Negócios do Esporte

Arquivo : outubro 2013

Após Brasil, Gillette se apropria de amistosos da Argentina
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Erich Beting

Patrocinadora da seleção brasileira e da argentina, a Gillette decidiu ampliar as ações de ativação da marca. Nesta sexta-feira, anunciou que vai patrocinar os últimos amistosos do ano envolvendo as duas seleções. O que antes era para ser mais dois jogos do Gillete Brasil Global Tour agora foi ampliado para o Gillette International Soccer Series, incluindo as partidas da Argentina contra Equador e Bósnia, que também acontecem agora em novembro nos Estados Unidos.

A compra dos amistosos da Argentina já mostram a pisada no acelerador que a Gillette dá tendo em vista a Copa do Mundo. Há mais ou menos quatro anos que a marca começou a se mexer em relação ao Mundial. Começou com o patrocínio a seleções no mercado latino-americano, que tem sido importante para a empresa.

Agora, com a Copa batendo à porta, a marca começa a ativar as partidas amistosas dos principais times patrocinados, sempre usando os atletas que têm contrato com a marca para ações com a imprensa. O patrocínio aos jogos da Argentina é o primeiro passo maior nesse sentido.

A custa de uma grana considerável, a Gillette achou um caminho para se apropriar do futebol na América do Sul e, assim, se relacionar indiretamente à Copa do Mundo. O valor investido, em patrocínio e ativação, acaba sendo menor que aquele que seria investido num aporte à Fifa. O resultado mostra que a estratégia de patrocinador não-oficial pode, muitas vezes, ser mais eficiente e menos custosa.

Mas para chegar a essa conclusão, a Gillette conta com mais de 100 anos de ações de marketing esportivo e, também, com a experiência de já ter sido patrocinadora de Copa do Mundo. Possivelmente após o Mundial muita marca vai perceber que teria sido possível fazer mais coisa com o mesmo dinheiro empenhado no status de “patrocinador oficial”. E isso servirá como um bom aprendizado para o patrocínio esportivo no Brasil…


Dono do Redskins peita presidente dos EUA. E se fosse aqui?
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Erich Beting

Reza a lenda, ou pelo menos é isso que filmes e seriados americanos tentam transmitir, que o presidente dos Estados Unidos é o homem mais poderoso do planeta. Ir contra o Mr. President é quase uma sentença para que o cidadão ou aquela instituição se dê mal.

Só que filme americano algum já pensou em retratar o que acontece no Washington Redskins, time que disputa a liga de futebol americano, a NFL. Pelo menos lá, o presidente dos Estados Unidos não manda. Barack Obama teve seu pedido ignorado para a mudança do nome do clube.

Em meio a uma corrente politicamente correta de coibir o uso do apelido Redskins (que numa tradução livre quer dizer “pele-vermelha”, maneira pejorativa usada pelos americanos para se referirem ao povo indígena no passado), Obama deu seu pitaco outro dia, de maneira politicamente correta, por assim dizer, sobre abolir o apelido.

“Não quero prejudicar os maravilhosos torcedores do Washington Redskins, que o amam com razão, mas, se dependesse de mim, eu pensaria em trocar o nome. Nomes como redskins ofendem um bom número de pessoas”, afirmou Mr. President.

A resposta veio por meio de uma nota oficial assinada por Daniel Snyder, proprietário do Washington Redskins:

“Washington Redskins é muito mais que o nome que nós temos chamado nosso time de futebol americano ao longo das últimas oito décadas. É o símbolo de força, coragem, orgulho e respeito, valores compartilhados pelos próprios índios americanos”, afirmou Snyder, entre outras coisas (leia a reportagem completa aqui).

Ao peitar Obama, o dono da franquia explica, mesmo que indiretamente, como funciona a cabeça do esporte nos Estados Unidos. A lógica é mais ou menos simples de ser entendida. E, para deixar bem claro, é preciso enumerar tudo o que acontece por meio de alguns “princípios básicos”.

