Negócios do Esporte

Arquivo : outubro 2013

Dakar quer largar no Brasil para “ganhar” o país
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Erich Beting

Mais tradicional rali do mundo, o Dakar traçou uma nova estratégia para tentar ganhar o mercado brasileiro. Nas últimas semanas, Etienne Lavigne, diretor da prova, esteve no país negociando com os governos do Rio Grande do Sul e Paraná. A informação, publicada nesta sexta-feira pela revista “Motociclismo”, revela parte do projeto da Amaury Sports Organisation (ASO), a empresa responsável pela organização do Dakar.

Desde que deixou o tradicional percurso Paris-Dacar, a ASO trouxe para a América do Sul o rali. No início de 2014, ele passa por Argentina, Bolívia e Chile. A ideia da empresa francesa é fazer com que, em 2015, a largada ocorra no Brasil. Porto Alegre, Foz do Iguaçu e Curitiba são as pretendentes, pela proximidade com os países que recebem o restante do circuito off road. Com isso, a expectativa é atrair o interesse das empresas do país pelo Dacar.

À “Motociclismo”, Lavigne afirmou que “o Brasil está em evidência”, já que em 2014 organiza a Copa do Mundo e, em 2016, os Jogos Olímpicos. A ideia é fazer com que o Dakar se insira entre os dois megaeventos. A favor da ASO estão os números relativos ao rali. No último ano, quase US$ 500 milhões de impacto nos três países em que foi organizado (Argentina, Chile e Peru). A audiência mundial foi estimada em 1 bilhão de pessoas, enquanto o público que compareceu aos espaços em que o rali aconteceu foi de 4,6 milhões de pessoas.

A passagem do Dakar pelo Brasil também pode ajudar a ASO a alavancar a receita com patrocínio e inscrição de equipes. A meta é atrair empresas nacionais ou multinacionais que têm no país boa parte de seus lucros. Petrobras, Shell e Pirelli são algumas das marcas que enchem os olhos dos organizadores do rali.

Essa aproximação do mercado brasileiro envolveu até mesmo a estratégia de divulgação do Dakar. Pela primeira vez a edição de 2014 tem material de divulgação e uma assessoria de imprensa contratada exclusivamente para cuidar da promoção do rali no país. Em maio, executivos da ASO estiveram em São Paulo para apresentar a competição.

Oficialmente, o Dakar e a ASO não comentam sobre as reuniões que estão em andamento com o mercado brasileiro.

Tendo no Rally dos Sertões seu maior concorrente pelo piloto brasileiro, o Dakar tenta também reduzir a dependência do mercado europeu. No ano passado, 64% dos competidores ainda eram oriundos do continente, que sempre foi o “motor” da competição. O crescimento da segunda temporada na América do Sul já foi palpável. Foram 27% dos competidores originários do continente, ante 9% em 2012, quando o Dakar desembarcou forçadamente na região.

Com o mercado brasileiro fazendo parte do rali, a expectativa é aumentar a presença dos sul-americanos na prova, até para ajudar no engajamento maior do público.

Para o plano dar certo, porém, o mercado nacional precisa estar com os olhos voltados para alternativas que vão além de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. O que, em 2015, está difícil imaginar que possa acontecer.


Parabéns, Federação Paulista de Futebol! Isso é que é bom senso
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Erich Beting

Na busca do futebol brasileiro pelo bom senso, a Federação Paulista de Futebol (FPF) resumiu o que ele significa.

O Paulistão Chevrolet 2014 será disputado da seguinte forma. Os 20 clubes estão divididos em 4 grupos de 5 times cada. Mesmo assim, o campeonato terá 19 datas.

Vamos tentar elucidar esse ataque ao bom senso.

Sim, os times estão divididos em grupos, mas eles não se enfrentarão. Eles vão jogar contra os adversários dos outros grupos!!!!!

No final das contas, numa absurda situação, você pode perder todos os seus jogos e mesmo assim estar classificado para a fase seguinte do campeonato!

Só resta chamar os míticos personagens de José Roberto Torero, o Tico e o Teco, para explicarem o estorvo que fizeram dessa vez.

No momento em que os jogadores se unem para pedir bom senso no futebol, a FPF dá uma aula do que deve se fazer. Pelo menos para uma coisa isso servirá. Os recordes negativos de audiência, que a cada ano são batidos nos Estaduais, dessa vez deverão beirar o ridículo no Paulistão.

