura da Copa numa arbitragem desastrosa. Os atletas arrebentaram os vestiários, mas em nenhum momento expuseram, publicamente, qualquer mensagem contra a Fifa e seus dirigentes. Será que, se fosse hoje, não teriam feito o mesmo comportamento que os atletas do Panamá?

O futebol começa a passar por um período de gigantescas transformações. Uma delas é a manifestação pública dos atletas sobre o que eles pensam. Mudar o comando do futebol de um dia para o outro é impossível. Mas é impossível manter tudo do jeito que era antes…

É, mais ou menos, o que aconteceu com o Brasil após os 7 a 1. Será que o Bom Senso FC chegaria a existir caso o Brasil tivesse perdido num jogo apertado da Alemanha? Será que estaríamos questionando tanto o comando do futebol no país não fosse a goleada que calçou as sandálias da humildade nos torcedores?

Qualquer transformação sem revolução é lenta. Não será de uma hora para a outra que veremos novas caras no comando do futebol. Mas só o fato de os jogadores se sentirem incomodados mostra que muita coisa ainda está para mudar.


Brasil terá um boom de novos estádios em 20 anos
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Erich Beting

Matéria da semana passada na Máquina do Esporte dava conta de que o Atlético Mineiro planeja erguer um novo estádio para o clube nos próximos anos (detalhes aqui). Ao Galo deverão se juntar em breve outros clubes. Eles vão trazer uma nova realidade para o futebol brasileiro nas próximas duas décadas.

Haverá, nos próximos 20 anos, um boom de novos estádios pelo país. Arenas modernas, mais confortáveis, com mais segurança para o público, melhores condições de trabalho para todos e, principalmente, maior geração de receita para os clubes.

O fenômeno segue a cadeia lógica de investimento em estádios que aconteceu primeiro nos Estados Unidos, depois nas duas potências econômicas da Europa (Inglaterra e Alemanha) e, agora, começa a se espalhar pela Itália.

Com a construção das novas arenas para a Copa do Mundo, os clubes começam a perceber que estádio precisa ser uma fonte boa de arrecadação para que isso se transforme em potencial competitivo mais à frente. Com novas instalações, é possível oferecer mais serviços e produtos para o torcedor. Da mesma forma, o novo local traz para os estádios um público que estava distante do futebol, acomodado na poltrona do sofá ou na mesa do bar.

Neste Brasileirão, Palmeiras e Corinthians puxam a fila e mostram a diferença que faz ter um estádio próprio e moderno. Mesmo que ambos ainda estejam em obras, já houve um aumento sensível de arrecadação dos dois times por conta dos novos  espaços. Ainda de maneira errada, baseado apenas na majoração dos preços de ingresso, mas já representando um diferencial para os times, especialmente para o Palmeiras, que em oito jogos faturou R$ 17 milhões em seu estádio.

Com o tempo, os gestores do estádio vão começar a perceber que, mais importante do que ganhar na cobrança do ingresso, é com os serviços que se faz realmente dinheiro no estádio.

É a transformação do conceito de “receita de bilheteria” em “receita do dia de jogo”, com direito a visita a museu, almoço em restaurante (ou lanchonete), estacionamento, loja oficial, quiosque de produtos, etc.

Até lá, porém, o Brasil ainda passará por um processo de construção de novos estádios, baseados na necessidade dos clubes, e não na megalomania de um grande evento. Foi essa transformação que revolucionou o negócio do futebol na Inglaterra, que mudou a cara do futebol alemão e que começa a querer resgatar o futebol na Itália.

O Brasil, como sempre, estará com alguns anos de defasagem em relação à Europa, que por sua vez está sempre atrasada em relação aos EUA. O mais importante, porém, é que o futebol percebeu que, para melhorar, precisa repensar a forma como trata o torcedor, sua principal fonte de arrecadação.


O que mudou nos 7 a 1 foi a autoestima do torcedor
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Erich Beting

Reforma já!

Técnico estrangeiro já!

Muda tudo!

Não foi um apagão!

Fora, Marin!

Abaixo à CBF!

Gol da Alemanha!

Há um ano, ouvíamos, ainda tão atordoados quanto os 11 jogadores em campo naquele fatídico 8 de julho de 2014, algumas dessas frases sendo proferidas por torcedores destroçados pela maior humilhação já sofrida pela seleção brasileira dentro de campo.

E, um ano depois, o que mudou após os 7 a 1?

A percepção geral é de que nada mudou. Saiu Marin, entrou Del Nero. Saiu Felipão, entrou Dunga. Sai Neymar, o time não se acha…

E talvez seja exatamente essa a grande mudança que exista no imaginário brasileiro após os 7 a 1.

De forma visível e palpável, nada mudou. Os dirigentes seguem os mesmos, tentando forçar a não-aprovação de leis que minem o poder quase supralei da CBF na atualidade. O treinador é quase o mesmo, com a diferença de que agora chamaram o pessoal do passado para dar ideias sobre o futuro. O Brasileirão segue a ser (des)organizado do mesmo jeito, sem uma preocupação com o produto apresentado.

Mas, de forma estrutural, muita coisa começa a mudar.

Os jogadores fizeram, após os 7 a 1, a maior mobilização já vista da categoria no Brasil. Cruzaram as pernas e sentaram nos chãos, protestando contra o descaso dos cartolas com o futebol. Viraram uma frente de combate à CBF tão importante a ponto de influenciar a presidência da República a tentar melhorar alguma coisa no futebol.

Os torcedores, a seu modo, também refletem o impacto dos sete gols na cabeça. A crença de que ser apenas o país pentacampeão do mundo já garante títulos e favoritismo ao Brasil caiu pela terra arrasada. A sensação de que não somos mais “o melhor” faz bem para o próprio processo de mudança que precisa acontecer.

No fim das contas, 7 a 1 não foi pouco. E, um ano depois do massacre alemão, o Brasil ainda procura juntar os cacos do maior pesadelo futebolístico da história.

Dá para virar o jogo, mas isso requer muito esforço e trabalho de planejamento no longo prazo. Algo que o Brasil, dentro e fora de campo, na economia e no esporte, na política e nas artes, não está acostumado a fazer.

O que não dá para imaginar é que nada tenha mudado após os 7 a 1. Imagine o que teria de fato mudado se o Brasil tivesse ganho a Copa? Possivelmente, ainda teríamos o mesmo Brasileirão apagado e insosso, mas a sensação era a de que ninguém pode com o único hexacampeão mundial.

A maior mudança provocada nos 7 a 1 foi a diminuição da autoestima do torcedor. E isso é o primeiro passo para, aí sim, mudar mais coisa no futebol brasileiro.