1 – O clube tem um dono.

2 – O dono vê no clube um negócio, que precisa ser rentável. Sendo assim, você precisa saber conseguir dinheiro para manter o negócio funcionado.

3 – A razão de ser do negócio clube é o torcedor. É por causa dele que existe o clube.

4 – Para satisfazer o torcedor, é preciso criar conexões com ele, que vem, principalmente, por meio de conquistas esportivas.

5 – Além das conquistas esportivas, é preciso ressaltar a história e o vínculo emocional que o torcedor tem com o clube.

6 – Como a pessoa é dona do clube, ela faz aquilo que considera melhor para ele, sem precisar de interferências, até mesmo do presidente dos Estados Unidos!

Não necessariamente nessa ordem, esses são alguns dos preceitos que explicam um pouco de por que o esporte nos Estados Unidos tem a área de marketing muito bem desenvolvida. Até por conta de um traço cultural americano, de ser um povo que gosta de estimular e receber estímulo para o consumo, isso funciona muito bem. O torcedor ama o clube, mas sabe que aquilo é um negócio e que há alguém que merece ganhar dinheiro às custas dessa paixão. Se ela está sendo correspondida, ok, é isso que ele quer.

Na Europa, essa mentalidade começou a permear a cabeça de alguns dirigentes de alguns clubes, especialmente na Inglaterra e na Alemanha. Não à toa, essas duas ligas são as mais avançadas em questão de geração de receitas, produção de bom espetáculo e, também, na invasão de investidores para a compra dos clubes (ainda mais na Inglaterra). Aos poucos, outros países começam a aderir à era do clube de futebol com dono.

Donos que sabem que a razão de existir de um clube tradicional é o torcedor. E que essa paixão precisa ser alimentada. Por mais popular e público que seja o esporte, o dono do clube continua soberano na hora de tomar uma decisão.

Por aqui, com a cultura esportiva baseada nas associações dos clubes, não há hoje qualquer brecha cultural para que um time venha a ter um dono. Nem mesmo em outros esportes, que reúnem menos torcedores que o futebol, essa hipótese é considerada.

Por conta disso, os conchavos políticos são fundamentais. São eles que garantem o prestígio dos presidentes, muito mais do que o negócio de um clube, que seria dar lucro e trazer o resultado em forma de desempenho esportivo. E, assim, fica muito, mas muito difícil, um projeto de longo prazo ser colocado em prática dentro de um clube. O mesmo raciocínio serve para a política, em que os planos são muito mais de poder do que de governo. É o sistema que leva a isso, muito mais do que a incompetência de quem está nos cargos.

Ah, mas na Espanha Real Madrid e Barcelona seguem o modelo brasileiro e são um sucesso…

Sim, mas lá, principalmente por uma questão de conveniência, o governo permitiu e estimulou o fim da competitividade interna para promover a Espanha por meio de dois únicos clubes.

Você, torcedor, aceitaria ver seu clube passar só a sobreviver para outros dois brilharem?

Pois é.

Por mais impopular que possa parecer, os lugares onde o esporte mais encanta o consumidor são aqueles em que a gestão deles é feita de maneira absolutamente privada. Por mais interesse público que o tema possa gerar. Barack Obama e o Washington Redskins estão aí para provar isso.


Com Alemão, Fox agita de vez mercado de TV paga no Brasil
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Erich Beting

O mercado de direitos de transmissão ficará agitado pelo menos até amanhã, quando se encerra a Sportel, grande feira que reúne os principais vendedores e compradores de direitos esportivos do mundo. A feira, realizada em Mônaco, já trouxe o primeiro grande reflexo para o mercado brasileiro: a partir da temporada 2015/2016, a Fox Sports será a detentora exclusiva da transmissão da Bundesliga, o Campeonato Alemão.