A Chevrolet deve estar percebendo agora a sombra em que ela foi amarrar o carro dela…


Americanos vêm ao Brasil para fazer da MLS melhor liga do mundo. Em 2022!
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Erich Beting

Na última semana, um grupo de executivos da Major League Soccer (MLS) esteve durante dois dias no Brasil para fazer visita a alguns veículos de mídia e conversar com algumas pessoas da indústria do esporte no país. Em pauta, os planos da MLS para o futuro e, mais do que isso, a abertura de canais de comunicação do futebol jogado nos Estados Unidos com o Brasil.

Tudo isso tem um claro objetivo: em 2022, a MLS quer se tornar a melhor, ou pelo menos uma das melhores, liga de futebol do mundo.

Além do pessoal de relações públicas da MLS, estava presente Jeff Agoos. O nome, para quem já passou dos 25, não é de se estranhar. Agoos era jogador da seleção americana nas Copas de 1998 e 2002. Depois de “debutar” na MLS em 1996, seguiu carreira nos Estados Unidos até encerrá-la, em 2005. Desde então, ele atuou em cargos técnicos no New York Red Bull e, desde 2011, é diretor técnico da MLS.

Na conversa que o blog teve com o agora executivo, ele disse que a vinda ao Brasil tem uma missão de abrir caminho para a chegada, em 2014, do time de futebol dos Estados Unidos que disputará a Copa do Mundo. Mas, além disso, a ideia é saber qual o posicionamento que a MLS tem no mercado brasileiro e de que forma ela pode se tornar mais conhecida por aqui.

A promoção internacional da MLS é um dos pilares que sustentam o projeto de crescimento e fortalecimento da liga. Segundo Agoos, para chegar em 2022 como uma das maiores do mundo, a liga americana precisa de quatro itens, fundamentalmente:

1 – Qualidade dos jogadores
2 – Paixão e engajamento dos torcedores
3 – Relevância para o mercado (mídia, entidades políticas e patrocinadores)
4 – Valor da empresa

Hoje, a MLS trabalha nessas quatro frentes. Os quatro pilares que são estratégicos para os americanos são esses. Para que a liga seja considerada forte, é preciso ter bons jogadores, os clubes serem competitivos e a liga ter qualidade igual ou superior às grandes do exterior.

Além disso, é preciso que os clubes consigam engajar os torcedores, fazê-los comparecer aos jogos, comprar produtos oficiais, pacotes de transmissão pela TV e internet, buscar se conectar o tempo inteiro com o time.

Paralelamente a tudo isso, a MLS precisa ser relevante. A televisão precisa querer mostrar as partidas, os jornais e os veículos de internet têm de cobrir o dia-a-dia dos clubes e dos atletas e, também, as cidades e os políticos têm de demonstrar interesse em ter o clube na sua região.

Por fim, outra forma de valorizar a MLS é fazer com que os clubes sejam valiosos. E aí a questão é grana mesmo. Na MLS, assim como nas demais ligas profissionais americanas, o dono dos times é a liga. Os clubes funcionam como uma espécie de “cota”. O cara, quando compra o clube, tem o direito de ser o representante dele. Ele se torna, então, um sócio da MLS.

Agoos usa alguns exemplos para explicar os quatro pilares. Hoje, a MLS começa a ter jogadores de renome internacional atuando nos seus times. David Beckham é sempre o exemplo mais estrelar, mas o executivo lembrou também que boa parte do time dos Estados Unidos que se classificou com sobras para a Copa do Mundo atua no país. A ideia, agora, é buscar estrangeiros.

Nacionalmente, nunca a mídia deu tanta bola para o soccer jogado na Terra do Tio Sam. Além disso, a transmissão internacional tem crescido ano a ano. O Brasil é citado como exemplo por Jeff, que classifica a eminente entrada do Orlando City, de propriedade de um brasileiro, como mais um motivo para o país se interessar pela MLS.

Por fim, dois dados são colocados como sintomáticos pelo executivo para explicar o sucesso do modelo de negócios da MLS. O primeiro é a mobilização da comunidade de Orlando nos últimos meses para aprovar um financiamento para a construção do estádio em que o Orlando City mandará suas partidas. Já dentro dos padrões da MLS, ele foi a “senha” para que o clube em breve faça parte da liga. O outro é o preço pago pela franquia de Nova York, que incorporará à liga no ano que vem: US$ 100 milhões. Em 1995, os donos dos clubes pagaram US$ 5 milhões para ter a licença.

