Saída da Band mostra como futebol recua como negócio
Erich Beting
A saída da Band da transmissão do futebol é um baque. Não só para a emissora, mas também para os clubes, que ficam ainda mais enfraquecidos na relação de poder com a Globo, detentora mais do que exclusiva dos direitos de transmissão do futebol.
A presença de apenas uma emissora transmitindo o Brasileirão é a prova de que o futebol reflete a crise econômica pela qual o país passa. Como a Máquina do Esporte mostrou outro dia, o futebol depende hoje da verba de instituições financeiras, respondendo por 70% dos patrocínios na Série A nacional.
Hoje, há apenas seis patrocinadores máster nas camisas de 16 clubes (Banrisul, Caixa, Crefisa, Intermedium, MRV e Schin), enquanto outros quatro não possuem um patrocínio principal. Há dez anos, o cenário era completamente diferente, com várias marcas investindo no esporte mais popular do país.
O futebol, como negócio, enxugou. E a saída da Band é um reflexo disso. Não há mais tanta empresa interessada em pagar a conta, seja ela de patrocínio na camisa, seja ela de transmissão de jogos. Com menos empresa envolvida, há menos dinheiro disponível no mercado para que o futebol seja sustentável.
Ao perder um parceiro de transmissão do futebol, os clubes perdem mais ainda um poder de barganha com a TV. Hoje, há dois financiadores do futebol no Brasil, a Globo e a Caixa. Por mais que tenham evoluído na busca pela diversificação de receitas, especialmente com o sócio-torcedor, os clubes estão cada vez mais dependentes das duas fontes para conseguirem manter suas estruturas.
De nada adianta os valores de TV e de patrocínio terem aumentado substancialmente nos últimos anos se isso significa que os clubes estão cada vez mais dependentes das fontes pagadoras desses altos valores.
A pior notícia da saída da Band do futebol é a certeza de que não há alternativa para os clubes de desenvolverem seu produto sem depender excessivamente da verba da Globo. O maior problema está no fato de que os clubes entregam à Globo toda a necessidade técnica de produção das imagens dos jogos. Assim, a transmissão de um jogo fica muito encarecida, já que a emissora precisa não só pagar pelos direitos como custear toda a transmissão de um jogo.
Na Europa, Alemanha e Inglaterra evoluíram seus campeonatos a partir do instante em que passaram a ditar a regra sobre os direitos de transmissão, sendo as ligas as responsáveis por gerar as imagens das competições. Isso aumentou o valor pago pelas TVs e permitiu uma pulverização maior da transmissão em diferentes empresas, cada uma pagando aquilo que pode por um pacote de jogos.
Por aqui, seguimos caminhando no sentido inverso. Além de teimar em manter a negociação individual, os clubes não percebem que estão deixando o produto cada vez mais na mão de poucas empresas. Vai levar muito tempo ainda para o futebol se recuperar disso. E a saída da Band é só mais um capítulo dessa difícil caminhada…