O negócio é mais um que a Fox consegue vencer sobre a ESPN. Mas, acima disso, ele reflete o momento de ebulição pelo qual passa os direitos de transmissão no país. Para a felicidade dos detentores desses direitos, a entrada da Fox, no ano passado, fez o Brasil se valorizar enquanto a crise na Europa diminuiu um pouco o apetite das empresas de mídia por lá.

Aqui, as disputas já envolveram campeonatos com maior apelo local, como a Libertadores, e outros mundiais, como a Liga dos Campeões, a Premier League (Inglaterra) e o Campeonato Italiano. Só para se ter uma ideia, a Fox pagou, para ter a exclusividade da liga italiana no continente americano, quase cinco vezes mais do que havia pago no período anterior.

As vitórias da Fox nas competições estrangeiras têm relação direta com o poder de compra global que a emissora tem. Antes privilégio da ESPN, a empresa de Rupert Murdoch passou a fazer uso de seu alcance em diferentes regiões do planeta para conquistar alguns direitos de transmissão que considera importante em alguns mercados.

Foi o caso da Bundesliga. O principal objetivo dos alemães atualmente é aumentar a receita com a venda de direitos de transmissão para o exterior. No acordo com a Fox, são 80 países incluídos no pacote, sendo que o Brasil é um dos mais comemorados pela emissora. Até pouco tempo atrás, era a ESPN que fazia uso de seu alcance em diversos países para conquistar alguns campeonatos importantes. Hoje, o esporte faz a farra e consegue um leilão interessante com a disputa das duas grandes emissoras mundiais do esporte.

No caso do Brasil, a Fox já incomoda bastante. O mercado ainda tem a liderança do Sportv, mas o crescimento da Fox em apenas dois anos é marcante, tanto que em alguns momentos ela bate a ESPN. No ano que vem, com o segundo canal da empresa, a tendência é a disputa ficar ainda mais acirrada.

Para o torcedor, quanto mais canal de esporte existir, melhor. Para o esporte, também, já que isso abre a possibilidade de ganhar mais dinheiro com a briga entre as emissoras. Fazia tempo que o mercado de TV paga no Brasil não estava tão agitado. Curioso porém é ver como o esporte, por aqui, não percebeu isso e continua a ter como meta, sempre, um acordo com uma única emissora.


Até na falta de criatividade Nike e Adidas permanecem unidas
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Erich Beting

“Ao anoitecer, o litoral de Santos ganha um brilho especial com o reflexo das luzes da orla no mar. Essa cena serviu de inspiração para a nova camisa 3 do Peixe, que a Nike acaba de lançar em homenagem à cidade de Santos”.

“Flamengo e adidas apresentam nesta terça-feira, 15, o novo terceiro uniforme do clube. A nova camisa é preta e tem como destaque grafismos inspirados nos cenários da cidade do Rio de Janeiro. Nos ombros, as três listras estão em vermelho.
A equipe, que volta a ter um 3º uniforme, o primeiro confeccionado pela adidas nesse retorno ao clube, terá no peito imagens que remetem a pontos como o Pão de Açúcar, Corcovado e a Lagoa Rodrigo de Freitas. Nas costas da camisa o selo “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo – 1895” continua presente”.

Os dois textos foram extraídos dos comunicados divulgados à imprensa por Nike e Adidas para apresentarem as novas terceiras camisas de Santos e Flamengo. O duelo entre as duas maiores fabricantes de material esportivo do mundo é tão interessante que chega a ser curioso como até na falta de criatividade ambas conseguem se assemelhar.

Usar elementos da cidade que o clube representa na camisa é um dos mais antigos expedientes dos fabricantes de camisas. Foi, no passado, algo inovador. Hoje, só mostra que anda faltando criatividade na confecção dos uniformes dos clubes. Logicamente que a ideia de se fazer os grafismos alusivos à origem dos clubes é uma forma de aproximar as instituições das cidades que elas representam. O problema é se o orgulho do torcedor não é maior pelo clube do que pela cidade.