“A NFL, nos anos 70, tinha um valor de mercado de US$ 200 milhões. Hoje, já está em alguns bilhões”, cita Jeff Agoos, mostrando claramente quem é o modelo para que a MLS consiga atingir seus objetivos.

Sim, ainda estamos falando de futebol. A receita para que os americanos, em 10 anos, se tornem donos da liga mais poderosa do mundo está colocada à mesa. Às claras. Com objetivos bem definidos, que mesclam um bom negócio com entretenimento para os torcedores.

Depois de desligar o telefone com o executivo, fiquei com aquela pergunta na cabeça.

“Se alguém quiser conversar sobre o Campeonato Brasileiro e sua promoção no exterior, com quem devemos falar”? Há dois anos, desde a implosão do Clube dos 13 (que já não era o melhor dos mundos, diga-se de passagem), não existe um representante que possa pensar no Brasileirão como um todo.

Pelo visto, daqui a dez anos vamos ter de mandar um representante brasileiro para os Estados Unidos para aprender como gerenciar e recuperar a imagem do nosso futebol…


Vergonha de quê?
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Erich Beting

“Vergonhaaaaa, vergonhaaaaa, vergonha, time sem vergonha”…

Assim parte da torcida do Palmeiras “celebrou” o regresso do clube à Série A do Campeonato Brasileiro, em 2014.

Sim, é verdade que quem entoou esse coro foi o grupo da Mancha Alviverde, a mesma torcida que usa o nome e a marca do clube sem dar absolutamente nada em troca para isso, e que o grito foi rapidamente sufocado por vaias do restante dos mais de 30 mil presentes no estádio do Pacaembu. É verdade, também, que, se não tivesse havido o racha entre a torcida organizada e a diretoria, no começo do ano, possivelmente ela só cantaria e vibraria pelo alviverde inteiro.

Mas ficou um quê de vergonha para o torcedor palmeirense neste ano de 2013, não há dúvida.

Vergonha de ver o time ter de jogar a Segundona pela segunda vez.

Vergonha de não conseguir duelar com “a elite” no Paulistão, na Libertadores e na Copa do Brasil.

Vergonha de ver os rivais celebrarem as vitórias enquanto só restava ao torcedor palmeirense ficar ligado no pay-per-view ou nas raras ocasiões em que a TV aberta decidia abrir espaço para o outrora alviverde imponente.

Vergonha criada, principalmente, pela vergonha da diretoria palmeirense em assumir a fraqueza e transformá-la em virtude.

Há dez anos, Palmeiras e Botafogo inauguraram a era de que “time grande cai” no futebol brasileiro. Depois das mesas viradas e subidas-relâmpago, a CBF tomou o mínimo de juízo e decidiu impedir que mesas tombassem em detrimento da moral já abalada do futebol tupiniquim. Naquela ocasião, em que tudo era novidade, inclusive o comportamento do torcedor diante da hecatombe, era justificável que o clube centrasse os esforços no retorno à elite.

Em cinco anos, porém, essa história mudou. Depois de o Atlético-MG ter feito algum estardalhaço com a euforia do torcedor no regresso à elite em 2006, foi a vez de o Corinthians fazer do limão da Série B uma boa limonada. O “Bando de Loucos” que embalou o time desde então foi formado ali, no doído rebaixamento na última rodada do Brasileirão de 2007. Surgiu o conceito do “Eu nunca vou te abandonar”, que impulsionou as vitórias e as vendas corintianas até “O Portão” tocar em alto e bom som num Pacaembu lotado e orgulhoso do retorno de um gigante para a Série A.

O Palmeiras, porém, abandonou o marketing em 2013. Não era de se esperar que a gestão de Arnaldo Tirone fizesse algo quando o time caiu, em novembro de 2012. Mas um belo texto publicado naquele fatídico 18 de novembro, no site oficial do clube, tinha tudo para se transformar no mote da subida. O término dele era emblemático.

“Palmeiras, um amor sem divisão”.

Não há vergonha no amor. Ou pelo menos não deve haver. No dia seguinte, na praia do Leblon, no Rio de Janeiro, o presidente Tirone resumia o óbvio. “Curtir” o luto do rebaixamento com banho de mar era tudo o que uma dor de amor partido não precisava. E o “amor sem divisão” foi sendo colocado para escanteio pelo departamento de marketing do Palmeiras.