Os terceiros uniformes finalmente se transformaram numa regra do mercado brasileiro. Fugindo das tradicionais camisas dos clubes, eles trazem um novo apelo de consumo para o torcedor. Como quase sempre acontece na indústria esportiva, o mercado funciona em algumas ondas.

Hoje, a tendência é inserir símbolos e grafismos nos materiais confeccionados (a bola da Copa, que será apresentada em dezembro, trará essa característica). Resta saber se essa moda vai pegar.

camisa 3 do Santos

Camisa 3 do Santos, inspirada na orla da cidade

Camisa 3 do Flamengo, com símbolos do Rio de Janeiro


NBA prova que público para bom evento existe no esporte
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Erich Beting

A pergunta veio para mim pelo perfil no Twitter, ainda no começo de Chicago Bulls x Washington Wizards: “O fiasco do público do jogo da NBA no Rio seria erro de precificação?”. Tinha programado tirar o sábado de folga, mas não deu para controlar a vontade de ligar a TV e tentar ver o tal “fiasco” do público.

Claramente havia alguns buracos nas cadeiras do HSBC Arena, mas nada que chamasse muito a atenção. Pelo contrário, a sensação que tinha era a de que havia muita gente, sim, presente no ginásio. Enquanto o Twitter pegava fogo num debate, voltei para a folga e esperei a segunda-feira para estudar um pouco mais o tema e tentar analisar com mais frieza o que foi a primeira vez da NBA no Brasil.

O fato é que o Brasil, dos seis jogos já disputados até agora por times da NBA fora dos Estados Unidos, foi o segundo país a levar mais gente para um ginásio e, na proporção, o que mais ocupou o ginásio (detalhes aqui). Foram 13.635 torcedores para 14.000 ingressos colocados à venda no ginásio na Barra da Tijuca (97,4% de aproveitamento do espaço). Só o jogo realizado em Taipei, na China, atraiu mais gente até agora (13.686 pessoas foram ontem acompanhar o Houston bater o Indiana Pacers), mas o ginásio local era um pouco maior, com capacidade para 15.082 pessoas (a ocupação lá foi de 90,7%).

Como já havia dito aqui na sexta-feira, a NBA deu uma aula de como promover um evento para o público. Mais do que a semana de ações, a liga já havia tratado de “desembarcar” no Rio de Janeiro no final de agosto, quando promoveu um evento no Parque de Madureira, num campeonato de 3 contra 3 durante um final de semana.

O evento no HSBC Arena foi o “grand finale” de um ano repleto de ações da NBA por aqui. Durante todo o ano, o torcedor brasileiro teve contato com a liga de alguma forma. Seja em eventos para o torcedor (o torneio de 3 contra 3 ocorreu, no primeiro semestre, em São Paulo), seja por meio de ações promocionais de parceiros comerciais, seja por meio de promoções online.

Mas, mais do que mostrar que é preciso um trabalho constante de promoção do espetáculo para estar perto do público, a NBA prova que, para levar gente a evento, é preciso que ele seja, antes de mais nada, bom. Os ingressos para o jogo-exibição por aqui eram altíssimos (de R$ 180 a R$ 2.000). Mesmo assim, o ginásio lotou.

O fã do basquete vai provavelmente começar a poupar agora o dinheiro para acompanhar mais uma partida da liga no ano que vem. Por mais caro que seja o ingresso, na cabeça do torcedor o preço empregado nele vale a pena.

Não é somente a qualidade da arena esportiva que vai determinar o preço do ingresso, mas sobretudo a qualidade do produto que será exibido ali. É isso que falta ao futebol brasileiro hoje perceber. Não serão apenas os novos estádios que trarão um aumento de receita para os clubes. É preciso, urgentemente, melhorar o produto. Essa foi a mudança provocada pela Inglaterra nos anos 90 e, recentemente, pela Alemanha, e que explica boa parte do sucesso desses dois países na gestão de público nos estádios. Nos Estados Unidos, esse conceito existe desde que o primeiro jogador rebateu uma bola de beisebol.

Público consumidor de esporte sempre vai existir. Mas para isso, é preciso saber encontrar a relação custo-benefício. Hoje, e a venda de ingressos para a Copa e para o jogo da NBA estão aí para provar, querer cobrar muito para um produto ruim é pedir para não ganhar dinheiro com ingressos.


A NBA ensina o básico ao esporte no Brasil
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Erich Beting

Amanhã o Brasil receberá, pela primeira vez, uma partida entre dois times da NBA, a liga de basquete dos Estados Unidos. Mais do que o marco histórico que representa, o jogo entre Chicago Bulls e Washington Wizards é, para o mercado brasileiro, uma aula básica de como trabalhar o esporte.

Para começar, a partida que se realiza amanhã começou a ser “disputada” no começo da semana, com a chegada dos times e a exposição máxima dos jogadores na mídia por todos esses dias.

Além disso, a NBA estimulou os parceiros comerciais da entidade a realizarem diversas ações pelo Rio de Janeiro envolvendo o duelo inédito na cidade. Com isso, também fizeram com que os cariocas respirassem o jogo, e a liga, durante toda a semana.

O grande evento, porém, aconteceu na quinta-feira, com o “Dia do Fã”. Cerca de 4 mil torcedores estiveram no HSBC Arena para ver os jogadores de perto, ficarem “imersos” numa série de eventos e, ainda, dois jovens torcedores tiveram a oportunidade de tentar arremessos de três pontos dentro da quadra.

Todo esse investimento que a NBA faz em promover a liga é uma aula básica de como o esporte precisa trabalhar o torcedor.

Depois do atleta, a torcida é a grande responsável para um determinado esporte ser grandioso. Quando mais fãs uma modalidade tiver, mais chances ela terá para faturar com patrocínio, televisão e, principalmente, vendas.

Ao colocar o torcedor em primeiro plano, a NBA faz o óbvio. Quem alimenta a força da liga é o torcedor. O dinheiro dele proporcionará um aumento de receita com a venda de produtos e atrairá patrocinadores e mídia. Isso, por sua vez, leva o esporte a ter mais dinheiro para remunerar melhor os atletas.

Parece básico, e até certo ponto não deixa de ser.

Mas a pergunta é. Qual esporte no Brasil se preocupa realmente em colocar o torcedor no centro das atenções? Isso, no mercado americano, é algo básico, existe desde o momento em que se percebeu a força que o esporte tem para atrair as pessoas. Na Europa, foi essa mudança de pensamento que proporcionou que Liga dos Campeões, Premier League e Bundesliga se tornassem referências mundiais no futebol.

Manter acesa a chama do consumidor é um princípio básico de gestão em qualquer empresa. O esporte no Brasil tem muito a aprender nesta semana com a NBA.


A crise na Europa se reflete nos ingressos da Copa de 2014
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Erich Beting

O Brasil não conseguiu bater o recorde de pedidos na primeira fase de venda de ingressos para a Copa do Mundo. Foram pouco mais de 6 milhões de requisições. A expectativa inicial era de que fôssemos alcançar o maior número de pedidos da história das Copas, que assim ainda pertence à Alemanha-2006 (mais de 8 milhões na fase inicial, quando não se sabe quem jogará as partidas).

Ao analisarmos a lista dos dez países que mais requisitaram ingressos, porém, fica claro que o Brasil só não bateu o recorde de requisições pela crise que assola a Europa e um pouco também os EUA. O Velho Continente simplesmente “desapareceu” do ranking dos dez mais. Só para se ter uma ideia, na Copa de 2006, mais de 90% dos pedidos de ingressos foram feitos por europeus. Para 2014, não chegou a 10% .