Era impossível condenar qualquer clube em 2002 que não fizesse nada pelo torcedor quando o time fosse rebaixado. É impossível, hoje, esquecer daquele que é o mais apaixonado por ele tão logo acontece uma queda, independentemente do tamanho dela.

Mas o Palmeiras esqueceu que o amor não tem divisão.

A tal ponto que, nem na nova diretoria, que prometia sempre pensar pelo bem da instituição tão maltratada nos últimos anos, o torcedor foi colocado em primeiro plano. Talvez por vergonha de admitir que a realidade era aquela, a da Série B. Talvez por não entender que é preciso alimentar a paixão para ser ainda melhor.

A vergonha, afinal, é de ver o time na Série B? E qual é o problema disso? O grande barato da paixão clubística é exatamente o fato de ela nunca dividir, mas sempre multiplicar, para usar a espetacular definição de Mauro Beting.

O que mais alimenta o marketing esportivo é a paixão do torcedor pelo clube, pelo atleta, pelo esporte. As marcas no esporte são fortes como nenhuma outra consegue ser. Só com muito descaso pelo torcedor que o sentimento de vergonha suplanta o do amor.

O maior erro do Palmeiras não foi ter caído, mas foi não ter aproveitado a queda para fazer ressurgir a paixão de seu torcedor pelo alviverde inteiro. Um clube que se orgulha de ter milhões de torcedores não soube olhar por eles.

Se, no dia da volta, quando o palmeirense pode finalmente olhar nos olhos dos torcedores rivais sem aquele sorriso amarelo, surgem vaias e gritos de “time sem vergonha” no estádio, o que será dali para a frente?

Pelo menos o ano do primeiro centenário palmeirense será celebrado junto dos maiores rivais. Resta saber se a diretoria deixará de ter vergonha do amor que existe pelo clube. Independentemente da divisão.


Juve e Manchester mostram o poder global das suas marcas
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Erich Beting

Quanto vale um contrato com um clube de futebol para uma marca esportiva?

A pergunta volta à tona neste momento do ano dentro de clubes e empresas fornecedoras de material esportivo no Brasil. Atlético-MG e Cruzeiro são hoje os dois maiores “ativos” disponíveis no mercado nacional. O Cruzeiro encerra o acordo com a Vulcabras, enquanto o Galo já havia dado o ultimato à Lupo e agora faz um leilão entre fabricantes.

Enquanto isso, na Europa, a Juventus confirma a ruptura do contrato com a Nike e a assinatura com a Adidas. A partir apenas da temporada 2015/2016. O contrato, conforme divulgado pelo clube italiano, é de  23,25 milhões de euros por ano, o que coloca a “Vecchia Signora” como a dona do melhor contrato de fornecimento de material esportivo da Itália.

Já o Manchester United finalmente chegou a um acordo avaliado em 60 milhões de libras ao ano com a Nike, igualando o contrato que o Chelsea fez com a Adidas no começo do ano e recolocando o clube no topo dos valores mundiais de fornecimento de material esportivo.

Os quatro casos elucidam muito bem o potencial de arrecadação que o futebol brasileiro ainda não conseguiu provar que tem. As cifras aparentemente estratosféricas que Juve e Manchester conseguiram são explicadas pelo desempenho que ambos apresentam quando se fala em vendas de camisas.

De acordo com a consultoria PR Marketing, da Alemanha, nos últimos cinco anos o Manchester vendeu, em média, 1,5 milhão de camisa por temporada. Faça a conta simples. Se a camisa é vendida a 30 libras para o lojista, o acordo se paga só com a venda de produto, sem considerar qualquer verba gasta em promoção da marca pelo clube.

Segundo a mesma consultoria, a Juventus vende um pouco menos, entre 500 e 700 mil camisas por temporada. No caso da Juve, se a conta não fecha diretamente na venda de uniforme, entra o fator preponderante para a marca Adidas, de tirar a equipe mais popular da Itália das mãos de sua grande rival.

As vendas significativas tanto de Juve quanto de Manchester mostram o abismo entre o mercado brasileiro e o europeu. E o quanto o clube brasileiro ainda não aprendeu a faturar em cima do seu torcedor.