Ok, obviamente é preciso descontar o fato de que, em 2006, o Mundial era, literalmente, no coração da Europa. Mas, claramente, a falta de dinheiro por lá faz com que as pessoas tenham receio em gastar o quanto se projeta para vir ao Brasil no ano que vem. Tanto que, entre os dez países com mais solicitações, apenas Alemanha e Inglaterra estão como representantes dos europeus. Não por acaso, são também as duas nações em condições econômicas melhores do que o restante do continente.

Na lista dos “dez mais” da Fifa, chama a atenção o crescimento do interesse de australianos e canadenses pela Copa. Outra previsão que se faz, e que não era difícil de acreditar que seria diferente, é a invasão dos latino-americanos. Argentina, Chile e Colômbia figuram no ranking também.

Claramente, o mundo mudou bastante desde que o Brasil foi eleito sede do Mundial, lá em novembro de 2007. Naquela época, a economia estava aquecida, o Brasil ainda começava a crescer, e a escolha parecia fazer com que o “país do futebol” realizasse a Copa dos Sonhos para muitos apaixonados pelo futebol. Nos últimos seis anos, as finanças no mundo ficaram de cabeça para baixo, o país do futebol deixou de ser tão maravilhoso assim e, no fim das contas, a Copa do “nunca antes na história” ainda vai ter de esperar.

A Copa no Brasil desperta o interesse de muita gente. Tanto que um recorde batido é o número de nações que requisitaram um bilhete: foram 203 países que solicitaram pelo menos um ingresso para a Copa. Mas, não fosse a crise na Europa e, muito possivelmente, o Brasil conseguiria ter quebrado todas as marcas relacionadas a um Mundial.

Para quem ainda não leu, o ranking com os dez países que mais pediram ingressos para a Copa:
1) Brasil – 4.368.029
2) Estados Unidos – 374.065
3) Argentina – 266.937
4) Alemanha – 134.899
5) Chile – 102.288
6) Inglaterra – 96.780
7) Austrália – 88.082
8) Japão – 69.806
9) Colômbia – 55.379
10) Canadá – 49.968


O duelo final entre Adidas e Nike se aproxima do Brasil
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Erich Beting

Em março de 2008, na quinta edição da revista Máquina do Esporte, brincamos de “Nostradamus” e previmos, naquela ocasião, que dali a seis anos Nike e Adidas, as duas maiores fabricantes de material esportivo do mundo, travariam um acirrado duelo pelo consumidor brasileiro e, especialmente, pela Copa do Mundo de 2014.

A pretensão da Nike, à época, era chegar no ano do Mundial vestindo a seleção anfitriã e com o status de líder em vendas no mercado de futebol. Do outro lado, a Adidas tinha como objetivo ampliar o domínio no futebol e ganhar mais espaço no Brasil, que desde 1996 vem sendo muito bem “blindado” pela maior concorrente, patrocinadora da seleção e até aquela época dos dois clubes de maior torcida, o que impacta diretamente nas vendas.

Hoje o cenário mudou um pouco no Brasil. No futebol, a Nike “perdeu” espaço com a saída do Flamengo, mas ampliou o terreno apoiando Santos, Inter, Coritiba e Bahia. A Adidas pegou neste ano o Rubro Negro carioca e em breve deve anunciar mais clubes.

O grande duelo, porém, é na Copa do Mundo.

E as primeiras batalhas já começaram a ser travadas. A Nike planeja lançar o terceiro uniforme de seus cinco clubes patrocinados no próximo ano. As cores seriam alusivas às usadas pela seleção brasileira. A Adidas deu o bote antes, apresentando o uniforme “abrasileirado” do Palmeiras.