Em 2009, o Flamengo bateu a marca de 1 milhão de peças vendidas. Não chegou a ser apenas camisas, mas a maior parte das vendas foi do uniforme de jogo. O Corinthians campeão mundial do ano passado também alcançou cifras próximas a isso. Potencialmente há mais compradores para o que os clubes vendem hoje.

Só que ao repararmos o volume de vendas que os clubes com os contratos mais valiosos do mundo gera, os times maiores do Brasil não ficam longe disso. Quando é feita a comparação de valores, porém, o abismo é gigantesco. O maior contrato do país, hoje, é de pouco mais de 10 milhões de euros.

Falta ao clube brasileiro conhecer muito mais a marca que possui, o potencial de venda que ela tem e, aí sim, o real valor que ela tem. Do contrário, seguiremos a pensar com a cabeça do Atlético Mineiro, que no ano passado fechou acordo com quem lhe ofereceu mais valor e, agora, faz leilão para tentar encontrar alguém que consiga não só vestir o clube, mas levar o produto até o consumidor…


Gaviões da Fiel processa torcida gay corintiana. Mas e o Corinthians?
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Erich Beting

A Gaviões da Fiel decidiu entrar com um processo para impedir que a Gaivotas Fiéis, torcida gay que foi fundada por Felipeh Campos, que ficou nacionalmente famoso por participar da atração “Qual é a Música”, de Silvio Santos. O motivo alegado pela Gaviões é o uso indevido do escudo do clube e um plágio do símbolo da própria torcida organizada.

O processo já está na polícia, e poderá modificar os planos de Campos na criação da primeira torcida gay de um clube de futebol (detalhes sobre o caso estão aqui).

As polêmicas de Emerson Sheik

Veja Álbum de fotos


O curioso da história toda não é nem tanto o processo movido pela Gaviões, mas o argumento usado pela instituição para vetar a “Gaivotas”. Ao denunciar o uso indevido da marca do Corinthians, a torcida organizada acaba criando um motivo para ela mesma acabar sendo punida.

Sim, a Gaviões acusa a Gaivotas de deturpar o símbolo do Timão ao descaracterizar o timão e usar elementos que fazem referência ao grupo LGBT. O argumento usado por Ricardo Cabral, advogado da torcida organizada mais tradicional é o de que é permitido o uso do símbolo do clube, mas não a “deturpação” dele.

O uso do símbolo do Corinthians, de forma “correta” ou “deturpada”, caracteriza em apropriação de maneira indevida da marca de outro. Apesar de bater no peito e ter orgulho em dizer que a Gaviões é “dona” do Corinthians, legalmente isso não existe.

Tanto os Gaviões quanto as Gaivotas, ou qualquer outra torcida organizada no Brasil, deveriam ter a licença formal para uso da marca de um clube. Em tese, inclusive, as torcidas deveriam pagar uma licença para comercializar produtos com a marca dela e do clube.

Hoje, uma perda importante de receita dos clubes está na exploração comercial das organizadas. Para ficar no exemplo da torcida corintiana. Quando a Gaviões vende um produto, ela só o consegue pela existência do Corinthians. Sendo assim, deveria remunerar o clube pelo uso da marca dele. Por mais que esse artigo não necessariamente leve o símbolo do clube, possivelmente ele tem as mesmas cores e também faz alusão a ele, mesmo que de forma indireta.

As organizadas se transformaram, ao longo das últimas décadas, num poder paralelo aos clubes. Elas exploram comercialmente a marca e não pagam absolutamente nada por isso. Com receio de peitar o status quo, o clube permite o jogo e não faz nada para coibir a pirataria da sua marca.

O processo da Gaviões, dependendo do desfecho que tiver, pode abrir jurisprudência para que as torcidas organizadas sejam cobradas pelo uso da marca dos clubes.

Sinceramente esse seria um bom motivo para que começássemos a recolocar em ordem os negócios no futebol. Nenhuma torcida pode se apropriar de símbolos do clube sem ter a devida licença para isso.

Quem deveria abrir um processo por uso indevido da marca tanto a Gaviões quanto a Gaivotas é o Corinthians. Talvez a Gaviões dê a corda para ela mesmo se enforcar lá na frente…

Ao saber do possível processo, Felipeh Campos comentou a atitude da Gaviões. “Engraçado, deveriam processar os torcedores que matam e indenizar as famílias que tiveram seus filhos mortos em campeonatos. São tão desinformados que me colocam como o cantor “Pablo”. Primeiro: o Pablo era dublador e não cantor e juntamente com a Ellen Roche entramos na atração no início do ano 2000. Não existe plágio. Existiria plágio se tivéssemos colocado cílios e salto alto no brasão (Gavião). Gaivota é feminino e gavião é masculino. Deixam claro que é uma retaliação homofóbica e preconceituosa. Nunca quis denegrir a imagem da torcida. Em conversa com o meu advogado, ele disse que não existe por que me processarem. Eles que devem ficar espertos, pois homofobia é crime e ainda posso pedir indenização. Gays do mundo inteiro estarão no Brasil ano que vem para a Copa. Cadê o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e José Maria Marin, presidente da CBF, que não manifestam pelo assunto? Irão deixar chacinas acontecerem?”, falou. 


Pato mantém “sina” corintiana pós-Ronaldo
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Erich Beting

Boa Jogada? Essa foi a chamada de capa da edição 8 da revista Máquina do Esporte, em dezembro de 2008, quando Ronaldo foi anunciado como reforço do Corinthians. A reportagem debatia se o Fenômeno poderia ser “o cara” para o Timão. Em meio a mais um período inativo por lesão, sua volta aos gramados era absolutamente incerta. Ronaldo colocava o Corinthians naquela tênue linha que separa uma ação de marketing de um sucesso estrondoso para um fracasso retumbante.

Bom, meio ano depois, com a conquista da Copa do Brasil e uma monstruosa elevação de receita e, principalmente, autoestima do torcedor corintiano, Ronaldo já provava que o ponto de interrogação, para ele, era sempre desentortado para uma exclamação. O sucesso do casamento entre as duas partes foi exatamente o que motivou o Corinthians a tentar repetir, em menores proporções, essa estratégia.

Depois de Ronaldo vieram Roberto Carlos, Adriano, Defederico, Liedson e, agora, Alexandre Pato. Jogadores que tinham além de uma premissa técnica, algum apelo para ações extra-campo. Sem dúvida que não com o mesmo apelo de envolver o mercado publicitário como Ronaldo, que ajudou a resgatar a credibilidade do Corinthians com o patrocinador. Mas pelo menos com apelo para que o torcedor mantivesse o interesse de consumo pelo clube, o que é fundamental para a boa saúde financeira dele.

De todos eles, Adriano e Pato foram sem dúvida os nomes mais celebrados pela mídia – e pelo clube – para que mantivessem um pouco o roteiro de Ronaldo. Apesar de não terem nem um terço do apelo de marketing do Fenômeno, ambos traziam para o torcedor aquela vontade de ver um ídolo mundial em campo com a camisa do time, o que já é um enorme passo para o aumento de consumo (a contratação de Neymar pelo Barcelona é o melhor exemplo disso).

Mas o fato é que, desde Ronaldo, nenhuma estrela conseguiu brilhar tanto no Corinthians. Pelo menos não individualmente. Nas campanhas vitoriosas, o coletivo prevaleceu, sempre.

A sinergia entre os departamentos técnico e de marketing pode gerar combinações muito boas para um clube. Mas também podem levá-lo a uma situação complicada. A sina corintiana pós-Ronaldo é um exemplo disso. Mesmo tendo o aval da comissão técnica, o marketing pode errar absurdamente numa contratação.

Alexandre Pato é mais um que caminha sob essa tênue linha no Corinthians dos últimos anos. Contratado a peso de ouro, apresentado sem grande estardalhaço, mas no embalo da campanha da Locospirose que embalou o título mundial no Japão, ele tinha tudo para ser o cara a mobilizar a torcida a partir de uma ótima performance dentro de campo.

A cavadinha de ontem pode ter jogado Pato para dentro da vala comum. O que é, literalmente, uma pena. Tanto no sentido técnico quanto no de marketing.


O que a Allianz deve pensar da briga entre Palmeiras e WTorre?
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Erich Beting

A disputa entre Palmeiras e WTorre começa a ganhar ares de tragicomédia italiana. Aquela mesma que ajudou bastante o Palmeiras a cair para a Série B pela segunda vez e que, parece, não consegue nunca deixar de dar uma passadinha pelo clube. O contrato que pode estar mal redigido, as pressões ocultas dos dois lados, os interesses que quase nunca são aqueles que estampam as manchetes jornalísticas.