No mês que vem, porém, o troco da fabricante americana deve vir num megaevento programado para 24 de novembro. A data marcará a apresentação da camisa que o Brasil usará na Copa do Mundo. De corrida de rua a festa na praia, a Nike deverá mostrar que será a “dona” do Rio pelo menos até julho de 2014. No que não for território da Fifa, a marca tentará se fazer presente.

Na semana seguinte, será a vez de a Adidas mostrar o modelo da Brazuca, a bola que vai rolar nos gramados do país durante a Copa do Mundo. Esse, aliás, é o principal ativo da empresa alemã ao lado dos jogadores Fred, Daniel Alves, Lucas e Marcelo, presenças quase certas na lista de Felipão para o Mundial.

O que vai nortear essa disputa pelos próximos meses será, substancialmente, a capacidade criativa das duas marcas para tentar ganhar a mente do consumidor num mercado que vem anualmente sustentando parte do crescimento de ambas as empresas nos países emergentes.

Há pelo menos três anos que Adidas e Nike têm profissionais destacados para planejar a Copa do Mundo no Brasil. O duelo final está cada vez mais próximo. Até julho do ano que vem, ele será um prato cheio para quem gosta de marketing esportivo.


O ouro de tolo de Arthur Zanetti
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Erich Beting

Arthur Zanetti conquistou, no último sábado, um feito inédito para a ginástica brasileira. O atual campeão olímpico conquistou o Mundial na Antuérpia, na Bélgica, sendo o primeiro da modalidade a conquistar o posto máximo nas duas principais competições da ginástica.

A performance nas argolas de Zanetti, porém, contrasta diretamente com seu discurso fora da área de disputa esportiva. Logo após a conquista do ouro, mais uma vez o atleta falou em querer mais “reconhecimento” do mercado pelos feitos alcançados.

Sem dúvida Zanetti é um monstro naquilo que faz. Possivelmente será o maior ginasta do país durante muito tempo, pelo menos até o momento em que houver uma estrutura mínima para produzirmos ginastas além de aberrações como ele.

Mas ao reclamar da falta de reconhecimento pelas conquistas ou da falta de estrutura para competir, Zanetti cai no mesmo erro de outros atletas que, igualmente, tiveram boa performance mas teimaram em reclamar da falta de apoio.

É um erro primário um atleta, ao conquistar um grande feito, reclamar que não há apoio para ele. Isso gera um efeito imediato para quem já o apoia ou pretende apoiar. A falta de estrutura para a prática de quase todos os esportes no Brasil é uma realidade. Por isso mesmo, não é privilégio de um ou outro esportista não contar com patrocínio ou mesmo a condição ideal de treinamento.

Logicamente que, quando o atleta atinge o máximo da performance, como é o caso de Zanetti, o impacto daquilo que ele fala se torna mais forte. Por isso mesmo, ele precisa tomar bastante cuidado quando faz críticas à ausência de patrocinadores ou à falta de estrutura.

Zanetti mesmo parece ter aprendido com a repercussão que causou no começo do ano, quando chegou até a ameaçar competir por outro país. Tanto que, na abertura da página de abertura do seu site, já agradece aos patrocinadores pela conquista de sábado passado.

Mas o alerta ainda é válido, porque em entrevista ao “Bandsports” ainda na Bélgica, ele já clamava por “mais reconhecimento”. E, hoje, ao desembarcar no Brasil, não reforçou a ajuda dos patrocinadores aos jornalistas.

O atleta precisa parar de ver a profissão que ele desempenha como algo “nobre” ou diferente do que os outros fazem. Assim como qualquer outra pessoa, ele é alguém que trabalha para ganhar dinheiro. A remuneração em forma de patrocínio existirá para aquele que entregar não apenas desempenho dentro de quadra, de campo, da piscina, etc. É preciso saber trabalhar para dar retorno ao patrocinador.

Do contrário, ele só vai aprender na marra, como aconteceu com Cesar Cielo, campeão olímpico e que bateu de frente com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) na primeira entrevista no Brasil pós-ouro.