Vários são os fatores ocultos nessa queda de braço. Pode ser que o Palmeiras tenha percebido, com as novas arenas já em funcionamento, que ganharia mais se tivesse direito a 100% de parte dos ingressos. Pode ser também que a WTorre tenha mudado de opinião pelo mesmo motivo, e decidiu reler o contrato e mudar a história.

O fim dessa discussão só na Justiça ou, então, publicando-se o contrato assinado entre as partes, numa não-necessária transparência de Palmeiras e WTorre nessa história.

O que mais me intriga, porém, é saber o que se passa na cabeça dos executivos da Allianz.

Uma empresa de seguros, com sede na Alemanha, que assinou contrato de 20 anos com a WTorre para dar nome ao Allianz Parque. Para quem trabalha com análise de risco, de todas as variáveis que foram analisadas, sem dúvida não haveria uma que preveria uma rota de colisão entre Palmeiras e WTorre nos meses finais de negociação do estádio.

É bem possível que a Allianz já tenha, nos bastidores, pressionado a construtora, que é quem vendeu o patrocínio, para que seja tomada uma decisão.

O que mais me impressiona é que, nessa briga entre Palmeiras e WTorre, ambos esquecem que já existe um cliente da arena antes mesmo de ela estar em pé. E que ele desembolsará R$ 15 milhões por ano no espaço por, pelo menos, 20 anos. Não seria prudente conversar com o patrocinador para não correr o risco de também perder esse negócio?

O futebol brasileiro já é um ambiente absolutamente imprevisível para as empresas investirem, tanto que é cada vez mais raro achar patrocinadores que invistam altas quantias. Os novos estádios, que precisam necessariamente ter lucro, pareciam para o mercado um investimento mais seguro, tanto que três arenas já conseguiram acordos de naming right. 

O estrago que essa briga entre Palmeiras e WTorre pode gerar é muito maior do que se imagina para o futuro do futebol no Brasil.


Com supremacia de Barça e Real, Espanha cria o próprio Superbowl
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Erich Beting

A supremacia de Barcelona e Real Madrid na Espanha fez com que o país vivesse no “El Clásico”, que acontece no próximo sábado, um fenômeno similar ao Superbowl, o grande jogo decisivo do futebol americano. Empresas, mídia e torcedores passam o ano todo à espera do confronto entre os dois clubes, que têm no duelo a primeira das decisões do campeão espanhol.

Alguns fatores levam a isso. O primeiro, mais óbvio, é o fato de que o que resta de competitividade no futebol da Espanha estar restrito aos dois clubes. O segundo, que também provoca essa concentração de “esforços” no duelo é a crise econômica que o país atravessa. Com menos dinheiro, as empresas vão gastar no tiro certo. E, aí, a disputa do jogo que reúne a maioria dos torcedores de futebol da Espanha, passa a concentrar boa parte dos investimentos em ativação de marca.

Nos EUA, o Superbowl é o evento esportivo mais visto do país. Esporte mais popular, o futebol americano reúne, em seu jogo decisivo, todos os torcedores. As marcas usam o evento para fazer o lançamento de produtos. A mídia pauta a cobertura conforme a partida. A cidade-sede fatura horrores com a promoção do turismo. Músicos disputam o status de “dono” do show do intervalo, etc.

Na Espanha a ativação do “El Clásico” não chega a ser desse jeito, logicamente pelo fato de não existir uma final no Campeonato Espanhol, disputado no sistema de pontos corridos. Mas aos poucos ele começa a concentrar a verba das marcas. Um bom exemplo foi o vídeo lançado pela Audi, que faz uma brincadeira com o duelo nas pistas. Patrocinadora dos dois times, a criação da peça rodou o mundo (o vídeo está ao final do texto) e mostrou o caminho banal de ativação de marca via redes sociais.

Outra sacada bem humorada foi feita pelo Salão Erótico de Barcelona, que brincou com a rivalidade dos dois clubes para promover o evento. Mais uma vez a bipolarização da disputa na Espanha praticamente guia a publicidade, até mesmo daquilo que não tem nada a ver com o futebol (vídeo também ao fim do texto).

Para quem está de fora, como é o caso do mercado brasileiro, o frenesi em torno de Barcelona e Real Madrid parece mostrar o exemplo a ser seguido pelo futebol daqui. É preciso, porém, ir muito além da repercussão mundial desses clubes para perceber o quão vazio é o sucesso de ambos. Todo o oba-oba sobre a dupla espanhola é reflexo direto da ausência de outros clubes competitivos no mercado local. Graças ao orgulho espanhol, o governo ajudou a criar esse cenário, apoiando a bipolarização do futebol no país como uma estratégia para elevar a imagem da Espanha em todo o mundo.

Hoje, Real Madrid e Barcelona são, respectivamente, o primeiro e o segundo em geração de receitas no mundo. Na lista dos 20 clubes mais ricos, não há nenhum outro time da Espanha. Financeiramente, há um enorme abismo entre os dois e o restante dos clubes espanhóis. Esportivamente, também. É muito legal ver que “El Clásico” é hoje um evento global. Mas ao custo de dizimar o futebol local, realmente é algo que não gostaria de ver acontecer por aqui.

Enquanto o Brasil seguir olhando o futebol europeu como exemplo de gestão, correremos sempre o risco de cada vez mais deixarmos as vitórias restritas a poucos.

Mas, até lá, vale ver como as marcas têm se aproveitado da bipolarização no mercado espanhol.


Ação da Audi pré-jogo


Chamada do Salão Erótico de Barcelona


Transferência de atletas nas cinco maiores ligas soma R$ 7 bilhões
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Erich Beting

A transferência de atletas nas cinco principais ligas de futebol da Europa somou, na última abertura da janela de transferências, 1,938 bilhão de libras, que é o equivalente a R$ 7 bilhões. Esse foi o valor gasto pelos clubes das primeiras divisões de Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália para a contratação de jogadores para a atual temporada.

O levantamento faz parte de um cruzamento de dados de dois sites especializados no mercado de transferência de atletas, o Transfermarkt e o Statto, e foram compilados no site “Transfer Window” (para quem quiser brincar de descobrir até sobre a transferência de jogadores na terceira divisão inglesa, clique aqui).

O montante alcançado na abertura do mercado este ano contrasta com a realidade econômica da Europa e mostra quanto o futebol atingiu um status de “mundo paralelo” no Velho Continente. Inflado pelo dinheiro de megainvestidores e pela necessidade competitiva dos clubes que não possuem donos, o mercado de transferência de atletas na Europa vive um de seus momentos mais valorizados dos últimos tempos.

Prova disso é que o “saldo” das transferências foi deficitário. Enquanto os clubes dessas ligas gastaram R$ 7 bi na compra de atletas, eles faturaram R$ 4,85 bi na venda. Ou seja, no balanço final, o “prejuízo” total foi de R$ 2,15 bilhões.

A gastança desenfreada dos clubes tem “respaldo” justamente naqueles que são os contra-exemplos de gestão financeira austera, especialmente os clubes que possuem um dono bilionário. As balanças mais deficitárias foram de Monaco (140 milhões de libras de “prejuízo”) e Manchester City (92 milhões), clubes que ainda estão na fase de injeção de dinheiro do investidor sem o retorno, tanto esportivo quanto financeiro.

Os maiores gastadores foram, pela ordem, Real Madrid, Monaco, City e PSG. Todos tiveram prejuízo superior a 50 milhões de libras (R$ 175 mi), sendo que o Real é o único desses clubes que não possui um dono para injetar dinheiro nele. Não por acaso, o clube espanhol foi o único a ter vendas significativas, de 100 milhões de libras, para compensar parte do investimento em contratações.

Conhecida pela racionalidade nos gastos, a Bundesliga, da Alemanha, continua a ser a liga que menos gastou entre as cinco mais (231 milhões de libras).

A curiosidade do levantamento, porém, fica por conta do saldo das balanças das ligas espanhola e italiana. Gastadores convictos, dessa vez italianos e espanhóis encerraram a janela de transferências gastando menos do que arrecadaram. O “lucro” que essas ligas tiveram revela a dificuldade financeira que os dois países encontram. Barcelona e Real Madrid são as duas exceções, mas só conseguem fazer isso por serem os dois clubes que mais faturam no mundo.

Numa leitura mais aprofundada desses dados, podemos perceber que o futebol, na Europa, caminha para uma era de megainvestidores. Pelo movimento que teve início com Roman Abramovich no Chelsea, em 2003, é bem possível acreditar que, em mais dez anos, o futebol no continente será uma festa para abastados. Pelo menos para quem quiser ser relevante mundialmente.