Essa é a grande curva de aprendizado que ainda falta existir no esporte brasileiro. O atleta segue achando que o patrocínio é um mérito dele ao ter performance, quando isso na verdade é só mais um atributo para ser colocado na lista de benefícios que ele pode trazer para uma empresa.

Reclamar quando se obtém a performance é tão absurdo quanto um empresário reclamar da alta carga tributária quando consegue um lucro recorde para a sua empresa. O discurso soa incoerente. Insistir nessa reclamação é ainda pior.

Os ouros de Arthur Zanetti devem ser venerados pela mídia e transformados em mais oportunidades para o atleta. Do contrário, será apenas um ouro de tolo, que valerá para contar grandes histórias, mas não para garantir o futuro como profissional do esporte.

Por mais duro que possa parecer, a performance esportiva não é o fim para um atleta, mas o meio do caminho.


A resposta de Ronaldo
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Erich Beting

Ronaldo respondeu há pouco o post anterior no blog, com minha análise sobre o artigo assinado por ele na “Folha de São Paulo” do último domingo. Nele, rebate as críticas feitas por mim e tenta esclarecer alguns pontos.

Mesmo sem ter pedido direito de resposta, o CEO da 9ine permitiu que eu tornasse pública a mensagem enviada por ele. Um dos princípios do blog e logicamente do blogueiro é ser plural e elevar ao máximo o nível de um debate. Sobretudo quando o tema é importante como a Copa do Mundo que chega logo menos ao Brasil.

Segue a resposta de Ronaldo:

“Salve, Erich. Tudo bem? 

Cara, fiquei surpreso com a sua interpretação do meu artigo.

Primeiro sobre a relação com o título e a provocação que faço ao final, o “Imagina na Copa”. Você sabe que esse termo transcende qualquer campanha publicitária. Tá na boca do povo e a interpretação positiva já virou ação social e quadro de rádio na Bandnews. Será que a Ambev patrocina também? Logo você que se destaca na discussão de gestão e negócios do esporte demonizar o fato de eu ter negócios?!

Outra coisa: o fato de eu dizer agora num artigo que a Copa deve fazer parte de uma jornada maior não quer dizer que descobri isso agora. Já falamos disso em nossas visitas pelas cidades e discussões sobre Copa desde 2011… Não descobri isso em Londres, mas o link com os Jogos Olímpicos me fez pensar no artigo porque o pessimismo que antecedeu os Jogos se reverteu em orgulho em sediar a competição. É uma provocação a atingirmos o mesmo no Brasil.  Espero que a maioria olhe para frente e veja a janela de oportunidade que se abre. De fato me recuso a me render ao pessimistas e aos críticos de ocasião (não é o seu caso). Eu sei que a Copa representa algo muito maior para o nosso país e não sou eu quem digo, são pesquisas independentes e a vontade dos países que lutam para sediar esse e outros grandes eventos. Me acostumei a jogar com duas torcidas nas arquibancadas, dois times em campo, 11 contra 11. E sinto falta do outro lado na imprensa. Criticamos muito e devemos cobrar mesmo, mas vejo poucos veículos falarem dos benefícios da Copa. Mas tudo bem. Quando aceitei dedicar tempo à organização da Copa sabia que sofreria críticas, como recebia quando jogador e nem por isso me abatia.

Para finalizar esse e-mail, fico feliz que o debate nascido nas ruas (por coincidência ou não durante a Copa das Confederações) tenha chegado também ao futebol. E que não pare na discussão de calendário. Temos que melhorar serviços ao espectador, qualidade e gestão dos estádios (já temos esse legado da Copa), dos clubes e formar profissionais para atuarem nesse mercado, que como você bem sabe não é novidade, mas agora recebe alguma atenção.

Abraço,
Ronaldo Nazario
CEO
9ine Sports & Entertainment Consultoria Ltda,Sao Paulo”